Índice de Capítulo

    — Sério?

    Kazuki parecia realmente aliviado.

    — Onde… Não, espera. E quanto a sinais de infecção?

    O estado de Teresa Hussey não podia ser descrito como bom nem por gentileza. Um de seus olhos estava escurecido, havia sangue seco no nariz, os lábios estavam partidos de forma grotesca, e a bochecha inchada e avermelhada…

    Diversas partes do corpo dela também estavam vermelhas e machucadas, e o fedor de todo tipo de imundície pairava ao redor. Sua aparência atual atestava as dificuldades indescritíveis pelas quais tinha passado. Mas Seol Jihu não conseguiu identificar nenhum sinal típico de infecção por reprodução forçada.

    Ele mostrou seu estado através do cristal de comunicação e falou:

    — A encontrei na área de experimentos. Parece ter sido torturada, mas não acho que tenha sido infectada.

    — Torturada? …Ah!

    Kazuki parecia ter compreendido o processo de como ela fora encontrada. Agora que a tinha visto pelo cristal, suas suspeitas também deviam ter se dissipado.

    — Hm. Eu estava voltando, mas se quiser, posso ir te ajudar.

    — Não, espera. É difícil explicar exatamente onde estou. Então, volte primeiro.

    — Entendido. Confio em você.

    A comunicação terminou ali. Seol Jihu rapidamente verificou os pulsos e tornozelos dela. Se tivesse sido amarrada com algum tipo de contenção especial, poderia ser problemático, mas felizmente, eram apenas cordas grossas. Enquanto puxava uma adaga, seus olhos encontraram os da Princesa. Ela parecia estar vendo uma miragem.

    — …Isso é um sonho?

    A voz dela estava extremamente rouca.

    — Ou uma alucinação?

    Ele apenas sorriu de volta. Ela deve ter achado sua resposta cruel, porque lágrimas volumosas se formaram naqueles olhos que pareciam joias. Fungando com o nariz avermelhado, ela continuou, suplicante:

    — Por favor, diga que não é…

    — Isso não é um sonho, nem uma alucinação.

    Seol Jihu respondeu de forma concisa.

    — Vim te resgatar, Princesa.

    — Mas, como?

    — Eu sei que você tem muitas perguntas, mas, por favor, segure elas por enquanto. Não temos muito tempo.

    Ele rapidamente se ajoelhou com um dos joelhos no chão.

    — …Ah.

    Teresa Hussey ficou subitamente aflita por algum motivo.

    — O que eu faço, o que eu faço?! Snif, agora não posso mais me casar…

    — ?

    — Eu não tive escolha, aquele desgraçado pervertido não me deixava ir ao banheiro…

    Ela explicou sua situação com uma voz cada vez mais baixinha.

    “…Desgraçado pervertido?”

    — …Está tudo bem.

    Seol Jihu respondeu em voz baixa.

    — Estou apenas grato por… você ter conseguido sobreviver até agora. De verdade.

    Ele falava com sinceridade. Como estava concentrado em cortar a corda do tornozelo dela, não percebeu qual expressão ela fez ao ouvir aquelas palavras.

    — …Posso chorar agora?

    — Não, não pode.

    — E um beijo quente?

    — Obviamente não, né?

    Enquanto trocavam essa conversa descontraída, ele levou a adaga até a corda no tornozelo dela, mas então…

    Dururuk!!

    Ouviu um som do outro lado da parede.

    Gulp!

    Prendeu a respiração. As mãos pararam de se mover. O coração palpitava e todos os músculos do corpo pareceram se contrair.

    Olhando de novo, o prédio era em formato retangular por fora, mas a câmara de tortura era mais como uma caixa quadrada. Só então ele notou uma porta num canto afastado. Lembrou rapidamente que o local estava marcado com um Não Se Aproxime. Mas havia esquecido disso por causa de Teresa Hussey.

    O que fazer agora? Azar o dele, antes que pudesse bolar um plano, ouviu o som da porta sendo aberta bruscamente. Imediatamente, abaixou o corpo e se escondeu atrás da grande estrutura em forma de X. Enquanto isso, Teresa Hussey abaixou a cabeça e começou a murmurar:

    — Alguém, por favor, me ajude. Me salvem. Eu quero ir pra casa. Ahhh…

    Ela murmurava para si mesma.

    Splash, splosh…

    Passos molhados podiam ser ouvidos antes que uma sombra enorme se projetasse sobre a estrutura de madeira.

    — Então era isso? Eu me perguntando por que tinha ouvido vozes… Era você tagarelando sozinha?

    Prrrr.

    Uma voz irritante como um brejo borbulhante veio do dono da sombra.

    A presença de espírito de Teresa Hussey ajudou a superar o perigo imediato. Mesmo assim, Seol Jihu permaneceu em alerta total. Se aquela coisa conseguia se mover mesmo sob o controle do rudium, então só podia ser uma criatura de alto rank. Ele não queria acreditar, mas estava realmente ali.

    Suor frio escorria pelas costas. Felizmente, a criatura devia estar naquele prédio desde antes e ainda não sabia o que estava acontecendo lá fora. Mas, se percebesse desde o início…

    — Hmm?

    A criatura desconhecida de repente franziu a testa.

    — Como esse desgraçado veio parar aqui?

    Naquele momento, Seol Jihu achou que o coração ia explodir, mas…

    — Eu não tinha proibido ele de entrar aqui?

    …Percebeu rapidamente que o Parasita de alto rank não estava falando dele, mas sim do Orc mutante que havia avistado durante a busca e mandado entrar no prédio primeiro.

    Foi uma sorte no meio de um mar de infortúnios, mas ainda era cedo pra relaxar. Ele agarrou o rudium com firmeza e desfez todos os controles mentais, exceto o reconhecimento de amigo ou inimigo.

    O Orc mutante se virou para sair. Até mesmo a câmara de incubação, antes silenciosa como a morte, voltou a se encher com sons de atividade renovada. A criatura Parasita desconhecida inclinou a cabeça ao ver os Orcs mutantes se movendo novamente, mas então…

    — E-Eu tô com sede…

    …Desviou a atenção de volta para Teresa Hussey ao ouvir seu gemido dolorido.

    — Água… água…

    — Hoh.

    Splash, splosh…

    A criatura se aproximou da estrutura novamente. A boca de Seol Jihu se encheu de saliva. Ele sentiu a tensão tomar conta do corpo todo e nem sequer se moveu. Até parou de respirar.

    — Kekeke. Parece que você tá vendo alucinações agora. Esse é o seu limite?

    — Água… Me dá água…

    — Pensar que você já quebrou… Que pena. Onde foi parar aquele espírito de antes?

    — Euhk…

    — Bom, acho que é porque você vem de uma espécie inferior. Ainda assim, resistiu mais do que o esperado.

    As palavras zombeteiras fizeram Teresa Hussey morder os lábios.

    — Então, quer beber água?

    Ela assentiu com a cabeça, em silêncio.

    — E quer comer alguma coisa também?

    — …Sim.

    — Então, fale.

    Ela fez uma expressão de conflito.

    — Não é difícil. Tudo que você precisa fazer é me contar.

    O Parasita desconhecido abriu os braços.

    — Nossa Rainha é magnânima e misericordiosa.

    — …

    — Mesmo que você pertença a uma das espécies inferiores, ela não te abandonará, desde que tenha alguma qualidade redentora, por mais insignificante que seja. Então, fale. Conte tudo sobre o juramento feito com os sete deuses. Essa é a única forma de provar seu valor.

    Teresa Hussey parecia mergulhada num dilema antes de baixar ainda mais a cabeça.

    — E-Eu preciso de mais tempo pra pensar…

    — Que criatura frustrante. Quanto tempo mais você precisa? Talvez ainda não tenha entendido o que estou dizendo?

    — Nós humanos somos diferentes de vocês. Eu tenho pessoas que acreditam em mim… minha família, meus amigos, meus subordinados. Se eu fizer o que você está dizendo, viro uma desgraçada que traiu a confiança deles.

    Tsk, tsk. Por isso que vocês são inferiores. Todas essas emoções são inúteis diante do novo mundo que nossa gloriosa Rainha trará a este mundo.

    — Droga! Eu entendi! Eu ouvi, só me dá um tempo pra pensar!

    Seol Jihu finalmente entendeu o que a Princesa estava tentando fazer. Ela queria afastar aquele Parasita de alto rank, dando-lhes uma chance de escapar.

    Fufufu. Você é engraçadinha, hein? Acha que eu não sei o que está tentando fazer?

    — O que foi que disse??

    — Foi quatro dias atrás, não? Você ficou enrolando, dizendo que ia pensar, e depois começou a exigir isso e aquilo? Acha que vou cair nessa duas vezes?

    “Ela já tentou isso antes…”

    Seol Jihu se desesperou por dentro. Mas então, Teresa Hussey começou a gritar:

    — Droga! Mesmo que seja só por um tempinho, já tá bom! Com você por perto, não consigo pensar direito!

    O Parasita desconhecido resmungou com desprezo, mas não disse ‘não’. Mesmo sem olhar, dava para notar que estava hesitando. Não seria tão ruim deixar ela racionalizar as coisas, certo? No entanto, não recuou pacificamente.

    — Por um tempinho, é? Suponho que não importa tanto, mas se estiver tentando me enganar de novo, é melhor se preparar.

    — Eu tô mesmo tentando pensar.

    — Muito bem. Espero que esteja falando sério. Se não…

    Pow!

    — Euh-huuk!!

    O punho da criatura atingiu brutalmente o abdômen dela. Os olhos de Teresa Hussey se arregalaram. Baba escorreu da boca entreaberta enquanto ela sufocava. O Parasita gargalhou.

    — …Vamos nos divertir de novo mais tarde.

    Cof, cof!!

    Ignorando a humana tossindo, a criatura deixou o recinto.

    Urgh, isso doeu…

    Teresa Hussey se queixou amargamente. Enquanto isso, Seol Jihu se pôs a agir rapidamente. Sentia pena pela barriga avermelhada dela, mas simplesmente não havia tempo para perguntar se estava tudo bem. Aquele Parasita de alto rank já tinha consumido tempo demais. Se não fosse pelo raciocínio rápido dela, talvez já tivesse até ultrapassado o tempo-limite.

    As cordas eram grossas, mas não representaram grande problema quando ele usou mana.

    — Consegue andar?

    — Sim… Uh, eh?

    Finalmente livre, ela vacilou ao tocar o chão. Os braços se debatiam e ela quase caiu, mas Seol Jihu a segurou a tempo. A ergueu nos braços, uma mão por debaixo dos joelhos e outra pelos ombros. Era o famoso ‘carregamento de princesa’.

    — Oh, céus~?

    Ela piscou surpresa ao se ver assim nos braços dele. Seol Jihu olhou cauteloso para fora, temendo que o Parasita ainda estivesse por perto.

    — Espero que aquela coisa não apareça tão cedo.

    — Não, vai aparecer logo. Lembra que eu já tentei enganar aquele desgraçado antes? E além disso, ele tem um pavio curtíssimo.

    Teresa Hussey falou com ironia.

    — Desde o início, eles veem o mundo de um jeito diferente do nosso. E aquela coisa é tipo um maníaco completo.

    Talvez tivesse sofrido muito nas mãos da criatura, pois rangia os dentes feito louca até que falou — Oops — e retomou o controle. Apontou para a porta dentro da câmara de tortura.

    — Vai por ali. Deve haver outra saída por lá.

    Era questão de tempo até serem descobertos. Mas isso não significava que precisavam sair pela mesma porta pela qual ele entrou, certo? Então seria uma fuga relâmpago.

    “Contanto que consigamos sair do bloco de celas…!”

    Seol Jihu organizou rapidamente os pensamentos e firmou a pegada em torno da princesa. Ela envolveu gentilmente os braços ao redor do pescoço dele e sussurrou no ouvido:

    — Vamos, meu príncipe.

    E então, Seol Jihu disparou como uma flecha.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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