Índice de Capítulo

    Apesar de ter dito que partiria o quanto antes, Jang Maldong permaneceu por mais um dia sob o pretexto de que queria ver Chohong e Hugo mais uma vez. Claro, seu verdadeiro motivo era outro.

    Ele não conseguia tirar da cabeça o encontro com Arbor Muto. As palavras que ouvira ficavam ressoando em sua mente. Uma sensação revigorante surgia constantemente dentro dele, sem querer desaparecer.

    Antes, ele estava cheio de queixas, mas agora queria continuar em Paraíso.

    É claro, permanecer em Paraíso significava correr o risco de encontrar certas pessoas. E a intuição de Jang Maldong estava certíssima.

    — Maldong!

    Ian veio visitá-lo mais uma vez. Jang Maldong demonstrou cansaço com clareza, mas acabou cedendo às palavras de Ian, que disse que talvez fosse a última chance de beberem juntos, e o acompanhou até o Comer, Beber e Curtir.

    — Achei que você já teria ido embora. Estou surpreso.

    — Estou de partida em breve.

    — Poxa, precisa mesmo ir?

    — Claro. Não é como se eu fosse bem-vindo se ficasse.

    — Ha! Quem em Paraíso não o daria boas-vindas? Quem!?

    Ian chegou a cuspir de indignação ao protestar com veemência.

    — Pense bem, amigo, hm? Haramark ainda precisa de você!

    Na verdade, Ian Denzel era uma das pessoas ao redor de quem Jang Maldong mais se sentia desconfortável. Isso porque Ian era um de seus amigos mais próximos, e um dos que mais desejavam, sinceramente, seu retorno.

    — Uff…

    Ao ver Jang Maldong em silêncio, Ian soltou um profundo suspiro. Devia ter bebido bastante, pois o cheiro de álcool saía forte de sua boca.

    — Roger, Garp, Sengoku… Já não restam muitos que conheçam o velho Paraíso.

    — Já se passaram dezenas de anos. É natural…

    Jang Maldong assentia, concordando, quando… — O quê? Ro… Quem?

    Ele franziu a testa e retrucou. Ian abaixou a cabeça antes de cair em uma gargalhada incontrolável.

    — Que vergonha! Que vergonha! Eu estava esperando que você concordasse amargamente com o que eu disse!

    Jang Maldong clicou a língua, com um olhar atônito.

    — Vejo que ainda não perdeu o costume de falar bobagens. Você ainda assiste àquelas animações?

    — Claro que sim. Você devia assistir também. Anime é divertido.

    — Com a minha idade? Até você deveria assistir com moderação. Não vou te dar bronca por ver essas coisas, mas não acha vergonhoso sair falando essas besteiras?

    — Conselho de amigo? Tá bom! Nunca mais assisto.

    Tak.

    Ian deu um tapa na mesa, seus olhos cintilando.

    — Mas então você tem que voltar.

    Jang Maldong assumiu uma expressão exausta diante da lógica absurda de Ian.

    — Você é persistente, isso eu admito. Nunca se cansa?

    — Sabe por que eu não desisto e fico te importunando até o fim? — sua pergunta foi respondida com outra.

    — Não.

    — É porque eu sei que você tem arrependimentos.

    Jang Maldong estava prestes a virar o copo, mas parou e olhou seriamente para Ian.

    — O Jang Maldong que eu conheço é firme em amarrar e cortar laços, mas o fato de você ainda visitar Paraíso de vez em quando mostra que ainda tem sentimentos presos aqui. — Ian enfatizou.

    Jang Maldong pousou o copo lentamente. — E o que você sabe?

    — Duvido que haja alguém em Paraíso que te conheça melhor do que eu.

    — …

    — Não ter ajudado a Aliança dos Homens-Fera. As revoltas e conflitos internos. Os incontáveis Paraisianos que morreram por causa disso.

    — …

    — Não acho que nenhuma dessas coisas tenha sido culpa sua.

    — …Você está certo — Jang Maldong concordou sem hesitação. — Mas acredito que, ao menos em parte, tive responsabilidade nisso. Eu não devia ter entregado o poder com tanta facilidade — sua voz estava cheia de arrependimento.

    — Como os humanos mudam quando obtêm poder… Nunca me arrependi tanto da minha profissão.

    — Se é assim que você realmente pensa, então não vou tentar te impedir. — Ian deu de ombros. — Mas o Jang Maldong que eu conheço não é alguém que simplesmente esquece seus erros e os abandona. Não, ele é do tipo que os enfrenta e tenta corrigi-los.

    — Vamos parar com esse assunto — Jang Maldong revelou seu incômodo. — Não tenho mais razão para permanecer em Paraíso.

    — Tem, sim — mesmo assim, Ian não parou. — Você ainda tem um sonho a realizar.

    — É um sonho inalcançável — Jang Maldong respondeu com amargura. — Já é tarde demais. Paraíso já está…

    — Não, você está enganado — Ian o interrompeu antes que ele pudesse terminar. — Eu acho que a vida é como as quatro estações. Quando a primavera passa, vem o verão. Quando o verão se vai, chega o outono. E quando o outono parte, o inverno entra.

    — Chega desses enigmas ambíguos. Se tem algo a dizer, diga com clareza.

    — É sobre o Seol. — Ian foi direto ao ponto.

    — O que tem ele?

    — Acho que a mudança já começou.

    — Você fala como se ele fosse devolver Paraíso ao que era.

    — Não estou mentindo. Sei que isso vai acontecer, e estou ansioso por isso.

    Jang Maldong conseguia ver nos olhos de Ian que ele estava completamente sério. Sentia o peso em cada palavra.

    — Toda vez que achamos que algo era impossível, que não dava para fazer, Seol provou o contrário. Quando ouvi que ele voltou vivo da missão de resgate, tive certeza. Ele pode ter tido sorte nas primeiras vezes, mas não na terceira. Seol tem um poder especial.

    Jang Maldong fechou os olhos. Um longo suspiro escapou de seus lábios.

    — Aquele garoto… Eu sei que ele é especial. Reconheço que é talentoso. Mas…

    Jang Maldong hesitou, então torceu os lábios.

    — Mas nunca se sabe. Vai que ele muda no futuro, como todos os outros?

    — Justamente por isso ele precisa de você.

    Ian falou como se estivesse esperando exatamente esse momento.

    — Seol precisa de alguém que o guie, alguém que o mantenha no caminho certo.

    Ele disse isso como se estivesse cansado de repetir o óbvio. Jang Maldong permaneceu em silêncio. Apenas mexia no copo com os dedos. Por fora, parecia estar refletindo.

    Ian virou o próprio copo, apesar do rosto já estar avermelhado pelo álcool.

    — Maldong.

    A língua enrolava, mas as palavras saíram nítidas.

    — Na vida, a primavera não vem só esperando.

    — …

    — É preciso suportar o frio amargo e lutar para romper a terra congelada. Só então é possível ver a luz do dia e dar boas-vindas à primavera.

    — …

    — Não estou te pedindo para fazer nada. Não estou dizendo para voltar à linha de frente. Nós dois já falhamos uma vez, e já estamos velhos.

    Depois disso…

    — Mas, se ainda guarda dentro de si o sonho que um dia tivemos juntos… — Ele continuou com uma sinceridade e intensidade que não estavam presentes antes.

    — Então ao menos aposte suas últimas fichas. Como uma última aposta… aposte na carta que pode virar o jogo…

    Koong!

    Ian terminou a fala arrastada com a cabeça despencando sobre a mesa. Nos momentos seguintes, o silêncio reinou. Jang Maldong ouviu os resmungos bêbados de Ian e então sorriu amargamente.

    — Falar é fácil, seu desgraçado.

    Ele levantou o copo na mão e virou de uma vez.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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