Capítulo 142: Um Pedaço de Esperança Tirado do Fundo do Poço
“Se.”
A palavra ‘se’ indicava aquelas possibilidades inesperadas que podiam ou não acontecer. Nos dicionários, era usada com frequência em suposições e hipóteses, e os humanos adicionavam um ‘ao menos’ no fim para expressar esperança ou arrependimento.
Havia uma chance em dez mil de que aquele futuro se tornasse realidade. Chegar antes que fosse tarde demais… Não, pelo menos, chegar antes que algo terrível acontecesse com os cativos, os membros da equipe de resgate deviam estar sonhando com esse tipo de futuro.
No entanto, não havia sentido em dizer esse tipo de coisa quando tudo já tinha ido por água abaixo.
O Paraíso era a realidade. Não era um desenho, nem uma webnovel, tampouco um filme. Com certeza não era um jogo de computador em que você podia salvar seu progresso com um clique enquanto estava sentado confortavelmente na sua cadeira. Uma vez que algo acontecesse, não podia ser desfeito.
Quando as coisas chegavam a esse ponto, ‘se ao menos’ ou ‘uma chance em dez mil’ viravam apenas suposições inúteis. O destino final dos ventos chamados ‘Vai que’ ou ‘Talvez’ era apenas a autonegação.
O ‘resgate’ dito por Ayase Kazuki não significava apenas o salvamento físico dos cativos. Não, era muito mais próximo de ‘salvá-los’. Seol Jihu não via isso necessariamente como algo ruim. Na verdade, ter essa determinação de encontrar, sem hesitação, a melhor resposta possível para qualquer situação era digno de um Terrestre pragmático e realista.
Mesmo assim…
Seol Jihu não conseguia apagar os pavios de esperança queimando em seu coração; mesmo que sentisse como se seu corpo estivesse afundando cada vez mais fundo em um pântano inescapável a cada degrau descido, ele ainda procurava aquele raio de luz enterrado em meio à escuridão turva. Mesmo que fosse apenas um raio, um fragmento, desde que pudesse salvar ao menos mais uma pessoa.
Mas então, quando chegaram ao fim da escada, a chama da vela que queimava tenuemente em seu coração tremeu violentamente diante do espetáculo que se desdobrou diante de seus olhos.
— Meu Deus…
Mary Rhine rapidamente tapou a boca com as mãos.
— …
Até mesmo Ayase Kazuki ficou sem palavras.
Um verdadeiro inferno na Terra!
Uma luz carmesim iluminava o espaço como se estivessem num distrito de luz vermelha; cenas de natureza verdadeiramente horrenda corriam soltas por todo lado, e eles mal conseguiam manter os olhos abertos. Nem mesmo as cidades da devassidão, Sodoma e Gomorra, seriam tão vis. O advento de um inferno vivo sobre a humanidade provavelmente se pareceria com aquele lugar.
— Primeira vez que vejo uma incubadora tão repulsiva na minha maldita vida.
Kazuki murmurou baixinho antes de puxar o papel com as instruções escritas. No entanto, começou a fazer uma expressão confusa. Para começar, ele já conseguia ver mais de mil deles. Aquilo já era um número insano para lidar.
— O-O que vamos fazer?
Mary Rhine começou a roer as unhas. Kazuki sussurrou — Espera — e continuou analisando o papel, antes de cheirar o ar. Eles estavam parados perto da entrada, mas um cheiro doce e excessivamente forte vinha de algum lugar. Bastou passar pelas narinas para causar uma leve tontura.
— Esse cheiro…??
Seus olhos afiados logo se voltaram para a esquerda. O segundo subsolo também era dividido em dois setores, mas não de forma separada como no primeiro andar.
— Por enquanto, vamos até a área de experimentos.
Eles não viram quase nenhum movimento. Kazuki ficou especialmente atento ao redor enquanto liderava o caminho. O local para onde o Arqueiro os conduziu era uma estrutura com paredes avermelhadas. Quanto mais se aproximavam, mais forte ficava aquele cheiro enjoativamente doce.
O interior daquela pequena construção ao lado da incubadora também apresentava uma visão bastante estranha. Havia apenas um único Orc mutante ali dentro, mas havia dezenas e dezenas de potes grandes o suficiente para uma pessoa sentar dentro. Acima deles, um número correspondente de cordas pendia do teto.
A origem do cheiro era, sem dúvida, esse prédio. O odor adocicado estava tão intenso que quase os fazia vomitar. Kazuki ficou na ponta dos pés para espiar dentro do pote mais próximo antes de fazer uma expressão de repulsa.
O pote estava cheio de um líquido viscoso, porém transparente. Ele mergulhou o dedo indicador com cuidado antes de retirá-lo. Um fiozinho grudou na ponta do dedo antes de se romper, evidenciando a leve viscosidade do líquido.
— Isso é…?
O Arqueiro inclinou a cabeça e se aproximou ainda mais para observar melhor, apenas para que seu rosto frio e decidido se contraísse de imediato.
— Keuk!!
Ele puxou o tronco para trás rapidamente e deu vários passos para longe. Seol Jihu correu para ajudá-lo. Kazuki respirava com dificuldade para se recompor antes de cuspir no chão com uma expressão de nojo.
— Droga! Isso é afrodisíaco!
— …Afrodisíaco??
Mesmo no meio de toda aquela confusão, Seol Jihu ainda ficou com uma expressão de puro espanto. Percebeu que todos aqueles potes enormes estavam cheios do mesmo líquido.
Seu olhar então se voltou para o único Orc mutante, parado, imóvel. Sua experiência dizia que aquela criatura não estava ali à toa. Agora que olhava com atenção, via que a corda indo para o pote à frente dele estava esticada.
Lembrou-se de como o Orc mutante havia descido Hugo do teto, então conseguiu localizar rapidamente um dispositivo semelhante a uma roldana por perto.
Mesmo sem ter certeza, correu até lá e girou a manivela.
Creeek, creeek…
A corda foi puxada para cima, enrolando-se na roldana.
Splash, splash…
Em seguida, ouviu-se o som de líquido caindo.
Eventualmente, uma pessoa com o corpo inteiro envolto firmemente por cordas emergiu de repente do pote. Gotas do líquido escorriam por aquele corpo oleoso, aparentemente nu. Ao ver os cabelos vermelhos encharcados, mas ainda abundantes, devia ser uma mulher. Foi nesse momento que Mary Rhine começou a entrar em pânico.
— Irmã!!
Kazuki se moveu rápido. Saltou no ar, cortou a corda e segurou a mulher antes de pousar novamente no chão. Seol Jihu franziu o cenho de imediato, todos os membros dela estavam inteiros, mas, ao colocá-la no chão, percebeu que seus braços e pernas estavam dobrados em ângulos terríveis.
— Droga, será que ela se afogou?
— N-Não, impossível.
Mary Rhine falou com o rosto pálido.
— A irmã Erica aprendeu a respirar debaixo d’água. Não tem como ela ter se afogado.
Kazuki rapidamente pressionou a mão perto do nariz da mulher inconsciente. Sentiu sua respiração. O peito dela também começou a subir e descer, embora bem de leve.
De repente, os olhos da mulher se arregalaram. As íris turvas encararam o teto acima e então…
— Ahh-aaahk!!
Flop, flap…
Ela começou a se debater para todos os lados. Esqueça gemidos de dor normais, o que saía dela agora eram gritos de puro horror.
“Aquela pessoa é…”
Nada menos que a Cavaleira Imperial de Nível 6, Erica Lawrence, uma guerreira poderosa, no mesmo nível de Agnes.
— Ah-ah-ehuk… Aaaaaahrgh!!
Enquanto Erica Lawrence respirava e arfava em agonia, o Arqueiro rapidamente verificou sinais de infecção e a Sacerdotisa lançou sua magia de cura divina.
Pouco tempo depois, Kazuki se levantou e se dirigiu a Mary Rhine.
— Leve-a de volta.
Aquilo significava que Erica Lawrence não estava infectada.
— Entendido. Tomem cuidado, vocês dois.
Mary Rhine não disse nada desnecessário e deu apoio a Erica Lawrence. A retirada delas foi rápida o suficiente para surpreender levemente os outros.
A segunda pessoa fora resgatada, além de Hugo. Agora, restavam apenas duas.
Eles verificaram outros potes para garantir, e todos estavam vazios. Kazuki se agachou e encarou o chão. Seol Jihu não o apressou. Tudo que havia visto do japonês indicava que aquele era um Terrestre confiável. Se ele não se movia, devia ter um bom motivo.
— Seol.
Kazuki falou.
— Vai ser extremamente difícil vasculhar esse lugar com o tempo que nos resta.
Isso era verdade. Mesmo Seol Jihu vinha sufocando sua frustração. Não se tratava de apenas um ou dois prédios na área de experimentos, e sem contar que a incubadora em si era imenso, com vítimas demais.
— Então, temos que…
Será que ele estava prestes a sugerir uma retirada?
— …pensar nisso com cuidado.
O que veio a seguir foi algo um pouco fora das expectativas de Seol Jihu.
— Tanto Dylan quanto Ali estavam infectados, com os membros decepados. O que aqueles desgraçados estavam tentando fazer com eles era óbvio, sugar a resistência, infectar, e criar mais Orcs mutantes. Usar partes do corpo como sustento, o resto para fabricar soldados, e também como matrizes.
— …Usar como sustento?
Por um momento, Seol Jihu se lembrou da porta que Chohong o impediu de abrir mais cedo.
— Mas o mesmo não aconteceu com Erica Lawrence. Os membros dela podem ter sido quebrados, mas ela não foi infectada. Não, ela foi apenas deixada dentro de um pote cheio de afrodisíaco… Provavelmente queriam destruí-la mentalmente. Devem saber que ninguém aguentaria por muito tempo os horrores da incubadora lá fora.
Os murmúrios de Kazuki pareciam mais uma tentativa de organizar os próprios pensamentos do que falar com alguém.
— Isso significa que os cativos foram separados por sexo.
— Então quer dizer que as chances dos dois restantes não estarem infectados são…
— Não, espera. Não é isso.
Kazuki balançou a cabeça.
— Não é que não estejam infectados, é que não há necessidade. Ser violado pelos Orcs mutantes leva à infecção de qualquer forma.
Kazuki continuou.
— Erica Lawrence resistiu. Assim como Hugo.
Se invertermos essa lógica, então o fato de os dois cativos não estarem ali significava que não conseguiram resistir. Nesse momento, os olhos de Kazuki brilharam intensamente.
— Achei.
— ?
— São marcas de alguém sendo arrastado. E parece ser relativamente recente.
— São duas pessoas?
— Não, só uma.
Kazuki também pareceu confuso.
— Se minha teoria estiver certa, deveriam ser duas, mas… Ayase Yui, Teresa Hussey… Não sei qual das duas seria, mas só consigo ver uma trilha.
— Vamos conferir mesmo assim.
Os dois homens saíram rapidamente do prédio. Mas os passos de Kazuki foram ficando cada vez mais lentos.
— Droga… Por que tem tantos rastros agora?
Mas isso era inevitável. Não era como se aquele lugar tivesse pouco movimento. Qualquer um veria que rastros antigos seriam cobertos diariamente por novos, já que aquela área estava repleta de seres das mais diversas raças. Mesmo um Explorador Supremo estaria impotente ali.
— Me diga as características marcantes da sua irmã.
— Tem uma pinta perto do olho esquerdo. O cabelo é preto como breu, e o corpo é pequeno. E ela é fofa.
Seol Jihu vasculhou os arredores com afinco. Por mais que olhasse, aquele lugar era uma sucessão interminável de cenas insuportáveis. Incontáveis mulheres estavam amarradas a pilares e paredes com correntes e cordas. Um número equivalente de Orcs mutantes estava por toda parte na incubadora ou se posicionando de forma desconfortavelmente próxima das mulheres presas.
O problema ali era o fato de que as fêmeas não pertenciam apenas à raça humana. Ele prestou mais atenção a uma figura em particular porque, à primeira vista, parecia humana, mas suas orelhas eram pontudas demais; havia seres quadrúpedes com aparência animal, semelhantes a lobos; até seres vegetais e monstros que ele nunca tinha visto antes estavam ali, capturados em massa. Ou seja, os Parasitas não se importavam com o que capturavam, desde que as vítimas tivessem a capacidade de dar à luz.
Diante daquela visão deplorável, ele conseguia sentir com nitidez como os Parasitas, supostamente uma raça alienígena, viam os humanos e as demais raças que viviam naquele planeta. Com essa realização, uma fúria intensa borbulhou no fundo do seu coração.
“Filhos da puta.”
Para os Parasitas, os machos serviam apenas como alimento ou escudos de carne descartáveis. Quanto às fêmeas, não passavam de gado. Seol Jihu mordeu o lábio inferior quase até sangrar e apertou a lança com força. Concentrou-se no único fio de energia gelada que fluía da arma para reprimir o coração que ameaçava explodir em raiva. Foi nesse momento.
— Yui?
Kazuki avançou feito um raio. Seol Jihu correu atrás dele, mas parou poucos passos depois. Encontrou o Arqueiro parado como uma estátua, com uma expressão de puro estupor.
Havia uma jovem agachada no chão, os dois pulsos amarrados a uma coluna atrás dela. Um sorriso vazio marcava seu rosto. Assim como Kazuki dissera antes, era uma garota fofa. E seu corpo inteiro estava coberto pelos vestígios da violência sofrida.
— Heh…
Mesmo com o irmão diante de seus olhos, ela mantinha aquele sorriso vazio e perturbador. Ele a encarou em silêncio.
Sniff.
Fungou alto e, com o punho cerrado, limpou os olhos. Ajoelhou-se, então, e encostou a testa na dela.
— …Me desculpe.
A despedida foi breve. Kazuki se levantou e empunhou a espada longa. Seol Jihu arregalou os olhos em choque.
— Kazuki?!
— Já é tarde demais.
— Tarde demais?! Mas…??
— Ela só parece bem por fora. Nem precisamos verificar. Por dentro, já mudou completamente.
Kazuki olhou para Seol Jihu com olhos cheios de tristeza.
— Vai interferir dessa vez também?
— …
— Você é livre para intervir, mas lembre-se: se fizer isso, vai diminuir o tempo que temos para encontrar a Princesa.
Seol Jihu não conseguiu responder.
Eventualmente, o pescoço de Ayase Yui foi limpo e silenciosamente separado do corpo. Kazuki incinerou o cadáver e puxou o jovem, que permanecia ali parado, atônito.
— Vamos. Ainda temos mais uma pessoa para encontrar.
Seol Jihu encarou o homem mais velho com profunda admiração. Como era de se esperar de um Arqueiro reconhecido por Dylan, ele conseguia controlar as emoções em um grau extremo e priorizava seu dever acima de tudo. Essa frieza ajudou a acalmar a fúria que ainda fervia dentro de Seol Jihu desde que desceu para o segundo andar. Sentiu-se envergonhado por sua conduta vergonhosa de antes.
“Preciso me concentrar na missão.”
Graças a terem encontrado as duas mulheres mais rápido que o esperado, o tempo perdido no andar de cima havia sido compensado, ainda que minimamente.
Mais determinado do que nunca, ele examinava cada canto em busca de Teresa Hussey. No entanto, não conseguia encontrar ninguém que se parecesse com ela. O que era estranho, considerando que suas características únicas se destacavam com facilidade. O tempo seguia passando, mas aquele cabelo rosa não aparecia em lugar algum.
Ele chegou a gastar mais rudium valioso só por precaução, mas nem isso adiantou. Ordenou aos Orcs mutantes próximos que o guiassem até algum humano recém-chegado e até descreveu as características de Teresa Hussey, mas as criaturas nem se mexeram.
— Já encontrou algum rastro da Princesa?
— Eu não estaria parado aqui se tivesse.
Kazuki mordia os lábios antes de erguer uma das mãos até a orelha. O cristal de comunicação pendurado ali emitia um brilho suave e puro.
— Onde está o Seol?
A voz era de Chohong.
— Está comigo, ainda procurando. E do seu lado?
— Armamos as armadilhas, e todo mundo voltou são e salvo. Ainda não encontraram as outras duas?
— Ayase Yui estava infectada, eu cuidei disso. Teresa Hussey ainda não foi localizada.
— Vocês têm menos de dez minutos. Não arrisquem e voltem. Se tudo der errado, dá pra tentar de novo em 72 horas, certo?
— Entendido. Não se preocupe.
O brilho do cristal desapareceu. Os dois homens não trocaram mais palavras e vasculharam os arredores por mais um minuto, mas, novamente, sem resultados. Eventualmente, Kazuki suspirou, exausto.
— Seol.
— Sim?
— Volte primeiro.
Kazuki falou logo em seguida.
— Ainda não tenho certeza. Mas ainda resta algum tempo, então vou tentar procurar sozinho.
Kazuki era um Arqueiro de Alto Rank. Sua velocidade de corrida era absurdamente rápida, então mesmo que usasse um pouco mais de tempo, ainda conseguiria voltar, era isso que queria dizer. Seol Jihu entendeu que ele estava tentando ser atencioso, claro. Mas, mesmo assim, o jovem coreano recusou.
— De jeito nenhum. Também vou ajudar. Sou bem confiante quando o assunto é corrida, sabia?
— Hm?
— Tenho este carinha aqui, lembra?
Seol Jihu apontou para a orelha esquerda. Kazuki viu o Brinco Festina e começou a refletir. Os membros da equipe de resgate já tinham compartilhado todas as informações que estavam dispostos a revelar antes da missão, então ele sabia o que aquele brinco significava.
— Mas você não tinha dito que ainda não conseguia controlar ele direito?
— Correr em linha reta é tranquilo. Bom, eu até conduzi os Parasitas naquele desfiladeiro perigoso, então correr por todo o primeiro andar não deve ser tão difícil.
Aquilo fazia certo sentido. Considerando que o primeiro subsolo era basicamente uma linha reta, sua confiança não era infundada. Além disso, se o efeito fosse empilhado três vezes, ele conseguiria correr cem metros em três, talvez quatro segundos. A velocidade que conseguiria alcançar durante aquele minuto seria o dobro da velocidade máxima de corrida de Kazuki.
— Certo. Vamos fazer assim.
Kazuki assentiu com a cabeça e entregou outro cristal de comunicação preso a um brinco.
— Fique com este também. Vamos nos separar e procurar. Se houver qualquer contato, voltamos imediatamente, sem discussão.
— Entendido.
— Vou ficar por quatro minutos e vinte e cinco segundos antes de retornar. Você não deve ultrapassar seis minutos e quarenta. Não tente esticar demais e volte pelo menos antes do último minuto. Entendido?
Ele acrescentou que entraria em contato com Seol Jihu antes de retornar, e os dois seguiram por caminhos diferentes.
Seol Jihu começou a contar mentalmente ao atravessar a incubadora. Mas ainda não conseguia encontrar Teresa Hussey.
“Princesa… Princesa…”
Seol Jihu vinha se aprofundando cada vez mais, até perceber de repente que os arredores haviam mudado. Não via mais colunas ou correntes por ali. No lugar delas, agora havia várias estruturas semelhantes a currais.
Seol Jihu franziu a testa. Estava se perguntando por que o número de Orcs mutantes vinha diminuindo gradualmente, mas agora compreendia o motivo: havia diversos Orcs mutantes de porte menor vagando por aqueles ‘currais’. Pareciam filhotes, ainda não adultos.
Fêmeas de várias espécies estavam deitadas sobre capim seco, gemendo e arfando com dificuldade. O ar estava impregnado de um fedor ácido, repugnante, de sangue e imundície.
— …Ah!
De repente, ele parou. Enquanto examinava o local com atenção, finalmente captou a cor distinta que esperava ver. Apesar de sujo, não havia dúvida: era cabelo rosa.
A mulher estava deitada como se estivesse morta, o ventre tão inchado que parecia uma bola. Os olhos turvos, sem alma, tremiam de vez em quando, e pequenos suspiros — Ah, ah… — escapavam de sua boca. O coração dele quase despencou.
— Princesa Teresa!
Seol Jihu correu rapidamente e estava prestes a segurar o ombro dela, mas parou subitamente. Não era Teresa Hussey. A cor do cabelo era igual, mas aquela mulher era de outra raça. Ele viu as asas negras mal desenroladas nas costas e teve certeza.
Sentiu alívio, mas também soltou um longo suspiro. O tempo para voltar estava se esgotando.
“Devo voltar?”
Na realidade, ele não era obrigado a encontrá-la a todo custo. No entanto, Teresa Hussey era uma Paraisiana. Se morresse agora, seria o fim. Não, mesmo deixando esse ponto de lado, ele ainda se lembrava da atração intensa que sentiu ao conhecê-la pela primeira vez.
“É como se… eu já a tivesse conhecido antes.”
Talvez estivesse enganado. Mas sabia que, se desistisse agora e voltasse, seria consumido pelo arrependimento pelo resto da vida. De fato, precisava dar o seu máximo até o fim, para que esse arrependimento, ao menos, não fosse tão grande depois.
Ainda não tinha se esgotado o tempo, certo? Seol Jihu balançou a cabeça. Certo, ainda era cedo demais.
“Assim não vai dar.”
Andar sem rumo não era uma solução. Precisava pensar como Kazuki.
“E se ela nem estiver na incubadora desde o início?”
Até então, vinha explorando a incubadora com base na teoria do guia. Mas, como Teresa não fora encontrada, talvez essa teoria não se aplicasse a ela. Seol Jihu mudou rapidamente seu raciocínio.
“Qual é a diferença entre a Princesa e os outros cativos?”
Ela era uma Paraisiana, enquanto os outros eram Terrestres. Seol Jihu refletiu profundamente, até que uma nova possibilidade surgiu em sua mente. Só havia testado isso com três, quatro alvos, então a amostra era pequena, mas ainda assim, sua ideia vinha do fato de que os Orcs mutantes não sabiam do paradeiro de Teresa Hussey.
“Talvez o valor da Princesa como cativa seja diferente do dos demais?”
Ou seja, ela poderia ter outro propósito além de ser usada como procriadora. A maior força de combate da humanidade eram os Terrestres, mas na realidade, podia-se dizer que a base verdadeira eram os sete deuses. E a primeira pessoa que esses deuses contataram foi uma Paraisiana. E não só isso, uma integrante da realeza.
“O Juramento Real!”
Considerando esse ponto, seria possível que a princesa da família real de Haramark recebesse um tratamento diferente dos demais? Por exemplo, poderia ter sido levada para outro lugar para que os Parasitas descobrissem os segredos dos sete deuses?
A menos que estivesse falando da própria Rainha Parasita, que até devorou um deus, a estrutura de comando dos Parasitas só conseguia ‘controlar’, mas não era uma rede onisciente. Além disso, um humano se tornava um fantoche sem mente no instante em que era infectado. Por isso, se a Princesa possuía informações valiosas, ela não seria transformada em hospedeira tão levianamente.
Ele não tinha certeza, claro. Mas a teoria parecia plausível. Talvez estivesse sendo otimista demais, mas não se importava em se agarrar a qualquer possibilidade que pudesse ajudá-lo naquele momento.
De todo modo, a conclusão era: havia uma grande chance de ela não estar na incubadora.
“Nesse caso…”
Ele havia se aprofundado bastante no segundo subsolo. Talvez fosse por isso que havia tão poucos Orcs mutantes. No extremo à esquerda, conseguia ver a área de experimentos.
Se ela tivesse sido levada para a superfície, então não haveria o que fazer. Mas, por outro lado, havia a chance de que estivesse naquela área de experimentos.
“Qual delas devo entrar primeiro?”
Não era apenas um ou dois edifícios ali. Ele calculava que teria de vasculhar todos caso não pensasse em um bom plano, mas então decidiu ativar os Nove Olhos, só por precaução. Tudo ao redor se transformou num mar amarelo, com exceção de uma única estrutura.
“Aquilo é laranja?”
Era Não Se Aproxime. Tirando o fato de que fora construída com tijolos, parecia uma estrutura do tipo contêiner, com apenas uma janelinha.
Ele não tinha tempo para hesitar. Seol Jihu se aproximou rapidamente e se encostou na parede da estrutura. A porta estava fechada, então não conseguia ver o interior. Encostou o ouvido na parede, mas tudo estava em silêncio. Nenhum sinal de movimento.
Mas havia um motivo para aquilo estar marcado como Não Se Aproxime. Originalmente, não deveria nem cogitar entrar, mas havia uma chance de encontrá-la ali dentro.
“Só por precaução.”
Apertou o rudium com firmeza. Ele tinha um meio de contornar o perigo, então não havia motivo para se arriscar à toa.
“Abra a porta o mais silenciosamente possível. Se vir seres da sua raça se movendo lá dentro, finja que errou o caminho e saia imediatamente.”
Ele usou o rudium para controlar um Orc mutante próximo e o enviou à frente.
Creeeek…
A porta se abriu, revelando parte do interior.
“Parece uma câmara de tortura.”
Seol Jihu manteve-se colado à parede enquanto dava outro comando.
“Assinta com a cabeça se houver uma mulher humana lá dentro.”
O Orc mutante assentiu. Seol Jihu arregalou os olhos. Esqueceu de respirar por um instante. A criatura não saiu da estrutura, o que significava que, pelo menos, não havia Parasitas infectados se movendo lá dentro.
Sem hesitar, Seol Jihu entrou na estrutura imediatamente. E, quando finalmente observou bem o interior, precisou fechar os olhos com força de tanta euforia. Seus punhos se cerraram automaticamente. Confirmava, ali, que usar aquele rudium valioso não havia sido em vão.
Reabriu os olhos e avançou depressa. Uma certa mulher estava amarrada a uma cruz de madeira em forma de X, com cordas prendendo seus pulsos e tornozelos. Seu rosto estava escondido pela cabeça baixa. No entanto, aquela cascata de cabelos rosa era inconfundível para ele.
Seol Jihu encaixou a lança de gelo debaixo do braço e estendeu a mão devagar. Afastou os cabelos e tocou a bochecha ainda macia dela. Sua palma sentiu um espasmo violento.
— …Keuk!
Tremor, tremor…
O pescoço delicado dela começou a tremer. Ele até ouviu os dentes se chocando.
— Me mate!
Aquela voz… tão familiar. Mas, em vez de responder, ele levou a mão ao cristal de comunicação preso à orelha. O cristal brilhou suavemente assim que ele injetou mana.
— Eu nunca vou me submeter a…
— O que está acontecendo?
A voz de Kazuki fez a mulher de cabelos cor-de-rosa interromper seus gritos.
E então…
— …Eh?
Ela ergueu a cabeça. Avistou um certo jovem falando em tom calmo, com a mão pressionada contra a orelha.
— Encontrei a Princesa Teresa Hussey. Retornarei assim que libertá-la.
Os olhos de Teresa Hussey ficaram vidrados enquanto ela encarava Seol Jihu.
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