Capítulo 160: Vício (2/4)
Chohong havia ido à região da fronteira por causa de Seol Jihu. Ignorando inúmeras vozes que tentaram detê-la, ela correu até a fronteira, mas não tinha a intenção de agir de forma imprudente.
Ela apenas tinha uma confiança sem fundamento de que Seol Jihu ainda estava vivo. Seu plano era patrulhar a região da fronteira, caso pudesse ajudar de alguma forma em sua fuga.
Se não fizesse ao menos isso, sentia que se arrependeria pelo resto da vida. No entanto, menos de um dia após sua partida, ela recebeu a notícia do retorno de Seol Jihu. Imediatamente, deu meia-volta com sua carruagem.
Assim que chegou a Haramark, correu até o templo de Luxuria. Agarrou a Terrestre que trabalhava como recepcionista pelo colarinho e arrancou à força a localização de Seol Jihu. No instante em que escancarou a porta e invadiu o quarto onde ele estava hospedado…
— ?
Viu o jovem sentado em uma cama. Observou-o com atenção e, de fato, era mesmo ele. Ofegante, tentou recuperar o fôlego…
— Você…
Mas sua boca se fechou automaticamente no momento seguinte. Havia tantas coisas que queria dizer, mas, agora que ele estava diante dela, as palavras simplesmente não saíam.
Sentia-se feliz e triste ao mesmo tempo. Parte dela queria espancá-lo até ele virar polpa. Era uma mistura estranha e confusa de sentimentos.
— Diz alguma coisa.
Depois de trocarem olhares por um longo tempo, Chohong finalmente quebrou o silêncio.
— O que tá olhando? Esqueceu meu rosto em uma semana?
Ela falou de forma ríspida, por puro constrangimento, mas Seol Jihu demonstrava confusão e surpresa.
— Uh…
Ele gaguejou um pouco antes de murmurar em voz baixa:
— Quem… é você?
— O quê?
As sobrancelhas de Chohong se contraíram.
— Quem é você, foi isso que você disse? Você… você tá maluco? Tem algum problema no cérebro?
Seol Jihu então fez uma expressão abatida.
— …Tenho.
— O-Q-Quê?
— Eu, eu sofri um acidente grave há pouco tempo. Não consigo me lembrar de nada por causa disso…
“Ele não se lembra de nada?”
Os olhos de Chohong tremeram visivelmente.
— S-Seu filho da puta! Tá de sacanagem comigo de novo, né!?
Ela gritou, tomada pela raiva, mas sua voz tremia. Seu coração começou a disparar enquanto um pressentimento inquietante subia por seu peito. O modo como Seol Jihu massageava as têmporas fazia com que realmente parecesse confuso.
— Por acaso… você me conhece?
Quando ele perguntou isso com cuidado, as pernas de Chohong quase cederam.
— …Você…
Ela se lembrou, de repente, do momento antes da tentativa de fuga. Seol Jihu havia estendido o braço desesperadamente, mesmo depois de ter caído no chão. Aquela cena a assombrava todas as noites. Por que não conseguiu segurar a mão dele?
Ela não conseguia esquecer o quanto se sentiu culpada.
— Você realmente… não se lembra?
— E-Eu não sei. Tá tudo tão confuso…
Chohong respirou fundo. Não conseguia acreditar, ou melhor, não queria acreditar. Aproximou-se dele, passo a passo.
— E o Dylan?
— Dylan…?
— E o Hugo?
— Hugo?
— E Carpe Diem? Samuel? Alex? Ian? E a Teresa? E a Floresta da Negação? A Vila Ramman?
— Eu, ah…
Chohong despejou todo e qualquer nome que conseguiu lembrar, mas sua perplexidade só aumentava.
— Você realmente esqueceu… tudo?
— …
— Você não lembra nem de um nome sequer? Isso não é possível, né? Né?
Ela praticamente implorava agora. Ouvindo o tom desesperado em sua voz, Seol Jihu abaixou a cabeça.
— …Desculpa…
Ao ver Seol Jihu se desculpando mesmo sem ter feito nada de errado, o coração dela afundou.
— Por que você tá pedindo desculpa… idiota…
Os cantos dos olhos de Chohong ficaram vermelhos, e ela fungou discretamente.
— Eu que… deveria pedir desculpas…
Nesse momento, o jovem de repente aproximou o rosto do de Chohong.
— Ah.
— ?
— Agora que penso bem…
— V-Você lembrou?
Seol Jihu a encarou com atenção e franziu a testa. Então, falou:
— Acho que tô brincando.
— …O quê?
— Tô brincando.
— Brincando?
O semblante de Chohong congelou de forma atônita.
— É.
Seol Jihu sorriu de forma travessa e acrescentou:
— Isso se chama pregar uma peça na Chohong de novo.
Foi então que…
Kwang!
Um som explosivo ecoou no quarto de tratamento. O queixo de Seol Jihu caiu. O soco de Chohong havia destruído a cômoda ao lado da cama.
— Você… você…
Tremor.
Sua garganta tremia, os olhos cintilavam com um brilho gélido. Seol Jihu conseguia até sentir a intenção assassina no ar. Não demorou para perceber que havia cometido um erro grave.
— Desculpa!
Ele imediatamente juntou as mãos e pediu desculpas.
— Seu desgraçado… você zombou de mim…?
— Desculpa, desculpa, não vou fazer isso nunca mais. Acredita em mim.
— Filho da puta maldito… Você tem ideia de quanto eu fiquei… preocupada… keuk!
Quando as lágrimas começaram a escorrer do olhar furioso de Chohong, o coração de Seol Jihu perdeu uma batida de puro pavor.
— Ch-Cho, Chohong, me desculpa mesmo. Exagerei na brincadeira.
— Vai se foder!
Chohong lançou um palavrão e se virou, furiosa. Seol Jihu imediatamente a abraçou por trás.
— N-Não vai embora.
— Eu disse pra se foder.
— Desculpa! Me perdoa!
— Não vou repetir, seu desgraçado.
Chohong tentou se soltar, mas Seol Jihu se agarrou a ela como se sua vida dependesse disso. Na verdade, Chohong poderia facilmente se livrar dele, mas não o fez por saber que ele ainda estava ferido.
Logo depois, após arrastá-la até a cama com muito esforço, Seol Jihu juntou as mãos e implorou por perdão. Não tinha desculpas a oferecer, e, ao se colocar no lugar dela, sentiu-se verdadeiramente arrependido.
Enquanto ouvia as intermináveis maldições de Chohong, o som da porta se abrindo ecoou. Chohong, que não tinha coragem de bater nele e só conseguia gritar, franziu as sobrancelhas.
— Está bem barulhento aqui dentro.
— Hã? O que vocês dois estão fazendo abraçados?
Duas mulheres entraram no quarto, cada uma carregando uma cesta nas mãos. A primeira usava um uniforme de empregada, enquanto a outra vestia apenas uma camiseta branca simples.
— Senhorita Maria? Senhorita Agnes!
As visitantes inesperadas surpreenderam Seol Jihu, mas ele as recebeu de bom grado.
— O quê? O que estão fazendo aqui?
Chohong perguntou com uma expressão confusa.
— Obviamente porque soubemos que já podemos visitá-lo. Parece que ele recuperou a consciência completamente hoje.
— Hoje? Não, então por que estão aqui?
— Como assim por quê? Viemos desejar melhoras pra ele.
Maria respondeu como se tivesse sido feita a pergunta mais idiota do mundo.
— Você veio desejar melhoras? Você, Maria Yeriel?
— Ele também foi até minha casa quando eu não estava bem. Só estou quitando minha dívida.
Maria respondeu de forma concisa e colocou a cesta com cuidado no chão.
— Vim… ver meu discípulo.
Ninguém tinha perguntado, mas Agnes também fez questão de mencionar sua desculpa esfarrapada para estar ali.
— Querem frutas?
— Hã? Ah, sim.
— Quem se importa com frutas? Eu trouxe bebida, vamos fazer uma festa.
— Você tá maluca? Quer fazer um paciente beber bebida forte?
Maria assentiu diante do grito de Chohong.
— Pela primeira vez, seu cérebro de idiota faz sentido, mas ainda assim, tenho certeza de que não tem problema se… Ei! Tira a mão da cesta! Eu não trouxe isso pra você enfiar goela abaixo.
— Me deixa! Preciso de um pouco de álcool no corpo. Se não, vou explodir de raiva por causa daquele desgraçado!
Maria e Chohong começaram a discutir como de costume, enquanto Agnes descascava frutas calmamente ao lado. Seol Jihu jamais esperava que Maria e Agnes fossem visitá-lo. No entanto, elas estavam longe de serem as únicas. Na verdade, eram apenas o começo.
Thud!
Um homem negro escancarou a porta com um chute, igualzinho a Chohong. Entrou no quarto com passos pesados e imediatamente abraçou Seol Jihu.
— Seol! Seooooool!
— Hu, Hugo?
— Aaaaaah! Você tá vivo! Você tá vivo!
— E-Esp-Espera, não consigo respirar.
Começando por Hugo…
— Ei! Seol!
— Fiquei sabendo! Toma. Parabéns por ter voltado vivo.
Mikhail e Veronika chegaram…
— Então você estava mesmo vivo.
— Senhor Kazuki? Você também veio?
— Você foi membro da minha equipe, embora tenha sido só por uma missão. Preciso agradecê-lo também… Ah, tome isto.
Ayase Kazuki apareceu…
— Opa, chegamos tarde?
— Por que essa cara de surpresa? Eu estava morrendo de saudades.
E até Ian e Teresa apareceram.
O quarto de tratamento ficou agitado em instantes. O espaço já era pequeno. Agora, com dez pessoas ali dentro, parecia completamente lotado.
“Uau…”
Seol Jihu sentiu-se um pouco tonto.
“Será que eu realmente mereço isso?”
Francamente, ele estava perplexo. Ao mesmo tempo, um largo sorriso surgiu em seu rosto ao perceber que todos haviam vindo vê-lo. Tentou conter sua alegria, mas sua boca simplesmente não obedeceu.
— Haha.
No fim, uma risada alegre escapou de seus lábios. Chohong resmungou, perguntando o que ele achava tão engraçado, mas ele continuou rindo sem parar.
“Isso é divertido.”
Ele não sabia bem o porquê, mas achava aquele momento rodeado de pessoas simplesmente feliz. Estava tão feliz que desejava que o tempo parasse. A ponto de… não querer mais voltar para a Terra.
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