Capítulo 166: Desentendimento Intencional (2/2)
Depois de terminar o treino e sair da academia, Seol Jihu foi direto para uma grande livraria. Comprou três livros: ‘Arremesso de Dardos’, publicado por um comitê de competições de atletismo; ‘Análise das Técnicas de Arremesso de Dardos’, um livro com DVD publicado por um grupo de pesquisa esportiva; e ‘Acupuntura Tradicional’, que comprou para se preparar para a licença de acupuntura.
Ao levar os três livros ao caixa, uma jovem que parecia ser funcionária de meio período abriu a boca, hesitante.
— A-aqui está o seu recibo.
— Não, tudo bem.
— C-como?
— Hum, não preciso do recibo.
— N-não, acho melhor guardar.
— …Hã?
Ela colocou o recibo na sacola plástica junto com os livros e o entregou com as duas mãos. Embora tivesse sido um pouco forçado, não fez tanta diferença, então ele saiu da livraria coçando a cabeça.
“Por que livro é tão caro… hm?”
Estava olhando os preços no recibo quando viu um número de telefone anotado no final e inclinou a cabeça. Como estava escrito com caneta, não parecia um erro de impressão.
“O que é isso?”
Seol Jihu franziu o cenho, confuso, antes de colocar o recibo no bolso e seguir para a biblioteca local.
Sentado dentro da biblioteca, abriu o livro sobre acupuntura, mas acabou ficando boquiaberto. Imagens do corpo humano repletas de pontos e linhas complexas, ideogramas chineses tradicionais e uma infinidade de jargões técnicos… Para ele, tudo o que os olhos reconheciam era tinta preta sobre papel branco.
“Droga…”
Já esperava que fosse difícil, mas não tanto assim.
“Preciso mesmo ir tão longe?”
Considerando a quantidade de pontos de contribuição que tinha acumulado, poderia adquirir as habilidades de Nível 2 instantaneamente, sem problema. Embora tenha ficado brevemente tentado, Seol Jihu logo afastou o pensamento.
Lembrou-se do que Agnes lhe dissera. Embora não fosse fácil, acreditava que seria recompensado generosamente por adquirir as habilidades por conta própria. Como confiava plenamente em Agnes no que dizia respeito a treino, reforçou sua determinação e ergueu a lapiseira.
“Não preciso estudar tudo.”
Disse a si mesmo que não precisava se intimidar, já que só precisava aprender os conceitos principais. Além disso, se considerava um aprendiz rápido.
“Faz tempo que não estudo, hein.”
Após um breve riso, começou a demonstrar um nível de concentração assustador.
“Se o corpo humano e os meridianos fossem comparados a árvores… Os Oito Meridianos Extraordinários, os oito canais conectados aos órgãos extraordinários… Os 24 pontos do meridiano da Concepção incluem o Receptáculo do Molho, Chaminé Celestial, Centro do Peito, Cauda da Rola, Ventre Central, Portal do Espírito, Mar de Qi, Passagem da Origem, Encontro do Yin…”
Sobre uma mesa iluminada pela luz solar, um jovem bonito estudava com as mangas arregaçadas. Uma atmosfera acolhedora preenchia naturalmente o ambiente. Embora não fosse algo tão importante agora, Seol Jihu era formado pela Universidade Soyoung, uma das quatro melhores da Coreia.
Tirando uma ida ao banheiro, o traseiro de Seol Jihu não saiu da cadeira o tempo todo. Só se levantou quando já era hora do jantar.
Foi rapidamente para casa. O livro sobre acupuntura foi uma tortura de ler, mas os livros sobre arremesso de dardo foram mais fáceis do que esperava. Claro, havia um limite para o quanto podia absorver apenas lendo. Felizmente, um dos livros vinha com um DVD.
Estava pensando em assistir ao DVD assim que chegasse em casa, mas os olhos não desgrudavam do livro enquanto caminhava.
“Entendi… Arremessar não significa que devo usar só a mão. Se usar uma ferramenta chamada lançador de dardos, posso impulsionar a lança muito mais rápido e mais longe do que arremessando com a mão apenas…”
— Com licença.
Seol Jihu estava murmurando para si mesmo quando ergueu a cabeça ao ouvir alguém bloquear seu caminho.
— Você é o senhor Seol Jihu?
Já estava quase em casa, mas havia um homem parado em frente ao estacionamento principal de seu prédio.
— Sim, sou eu…
Na hora, ele pensou: “Ah, droga!” Um homem de terno esperando por ele na frente de casa a essa hora?
Ativou os Nove Olhos.
“Incolor.”
Depois de verificar a cor, elevou a guarda e abriu a boca.
— Quem é você?
— Ah, eu sou…
O homem tirou um cartão de visitas e entregou respeitosamente a Seol Jihu. A palavra ‘Sinyoung’ estava claramente impressa no cartão.
— O que a Sinyoung quer comigo?
— Sei que pode ser repentino, mas poderia vir conosco?
O homem foi direto ao ponto e apontou para o sedã. Seol Jihu apenas o encarou, sem expressão.
— Por quê?
— É sobre o emprego falso que estamos providenciando, mas…
Seol Jihu balançou a cabeça.
— Não acho que seja o momento certo. Foi muito em cima da hora.
— Por favor.
— Tenho algo urgente pra resolver. Preferia deixar isso pra depois.
— Não vai demorar. Eu prometo.
Ao ouvir isso, Seol Jihu fechou o livro.
— Isso soa como se você fosse me levar de qualquer jeito.
— Peço desculpas se soou assim.
— Parece que o emprego falso não é o único motivo.
— Não vou negar. Mas prometo que será uma reunião curta.
O homem parecia estranhamente impaciente. Seol Jihu perguntou com firmeza:
— E se eu disser não? Vai me levar à força?
— De forma alguma. Fui instruído a tratá-lo com o máximo respeito. Não tenho intenção de forçá-lo a nada. Mas, se possível, gostaria muito que viesse.
— E se eu recusar?
— Então…
O homem deixou a frase morrer e soltou um sorriso amargo.
— Eu recuo aqui, mas nossa senhorita vai ficar muito triste.
“Nossa senhorita?”
Quando Seol Jihu franziu os olhos, o homem curvou-se levemente.
— Por favor. Mesmo que seja só por uma xícara de chá…
Seol Jihu estalou a língua. Não queria ir. Para ser exato, não queria se envolver nesse problema. Mas Kim Hannah havia o alertado a não fazer nada que levantasse suspeitas. Se recusasse agora, havia uma grande chance da Sinyoung não vê-lo com bons olhos.
“Por causa do emprego falso, né… Droga.”
Era verdade que precisava tratar disso com eles. O único problema era que Kim Hannah não estava presente.
“Não quero sobrecarregar ela ainda mais…”
Depois de refletir bastante, Seol Jihu guardou o livro.
“Se só preciso me encontrar com eles…”
Os Nove Olhos não indicavam cor de perigo. Desde que mantivesse a vigilância, achava que não corria risco de vida. Só precisava ouvir o que tinham a dizer e acenar algumas vezes.
— …Vamos.
O homem endireitou as costas como se estivesse esperando por aquelas palavras.
— Obrigado. Por aqui, por favor.
Guiou Seol Jihu até o carro. Depois de abrir a porta pessoalmente para ele, entrou no banco do motorista e disse ao ligar o motor:
— Me desculpe pela grosseria, e obrigado por ser tão compreensivo.
Seol Jihu não respondeu. O homem continuou, pisando no acelerador:
— Na verdade, a Diretora Kim Hannah nos alertou para não nos aproximarmos do senhor, Seol Jihu, por conta de problemas familiares. Por isso nossa senhorita esperou pacientemente…
Vruaaaang!
Ele não conseguiu ouvir o resto da frase por causa do ronco do motor.
— Como é?
Seol Jihu quis pedir para repetir, mas o homem pareceu entender de outro jeito e assentiu com a cabeça.
— Não estou mentindo. Ela anda tendo dificuldade pra dormir… Está cada vez mais fraca com o passar dos dias…
— ?
O que aquilo queria dizer? Seol Jihu piscou várias vezes, confuso.
Embora nunca tivesse visto Yun Seohui pessoalmente, em sua cabeça ela era uma estrategista por trás das cortinas, vestida de preto, pernas cruzadas, com uma taça de vinho na mão. Uma mulher parecida com uma vampira, sorrindo sedutoramente enquanto murmurava: ‘Hoho, quando será que poderei pôr as mãos nesse brinquedinho?’
Mas agora diziam que essa pessoa não conseguia dormir à noite porque estava ansiosa para vê-lo? Em vez de uma estrategista fria, ela parecia uma donzela apaixonada.
“Esse cara exagera demais, hein.”
Pensando que aquilo poderia ser um truque para fazê-lo baixar a guarda, Seol Jihu se lembrou de manter a atenção redobrada.
O homem o levou até um restaurante chinês de alto padrão.
“Eu não ia só tomar uma xícara de chá?”
Seol Jihu se perguntou enquanto atravessava a área VIP, mas, ao ver o cardápio pendurado na parede, levou um salto de susto.
Eles tinham chá, sim, mas…
“60 milhões de won por xícara?!”
Sentiu como se tivesse entrado em um mundo completamente diferente. O homem o guiou até o último andar do restaurante antes de bater com cuidado na porta deslizante de estilo tradicional.
— Senhorita, eu o trouxe.
Em seguida…
— Obrigada.
Uma voz doce e melodiosa ecoou. A voz era aguda, mas suave aos ouvidos.
— Pode se retirar agora.
— Mas…
— Estou bem.
O homem lançou um olhar ao jovem atrás de si antes de se curvar respeitosamente e se retirar.
“Parece que estou aqui para encontrar a filha de uma família nobre. Bom, acho que não tô tão longe disso.”
Seol Jihu murmurou por dentro, quando…
Drrrk!
A porta se abriu com força, como se a pessoa lá dentro tivesse certeza de que o homem já havia partido.
A pessoa do outro lado não era uma vampira nem uma donzela vestida com hanbok. Quando Seol Jihu encarou seus olhos vermelhos e injetados, não conseguiu evitar deixar o queixo cair.
Whish.
O fantasma de olhos vermelhos, não, a mulher, correu até Seol Jihu vestindo apenas uma meia-calça1. Os olhos vermelhos brilhavam enquanto olhavam para ele de baixo para cima.
— Ah…
Seus lábios se entreabriram como se tivessem muito a dizer. Ela se colocou na ponta dos pés e agarrou os braços dele.
— Finalmente…
Sua voz estava completamente diferente de antes. Agora carregava um tom de saudade que fez Seol Jihu sair do transe. Ainda assim, não conseguia esconder o choque.
Esperava encontrar a Primeira-Dama da Sinyoung, mas a mulher irradiando uma luz dourada não era Yun Seohui, e sim…
— Eu queria tanto te ver…
Yun Seora.
- Ela ta vestindo roupa, tanto a versão coreana quanto inglês diziam apenas uma meia-calça, mas depois é mostrado que ela ta sim vestindo roupas.[↩]
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