Capítulo 202: Harém do Inferno (1/2)
Não era uma boa ideia viajar de carruagem por um deserto. A areia fofa podia facilmente quebrar as rodas, e a velocidade de deslocamento também precisava ser reduzida significativamente.
Por causa da areia quente, os Horuses que puxavam a carruagem também se cansavam rapidamente. Claro, não era como se eles fossem desabar de repente, especialmente com um bom suprimento de água e feno, mas considerando que o time estava atravessando o Deserto de Sal, conhecido por seu terreno irregular, viajar de carruagem era definitivamente ineficiente.
Assim, quando o grupo chegou à entrada do deserto, começaram a cruzá-lo a pé. Como esperado de um deserto, a temperatura durante o dia era escaldante, como se o próprio ar estivesse fervendo. Além disso, toda vez que se respirava, um cheiro salgado irritava o nariz, provocando uma sede incômoda.
Seol Jihu caminhava nesse ambiente terrível, mas não parecia estar tendo dificuldades. Não era que seu rosto não demonstrasse o cansaço, e sim que ele realmente achava tudo aquilo bastante simples.
Isso se devia, em grande parte, ao seu atributo Vigor ter alcançado o nível Intermediário, mas também ao fato de já ter suportado dores mentais muito maiores.
Comparado à época em que passou oito dias sem água nem comida, tendo que fugir constantemente sem poder dormir, caminhar naquele deserto era como passear no paraíso. Afinal, agora ele tinha comida, água e um destino claro.
Esse também era o motivo pelo qual carregava Maria, exausta, em suas costas sem problemas.
Contudo, mesmo que Seol Jihu não tivesse dificuldades com o ambiente, seu semblante ainda era sombrio por uma pequena razão. E essa razão era o grande grupo de pessoas os seguindo à distância.
Chohong lhe dissera para ignorá-los:
— Aquelas hienas já teriam nos atacado se quisessem. Não se preocupe.
Mas Seol Jihu achava difícil simplesmente esquecê-los. Os olhares que às vezes perfuravam sua nuca e suas costas eram gelados demais. Incomodavam ainda mais porque a hostilidade era explícita, não disfarçada.
“Diminuíram de novo.”
Em apenas um ou dois dias, o grupo que parecia um exército de milhões no início agora havia sido reduzido pela metade. Alguns poderiam ter desistido e voltado, mas Seol Jihu sabia que essa não era a única razão.
Não era medo.
Guerreiro Bárbaro de Nível 4 – Richard Hugo.
Sumo Sacerdote de Nível 5 – Sacerdote Sem Nome.
Ladrão Atacante de Nível 4 – Sakamoto Jun.
Explorador Supremo de Nível 5 – Ayase Kazuki.
Alto Sacerdote de Nível 4 – Maria Yeriel.
Templária de Nível 5 – Chung Chohong.
Com um time tão poderoso, preocupar-se com uma batalha seria infundado. Porém, como Seol Jihu marchava à frente do grupo, não podia deixar de se preocupar que algo acontecesse aos seus companheiros enquanto ele estivesse distraído.
— Hyung-nim.
Notando que Seol Jihu prestava muita atenção ao que vinha atrás, Jun falou:
— Sabe, para os Terrestres, o Banquete é como comprar um bilhete de loteria bienal.
Seol Jihu ouviu, ainda achando estranho Jun se referir a eles como ‘Terrestres’.
— Se calcularmos em termos simples de amostragem, eles têm 0,012% de chance de ganhar essa loteria.
— Isso é alto ou baixo?
— Alto. Extremamente alto. É algo como uma chance em oito milhões. Comparado às loterias normais, que giram em torno de uma em trezentos milhões.
— Mas nesse caso, você tem que apostar a vida.
— Não necessariamente. Pelo que sei, é possível sair do Estágio 3 no meio do caminho. E se tiver sorte e conseguir completar, é como ganhar uma Powerball acumulada por vários sorteios.
Parecia que Jun conhecia bem como funcionavam loterias estrangeiras. Ele olhou para trás antes de girar sua katana curta e rir:
— O mais importante é que, no começo, até Nível 4, Nível 3 e até mesmo Nível 2 venceram. Claro, só no início.
— …
— E o principal é que, dependendo da pessoa, o Desejo Harmonioso pode ser equivalente a um ‘desejo’ concedido pelos Deuses. Pode haver quem sonhe em mudar de vida como eu, ou outros com sonhos diferentes. Seja como for, não apostaria sua vida numa chance dessas?
Seol Jihu suspirou.
— Mas ainda assim, se tivéssemos preenchido todas as vagas desde o início…
Ele estava prestes a terminar dizendo: ‘Eles talvez não tivessem nos seguido.’ Contudo, engoliu as palavras.
Será que aquelas pessoas realmente não teriam seguido o grupo, mesmo se tivessem vindo com dez integrantes? E, se tivessem seguido, como deveriam interpretar isso?
— Não tire conclusões tão apressadas, Hyung-nim. Poucas coisas neste mundo são certas.
Jun riu, mas Seol Jihu não conseguiu. Jun estava insinuando que Kazuki deixara três vagas de propósito, essencialmente dizendo aos seguidores:
“Vamos deixar algumas migalhas, então não nos incomodem.”
— Ah, mas não entenda mal também. O motivo pelo qual Kazuki Hyung-nim reuniu apenas sete de nós também é porque ele valoriza muito o tom do time.
— Tom do time?
— É. Ter mais pessoas nem sempre é bom, especialmente quando se trata de trabalho em equipe. Por exemplo, olhe para suas costas.
Jun cutucou a pequena figura encapuzada carregada nas costas de Seol Jihu. Como Maria era extremamente fraca contra o calor, estava praticamente grogue por causa da onda de calor sufocante.
— Olha a nossa Maria-chan. Ela só entrou porque não estávamos em posição de ser exigentes. Do contrário, conhecendo a personalidade do Kazuki Hyung-nim, ele teria considerado seriamente rejeitá-la.
— Mas a senhorita Maria é…
— Ah, eu sei. Ela é uma excelente Sacerdotisa. O problema é a personalidade. Para ser mais preciso, é o relacionamento interpessoal e a sociabilidade.
Seol Jihu ficou sem palavras. Não pôde rebater porque Jun tinha razão.
— Tenho certeza que o Kazuki Hyung-nim está nervoso. Eu mesmo estou. Ter duas das Seis Malucas em um mesmo time? Meu Deus.
No entanto, como se já tivesse ouvido o suficiente, um irritado:
— Un!
veio das costas de Seol Jihu, e a figura encapuzada se remexeu vigorosamente. ‘Cale a boca’, era o que parecia querer dizer. Seol Jihu pensou que ela estivesse dormindo, mas pelo visto ao menos estava de ouvidos atentos.
— Hehe~ Até a Maria-chan se remexendo é fofa~
Enquanto Jun ria, Seol Jihu lançou um olhar de soslaio. Isso porque a menção às Seis Malucas lhe lembrara de outra pessoa.
Ele falou baixinho:
— E quanto à Chohong?
— Chung Chohong Noonim é diferente — Jun gesticulou para Seol Jihu se aproximar e falou em tom mais baixo.
— Além de ser uma Alta Ranker, ela também é famosa como a Donzela do Massacre. Tenho certeza de que é o maior motivo para aquelas hienas não se aproximarem da gente.
— Sério?
— Sim. É óbvio o que aconteceria se se aproximassem. Ela explodiria a cabeça deles em pedacinhos. Aliás, aquela arma dela é realmente…
Chohong deve ter ouvido, pois seu pescoço enrijeceu. Sua postura curvada também ficou ereta como um bambu.
— Ei, por que estão tagarelando tanto no meio da marcha? Não estão com sede?
Ela até entregou uma garrafa de água a Jun. Pelo jeito, ela estava ouvindo desde o começo. E devia estar satisfeita porque Jun a elogiava enquanto criticava Maria.
— Oh! Obrigado! — Jun aceitou a garrafa sem hesitar.
— Aliás, concordo com você. Como alguém pode ser tão fraco a ponto de desmaiar só por causa do calor? Não estamos num piquenique, afinal.
— Sim, sim, concordo mil por cento.
— Olha só, pendurada nas costas do Seol como se a vida dependesse disso. Ela nem pensa em quem está a carregando? Se fosse eu, teria descido de vergonha.
— Você tem toda razão, Noonim.
— Ainda tem você e o Hugo, então por que ela insiste em ficar nas costas do Seol?
— Noonim, você tá com ciú… Não, você tem razão. Sempre tem.
Seol Jihu sentiu os movimentos nas suas costas ficarem mais bruscos. Com um sorriso forçado, ele a ajeitou melhor e falou:
— Senhorita Maria? Fique quieta. Você pode cair se continuar se mexendo.
— Uun!
— Eu sei, eu sei. Seja boazinha. Eles só estão brincando. Todo mundo sabe o quão habilidosa você é.
— Uuuuun!
Enquanto Seol Jihu tentava acalmar a agitada Maria, as críticas de Chohong aumentavam.
No final, Kazuki lançou um olhar ameaçador para trás. Com isso, o grupo voltou ao silêncio.
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