Capítulo 172: As Fitas dos Laços Começam a se Atar (2/10)
O jantar terminou em silêncio. As criadas limparam a mesa e trouxeram chá. Depois de saborear um gole, Prihi pousou a xícara antes de abrir a boca.
— A Família Real de Haramark sempre é justa quanto a recompensas e punições.
— …
— Seus feitos… Sim, você salvou a Vila Ramman, elaborou o plano da operação de resgate e ajudou enormemente tanto no resgate quanto na subsequente destruição do laboratório…
Ao ouvir as palavras de Prihi, Seol Jihu sentiu uma estranha sensação de incongruência. A forma como ele listava seus méritos… como dizer… em vez de parecer um elogio, soava como uma preparação clara para um pagamento.
Prihi havia quebrado o clima com piadas aqui e ali, mas por algum motivo desconhecido, desde o primeiro momento em que se encontraram, ele parecia um homem que já havia ‘desistido’.
— Após muita deliberação sobre uma recompensa à altura dos seus feitos, cheguei a uma conclusão.
Quando o assunto da recompensa veio à tona, os ouvidos de Seol Jihu se aguçaram.
— Espero sinceramente que goste.
Apesar das palavras, Prihi parecia confiante de que Seol Jihu iria adorar. Ele fez um gesto para uma criada, que logo retornou com uma bandeja coberta por um pano branco. Os olhos de Seol Jihu se arregalaram.
— Isso é…
Um suspiro escapou de seus lábios. Sobre a bandeja, repousava um lingote retangular e reluzente de ouro puro que emitia um brilho avermelhado. Seol Jihu ficou encantado com sua beleza, mas não conseguia manter os olhos abertos direito.
“Um lingote de ouro?”
Considerando o quanto Chohong e Hugo ficaram com inveja de um pedacinho de ouro do tamanho de um mindinho, um lingote inteiro estava muito além de sua imaginação.
Glup.
Ele engoliu seco, e seu pomo de adão se moveu. Na Terra, o poder do dinheiro era absoluto. Embora Paraíso estivesse em estado de guerra, o valor do ouro não deveria ser menor.
“Com isso…”
Seria mais rápido contar o que ele não poderia fazer do que listar o que poderia.
A cobiça começou a crescer nos olhos do jovem. Foi nesse instante que um pensamento lhe atravessou a mente.
— …Ah.
Seol Jihu fechou a boca de repente. Sua expressão extasiada desapareceu, substituída por uma carranca. Ele olhou para o lingote de ouro com um semblante complicado.
— Esse item é extremamente fácil de converter em moeda terrestre. Em termos de moedas de ouro, acredito que seja o equivalente a… hm?
Prihi parou ao ver o jovem.
— Você não gostou da recompensa?
— …Perdão? Ah, não.
Seol Jihu balançou a cabeça com força, como se aquela ideia fosse absurda.
— Você não parece satisfeito.
— Não, não é isso…
— Hm, então o quê? Se há algo que deseja, fale sem reservas.
Ao ouvir a voz benevolente de Prihi, Seol Jihu encarou o lingote de ouro com um olhar conflituoso e mordeu o lábio inferior.
— Não temos onde ficar. Não é porque queremos morar fora da cidade.
Havia o chefe da vila, que entregou seu precioso rudium para que a missão de resgate tivesse sucesso. Mas… não bastaria comprar comida e enviar para a vila?
— Volte outro dia.
Havia a santa fantasma que salvou sua vida e tornou-se a Árvore que Dá Presentes. Mas… mas…
Após muito conflito interno, ele ativou os Nove Olhos por instinto. Quando olhou para o lingote de ouro, seu rosto se contorceu e ele soltou um: — Ah!
Logo, Seol Jihu soltou um longo suspiro. Então abriu a boca, um pouco mais calmo do que antes.
— Há algo que preciso lhe contar.
— Hm? O que é?
— Também tenho alguns favores que gostaria de lhe pedir.
Prihi encarou Seol Jihu, que de repente ficou sério. O que aquele jovem estava tentando dizer?
— Escutarei os pedidos primeiro.
— Pode preparar uma nova terra habitável em Haramark usando este lingote de ouro?
— …Terra?
O tom de Prihi se elevou, e seus olhos normalmente calmos se estreitaram levemente. Era como se tivesse ouvido algo completamente inesperado.
Seol Jihu prosseguiu sem hesitar:
— Além disso, por favor, me empreste o Mestre Ian.
— Ian Denzel?
Os olhos de Prihi se estreitaram visivelmente, e uma carranca surgiu em seu rosto. Ian Denzel era um Mago vinculado à família real e um dos poucos Terrestres em quem Prihi confiava. Nem era preciso mencionar o valor de um Mago. Ele poderia até entender se houvesse um bom motivo, mas ser solicitado assim, de repente, não o agradava.
— Pai.
Quando Teresa tentou intervir, Prihi levantou a mão para impedi-la.
— Isso está relacionado ao que você queria me contar?
— Sim.
Prihi lançou ao jovem um olhar profundo e atento. Diante desse olhar que parecia pedir uma explicação, Seol Jihu abriu a boca. Contou sobre o chefe da vila de Ramman e a santa fantasma aprisionada no túmulo da Floresta da Negação. À medida que a história prosseguia, a expressão indiferente do rei cedeu lugar ao interesse.
— …Entendo.
Prihi se inclinou para frente, entrelaçou os dedos e apoiou o queixo sobre eles.
— Você quer que aceitemos os moradores da vila na cidade.
— Ouvi dizer que o castelo está com capacidade limitada, mas gostaria de pedir, se for de alguma forma possível…
— Hm, para ser franco, é bastante difícil. O castelo já está no limite. Algumas dezenas poderiam ser aceitas, mas centenas de moradores é algo…
Prihi soava relutante. Ajudar um grupo grande a migrar não era tarefa fácil. Se ele simplesmente permitisse a entrada deles na cidade e os esquecesse, só criaria um grupo de desabrigados e deslocados. Nesse caso, seria melhor nem aceitá-los desde o início. Conceder o pedido de Seol Jihu significava preparar abrigo e meios de sustento para todos.
— Vossa Majestade, o senhor disse que a família real é justa nas recompensas e punições. Um é um velho aposentado vivendo em reclusão, e a outra é uma alma, mas acredito que mereçam ser recompensados mais do que qualquer um que participou desta missão.
Diante do rei pensativo, Seol Jihu suplicou com sinceridade.
— …É verdade que a Vila Ramman está em uma localização difícil. Não vou negar que pensei que não havia o que fazer.
Prihi soltou um longo suspiro e assentiu com a cabeça.
— Esta não é uma decisão que posso tomar levianamente. Mas com este lingote de ouro, posso analisar a situação de forma favorável.
— Então!
Justo quando o jovem se alegrava…
— Mas, por quê?
Os olhos de Prihi brilharam de repente.
— Quero que me escute sem mal-entendidos. Você não é um Terrestre?
— Vossa Majestade…
— Não estou tentando discutir filosofia, nem certo ou errado. É apenas que… você é um Terrestre.
Prihi enfatizou essa última frase.
— Deixando de lado a questão da Floresta da Negação, há mesmo necessidade de fazer tanto pela Vila Ramman?
— …
— Não duvido que você tenha me entendido, então serei direto. Os moradores ficarão eufóricos e gratos se você simplesmente enviar mantimentos. Isso também quitaria sua dívida com o chefe da vila.
Não era como se Seol Jihu não tivesse pensado nisso. Uma parte dele queria posar de superior e ficar com o lingote.
— Se isso pesa em sua consciência, direi o seguinte: a atual Haramark não tem condições de cuidar nem de seu próprio povo. Posso recusar facilmente seu pedido de bondade, dadas as circunstâncias que enfrentamos.
Ele estava certo. Suplicar ao rei apenas para ser recusado porque ‘é difícil’, que desculpa melhor poderia haver?
— Em outras palavras, ninguém irá criticá-lo por aceitar este ouro.
Ele tinha razão de novo. Quem o criticaria? Tudo o que precisava fazer era manter a boca fechada. Além disso, ficaria rico assim que pegasse o ouro.
— Você quer usar esse ouro para uma causa da qual não obterá benefício algum. Não posso deixar de me perguntar qual é o seu verdadeiro motivo.
Sim, não era como se fosse altruísmo puro. No entanto, para ele, havia algo ainda mais importante do que o ouro à sua frente. Se não tivesse olhado para o lingote com seus Nove Olhos, talvez nem percebesse até o fim. Mas ele tinha visto, e chegado a uma conclusão.
— Não há nada que eu chamaria de segundo interesse.
Agora, ele podia dizer isso sem hesitação.
— Estou apenas agindo conforme a minha regra.
— Regra?
— Se você tem uma dívida, é natural pagá-la. Uma oportunidade para isso apareceu bem diante de mim. Que razão eu teria para recusá-la?
Prihi pareceu surpreso.
— Não entendo você nem um pouco. Não parece do tipo que gosta de jogos de palavras.
Seol Jihu quase respondeu ‘na verdade, eu gosto sim’, mas conseguiu se segurar para não estragar o clima. Então foi direto ao ponto.
— Eu a chamo de Regra Dourada.
— Regra Dourada?
— A santa fantasma e o chefe da vila. Ambos me trataram bem. Não posso, sem vergonha alguma, fingir que os méritos foram só meus, e também seria errado fazer concessões comigo mesmo ao retribuí-los. Afinal, fazer isso seria enganar meus benfeitores. Prefiro não retribuir do que fazê-lo de forma incompleta.
— …
— Vossa Majestade, se não posso pagar minha dívida com essas duas pessoas, não posso esperar que elas me tratem da mesma forma novamente. Isso é o que mais me assusta.
Quando o jovem levantou o olhar ao fim de seu monólogo, viu o rei piscando repetidamente, como se tivesse levado um tapa no rosto.
— Você não pode esperar que te tratem da mesma forma novamente…
Alguns minutos se passaram antes de o rei decidir falar de novo.
— De fato.
Ele se recostou na cadeira e disse, enquanto massageava o nariz:
— Estou começando a entendê-lo melhor. Todo ser humano tem um limite para sua capacidade. O mesmo vale para fantasmas.
“Um limite para sua capacidade…”
Por algum motivo, essa frase o tocou. Parecia o resumo perfeito da Regra Dourada.
— Agradeço por sua compreensão.
— Ainda não dei uma resposta clara, então gostaria de lhe fazer uma última pergunta.
Prihi perguntou num tom suave.
— Isso é realmente o que você quer?
— Sim!
Seol Jihu respondeu sem hesitar. Em vez de se sentir desconfortável, gastar o ouro daquela maneira o fazia se sentir mil vezes melhor. Ao ver o sorriso radiante no rosto do jovem, Prihi tomou sua decisão.
— …Entendo.
Então foi por isso que você insistiu tanto para que eu o conhecesse. Ele murmurou para si mesmo, de forma que Seol Jihu não pudesse ouvir.
— Então está bem.
Finalmente, a decisão foi anunciada.
— Eu, Prihi Hussey, autorizo todos os moradores da Vila Ramman a se estabelecerem na cidade. O lingote de ouro concedido a Seol Jihu será usado para apoiá-los tanto material quanto espiritualmente.
Um decreto real. Embora sua posição já não tivesse o mesmo prestígio de antes, o peso que ela carregava ainda tornava suas decisões irrevogáveis.
— Além disso, prestaremos apoio parcial para a pacificação da alma presa no túmulo da Floresta da Negação.
Apoio parcial? O que isso significava?
— Ele quer dizer que vai aumentar o nível e a qualidade da Cerimônia.
Teresa sussurrou em seu ouvido.
— O status dela não desaparece só porque virou uma alma. Mesmo que tenham se passado centenas de anos, você não disse que ela foi canonizada pelo Império? Pretendo demonstrar o nível de respeito apropriado.
A mandíbula de Seol Jihu caiu diante da declaração de Prihi. Ele havia imaginado algo simples, uma oferenda de comida e alguém para conversar com ela.
Ao imaginar o quanto a santa se alegraria, um sorriso brotou em seu rosto. E ao ver esse sorriso satisfeito, Prihi apoiou o queixo sobre as mãos.
— E então?
— Perdão?
— Podemos encerrar aqui os assuntos oficiais. Que tal retomarmos a conversa de antes? Algo pequeno, se possível.
Seol Jihu não era tolo. Percebeu imediatamente a intenção do rei. Embora tivesse imposto o limite de ser ‘algo pequeno’, ele estava dizendo que não deixaria o jovem sair de mãos vazias.
— Uh… bem…
O rei esperou com paciência, mas Seol Jihu não sabia o que dizer. Isso deixava claro que ele realmente não queria nada além do que já havia pedido.
— Pode levar o tempo que quiser. A noite é longa.
Depois de dizer isso com benevolência…
— Eu vou indo. Não sou do tipo que gosta de adiar as coisas. Vai levar alguns dias até termos um plano sólido.
Ele pegou o lingote de ouro e se levantou.
— Pai, já vai? Devia ficar mais um pouco.
Teresa murmurou como se estivesse dizendo que era um absurdo deixar um homem e uma mulher saudáveis sozinhos à noite. Prihi ficou pasmo.
— Hoho, minha filha é uma verdadeira raposa. Não diga algo que não tenha nem um pingo de verdade. Quem me mandou procurar uma desculpa pra sair foi…
Ele murmurava com um sorriso torto…
— Tive a ideia perfeita pra deixar vocês dois a sós. Como pode ser tão tapada?
Crack, crack.
Mas mudou de tom assim que ouviu o estalo dos ossos. Teresa, que estava estalando o pescoço e os dedos, sorriu radiante.
— Oh, esta jovem dama entendeu mal a intenção de seu pai. Pode deixar isso comigo e focar nos assuntos de Estado.
— Ai, ai… É como confiar um peixe a um gato ladrão.
— Disse algo?
— Estou prestes a colocar minha vida em risco só pra dizer isso. Você pode entrar no depósito, mas não toque em nada do tesouro real.
— Ai, para de se preocupar tanto. Além disso, não é como se o tesouro real fizesse jus ao nome.
Teresa resmungou, e Prihi sorriu amargamente.
— Só estou dizendo pra não acabar com nosso meio de sobrevivência. Sei que uma filha casada não passa de uma estranha, mas tenha um pouco de autocontrole. Quando sua irmã mais velha se casou, ela…
— Eii, quem você acha que eu sou? Não sou como a Irmã Mais Velha. Pelo menos vou deixar os móveis e a louça.
Enquanto dizia isso, Teresa desviava sutilmente o olhar do pai. A essa altura, até um idiota já teria percebido do que estavam falando, mas Seol Jihu os encarava com um rosto inocente, sem entender nada.
Prihi estalou a língua.
— Realmente, tanto neste mundo quanto no outro, heróis são um grupo peculiar. Talvez não seja questão de genes, mas algum tipo de influência externa.
Ele murmurou com pesar antes de se despedir.
— Foi uma história interessante e um encontro agradável. Um tempo bem aproveitado. Vou me retirar para que possam aproveitar à vontade.
Seol Jihu não sabia exatamente o que ele queria dizer com ‘aproveitar à vontade’, mas levantou-se rapidamente também. No entanto, Prihi pousou a mão em seu ombro como se dissesse que aquilo era desnecessário e falou:
— Ah, mais uma coisa.
Seus olhos límpidos encararam o jovem, e um sorriso gentil se formou em seu rosto. Era o primeiro sorriso que exibia desde que se encontraram. Os olhos de Teresa se arregalaram.
— Obrigado por salvar minha filha.
Naquele momento, a sensação de estranheza que Seol Jihu vinha sentindo sutilmente desapareceu por completo. Poderia dizer que a distância entre eles havia diminuído drasticamente?
— Fico honrad…
— Ah, por favor.
— N-Não foi nada.
Com uma risadinha, Prihi deu dois tapinhas em seu ombro antes de sair.
— …Bom, essa foi uma surpresa.
Teresa também riu, aparentemente pega de surpresa pelo pai.
— Faz tempo que não vejo o Pai rir.
— Vossa Majestade não costuma rir?
— Não é bem isso, ele…
Teresa estava prestes a dizer algo, mas engoliu as palavras. Sentiu que era algo que não precisava ser mencionado.
— Enfim, por que não vamos para um lugar mais aconchegante e terminamos de conversar sobre a sua recompensa?
— Ah, vamos para o depósito?
— Aii, céus, não precisa ter tanta pressa. Vamos conversar enquanto comemos uma sobremesa bem devagar. Temos muito tempo.
“Sobremesa!”
Seol Jihu não tinha motivos para recusar. Durante o jantar, estivera tenso e nervoso demais para realmente saborear a comida. Agora que tudo correra bem e ele estava com alguém com quem se sentia mais à vontade, seu paladar voltou com força total. Ele engoliu em seco.
— Adoraria experimentar.
— Pode esperar algo bom. Depois de provar uma vez, você nunca mais vai esquecer.
Depois de anunciar isso com confiança, Teresa se levantou.
— Certo, vamos!
— Pra onde?
— Meu quarto.
— Hã? Não vamos comer aqui?
Era uma pergunta justa, já que ainda estavam na sala de jantar. Teresa soltou uma risadinha.
— Essa sobremesa precisa ser saboreada em um lugar reservado. Embora, comer onde você pode ser pego também daria um sabor especial.
O jovem inclinou a cabeça, confuso. Teresa sorriu de forma insinuante e balançou a isca com sedução.
— Vamos, levanta. Rápido! Nem todo mundo pode comer essa sobremesa, sabia?
— Uau, deve ser realmente gostosa.
Teresa o olhou como se isso fosse óbvio.
— É claro que é. Pai e Mãe só fizeram uma no mundo.
O rei e a rainha fizeram pessoalmente?
— Como ela se chama?
— Não tem graça se eu contar antes.
— Eii, conta logo.
Seol Jihu insistiu, sem entender como comer uma sobremesa poderia ser divertido.
— Hn~ng.
Teresa lambeu os lábios antes de fitá-lo de maneira provocante. Então, exclamou:
— Sou eu.
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