Capítulo 154: Seol Jihu vs Teresa Hussey (1/3)
A Floresta da Negação costumava ser o centro de uma tempestade furiosa de trovões e tiros, mas, a partir de certo momento, tornou-se estranhamente silenciosa, como se tudo que acontecera antes não passasse de uma alucinação.
Na quietude que fluía lentamente, Teresa Hussey permaneceu sentada no chão por um bom tempo. Ser naufragada e flutuar sem rumo por um oceano infinito se pareceria com isso? Ela poderia ter suspeitado que a fuga frenética de alguns minutos atrás fora apenas um pesadelo, se não fosse por todos os vestígios de sangue e vísceras espalhados desordenadamente ao redor.
Eventualmente, ela recobrou os sentidos ao avistar a Fada Celeste caída no chão, imóvel como um cadáver. Pensando bem, os ferimentos de Seol Jihu também eram bastante graves. Se ela não viu errado, sua coxa estava encharcada de sangue fresco. Provavelmente havia sido alvejado novamente.
Seu corpo já estava em péssimo estado, então será que ele conseguiria aguentar mais um ferimento? E, além disso, será que aquela mulher fantasma conseguiria tratá-lo?
Nada parecia certo naquele momento. Teresa concluiu que o tratamento de Seol deveria ser a prioridade, acontecesse o que acontecesse. Empurrou o próprio corpo para se levantar e ajudou a Fada Celeste a ficar de pé. Não teria problema algum em desabar no chão e descansar um pouco, mas aquela tentativa de fuga estava longe de ter terminado. Um descanso longo, longo mesmo, podia esperar.
Ela conseguiu se arrastar com a Fada Celeste até o túmulo e viu que a Anja Caída estava ocupada tratando de outras duas Fadas Celestes que gemiam de dor. Todos haviam sofrido ferimentos, dos pequenos aos graves. Duas não conseguiram despistar os perseguidores e morreram. Mesmo assim, seis conseguiram escapar. No mínimo, isso poderia ser considerado um sucesso retumbante em comparação ao plano de criar distrações.
Teresa deitou a Fada Celeste no chão e perguntou à Anja Caída:
— E o Seol?
— …Ela o levou para dentro.
A Anja Caída respondeu com o rosto calmo, mas a voz levemente trêmula. Parecia que ela também vira a mulher fantasma.
— Precisamos tratar o Seol também…
— Então entre e traga ele.
A Anja Caída falou de forma direta.
— Eu não vou pôr os pés lá dentro.
E acrescentou com firmeza e convicção:
— Não sei que atrocidade esse humano desconhecido cometeu nesta floresta, mas não há dúvida de que ele era um lunático.
— Como assim?
— Certamente você pode deduzir sozinha, já que também sentiu aquela aura maligna.
— I-Isso…
— Aquela alma… ela morreu com o coração tomado por uma quantidade verdadeiramente horrenda de ressentimento. Mas então, em uma situação em que apaziguá-la talvez nem trouxesse um resultado desejável, ainda assim a confinaram ali à força. O ressentimento concentrado vem se acumulando aqui há centenas de anos. Como não haveria o nascimento de um espírito vingativo?
— Uuuu…
Teresa esfregou os braços descobertos. Ainda conseguia se lembrar vividamente de todos os cadáveres de Parasitas mortos de formas cruéis e variadas. Para ser sincera, ela deveria estar se sentindo aliviada por ver seus inimigos jurados morrendo daquele jeito, mas…
“Assustador…”
A aura hostil emanada pela mulher fantasma era tão sinistra e maliciosa que Teresa jamais conseguiria considerá-la uma aliada. No fundo, ela até se sentia grata por a fantasma não tê-los atacado também.
Teresa não queria vê-la novamente se pudesse evitar, mas também não podia abandonar Seol.
Reunindo toda a sua coragem, Teresa parou diante do túmulo.
Brrr…
A aura maligna que escapava da estrutura era tão aterradora que seu corpo tremia sozinho, mas havia algumas certezas em sua mente. Não se sabia que método Seol Jihu usara, mas aquela mulher fantasma parecia estar protegendo-o por algum motivo. Isso queria dizer que ela era capaz de ouvir palavras. E também, embora tenha demonstrado certa animosidade, ela não atacou mais ninguém.
Teresa abriu a boca para falar:
— S-Senhorita Fantasma?
O discurso polido escapou por conta própria. Ela podia ser uma veterana Cavaleira Princesa que já vivenciara todos os tipos de batalhas e dificuldades, como combates aéreos e brigas de rua, mas, mesmo assim, não havia como evitar. A verdade era que tivera uma experiência traumática quando criança e, por isso, realmente detestava fantasmas e espectros.
— Hã, você poderia abrir essa porta, por favor?
Nenhuma resposta. Ainda assim, Teresa insistiu e continuou:
— Tenho certeza de que você já percebeu. Ele é um dos nossos companheiros. Está em estado grave e, se não for tratado logo, pode acabar morrendo. Eu juro que não vou fazer nada de ruim, então, por favor, deixe-me entrar.
Ela se explicou da melhor forma possível para ser compreendida, mas, novamente, não houve resposta. A essa altura, começou a suspeitar se a fantasma estava usando aquela oportunidade para prendê-lo e deixá-lo morrer. Não pôde evitar imaginar que ela queria transformar Seol em um fantasma também, para que pudessem viver juntos num romance pós-vida. Se fosse esse o caso, então ela simplesmente teria que arriscar tudo e impedir isso de acontecer.
— Por favor, eu te imploro. Aquele cara… ele passou por um inferno pra chegar até aqui. Nós mal conseguimos sobreviver a tudo isso, mas se ele acabar morrendo agora… Heuk?!
Clack.
O som da porta se abrindo ecoou. Teresa já se preparava para tapar a boca com uma mão e desabar em lágrimas, mas, ao ver a porta metálica escancarada, ergueu o punho no ar num gesto de comemoração.
— Abriu!
Gritou empolgada, mas a Anja Caída apenas a encarou com uma expressão que dizia: ‘E daí? O que você quer que eu faça com isso?’
A Anja Caída falou:
— Entre e traga ele.
— Bem, eu… Hein?
— Já disse antes. Eu não vou entrar.
— Escute aqui, Senhorita Anja Caída…
— Recuso.
— Não, espere. Você deveria ser uma ‘Anja’, como é que pode ter medo de um fantasma?
— Não é como se eu sempre tivesse medo deles. Eu apenas… passei a temê-los, só isso. Por favor, tente entender.
A Anja Caída se virou. E então…
Swish.
Algo explodiu de dentro do túmulo e roçou o pescoço de Teresa. A aura era tão intensa que, mesmo apenas roçando, fez os cabelos rosa e emaranhados dela se agitarem para o alto.
— Uh?!
Justo quando a expressão de Teresa começava a se apagar, um fluxo de fumaça negra se enrolou firmemente ao redor da cintura da Anja Caída e a puxou com força. Ela se debatia desesperadamente com braços e pernas, mas acabou sendo arrastada para dentro do túmulo. Seu grito longo ecoou atrás de sua figura desaparecendo lá dentro, e logo em seguida, a porta metálica se fechou com força.
Uwaaaaaah!!
Para um grito, até que soava meio… simples.
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