Índice de Capítulo

    Seol Jihu saiu do túmulo vinte minutos depois. A fantasma estava curiosa para saber como ele havia acabado naquele estado miserável, e, quando ele começou a explicar tudo com detalhes, acabou levando mais tempo do que esperava.

    Pediu desculpas por incomodá-la daquela forma e prometeu voltar para vê-la em breve, selando a promessa com um mindinho. A mulher fantasma parecia relutante em deixá-lo ir, mas não tentou impedi-lo. Mesmo com um olhar casual, era evidente o quão ruim estava seu estado atual, então ela concluiu que o melhor era mesmo ele retornar à civilização o quanto antes.

    O pessoal da Federação já havia partido há muito tempo quando ele finalmente saiu. Teresa, agora completamente sozinha, estava agachada no chão, chupando o talo de uma grama de origem duvidosa. Ao vê-lo sair ileso, pulou de alegria. Os dois se abraçaram e celebraram a sobrevivência por um instante. Mas não foi só isso.

    — Toma.

    Teresa estendeu uma túnica marfim na direção dele, dizendo que havia conseguido duas da Anja Caída. Era pequena e mal cobria seu traseiro, mas ainda assim era melhor do que nada. Além disso, ele já começava a se preocupar com o momento de entrar na cidade, então Seol Jihu aceitou de bom grado.

    — A propósito, o que é isso?

    — O que é o quê, Princesa?

    — Por que tem algo amarrado na sua cabeça?

    Teresa apontou com o dedo indicador e perguntou. Ele, por reflexo, apalpou a própria cabeça e logo ficou boquiaberto. A pulseira dourada estava amarrada em seu cabelo.

    — S-Santa?

    Lembrou-se de ter se perguntado por que a cabeça estava coçando.

    Claro, ele tentou devolver o artefato, mas a entrada permanecia firmemente trancada. Bateu e puxou a porta com todas as forças, mas foi em vão. A porta não cedia nem um milímetro. Decidiu deixar o presente ali, na frente do túmulo, mas, menos de dez segundos depois, a coceira voltou. Quando se assustou e levou as mãos à cabeça, o maldito bracelete já estava preso ali, enfeitando seu cabelo.

    — Ehehe.

    Ao ver aquela fumaça negra fugindo como uma criança travessa, Seol Jihu só pôde suspirar.

    “Não é que eu não queira…”

    De fato, quem rejeitaria um presente tão valioso? O problema era que ele sentia que não tinha direito algum de aceitar algo assim.

    Ainda assim, decidiu aceitá-lo. Fez uma reverência ao túmulo mais uma vez e se virou para partir.

    Eles haviam escapado das garras dos Parasitas, mas ainda era cedo para dizer que estavam completamente a salvo. A nova prioridade era sair da Floresta da Negação sem se meter em mais encrenca.

    Seol Jihu caminhava sem pensar em nada em especial, mas foi forçado a parar ao ver Teresa repentinamente se ajoelhar.

    — Alteza?

    — …Então é esse o efeito, hein.

    — Você está bem?

    — Não se preocupe, é só um incômodo.

    Teresa se levantou devagar, limpando os lábios com as costas da mão.

    — Comparado à perseguição dos Parasitas, isso é…

    Sua voz aumentou abruptamente e seus olhos se arregalaram. Seol Jihu pensou em perguntar o que havia de errado, mas ela levou o dedo aos lábios primeiro.

    — Shhh. Por favor, silêncio.

    Seus olhos se estreitaram. Ele ergueu a lança e começou a examinar os arredores, mas seus movimentos também cessaram repentinamente.

    Trickle, trickle…

    Ouviu-se o som de água corrente.

    Eles se entreolharam, atônitos. Precisavam mesmo dizer alguma coisa? Como se tivessem feito um pacto antecipado, correram na direção do som da água.

    Pouco depois, encontraram um enorme lago na entrada da Floresta da Negação. Ele era alimentado por um pequeno riacho, e sua superfície reluzia como um espelho sob o sol. A água era tão pura e límpida que dava para ver o fundo.

    No entanto, nada de admirar a paisagem. No instante em que viram o lago, enfiaram as cabeças direto dentro da água.

    Gulp, gulp!! Slurp, slurp!!!

    Beberam desesperadamente, sem nem mesmo parar para tomar folego.

    — Que delícia!!

    A água do lago era pura demais, absurdamente refrescante. Parecia até doce. Quanto mais ele bebia, mais sua garganta se umedecia, e a sensação era como se a água se grudasse à língua feito cola. A sensação das chamas internas sendo apagadas num instante era uma espécie de êxtase divino impossível de descrever.

    — Tão doce! Tão boa!!

    — Pu-hahaaah!

    Teresa ergueu a cabeça e caiu na gargalhada ao ver Seol Jihu praticamente submerso, bebendo direto do lago. Ele prendeu a respiração até o limite para sugar o máximo possível e só então ergueu a cabeça, com um sorriso meio bobo.

    Nunca imaginou que água pudesse ter um gosto tão maravilhoso. Estava verdadeiramente feliz. Tão feliz, na verdade, que por um instante achou que poderia morrer de felicidade ali mesmo.

    Os dois beberam até se fartar. Seus corpos, que há muito clamavam por qualquer traço de umidade, finalmente relaxaram por completo, saciados. Mas então, Teresa se levantou de repente, como se apenas beber não fosse suficiente. Tirou a túnica e a cota de malha em miniatura e, então…

    — Eiii!

    Splash! Saltou direto para dentro da água.

    — Ah, aaaaah~… Huwaa~ang…!

    Seu corpo inteiro estremeceu e ela soltou um som esquisito.

    — Você faz ideia do quanto eu queria tomar um banho?!

    Ela até choramingou enquanto mergulhava fundo e depois voltava à tona. Ao vê-la tomar banho daquele jeito, Seol Jihu não conseguiu se conter. Seguindo o instinto, tirou a túnica e a cueca amarelada e se jogou no lago.

    — Euh… Euhuh-uhh!!

    O corpo inteiro de Seol Jihu estremeceu violentamente. Agora ele entendia por que Teresa havia feito aquilo antes.

    A sensação da água tocando seu corpo sujo e empapado de suor? Em uma palavra: revigorante. Tão, tão revigorante e iluminadora que ele sentia que poderia até enlouquecer ali mesmo. Cada vez que sentia a água limpa passando por sua virilha, um calafrio delicioso percorria seu corpo inteiro, e ele só queria gritar de alegria e rolar pelo chão sem se importar com nada.

    Mergulhou até cobrir a cabeça e começou a lavar o corpo às pressas. Esfregou e esfregou com força, fazendo o pus seco, a sujeira e o suor grudado derreterem da pele. Sentiu pena pelos peixes que viviam no lago, mas mesmo assim não parou de se limpar.

    Aaaaaah~~. Estou tão feliz~.

    Teresa também cantarolava de pura alegria. Seus olhares se cruzaram e, ao mesmo tempo, risadas felizes escaparam de suas bocas. Não havia nada de engraçado naquilo, mas simplesmente não conseguiam se conter.

    — Não é muito melhor estar vivo?

    Teresa perguntou com um sorriso largo nos lábios. Seol Jihu assentiu com a cabeça, mas então seu olhar parou subitamente. A Princesa aproveitava os raios quentes do sol enquanto passava os dedos pelos cabelos encharcados para jogá-los para trás.

    Talvez fosse porque todas as camadas acumuladas de sujeira haviam finalmente sumido? Tendo recuperado sua aparência original, seu corpo nu era de uma beleza de fazer doer os olhos. Sua pele, molhada com abundante água escorrendo sensualmente, refletia a luz do sol e emitia um brilho etéreo, suave como o de um pêssego. Seu pescoço e ombros se curvavam com graça, como uma orquídea selvagem, e logo abaixo… um par de seios orgulhosamente firmes e imponentes…

    — Muito bem! Claro que eu vou contar! Primeiro, ela tem cerca de 32D no busto, e a cintura é tipo…

    …De repente, Seol Jihu se lembrou das palavras de Ian e desviou o olhar apressadamente. Também não se esqueceu de cantar o hino nacional da Coreia mentalmente, só por precaução.

    — …Mm?

    Ao vê-lo em pânico e todo atrapalhado daquele jeito, Teresa logo percebeu o que estava acontecendo. Um sorriso refrescante surgiu em seus lábios.

    — Por que está com vergonha? A gente já viu praticamente tudo que tinha pra ver, não é?

    Bem, isso era verdade. Já estavam meio acostumados a ficarem quase completamente nus, e, durante as noites, se abraçavam apertado para conseguir dormir.

    — M-Mas, isso é isso, e aquilo foi aquilo. As circunstâncias mudaram, não concorda?

    Seol Jihu gaguejou sem querer. Teresa o encarou por um instante, mas então o canto de seus lábios se ergueu de forma sutil. Agora que se sentia renovada e viva, seu lado travesso despertava novamente. Ela dividiu a água com facilidade e se aproximou dele antes de lançar, de repente, uma pergunta:

    — E então, o que achou?

    — ??

    — É rosado, não é~?

    — …

    Sinceramente? Ele viu. Não podia fingir que não sabia do que ela estava falando, mas isso não queria dizer que conseguiria pensar em algo para dizer naquele momento.

    — Não é? Ou estou errada?

    Ele fechou os olhos com força, involuntariamente. E com isso, ela o pegou direitinho.

    — Ai, ai~. Meu cavaleiro não quer dizer nada. Está desobedecendo uma ordem direta~?

    — …Gostaria de evitar ser condenado à morte por lesa-majestade1, Alteza.

    — Do que está falando? Não temos uma lei dessas. De qualquer forma, então quer dizer que você viu mesmo, né?

    Seol Jihu mal conseguiu assentir. Ele realmente não queria deixar que ela o manipulasse daquele jeito. Infelizmente para ele, Teresa estava especialmente persistente agora que tinha fisgado sua presa.

    — Hm~~. E então, para onde você estava olhando?

    — Perdão?

    — Você sabe, você disse que confirmou que é rosado, então estou perguntando: qual parte?

    Ela colocou as mãos na cintura, como uma super-heroína, e perguntou com toda a confiança do mundo.

    — …Você já sabe.

    — Sinceramente? Não sei, não. Não é só um ou dois lugares, então como posso adivinhar?

    Teresa enrolou uma mecha do cabelo exuberante com os dedos e deu de ombros. Enquanto fazia o possível para cobrir a própria virilha, Seol Jihu a estudava e seu sorriso desarmante.

    Então…

    “Por que ela tá fazendo isso?”

    …Uma certa emoção começou a ferver dentro do peito. Ele se lembrou de que ainda estavam na Floresta da Negação e pensou, “Ah, merda”, mas os efeitos já haviam começado.

    “Ela sabe que estou ficando envergonhado… então por quê?”

    As chamas se acenderam dentro dele e cresceram poderosas demais para serem contidas num instante.

    “Ela gosta de zombar dos outros? A personalidade dela é assim?”

    Seol Jihu parou de se cobrir. Estava planejando deixar pra lá depois de um tempo, mas agora não conseguia mais se conter.

    — Não tenho certeza.

    — Ei~ii. Você disse que viu antes!

    — É, eu vi, mas tudo passou tão rápido… Não lembro direito.

    Seol Jihu começou a responder com atrevimento agora. Teresa percebeu que algo tinha mudado, e seus olhos piscaram, confusos.

    — Não tenho certeza mesmo, então… Ah, Princesa, talvez você possa me dizer.

    — …Eh?

    — Por favor, me diga com suas próprias palavras onde é rosado.

    Ao vê-la se atrapalhar com a resposta, um sorriso vitorioso apareceu no rosto dele.

    — …Hnng.

    Ela logo recuperou a compostura, cruzou os braços e lançou-lhe um olhar altivo.

    — Ohhh, então… você quer que eu pessoalmente te diga. É isso?

    — Sim, Alteza.

    — Oho.

    Ela sorriu, com uma expressão que dizia claramente: ‘Você ousa me enfrentar?’

    — Claro, não é como se eu não pudesse te contar, né?

    Ela olhou ao redor e então bateu palmas levemente.

    — Pode me perguntar se eu estou olhando para o lago?

    — Por quê?

    — Ah, só. Não é um pedido estranho, né~? Pode me perguntar isso, vai.

    “Perguntar se ela já viu um fantasma?”

    Embora estivesse desconfiado do rumo da conversa, ele fez o que ela pediu.

    — Princesa, você está olhando para o lago?

    Foi então que Teresa formou um sorriso todo refrescante, como se ele tivesse caído direitinho na armadilha.

    — Sim, estou.

    E respondeu:

    — Sim, estou olhando.

    Por algum motivo, ela deu bastante ênfase naquela palavrinha no meio. Seguiu-se um curto silêncio.

    — …Ah.

    Seol Jihu inclinou um pouco a cabeça, acompanhando o olhar dela, mas eventualmente sua expressão endureceu feito pedra, e então…

    Splash!

    …Mergulhou às pressas sob a água.

    Naquele dia, o S.S. Seol Jihu içou pela primeira vez a bandeira da rebelião, apenas para ser afundado nas profundezas do oceano por um único ataque concentrado do S.S. Teresa.2

    1. É um crime que, historicamente, referia-se à traição ou atentado contra um soberano ou contra a autoridade do Estado, especialmente em regimes monárquicos.[]
    2. Desculpe se a tradução ficou um pouco confusa, não fui capaz de traduzir propriamente um trocadilho coreano… 보지요 é a forma cortês afirmativa de 보다(Ver), porém, 보지 sem o sufixo 요 é uma gíria vulgar para vagina; dando a entender que ela estava olhando para a própria…[]
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