Índice de Capítulo

    — Paeeeeeeek!

    Um grito lastimoso ecoou na sala. Tendo sido esmagada como uma lula achatada duas vezes, as lágrimas que Maria vinha segurando finalmente transbordaram.

    Como resultado, a recém-chegada teve que lidar com uma quantidade aterradora de pura fúria. Felizmente, parecia ter uma personalidade dócil, pois simplesmente suportou os gritos de Maria.

    — Me desculpa… Me desculpa…

    Ela se desculpou repetidamente, e, após um tempo, a furiosa Maria terminou de despejar sua raiva e marchou até o canto da sala, onde se agachou.

    Pelo jeito que segurava o crucifixo junto ao peito, parecia estar considerando lançar uma barreira ao seu redor. Mas, como não podia desperdiçar seus preciosos feitiços guardados, apenas rangeu os dentes.

    Seol Jihu pensou em consolá-la, mas preferiu apenas se sentar contra a parede. Agora que percebera a situação em que estava, precisava de um tempo para organizar os pensamentos.

    “Por quê?”

    A regra que nunca havia sido quebrada nos quatro primeiros Banquetes acabara de ser quebrada. Mas por quê?

    “…Não tem como descobrir.”

    Se existisse alguma entidade supervisionando o Banquete, Seol Jihu não hesitaria em agarrá-la pelo colarinho e sacudi-la. Secretamente, ele esperava desvendar o segredo por trás dos Banquetes bienais, mas as coisas apenas ficaram mais confusas.

    Se havia algo de que podia se alegrar, era o fato de não ter sido separado de Maria.

    “Concentre-se.”

    Chak!

    Seol Jihu deu um forte tapa nas próprias bochechas. Imediatamente, sentiu vários olhares recaírem sobre ele. No entanto, ignorou-os.

    “Pausar tudo.”

    Os planos feitos considerando que avançariam como equipe, os pensamentos sobre desvendar o segredo do Banquete, ele colocou tudo em espera.

    Estabeleceu como primeiro e principal objetivo a sobrevivência. Precisava escapar vivo daquele lugar e se reunir com seus companheiros antes de pensar em qualquer outra coisa.

    Ao mudar sua mentalidade e focar em apenas um objetivo, sentiu sua mente ficar um pouco mais leve.

    Seol Jihu olhou lentamente ao redor da sala, mas, por mais que observasse, continuava sendo a mesma sala simples. O único detalhe digno de nota era que não conseguia ver nenhuma entrada ou saída.

    Isso não era uma boa notícia.

    Após refletir mais uma vez sobre a situação, ativou os Nove Olhos. Quando a sala mudou de cor, Seol Jihu arregalou os olhos em choque.

    “Ouro?”

    Toda a sala brilhava com um tom dourado. Sua visão ficou completamente tomada por uma onda dourada vibrante.

    Seol Jihu mal conseguiu se conter para não soltar um som. Ao ver aquela luz dourada deslumbrante, imediatamente sentiu a tensão diminuir, mas no momento seguinte, ficou ainda mais alerta.

    Depois de passar por tantos incidentes, sabia que o Mandamento Dourado nem sempre era algo bom.

    “Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você.”

    Sempre havia uma causa para cada efeito, e uma razão para cada causa. Nesse sentido, como deveria interpretar o fato de aquela sala estar dourada?

    Havia um motivo. Um motivo para aquela sala emitir a cor da Regra Dourada.

    Dependendo de suas escolhas, havia a chance de obter mais do que apenas a sobrevivência.

    Seol Jihu fechou os olhos para se concentrar. Como seus nervos estavam todos focados em sua cabeça, ele não percebeu que a garota pálida o observava fixamente, apoiada nos joelhos.

    Enquanto o jovem se absorvia nesse novo problema, mais pessoas começaram a aparecer.

    A sala tinha apenas quatro pessoas no início, mas em poucas horas, o número aumentou para sete. Cada recém-chegado reagiu de maneira diferente. Alguns ficaram desconcertados por estarem separados de suas equipes, enquanto outros caminhavam despreocupadamente pelo recinto.

    De qualquer forma, ninguém entrou em pânico total, afinal, todos eram Terrestres com certo nível de experiência no Paraíso. No entanto, uma atmosfera competitiva começou a tomar conta da sala.

    Entre os sete presentes, havia duas figuras que especialmente chamaram a atenção dos demais.

    Uma era uma jovem de cabelo liso até os ombros. Parecia ser uma Guerreira, a julgar pela armadura composta prateada e pela longa espada elegante. Apesar de passar a impressão de ser temperamental e facilmente ofendida, seu rosto era absolutamente inexpressivo. Nem um traço de emoção podia ser visto em sua expressão. Comparada a ela, até Kazuki parecia uma pessoa cheia de expressividade.

    A outra também era uma jovem. Tinha o cabelo castanho amarrado em um rabo de cavalo. O arco nas costas e a aljava na cintura deixavam claro que era uma Arqueira. Por algum motivo, ela sorria sem parar. Porém, era um sorriso sinistro, que fazia arrepiar até a espinha dos outros.

    Com seus olhos amendoados e serpentinos e pupilas brilhantes, transmitia uma aura perigosa que a faria parecer uma cobra venenosa se apenas esticasse a língua.

    “O quê?”

    Quando Seol Jihu olhou novamente ao redor, ficou espantado em seu íntimo. Todos os seis membros, exceto ele, eram mulheres.

    Corte Chanel, Rosto Inexpressivo, Olhos de Cobra, a garota da faixa branca na cabeça, Maria e a garota de boa índole que só sabia se desculpar…

    Nenhuma delas era uma beleza que se destacaria numa multidão, mas Seol Jihu sentiu-se estranho apenas por estar cercado por mulheres de todas as nacionalidades. Não era como se se sentisse desconfortável ou envergonhado. Apenas… estranho.

    “Com certeza deve haver outro cara, certo?”

    Como para responder à sua pergunta, alguém caiu do ar.

    Splat!

    Seol Jihu ouviu um som de respingo lamacento. Seu rosto se iluminou ao ver o cabelo curto do recém-chegado, mas logo se contorceu. Ao tocar o rosto, uma substância líquida e carmesim manchou sua mão.

    — Hehe… hehehehe…

    Uma risada sem vida ecoou.

    — Eu entrei… Eu consegui… Eu entrei…

    As dezenas de flechas cravadas nas costas do homem o faziam parecer um ouriço. Pelo visto, ele devia ter participado de uma competição feroz pela entrada. Talvez tivesse lutado contra centenas de pessoas só para chegar ali.

    Deveria estar comemorando, mas sua expressão apenas se distorceu.

    Tk.

    Ele cravou as unhas no chão com força suficiente para quebrá-las. Então, abriu a boca com dificuldade.

    — Alguém… alguém…

    Seol Jihu estava prestes a se levantar para ajudá-lo quando sentiu alguém puxando sua roupa. Ao olhar para o lado, viu Maria balançando a cabeça.

    — Não se aproxime dele.

    — Como assim?

    — Já é tarde demais.

    — Mas…

    Quando Seol Jihu se virou novamente para o homem, ficou sem palavras. Lágrimas de sangue escorriam dos olhos congestionados do moribundo.

    — Curar os ferimentos dele já seria difícil… Mas o veneno já se espalhou pelos órgãos. O melhor seria deixá-lo partir sem sofrimento.

    Ela estava sugerindo que tratar seus ferimentos apenas prolongaria sua agonia.

    — N-não…

    Será que ele ouviu Maria? O homem começou a se debater desesperadamente.

    — Eu… Eu finalmente consegui… entrar no Banquete…

    Tentou se erguer, mas logo colapsou, como se tivesse perdido o controle dos membros.

    — Eu não posso… morrer aqui…

    Sua voz tremia.

    — Eu preciso… encontrar a cura… e voltar…

    Se curvou como um camarão.

    — Mãe…

    Lágrimas escorreram de seus olhos como se estivesse dominado pela dor.

    — Mãe… Mãe…

    Chorou pela mãe durante um longo tempo até que seus olhos começaram a se apagar. E então, em dado momento, parou de falar e de se mover.

    “Ele morreu assim que entrou…”

    Seol Jihu esfregou a boca tentando dissipar o gosto amargo. Quis fechar os olhos do homem, mas não podia se arriscar a se contaminar com o veneno.

    No entanto, parecia que Seol Jihu não era o único sentindo pena. Tanto a garota do corte chanel quanto a garota de boa índole demonstraram sinais de compaixão.

    Claro, havia também quem reagisse de forma oposta.

    — Kik!

    Olhos de Cobra abaixou a cabeça, os ombros sacudindo de tanto rir.

    — Segurem esse retardado. Mãe~ Mãe~

    Ela zombou como se as últimas palavras do homem fossem hilárias. Ao ouvir isso, Corte Chanel franziu a testa.

    Mas Olhos de Cobra continuou, imperturbável.

    — Deve ter tido sorte e conseguido entrar mesmo com essas habilidades ridículas~ Bem, ainda bem que morreu aqui. — Ela riu antes de levantar a cabeça e lamber os lábios. — Embora, que se foda quem fez isso. Se vai matar alguém, que seja limpo! Se espalhar veneno pelo corpo todo, eu não posso saquear os pertences!

    Pelas palavras dela, já teria pilhado o cadáver se não fosse o veneno.

    — Que desperdício~ Que desperdício~ — Vendo Olhos de Cobra murmurando para si mesma, Corte Chanel finalmente abriu a boca.

    Kiik!

    Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, o rangido de uma engrenagem ecoou. Então, um forte tremor varreu a sala.

    Seol Jihu, que estava meio levantado, teve sua atenção atraída pela parede do outro lado da sala. Uma parte da parede branca, cerca de dois metros de altura e um metro de largura, se projetou.

    Uma porta havia surgido. Em outras palavras, o Estágio 1 devia ter começado.

    — Parece que precisávamos de oito pessoas para sair da sala — disse Corte Chanel. Ela pigarreou antes de continuar — Já que uma porta apareceu, duvido que mais alguém vá chegar… Que tal? Já que nos encontramos por obra do destino, por que não nos apresentamos e…

    Corte Chanel não conseguiu terminar a frase. Foi porque Rosto Inexpressivo, que estivera sentada no chão o tempo todo, se levantou.

    — A-Ah, não precisa se levantar para isso.

    Corte Chanel disse com um sorriso, mas Rosto Inexpressivo a ignorou completamente. Vendo-a estender o braço em direção à porta, Corte Chanel piscou, confusa.

    — Hm…

    — …

    — Olá? A de armadura prateada?

    Kiik.

    A porta se abriu. Rosto Inexpressivo imediatamente deixou a sala.

    Corte Chanel ficou parada com a boca aberta. Olhos de Cobra deve ter achado graça, pois soltou outra risada abafada. E quando Corte Chanel franziu ainda mais a testa, ela finalmente explodiu em gargalhadas.

    Puhahaha! Quer ser mais óbvia?

    — O quê?

    — Escuta aqui, sua retardada. Você acha que está na Zona Neutra? Ou numa excursão de faculdade?

    — N-Não! Eu só…

    — O quê, quer que a gente conte nossos hobbies? Talvez até fatos divertidos uns sobre os outros!

    A crítica cortante de Olhos de Cobra fez Corte Chanel tremer no lugar.

    — Tanto faz. Vocês cinco podem fazer uma fogueira e dançar cha-cha-cha se quiserem.

    Corte Chanel parecia completamente derrotada pela expressão venenosa e zombeteira de Olhos de Cobra.

    — C-Como pode dizer isso? — No fim, ela ergueu a voz com uma expressão de incredulidade, mas Rosto Inexpressivo e Olhos de Cobra já haviam sumido.

    — Que porra?

    Ela olhou ao redor, buscando alguém que concordasse com ela, e a garota de boa índole apenas sorriu, desconfortável. Após um breve silêncio, a garota falou baixinho:

    — Vamos sair também…?

    Os lábios de Corte Chanel tremeram como se ainda tivesse algo a dizer. Mas, quando as outras pessoas começaram a se levantar, ela não teve escolha a não ser fazer o mesmo. Não havia motivo para permanecer naquela sala, e sabia que precisava perseguir as duas que já haviam saído.

    Afinal, elas pareciam ter os equipamentos mais caros entre os oito… não, sete. A armadura de Rosto Inexpressivo parecia até melhor que a de Seol Jihu.

    — Mm… Não estou gostando do rumo disso — Maria esperou todas saírem antes de murmurar em voz baixa — Vamos seguir elas por enquanto e, se as coisas ficarem feias, seguimos por conta própria.

    — Você quer que nos separemos?

    — Faz como eu digo. Minha intuição nunca falhou. Por algum motivo… — Maria deixou a frase no ar.

    Seol Jihu nem concordou nem discordou. As coisas não estavam saindo como ele esperava, mas não parecia uma má ideia observar como os eventos se desenrolariam.

    Ao atravessar a porta, encontrou-se em outra sala vazia. O tamanho era semelhante à sala anterior, mas havia uma porta em cada parede.

    “As salas estão conectadas.”

    Seol Jihu se perguntou como aquele lugar era estruturado, mas sacudiu a cabeça com força. Primeiro precisava focar em como sobreviver. Afinal, não fazia ideia do que poderia acontecer dali em diante.

    Rosto Inexpressivo estava parada no centro da sala. Parecia mergulhada em pensamentos, a ponto de nem mesmo Corte Chanel conseguir dizer algo ao alcançá-la.

    Logo, Rosto Inexpressivo ergueu a cabeça e avançou. No momento em que escancarou a porta sem hesitar…

    Swish!

    Uma lança longa foi arremessada em sua direção.

    Seol Jihu tentou reagir instintivamente para lançar sua lança, mas Rosto Inexpressivo foi ainda mais rápida. Sua mão voou instantaneamente até a cintura, e um clarão azul explodiu.

    Seol Jihu piscou. Quando abriu os olhos, viu um crânio voando pelo ar e um esqueleto sem cabeça desmoronando no chão. Rosto Inexpressivo permanecia parada diante da porta, tão inexpressiva quanto antes.

    Plunk!

    O crânio rolou pelo chão. Seol Jihu ficou paralisado, impressionado com sua velocidade de saque.

    E isso não era tudo. Rosto Inexpressivo entrou na sala como o vento e exterminou o restante dos esqueletos que vagavam por lá.

    — Ufa~

    Olhos de Cobra, que observava tudo com desprezo, não conseguiu esconder a surpresa e assobiou.

    — Caramba~ Você manda bem. Qual é seu nome? Tenho certeza que já ouvi uma ou duas vezes.

    Naturalmente, Rosto Inexpressivo ignorou todos. Olhos de Cobra a observou atentamente antes de dar uma risada e entrelaçar os dedos atrás da cabeça.

    — Na sua frente~

    Rosto Inexpressivo parou. Olhos de Cobra riu e continuou:

    — Tem um grudado na porta.

    Rosto Inexpressivo olhou para frente e então ergueu sua espada. Quando Seol Jihu viu chamas azuis irrompendo da lâmina, não conseguiu esconder o choque.

    Como alguém que havia aprendido Aura, ele sabia o quão difícil era infundir uma arma com energia refinada.

    Por fim, Rosto Inexpressivo disparou até a porta e cravou a espada nela.

    Craaaack!

    A lâmina atravessou a porta com facilidade. Quando ela girou a espada pela metade e a puxou de volta, o sangue espesso gotejava da lâmina.

    Ao abrir a porta, um monstro negro caiu de joelhos.

    — Viu só? — Olhos de Cobra riu. Rosto Inexpressivo seguiu em frente em silêncio.

    Seol Jihu, que assistia maravilhado à sua esgrima, percebeu que ela estava lutando sozinha e exclamou:

    — Ah!

    Mesmo que parecesse não se importar…

    “Preciso ajudar.”

    Seol Jihu não queria apenas ser carregado. Ergueu a lança, decidido a apoiá-la pelo menos um pouco. Aproximou-se furtivamente, caso Rosto Inexpressivo olhasse para trás. Foi então…

    — Ooh~ Olhem só. Que lindo~ O único homem do grupo querendo ajudar. Que gentil! Que gentil!

    Olhos de Cobra estragou o momento.

    Rosto Inexpressivo estava prestes a abrir a próxima porta quando ouviu o comentário e lançou um olhar para trás.

    “Mas que droga…”

    Quando Seol Jihu encontrou seu olhar indiferente, sentiu a boca secar. Que tipo de experiências ela teria vivido para suprimir as emoções daquela maneira?

    Logo, a boca de Rosto Inexpressivo se abriu:

    — Gostaria que não me atrapalhasse.

    Sua voz monótona era um pouco grave e rouca para uma mulher.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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