Índice de Capítulo

    Nenhum som pôde ser ouvido. Também não houve prelúdio.

    Ainda assim, Seol Jihu pôde sentir claramente. Sentiu a enorme pressão do ar vindo de encontro a ele num instante, como se quisesse calar sua boca de vez. Se a Fada Celeste não o segurasse com os braços fortemente entrelaçados atrás de suas costas, ele já teria sido arremessado.

    — Então este é o Espírito do Vento…!

    Era uma experiência completamente diferente do Brinco Festina. O redemoinho de ventos impetuosos parecia empurrar seu corpo inteiro.

    Aumentar a velocidade o máximo possível antes de sair da cordilheira e, no exato momento em que deixassem a segurança relativa das montanhas, tomar emprestado o poder dos Espíritos para ultrapassar sua velocidade máxima. Esse era o plano.

    E assim, oito figuras voadoras, reunidas num único grupo, cruzaram os céus como se fossem rasgá-los ao meio.

    Antes, a Anja Caída havia chamado esse plano de ‘Afundar ou Nadar’, considerando que precisavam superar dois grandes obstáculos. Mesmo que conseguissem de alguma forma sobreviver ao primeiro, ela dissera que o segundo dependeria da sorte.

    Ainda assim, havia um motivo para o plano de Seol Jihu ter sido escolhido. Isso porque eles tinham algo para bloquear os perseguidores.

    — Com essa velocidade…!

    Seria essa a sensação de enfiar a cabeça para fora da janela de um carro esportivo rápido o bastante para sobreaquecer o motor? Parecia que seu rosto ia se despregar devido à resistência do ar.

    Forçou as pálpebras, que insistiam em se fechar, a se manterem abertas e continuou encarando à frente. A cordilheira ficou para trás num instante, e uma vasta extensão de floresta se estendia diante de seus olhos.

    Pouco antes de entrarem nela…

    Kyahaaaaaah!!

    De algum lugar abaixo, um grito estridente explodiu. Seol Jihu estalou a língua por dentro. Teria preferido muito mais não ter sido descoberto, mas parecia que isso não seria possível. Afinal, eles estavam atravessando o céu aberto como se gritassem: ‘Ei, olhem pra gente!’

    A menos que os Parasitas fossem cegos, certamente descobririam o grupo em fuga.

    Barum!!

    O som de uma horda correndo pelo chão ressoou. Incontáveis sombras estranhas surgiram de todos os cantos próximos à entrada da floresta.

    E não foi só isso. Barulhos de asas potentes batendo e zumbidos desagradáveis e insetoides iniciaram seu ataque implacável.

    Pouco tempo depois, Seol Jihu viu a horda de Parasitas se reunindo bem no caminho da fuga e limpou a mente. Tudo seria decidido num único momento.

    A distância entre seu grupo e os inimigos desapareceu num piscar de olhos. Ele manteve os olhos bem abertos e se preparou para o impacto.

    Pouco antes de os dois lados colidirem, a Anja Caída e as Fadas Celestes entoaram outro encantamento.

    Woong, woong!!

    A primeira coisa a entrar em contato com aquela muralha de criaturas foi a barreira arredondada que apareceu de repente ao redor da Anja Caída. Ao mesmo tempo, a rajada de vento aumentou ainda mais sua velocidade, e uma elasticidade explosiva foi acrescentada à já veloz investida da Fada Celeste.

    Crack!

    Kwang!

    Junto ao som de algo se partindo com força, explosões ressoaram no ar. Seus ouvidos ensurdeceram e sua visão foi tomada por um borrão de escuridão repentina. Mas, um segundo depois, a escuridão se dissipou, e o céu azul o saudou mais uma vez.

    Foi nesse instante que Seol Jihu soube que haviam atravessado a muralha com sucesso. Os Parasitas voando ao redor começaram a se reunir com urgência, sem dúvida convocados por uma ordem telepática, mas isso não seria suficiente para retardar o esforço determinado do grupo em abrir caminho num único ponto.

    Em outras palavras, a decisão de perfurar o obstáculo com um ataque frontal resultou em superar o primeiro desafio com segurança.

    — Euhk…!

    O impacto residual daquela travessia forçada fez o corpo de Seol Jihu estremecer. No entanto, ele não teve sequer tempo para se recompor.

    Tudo até agora havia se desenrolado conforme o esperado. O motivo de a Anja Caída ter considerado a fuga impossível era a existência dos atiradores chamados ‘Fantasmas do Mal’. Para piorar, aparentemente havia centenas deles escondidos naquela região.

    Resumindo, eles haviam conseguido entrar na Floresta da Negação, mas ainda era cedo demais para comemorar, pois todos sabiam que tipo de ataque viria a seguir. Usaram tudo o que tinham para aumentar a distância, enquanto entoavam feitiços protetores, um após o outro, sem pausa.

    Seol Jihu engoliu em seco, nervoso, ao ver barreiras sendo empilhadas uma sobre a outra. Foi então que sentiu sua respiração parar. Por algum motivo, seu ombro esquerdo ferido voltou a doer.

    Uma certa sensação sombria começou a se espalhar por ele. Se fosse colocar em palavras, era como se uma agulha muito afiada estivesse roçando de leve contra seu tornozelo.

    Infelizmente, a sensação não parou por aí, e agora parecia arranhar sua carne enquanto subia cada vez mais. A velocidade do voo era tamanha que seu cabelo ameaçava ser arrancado pela raiz, mas, ainda assim, aquela sensação incômoda grudava nele com mais força do que antes.

    — Isso…

    No momento em que seu cérebro soou o alarme…

    Tang, tang, tang, tang!

    Um número indefinido de disparos ecoou no ar. Ele pôde ver claramente o que aconteceu a seguir. As Fadas Celestes à direita e na retaguarda do grupo subitamente se afastaram da rota de voo. O significado daquele movimento era claro. Suas barreiras haviam sido todas destruídas.

    As duas fadas caíram ao chão sem forças, como borboletas de asas encharcadas. Parte da horda de Parasitas em perseguição desceu e as cercou.

    Depois de ver os corpos das fadas celestes cheios de buracos, riram alto. Mas as Fadas Celestes apenas sorriram, mesmo tremendo de dor intensa.

    Ao ver aqueles sorrisos debochados, os Parasitas pararam de rir. A tentativa de fuga havia falhado, então por que elas estavam sorrindo?

    Logo entenderam. Reunindo os últimos resquícios de força, as Fadas Celestes ergueram as mãos trêmulas. Antes que qualquer um pudesse fazer algo, as pedras azuladas em suas mãos começaram a emitir uma luz ofuscante.

    Barum! Barum!

    Dois Trovões ressoaram com força suficiente para sacudir o mundo, com um curto intervalo entre eles. Seol Jihu apertou os olhos instintivamente diante do clarão. Se pudesse, também teria tapado os ouvidos.

    No entanto, esse pensamento durou pouco. Embora os primeiros disparos dos franco-atiradores tivessem acabado de cessar, a sensação incômoda ainda permanecia. Em vez de parar, aquilo passou por seu coração, por seu rosto, e seguiu para a frente…

    “…Frente?”

    Abriu os olhos rapidamente e percebeu a origem daquela sensação estranha. Ficou completamente chocado ao olhar para cima. Ao ativar os Nove Olhos, viu que o ar aparentemente vazio à sua frente era uma mistura de cores vermelha e preta. Antes que pudesse gritar: ‘É perigoso.’

    Tang!!

    Um disparo ecoou. Não hesitou nem esperou Seol Jihu concluir seus pensamentos.

    — Aaaak!

    Um grito curto perfurou o ouvido de Seol Jihu. Seu campo de visão se inclinou de repente. Agora ele estava caindo, enquanto os outros ainda voavam. Seus olhos captaram a Anja Caída, que carregava Teresa, se distanciando mais e mais a cada segundo.

    — N-Não…

    A dor insuportável atacou a Fada Celeste, e sua concentração se desfez. Naturalmente, a rajada de vento também se dissipou. Ela ainda conseguiu segurar o braço que mantinha o jovem humano consigo, mas só isso. Esforçou-se para bater as asas, mas, com uma delas parcialmente destruída, tudo o que pôde fazer foi suavizar o arco da queda.

    Eventualmente, despencaram na floresta como um avião de papel sem impulso.

    — Fuuuph!!

    Não foi um pouso seguro. Assim que tocaram o chão, os dois rolaram como argolas. Pareciam ser arrastados por ondas gigantes que colidiam violentamente contra eles.

    Embora Seol Jihu estivesse com uma vertigem severa, cerrou os dentes e se agarrou ao fio tênue da consciência. Recusava-se a desistir ali.

    — Heuuuuu…!

    Estava tonto. Sentia como se o mundo girasse ao seu redor, mas forçou-se a levantar. Virou-se instintivamente, e sua visão turva localizou a Fada Celeste caída perto de seus pés, gemendo de dor. Seu capuz fora puxado para trás durante os tombos, e seus cabelos azul-claros estavam espalhados de forma desordenada.

    Por um instante, uma hesitação lampejou em sua mente. Mas ao se lembrar de como ela o segurara com força mesmo durante o impacto da queda, moveu o braço esquerdo.

    Seu ferimento ainda não estava completamente curado, então, ao se mover, a dor se intensificou quase imediatamente. O som de seus dentes rangendo era tão assustador que parecia estar tentando triturar os molares até virarem pó.

    “Precisamos sair daqui.”

    Conseguiu, com esforço, levantar a Fada Celeste. Em seguida, ativou o Brinco Festina.

    “Só mais um pouco. Só mais um pouco.” Esse pensamento solitário o impulsionou a mover os pés.

    Infelizmente, o tempo era justo com todos, e a realidade, fria e impiedosa. Todo o tempo gasto caindo, rolando no chão, se levantando e erguendo a Fada Celeste foi mais do que suficiente para o ‘Fantasma do Mal’ preparar uma nova rodada de tiros. Além disso, foi mais do que tempo suficiente para a horda de Parasitas que os perseguia loucamente alcançá-los.

    Antes que pudesse dar mais alguns passos, o som de um disparo ecoou de forma cruel.

    — Ahk!!

    Seol Jihu foi atingido diretamente na coxa e caiu novamente no chão. Para piorar, sentiu a aproximação de presenças barulhentas.

    — …Haa.

    A dor era inimaginavelmente lancinante, mas ainda assim uma risada vazia escapou de seus lábios. Alguém já não lhe dissera isso? Que os Parasitas sempre superavam as expectativas? Essas palavras voltaram agora para assombrá-lo. Deveria dizer que isso era trapaceiro demais?

    Não, ele havia sido ganancioso demais, esperando que os inimigos fossem complacentes. Os Parasitas eram famosos por sua crueldade e frieza, não eram generosos a ponto de esperar o protagonista se fortalecer ou um mecha gigante terminar de se transformar.

    “Droga…”

    Não havia saída. Nenhuma. Por mais que forçasse o cérebro, não conseguia pensar em uma forma de se salvar. Nem ao menos sabia onde estava. O pior de tudo era que a Visão do Futuro, que sempre se ativava nos momentos de perigo, não dava nenhum sinal.

    “É o fim?”

    Quando seus pensamentos chegaram ali, as lágrimas começaram a se acumular em seus olhos. Os últimos oito dias de sofrimento passaram por sua mente. Pensar em todos os obstáculos inimagináveis que superara até ali o deixava furioso e ressentido. A tristeza o engoliu como uma onda gigante.

    — …Keuk!

    Lágrimas que achava terem evaporado há muito tempo escorreram por seu rosto. Mesmo assim, seus braços se debatiam enquanto ele rastejava no chão. Quão miserável e patético devia estar naquele momento?

    Ainda assim, não se importava. Mesmo que tivesse de se arrastar na lama, preferia isso à morte. Não se importava se os outros o achassem patético ou um verme.

    “Eu quero viver…!”

    “Contanto que eu possa sobreviver.” Não conseguia abrir mão desse desejo, mesmo com os passos da morte se aproximando cada vez mais.

    Então…

    — …Aju…

    Com os lábios trêmulos…

    — …da…

    Agarrou a grama como se fosse um último recurso…

    — …por favor…

    Enquanto arfava e chorava baixinho…

    — …Ajude, por favor…!

    Gritou com todas as forças.

    CLANK!!

    O som de uma certa porta se abrindo ecoou no ar.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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