Índice de Capítulo

    Voltando um pouco no tempo, logo após Seol Jihu ter sido alvejado…

    — Ah-aahk!

    Tumble!!

    Teresa Hussey foi arremessada sem qualquer aviso. Obviamente, ficou completamente atônita com o que acabara de acontecer.

    Ela não conseguia entender. O objetivo final estava praticamente ao alcance, mas, de repente, seu corpo foi lançado no ar antes de se chocar contra uma parede. Era difícil dizer que a pessoa que a carregava apenas tropeçara e caíra, pois ela sentira algo parecido com uma força de impacto muito forte no momento em que foi lançada.

    — Ai…

    Conseguiu recuperar os sentidos, mas se assustou novamente ao ver o jovem estirado no chão, tremendo de forma intermitente, com o braço estendido em direção ao vazio.

    — V-Você está bem?!

    Ela se arrastou até ele e prendeu a respiração ao ver seu estado. Não sabia o que o atingira, mas uma quantidade absurda de sangue borbulhava de algum ponto abaixo do tórax.

    — U-um sacerdote!!

    Reflexivamente, olhou para o interior do esconderijo… e ficou completamente desorientada. Aqueles que até poucos segundos atrás gesticulavam freneticamente para que os dois entrassem rápido… já não estavam mais lá. O círculo mágico tampouco emitia qualquer luz. Não havia como terem os abandonado quando estavam tão próximos, então isso só podia significar…

    “Espera aí, eles estavam com pressa, não estavam?”

    Devia haver algum motivo que ela desconhecia. Teresa Hussey chegou a essa conclusão e, em vez de se desesperar, decidiu agir. Precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa, em vez de ficar parada.

    Primeiro, arrastou o corpo trêmulo do jovem para fora da linha de visão do inimigo. Em seguida, tocou com muito cuidado a ferida sangrando usando a lança envolta em frio glacial. O gelo se espalhou instantaneamente, cobrindo o ferimento.

    Depois, segurou firmemente a cabeça de Seol Jihu com ambas as mãos e olhou direto em seus olhos. As íris tremiam como folhas soltas em tempestade. Ele arfava, como se lhe faltasse o ar, e os olhos tentavam virar para cima, revelando o branco cheio de veias de sangue. Era o sinal claro de que estava entrando em estado de choque. Provavelmente, nem sequer entendia o que estava acontecendo.

    — Seol? Preciso que me ouça.

    Ela aproximou o rosto de sua orelha e falou, articulando cada palavra com nitidez.

    — Parece que falhamos na fuga. Mas chegamos até aqui, e eu não pretendo morrer assim. Por favor, volte pra mim! Acorde!

    O tremor caótico de seus olhos confusos foi diminuindo aos poucos. Ele olhou para ela, atordoado, antes de cuspir sangue.

    — Seol!

    — Keuh… Keu-reuhk…!

    Mesmo com o sangue borbulhando pela boca, ele começou a procurar algo. Teresa viu suas mãos tateando os bolsos e, apressadamente, enfiou a mão em um deles. Encontrou um pedaço de papel dobrado ao meio.

    Ao puxá-lo, viu que era um mapa. A mão trêmula dele pressionou um ponto específico e, com o dedo tremendo, traçou uma linha quebrada e instável. A trilha ensanguentada terminou em outro ponto do mapa.

    — Idiota?

    Bem ao lado de onde o dedo parara, havia algumas anotações sobre como entrar naquele espaço. Os olhos de Teresa Hussey brilharam. Por alguma razão, sentiu que ele estava tentando guiá-la até lá.

    Não havia tempo a perder. Mesmo que a ponte aérea tivesse sido cortada, ainda estavam no meio do acampamento inimigo. Era óbvio que logo viriam atrás deles.

    “Esse ponto é onde estamos agora, e…”

    — Keuk!

    Apertando o mapa com força, apoiou-se na parede atrás de si para se levantar. Embora estivesse difícil controlar o próprio corpo, ela não tinha a menor intenção de abandonar aquele jovem.

    “Por minha causa, ele…”

    De algum modo, conseguiu ajudá-lo a se levantar. Teresa Hussey começou a andar, com esforço, um passo de cada vez.


    — É um esconderijo falso.

    O chefe da vila coçou o nariz.

    — Esconderijo falso? Como assim?

    — Eu já te disse antes, não disse? Sou uma pessoa meticulosa.

    O chefe da vila sorriu com confiança.

    — No dia em que foi emitida a ordem para encerrar o laboratório, eu fui imediatamente expulso da pesquisa.

    — Você me disse que foi a voz mais contrária de todas.

    — Exato. Eles fingiram me ignorar, mas tenho certeza de que me marcaram como alguém a ser vigiado.

    Ele continuou:

    — Voltando ao assunto principal. O esconderijo que vocês vão usar será um pouco apertado. Na verdade, chamar aquele cômodo de esconderijo já é algo um pouco forçado. Mas o esconderijo falso é uma história completamente diferente.

    — ?

    — Só pela localização, ele fica tão profundo quanto o terceiro subsolo. O processo de entrada é complicado, e foi projetado para aguentar impactos bem pesados. Tenho quase certeza de que resistiria até mesmo ao Trovão dos Anões. Prestei muita atenção àquele espaço.

    — Mas… você se deu todo esse trabalho por um simples esconderijo falso?

    — Não é ‘simples’, jovem.

    O homem mais velho balançou a cabeça.

    — É assim que se engana os outros com perfeição. Criei aquele lugar já esperando que fosse descoberto. Porém, se o esconderijo parecer amador demais, o que acham que os descobridores iriam pensar?

    — Mm… Você estava preocupado de que fossem suspeitar, né?

    — Exato. Sou conhecido como um mago meticuloso. Se eu fizesse algo de qualquer jeito, eles ficariam ainda mais desconfiados. Então, resolvi usar esse estereótipo contra eles.

    — Aha. Tipo ‘o ponto mais escuro é logo abaixo da lâmpada’, né?

    Seol Jihu soltou um suspiro admirado.

    — Exatamente. Agora pense bem. Quem imaginaria que um mago conhecido por seu planejamento minucioso esconderia um esconderijo logo atrás da própria estante, um lugar bem debaixo do nariz de todos?

    O chefe da vila sorriu novamente.

    — E não é só isso. Além de enganar os outros, eu também precisava de um segundo esconderijo. Bem, escapar não é o fim da história, certo?

    — Está falando de uma possível perseguição?

    — Exato. Resumindo, o segundo esconderijo também tem um círculo mágico de transferência.

    Os olhos de Seol Jihu brilharam intensamente.

    — Mas… é melhor não usarem esse.

    — Por que não?

    — Está conectado a algum lugar no centro do Império. Bom, se quiser uma audiência com a Rainha Parasita, fique à vontade e use.

    O local para onde o chefe da vila havia fugido era nas redondezas de Haramark. Ou seja, o esconderijo falso tinha mais uma camada de truque para enganar eventuais perseguidores.

    — …Você realmente se preparou para tudo, hein?

    — Contra o Império e o Ducado, sim, fazer isso era o mínimo. Na época, eu ainda achava que não seria suficiente.

    Seol Jihu sorriu com amargura.

    — De qualquer forma. Só estou te contando isso por precaução, mas vou rezar para que vocês não precisem usar esse esconderijo durante a missão.

    O chefe da vila falou com toda a clareza.

    — No momento em que a porta for fechada, aquele esconderijo se tornará um espaço completamente isolado. Não há rota de fuga ali. É um lugar totalmente inútil durante a missão, entendeu?

    — Pode deixar. Trinta minutos já é um tempo bem apertado, sabe.

    O chefe da vila assentiu com indiferença e umedeceu os lábios antes de murmurar com um tom um pouco mais baixo:

    — …De fato. Você só vai ter motivo pra ir até lá se estiver na pior situação possível.


    Quanto tempo havia se passado?

    Ele abriu as pálpebras, a visão turva e indistinta. Sentia-se tonto, como se coisas escuras e claras dançassem nas bordas de seus olhos.

    No fim, fechou os olhos novamente. O pescoço, as costas, os glúteos e as panturrilhas, a sensação do chão sustentando esses quatro pontos era fria e dura como pedra.

    Agarrou-se de algum modo ao tênue tecido de consciência trêmula, e Seol Jihu despertou… apenas para ver sua expressão se contorcer no mesmo instante. A enorme onda de dor era uma coisa, mas seu corpo também parecia muito diferente de antes.

    — Keuk, keuh…!!

    Tentou focar a mente e acabou soltando um gemido por conta da dor que invadia todo o corpo. De repente, se lembrou da sensação que teve instantes antes de entrar no esconderijo. Não sabia exatamente o que o havia atingido, mas, caramba, pensou que seu ombro tinha sido arrancado completamente na hora.

    No entanto, a dor insana parecia um pouco mais suave agora. Especificamente, a articulação do ombro e a lateral esquerda da cintura estavam bastante frias no momento. Era como se tivessem pressionado bolsas de gelo nesses pontos, antes de retirá-las. Por outro lado, as partes do corpo acima delas estavam pressionadas por algo macio e quente. Essa sensação inexplicável de calor era transmitida para ele.

    Frio e quente ao mesmo tempo? Qual seria a razão dessas sensações completamente contraditórias existirem juntas?

    Ele só conseguiu abrir os olhos novamente muito tempo depois. A sede arranhando a garganta fez Seol Jihu mover lentamente os olhos de um lado para o outro. Só então começou a se perguntar: “Onde estou?”

    A última lembrança de que conseguia se lembrar era o rosto de Teresa Hussey. Usou toda sua força de vontade para indicar o segundo esconderijo e… E, não conseguia se lembrar de mais nada. Devia ter desmaiado.

    “O que diabos aconteceu aqui…?”

    Onde estavam? Quanto tempo havia se passado? Ainda estavam vivos? Assim que conseguiu se acostumar minimamente com a dor, essas perguntas começaram a surgir, uma por uma.

    Uma das primeiras coisas que seus olhos turvos encontraram foi sua armadura parcialmente destruída, colocada ao lado. Ela lhe servira tão bem desde que a comprara na Zona Neutra, mas agora… Em seguida, viu a cota de malha, visivelmente coberta de sangue e com um grande rasgo na lateral. Subitamente, sentiu medo de olhar para o próprio corpo.

    “Espera aí.”

    A armadura estava fora do corpo?

    Seol Jihu gemeu de dor. Queria ver como estava a situação, mas temia que qualquer movimento desencadeasse uma torrente inimaginável de dor. Além disso, o lado esquerdo de seu corpo também estava pesado, como se estivesse sendo contido por algo.

    “Estou preso?”

    Respirando de forma rasa e acelerada, forçou suas pálpebras semicerradas a se abrirem. A visão turva se desfez quase que imediatamente.

    Seol Jihu baixou o olhar lentamente. E viu seu corpo nu, com exceção da roupa de baixo. As roupas que usava por baixo da cota de malha haviam sido usadas como ataduras, envolvendo seu ombro esquerdo e o torso.

    “Os Parasitas não iriam estancar o sangramento de seus prisioneiros, iriam?”

    — M-mng…

    Foi então que ouviu um gemido nasal roçar seu corpo e virou o olhar para a esquerda. Seu rosto confuso logo deu lugar a uma expressão de puro espanto.

    — …

    E foi aí que percebeu por que se sentia tão pesado até então. Não era imaginação: o corpo nu de Teresa Hussey estava o abraçando com força.

    Embora estivesse um tanto distraído pela sensação dos dois volumes macios e convidativos contra seu peito, logo recuperou a calma. Ela fazia aquilo para compartilhar calor corporal. Pela dor que gritava de cada parte de seu corpo, era fácil imaginar o quanto havia se ferido.

    “O que significa que esse tratamento de emergência foi feito por…”

    Finalmente, conseguiu entender qual era a situação atual. Primeiro de tudo: ele não estava morto nem capturado pelo inimigo. O que significava que Teresa Hussey havia conseguido chegar ao segundo esconderijo. E o levara com ela.

    “Ufa…”

    Por mais que pensasse, nada fazia sentido. Estava quase lá. Onde havia dado errado?

    Seol Jihu lambeu os lábios ressecados, tentando acalmar a própria agitação.

    O futuro ainda parecia sombrio, com certeza. Mas havia sobrevivido. E parecia que os Parasitas ainda não haviam descoberto aquele local.

    Seol Jihu sentiu um alívio momentâneo e agradeceu mentalmente ao chefe da vila. Em seguida, sussurrou suavemente para Teresa Hussey:

    — Princesa?

    — H-ng… Mm?

    Teresa Hussey abriu os olhos.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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