Capítulo 157: Depois da Tempestade Vem a Bonança (1/2)
Seol Jihu e Teresa Hussey permaneceram no lago por dezenas de minutos, mas sabiam que não podiam ficar ali até o fim dos tempos. Agora que haviam saciado a sede e enchido o cantil com água, partiram relutantemente.
A dor ainda atravessava seus corpos a cada passo, mas a situação estava muito melhor agora que não estavam mais desidratados. Seus passos estavam mais leves ao saírem da Floresta da Negação e subirem a Colina Napal. Claro, não se forçaram demais e faziam pausas periódicas, caminhando tanto de dia quanto de noite.
Na terceira noite desde a partida da Floresta da Negação:
— O que você vai fazer primeiro quando voltar?
Perguntou Teresa no meio da marcha noturna.
— Quando eu voltar para Haramark?
Havia muitas coisas que ele queria fazer: encontrar seus companheiros, comer comidas deliciosas e beber até não aguentar mais, tratar seus ferimentos, ir ao templo, treinar assim que se recuperasse, e…
— Hã?
De repente, teve a sensação de estar esquecendo algo importante…
— Da próxima vez que você precisar ir a algum lugar, qualquer lugar, você me liga antes. Está me ouvindo?
— Ah!
Ele mal conseguiu se conter para não gritar em voz alta. Na verdade, Seol Jihu havia hesitado em ligar para Kim Hannah antes de partir para a missão de resgate. No fim, decidiu não fazer isso, sabendo que ela jamais aprovaria sua ida.
Ele queria concluir a missão em segredo e fingir que não sabia de nada, mas… bem, agora que as coisas haviam chegado a esse ponto, havia pouca ou nenhuma chance de ela não ter descoberto.
“Minhas costas…”
Ao se lembrar do poder do tapa de Kim Hannah, Seol Jihu suspirou por dentro. Teresa continuou falando, sem saber o que se passava na cabeça do jovem.
— Quer me acompanhar até o palácio real?
— Palácio real…?
— Sim!
Seol Jihu hesitou. Achou que talvez pudesse sobreviver se pedisse proteção à Família Real de Haramark. No entanto, logo balançou a cabeça.
Deixando de lado se isso era possível ou não, ele não podia ficar trancado no palácio real para sempre. Como diz o ditado, ‘quanto mais cedo, melhor’, ele não queria arriscar cinco tapas virarem vinte só por estar com medo.
— Obrigado, mas… acho que vou me reportar à Carpe Diem primeiro. Preciso avisá-los de que estou vivo.
— Não se preocupe com isso. Vamos convidá-los ao palácio também.
— Tudo bem, mas na verdade, eu queria surpreendê-los.
Teresa ficou bastante surpresa.
— Você tem uma personalidade bem estranha. Tudo bem então, vou convocá-lo depois.
Parecia que ela realmente queria convidá-lo ao palácio. Seol Jihu não tinha motivo para recusar, então assentiu com a cabeça.
O caminho gramado por onde caminhavam logo se conectou a uma ampla estrada artificial. Então puderam ver uma muralha cinza erguendo-se sob o céu noturno. Embora ainda estivessem a uma boa distância dela, era inegavelmente uma muralha de castelo.
A dupla parou simultaneamente. Pelos minutos seguintes, ficaram imóveis, apenas se encarando.
Uma muralha. Sem sombra de dúvida, era Haramark.
Eles finalmente retornaram a Haramark. Assim que entraram na cidade em segurança, Seol Jihu não conseguiu esconder a torrente de emoções que o invadiram. As ruas cheias de água suja, os prédios velhos e dilapidados envoltos pela escuridão, tudo aquilo o comoveu.
Talvez por ser tarde da noite, havia poucas pessoas andando pelas ruas. Teresa e Seol Jihu cruzaram a cidade lado a lado, separando-se apenas ao chegarem à praça.
Eles se encararam fixamente. Palavras eram mesmo necessárias? Teresa subitamente estendeu a mão.
— Parabéns.
Não foi um ‘Bom trabalho’ ou ‘Você se saiu bem’, mas sim ‘Parabéns’. Seol Jihu apertou a mão dela com firmeza. A palma da Princesa agora carregava uma ternura que antes não existia.
— Parabéns pra você também.
— Descanse bem. Em breve vou chamá-lo ao palácio, então não recuse.
— Por que recusaria?
— Hehe, pode aguardar ansiosamente.
Teresa piscou. Parecia estar se referindo à recompensa.
“Quero ver quanto ela está planejando dar…”
Seol Jihu riu com indiferença. Estava prestes a perguntar em tom de brincadeira, ‘Devo te esperar na cama?’, mas engoliu as palavras logo em seguida. Precisava voltar e descansar o quanto antes, e não queria se meter em encrenca com comentários bobos e provocativos.
Após a despedida, os dois seguiram caminhos diferentes. Teresa foi para o palácio, enquanto Seol Jihu se dirigiu ao escritório da Carpe Diem.
“Por que meu corpo tá tão pesado?”
Seria porque finalmente havia relaxado? O cansaço acumulado dentro dele parecia ter explodido assim que entrou na cidade, fazendo seu corpo perder as forças. Usando sua lança como bengala, arrastava os pés com esforço.
Quando avistou um prédio familiar, começou a soluçar. Um passo de cada vez, subiu os degraus cambaleando até empurrar a porta, quase desmaiando.
Tung!
— …Huh?
A porta estava trancada. Tentou girar a maçaneta novamente, mas ela não cedeu nem um pouco.
“Não tem ninguém aqui?”
Bang, bang. Ele bateu na porta, mas não obteve resposta.
“Será?”
Um pensamento repentino lhe veio à cabeça. Será que Chohong tinha ido ao laboratório para salvá-lo?
“…Ela não teria feito isso, né?”
De qualquer forma, não tinha escolha a não ser dar meia-volta.
“Droga…”
Se eu soubesse que não teria ninguém em casa, teria seguido com a Princesa até o palácio.
O arrependimento veio tarde demais. Seol Jihu resmungou por dentro e, após descer os degraus, soltou um suspiro e olhou para o céu. Seus olhos se prenderam ao prédio do outro lado do escritório da Carpe Diem.
“Parece que ficou pronto…”
Ficou curioso sobre quem havia se mudado para lá, mas essa curiosidade durou pouco. Ele estalou os lábios e se virou. Agora que tinha chegado a esse ponto, só havia um lugar onde poderia ir. Em pouco tempo, Seol Jihu chegou ao templo da Luxuria após uma caminhada árdua e arrastou-se para dentro com grande dificuldade.
— Hum…
A mulher cochilando na recepção abriu os olhos. Quando seu olhar sonolento encontrou o jovem apoiado em uma lança azul, seus olhos se arregalaram de surpresa.
Ele mal conseguiu pronunciar suas próximas palavras.
— Estou procurando um tratamento…
Seol Jihu quase foi expulso do local depois de tirar completamente o manto quando a Sacerdotisa pediu para ver seus ferimentos, fazendo-a gritar. Felizmente, ela parou de gritar após cinco segundos e, ao notar a gravidade dos ferimentos em seu corpo, correu para chamar Sacerdotes mais experientes.
Após ser escoltado até a sala de tratamento de emergência, Seol Jihu manteve a sanidade enquanto era bombardeado por perguntas. Ele pôde deitar em uma cama confortável pela primeira vez em muito tempo, mas seu cérebro se recusava a deixá-lo adormecer com facilidade.
A perseguição de vários dias havia acostumado seu corpo a dormir ao ar livre. Claro, o barulho desnecessário da sala de tratamento também não ajudava.
— Apliquem mais água de cura!
— Costas, lado… Os ferimentos têm pelo menos sete dias. Vamos tentar Cura Massiva.
— Espera! O ombro e a coxa esquerda dele estão…! M-Mas que diabos!? O que aconteceu com ele!?
— Isso… Parece que ele recebeu um tratamento emergencial.
Seol Jihu soltou uma risada vazia. A forma como todos corriam e gritavam ao seu redor fazia parecer que ele estava numa verdadeira sala de emergência.
“Meus ferimentos estão tão ruins assim?”
Nesse momento, o falatório na sala cessou repentinamente. Seol Jihu olhava para o teto com os olhos semicerrados, mas quando o silêncio se instalou de repente, virou a cabeça de lado.
“O tratamento acabou?”
Agora que pensava nisso, estava com a sensação de estar sendo observado já fazia um tempo.
— Eu não acredito nisso, sério…
“O-O quê…? Quem tá aí…?”
Conseguiu vislumbrar uma figura por um instante.
“Por quê…? Tudo bem que estou meio morto… mas eu voltei com vida, não voltei?”
Enquanto sentia uma certa tristeza, avistou uma veste de Sacerdotisa sem alças, parecendo um vestido branco, junto a um longo cabelo negro como ébano.
“Chung Chohong?”
Não, Chung Chohong não se vestia assim. Por algum motivo, Seol Jihu sentia que já tinha visto aquela veste antes.
— …Idiota… Eu fiquei tão preocupada…
A voz dela foi se tornando cada vez mais baixa. Seol Jihu forçou os ouvidos para escutar o que ela murmurava. Foi então que uma mão tocou gentilmente sua testa. Talvez fosse só impressão, mas parecia que aquela mão tremia intensamente. Logo em seguida…
— Cura de Ferimentos Críticos.
Uma voz familiar ressoou…
Paaat!
E sua visão foi tomada por um clarão branco. A luz que irrompeu saiu da sala e até tingiu o corredor de branco. Ao ver essa cena, Seol Jihu não conseguiu esconder o choque. Jamais tinha visto uma luz tão bela e brilhante assim.
Logo, fechou os olhos, sentindo a luz penetrar cada canto do seu corpo. Sua consciência vacilante finalmente se apagou. Depois de tantos dias em alerta, seu cérebro enfim adormeceu. Seol Jihu entregou seu corpo à sonolência que o inundava. Seu rosto adormecido exibia um sorriso mais feliz do que o de qualquer pessoa no mundo.
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