Capítulo 217: Seol Jihu (2/8)
Seol Jihu abriu seus olhos fechados.
— A culpa é minha… — A garota levantou levemente a cabeça e murmurou em uma voz baixa.
Aos olhos de Seol Jihu, ela era apenas uma jovem humana. Vendo seus olhos úmidos de lágrimas e suas bochechas avermelhadas, ele se sentiu culpado por ter dependido dela de maneira tão unilateral.
— O oppa se machucou tentando me salvar…
O gigante e a garota eram irmãos. Embora não se parecessem em nada, Seol Jihu não era insensível a ponto de comentar sobre isso.
O homem já estava em um estado deplorável após o Estágio 1, mas, aparentemente, lutara protegendo a irmã mais nova durante a batalha contra os Lioners e acabou agravando ainda mais seus ferimentos.
Para se recuperar, ele havia adormecido depois de tomar uma poção de cura, e os criminosos aproveitaram essa oportunidade para espalhar o incenso adormecedor e arrastá-los para a Praça do Sacrifício.
— Se não fosse por mim… — A garota fungou, incapaz de continuar falando. Seol Jihu colocou a mão sobre o ombro frágil dela.
— Não.
No mesmo instante, a garota estremeceu por alguma razão. Sua cabeça começou a tremer.
— Não é culpa sua, nem do seu irmão. — Quando ele continuou calmamente, o tremor dela começou a cessar. — A culpa é apenas daqueles seis criminosos desprezíveis.
A garota fungou e perguntou, olhando para ele:
— O oppa vai ficar bem… certo?
— Claro. — Seol Jihu se ajoelhou e sorriu gentilmente. — Pedi para um Sacerdote Alto Ranker cuidar dele. Ele vai se recuperar rapidinho.
Consolada pelas palavras gentis do jovem, a garota caiu no choro e se jogou em seus braços. Seol Jihu acariciou gentilmente suas costas e soltou um pequeno suspiro.
O que era, afinal, esse Banquete? Ele não conseguia entender por que lhe deram um nome tão acolhedor como ‘banquete’ em primeiro lugar. Não seria mais apropriado chamá-lo de ‘um inferno vivo’?
Enquanto consolava a garota soluçante, Seol Jihu ativou seus Nove Olhos. As duas praças à distância ainda cintilavam com uma luz dourada.
“Por quê?”
Ele conseguia entender por que a Praça do Desejo Dissonante brilhava em dourado. No entanto, não conseguia entender o motivo da Praça do Sacrifício também ter aquela coloração.
Por que um lugar tão sujo e perigoso estava brilhando com a cor do mandamento?
Será que os Nove Olhos não julgavam aquilo como perigoso? Ou… será que havia algo naquele Estágio 2 que ultrapassava qualquer nível de perigo conhecido?
Ele não podia descartar a primeira possibilidade, mas sua intuição apontava fortemente para a segunda.
Tinha a sensação, de que talvez seus Nove Olhos estivessem ignorando todo o Banquete desde o começo.
Seol Jihu ficou olhando para a Praça do Sacrifício, absorto.
“Certo.”
Havia uma razão. Uma razão para ela estar aparecendo como um Mandamento Dourado.
A ampulheta parou após a primeira batalha bem-sucedida e não se moveu mais.
A princípio, os participantes restantes ficaram felizes, pensando que haviam escapado da pressão de serem forçados a agir. Mas, olhando em retrospecto, o fato de a ampulheta ter parado apenas proporcionou mais tempo livre, e esse tempo livre se transformou em traição e tirania, criando uma desconfiança generalizada.
Isso era fácil de perceber apenas observando a facção minoritária.
Não havia grupo mais hipócrita e de duas caras do que aquele. Seus membros permaneciam juntos por necessidade, mas o que pensavam internamente certamente era diferente do que demonstravam externamente.
O tempo passava sem propósito. A cooperação era necessária para conquistar o Estágio, mas essa ideia havia desaparecido completamente diante do ambiente deteriorado.
O que importava para as pessoas já não era mais conquistar o Estágio, e sim sobreviver.
Seol Jihu fumava um cigarro atrás do outro. Sentia apenas amargor na boca. E, ainda que pouco, sentia também uma pontada de vergonha.
“Não consegui fazer nada de novo.”
Quando entrou no Estágio 2, estava cheio de determinação. Jurara fazer algo, mostrar um lado melhor de si, nem que fosse só um pouco.
Mas agora que encarava a realidade, estava repetindo exatamente o que fizera no Estágio 1.
Claro, Seol Jihu sabia que ainda estava longe de ser alguém capaz de assumir o papel de líder naquele lugar.
Diferente do Estágio 1, o Estágio 2 era direcionado a todos os participantes. Naturalmente, havia muitos que o superavam imensamente em força, inteligência e liderança. Até mesmo alguns Alto Rankers não podiam se pronunciar livremente, precisando escolher o momento certo.
Como um simples Guerreiro de Nível 3, Seol Jihu não tinha outra escolha a não ser permanecer em silêncio.
“Mas…”
Ser apenas um espectador era realmente a escolha certa? Ele não havia feito nada que o deixasse culpado, mas sentia medo de como aquele resultado poderia recair sobre si.
Afinal, aquele era o Mandamento Dourado. E no Estágio 1, ele tinha visto e experimentado pessoalmente como o Mandamento Dourado funcionava.
Esse medo fazia seu coração bater mais rápido. Todos os seus sentidos gritavam que não podia deixar as coisas seguirem como água corrente, que precisava mudar o rumo dos acontecimentos de qualquer maneira.
E essa não era uma intuição infundada.
Restavam apenas 110 pessoas. Era pouco, em certo sentido, mas sentia que aquele era o ponto sem retorno.
Assumindo que todos se unissem, ele ainda conseguia vislumbrar uma saída, por um fio. Mas se o número de participantes diminuísse ainda mais… conquistar a Praça do Sacrifício se tornaria impossível.
Como o número de sobreviventes diminuía a cada dia, ele já não podia mais se dar ao luxo de perder tempo. Não conseguia pensar em nenhuma solução brilhante, mas também não estava completamente perdido. Um caminho tinha que existir.
Na verdade, essa era uma verdade que todos ali sabiam, não apenas Seol Jihu. Só que ninguém estava tomando a iniciativa. Sabendo que alcançar essa saída seria extremamente difícil e repleto de obstáculos, simplesmente haviam desistido.
Seol Jihu também havia sido assim. A situação já estava tão distorcida e o abismo entre as pessoas crescia a cada hora, que apenas pensar por onde começar já lhe causava dor de cabeça.
— Haa… — Suspirou mais uma vez. Por mais que pensasse no assunto, fazer isso sozinho parecia impossível.
Felizmente, Seol Jihu não estava sozinho. Ele tinha companheiros em quem confiava.
— Qual é o problema em usar algo que você construiu de forma justa?
De repente, lembrou-se das palavras de Kazuki.
“Eu posso fazer isso. Não, eu tenho que fazer isso.”
Seol Jihu respirou fundo e deu o primeiro passo para frente.
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