Capítulo 176: As Fitas dos Laços Começam a se Atar (6/10)
Hugo voltou para Paraíso cinco dias depois e, durante esse tempo, muitas pessoas visitaram o escritório da Carpe Diem. Sem exagero algum, quase todo mundo que Seol Jihu conhecera desde que chegara a Haramark apareceu por lá.
— Maldong! Meu velho amigo!
Começando por alguém que ele nunca tinha visto antes…
— Faz tempo, Velho Rapaz.
Cinzia e Agnes apareceram.
— Espero que tenha estado bem, Senhor Jang Maldong.
Kazuki deu uma passada.
— Eu queria muito vê-lo, Mestre Jang.
Até o rei de Haramark, Prihi Hussey, veio fazer uma visita. Ao testemunhar o alcance das conexões do velho ao longo desses cinco dias, Seol Jihu aprendeu uma ou duas coisas sobre esse homem chamado ‘Jang Maldong’.
A primeira foi que ele também era da Área 1. A segunda, que ele era incrivelmente famoso mesmo sem ser um Mago. Por fim, parecia ser o fundador da Carpe Diem.
Claro, isso não era tudo.
— Adeus às preocupações! Chegaram os dias felizes!
Hugo abriu os braços e comemorou enquanto corria. Ele não parava de sorrir desde que voltara e encontrara Jang Maldong no escritório.
— Uhuhuhu, é só questão de tempo até voltarmos a ser a equipe número um de Haramark!
Vendo a confiança dele, Seol Jihu se aproximou como um peixinho fisgado pelo anzol.
— Ele deve ser alguém incrível.
— Sim! Incrível nem começa a descrever!
— Ele é um Ranker Único? Ou talvez… um Executor?
A cabeça de Hugo parou de balançar.
— Uhh… não. Ele é um Alto Ranker.
Seol Jihu duvidou do que ouvira. Ele certamente não menosprezava os Terrestres de Nível 5, mas não pôde deixar de se surpreender.
— Não subestime ele só por causa do nível. O Velho Maldong não pode ser medido pelos padrões de Paraíso.
— Como assim?
Quando Seol Jihu perguntou com os olhos brilhando, Hugo fez uma careta, parecendo ter dificuldade para encontrar palavras que explicassem o velho. Apesar do tempo que passou, ele conseguiu puxar algo.
— Lembra que existem quatro classes quando você começa? Arqueiro, Mago, Sacerdote e Guerreiro?
— Sim, e sem exceções.
— Mas! Isso não significa que você tem que seguir o caminho do combate.
Seol Jihu refletiu sobre as palavras de Hugo antes de abrir a boca:
— Agora que penso, ouvi dizer que há pessoas que se focam em produção.
— Exatamente! Mas as classes de produção não são os únicos caminhos fora do combate.
— Então o quê?
Hugo ficou sem palavras de novo. Passou as mãos na cabeça e, de repente, gritou:
— Ah!
— Senhorita Raposa!!
— Kim Hannah!!
Seol Jihu também gritou, sentindo que devia acompanhar Hugo.
— Isso! Aquela com quem você tem contrato!
Hugo falou animadamente, como se finalmente tivesse encontrado um bom exemplo.
— Ela é igual. Começou como Arqueira, mas virou uma Alto Ranker de outro jeito.
O que isso queria dizer?
— A Kim Hannah era Arqueira?
— Você não sabia?
Hugo pareceu surpreso ao ver que Seol Jihu não sabia disso.
— Primeira vez que ouço isso. Mas que ‘outro jeito’ é esse?
Hugo ficou em silêncio. Não parecia ser por não conseguir explicar, mas por estar escolhendo bem as palavras.
— Mm… Dito de forma gentil, as habilidades dela são excelentes.
— E de forma não tão gentil?
— …
— Prometo que não conto pra ninguém.
— S-Se é assim…
Hugo fez Seol Jihu prometer três vezes antes de finalmente dizer:
— Ela é uma golpista.
Seol Jihu ia perguntar por quê, mas lembrou-se das partes iniciais de seu sonho e ficou quieto. Hugo pigarreou antes de continuar:
— Voltando ao que eu dizia, acho que todo mundo tem algum tipo de talento. Mas isso não quer dizer que o talento tenha que estar voltado pra batalha.
— Então você tá dizendo que, se alguém é bom em mentir ou enganar, os deuses desenvolvem esse talento e o guiam nesse sentido?
— Exatamente. A Kim Hannah pode ser uma das mais famosas corretoras de Paraíso, mas o Velho Jang é, sem dúvidas, o melhor treinador que existe por aqui. A Filha da Luxuria é famosa por si só, mas não chega nem aos pés do nosso velho.
Hugo ergueu o polegar. De repente, Seol Jihu se lembrou do velho gritando com ele:
— Seu completo idiota! Você tem um motor poderosíssimo e não sabe usá-lo direito!? Que desperdício de mana!
Só de lembrar disso, um arrepio percorreu sua espinha. Como alguém que havia passado pelo treinamento de mana de Jang Maldong, ele não teve como não concordar 100% com Hugo.
Na verdade, Seol Jihu só havia treinado com Jang Maldong por cinco dias. Mas nesses cinco dias, não apenas evoluiu sua habilidade de Arremesso de Lança, como também aprendeu uma nova habilidade.
O mais assustador era que ele despertou essa nova habilidade enquanto treinava para evoluir o ‘Arremesso de Lança’ para ‘Lança de Mana’. Como ainda por cima elevou a proficiência da Circulação de Mana, não era de se estranhar seu choque.
“Tudo o que eu fiz foi seguir as instruções dele…”
Tendo experimentado a magia de Jang Maldong em primeira mão, Seol Jihu concordava completamente com Hugo.
— E não é só isso. Ele tem um olhar afiado pra identificar o talento e a natureza das pessoas.
— É mesmo?
— Espera só alguns dias. Aposto que ele vai encontrar um Arqueiro talentoso pra gente. Talvez até treine um do zero.
Hugo riu animado e então — Ah! — bateu as palmas.
— Ei! Essa é uma boa chance. Por que você não pede pro velho te treinar também?
Era exatamente o que Seol Jihu queria. Se já tinha conseguido tanto com apenas cinco dias de treino, até onde chegaria se passasse mais tempo com ele?
Só de pensar, já ficava empolgado.
— Bom, pra ser honesto, o treinamento vai ser su~~uper difícil. Você vai querer se matar, talvez. Mas se aguentar esse inferno…
— Aí o quê?
Seol Jihu engoliu em seco, os olhos brilhando. Hugo abriu a boca com um semblante sério.
Foi quando…
— Não.
Uma voz firme interrompeu os dois. Eles se viraram ao mesmo tempo.
— Hugo, para de encher ele com essas besteiras e não cria expectativa à toa.
Chohong fazia abdominais numa máquina, mas se levantou pra encarar Hugo.
— Como assim, besteiras?
Hugo rebateu frio, claramente incomodado por Chohong estar jogando um balde de água fria no momento.
— Você não sabe?
— Ei, tudo o que eu tô dizendo é que…
— Eu não sei quanto ao Seol, mas você não tem qualificação pra pedir ajuda pra ele, do mesmo jeito que eu e o Dylan também não temos.
Ao ouvir essa declaração direta, Hugo se encolheu.
— Ele só conseguiu se aposentar deixando pra trás os apegos que ainda tinha. E agora você quer puxar ele de volta por pura ganância?
— Você não precisa falar desse jeito.
— Vamos só deixar ele ir em paz e ficar felizes que ele ainda vem nos visitar de vez em quando. Você sabe como ele se apega fácil às pessoas. Se a gente ficar agarrando ele desesperadamente, é óbvio que ele vai hesitar.
— Mas olha a situação em que a gente tá!
Hugo ainda tentou argumentar.
— Cumpra. Sua. Promessa.
Mas Chohong lançou aquele olhar gélido característico dela, e Hugo congelou no lugar.
— Você quer ver ele decepcionado de novo?
Sua voz cortante fez Hugo fazer uma careta. Ele rangeu os dentes, lançou um olhar feroz para Chohong e saiu resmungando como um tigre irritado. O clima quente virou frio num instante.
Seol Jihu, pego entre a cruz e a espada, se aproximou de fininho de Chohong, que resmungou e voltou a se exercitar.
— Eu já disse que não, entendeu?
Mas antes que ele sequer pudesse abrir a boca, Chohong o advertiu. Seol, sentindo-se meio culpado, fez um biquinho.
— Eu nem falei nada.
— Mas tava na cara que ia falar!
Chohong ergueu o tronco com um grunhido. Seol, encarando seus abdominais tonificados por um momento, esticou o dedo e cutucou o umbigo dela.
— Aih, faz cócegas! Para, seu pervertido!
— Chohong…
— Pode fazer charme o quanto quiser, mas não vou mudar de ideia.
Os ombros de Seol Jihu caíram. Pela firmeza na voz dela, dava pra ver que já tinha tomado uma decisão.
— Mas por quê?
Ela não respondeu de imediato. Continuou malhando em silêncio. Logo depois, desceu da máquina de exercícios e colocou uma toalha nos ombros. Só abriu a boca quando estava de costas, pegando a garrafa d’água.
— O Velho Maldong… ele é o Terrestre mais antigo de Paraíso. Não necessariamente em idade, mas em tempo de permanência.
— Quanto tempo?
— Nem eu sei direito.
Chohong murmurou enquanto abria a garrafa.
— Mas sei que ele tá aqui há mais tempo que qualquer um que eu conheça. Acho que ele foi um dos primeiros a entrar em Paraíso.
— Oh?
— Surpreende, né? Trabalhar em Paraíso por mais de dez anos não é fácil…
Gulp, gulp. Puha!
Ela bebeu metade da garrafa de uma vez antes de continuar:
— A menos que você tenha algum apego a este mundo, é impossível aguentar tanto tempo.
Seol Jihu assentiu.
— Sério, quanto mais eu penso, mais vejo que ele é incrível. Entrou em Paraíso já velho e usou o talento como treinador pra ajudar esse mundo. Quem não respeitaria ele? Se fosse por mim, eu aplaudia de pé.
Mas depois disso, a fala de Chohong ficou hesitante.
— Mas sabe… nem todo mundo é nobre e incrível como o Velho Maldong…
Ela parecia querer que ele concordasse. Em vez de balançar a cabeça ou concordar com palavras, Seol preferiu perguntar:
— O que você quis dizer quando falou sobre ele se decepcionar?
Chohong parou. Em seguida, limpou o rosto com a toalha, quase como se quisesse esconder a expressão.
— Quando Paraíso abriu pela primeira vez… dizem que as coisas eram diferentes.
“As coisas eram diferentes.” Seol Jihu meio que já imaginava o que isso queria dizer.
— Dizem que era uma época cheia de esperança, com os Terrestres se esforçando de verdade pra ajudar Paraíso, e os Paraisianos apoiando os Terrestres tanto quanto podiam.
É, definitivamente já existiu uma época assim. Um tempo em que Terrestres e Paraisianos não tentavam se destruir pelas costas.
— Mas hoje não é mais assim. As coisas mudaram, muita coisa aconteceu… Deve ter sido um choque pra ele.
Seol Jihu queria perguntar o que tinha acontecido, mas conteve a curiosidade. Percebia que Chohong não queria falar sobre isso. No entanto, talvez sentindo o olhar curioso dele, ela murmurou após hesitar bastante:
— Só imagina.
— ?
— Você dedicando tempo e esforço pra criar discípulos, tudo pra que eles ajudem Paraíso de alguma forma… mas no fim, eles lutam e se matam entre si em nome do lucro. Alguns ainda se juntam pra causar revoltas, matando um monte de Paraisianos no processo.
De repente, Seol Jihu se lembrou do conflito interno e da guerra que aconteceram em Haramark.
— Como você se sentiria se isso acontecesse com você? Pensa bem.
Chohong deixou essas palavras no ar e saiu do campo de treino. Seol Jihu, por outro lado, ficou parado, incapaz de se mover por um bom tempo.
— …
De repente, ele pensou que o Velho Maldong era parecido com Alfred Nobel. Nobel ficou famoso por inventar a dinamite, mas depois se arrependeu ao ver sua criação sendo usada para matar milhões.
Embora as circunstâncias fossem diferentes, o Velho Jang Maldong provavelmente sentia algo parecido.
Quando seus pensamentos chegaram a esse ponto, Seol Jihu ergueu os braços. Ao se concentrar, uma energia azul começou a se reunir nas suas mãos.
Wiiiing!
O progresso que ele fez nos últimos dias era simplesmente inacreditável. Ele já havia aprendido a habilidade de Nível 3, Aura, que materializava a mana.
Mas agora que sabia da história do velho, ele simplesmente não conseguia mais insistir.
“É lamentável, mas… Acho que é isso.”
Ele conseguiu superar a barreira. Embora soubesse que ainda tinha muito a aprender, estava satisfeito com os resultados. Pelo menos, havia cumprido a promessa que fizera a si mesmo.
Depois de dissipar a energia, Seol Jihu se virou para seguir até o templo. Ele esperava conseguir desbloquear totalmente seus Nove Olhos.
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