Índice de Capítulo

    Seol Jihu ainda estava de olhos arregalados. Logo, a luz feroz em seu olhar se dissipou, e ele ficou em transe.

    “Eu venci?”

    Ele conferiu novamente. Talvez por ter usado até a última gota de força para brandir a lança, a cabeça do Campeão Orc havia voado para longe, e seu corpo jazia de bruços na praça.

    “Eu realmente venci?”

    Não importava quantas vezes confirmasse, ele não conseguia acreditar. Seol Jihu estava encarando o vazio quando notou uma janela de mensagem flutuando no ar.

    【Habilidade de Classe, Passo Instantâneo (Baixo Extremo), foi criada.】

    “…Entendi. Aprendi o Passo Instantâneo…”

    Seol Jihu soltou um suspiro de alívio e olhou para frente novamente. O Campeão Orc havia caído. Ele mesmo cortara sua cabeça.

    Seol Jihu precisou fazer um grande esforço para manter os olhos abertos. No momento em que perdesse o foco, sentia que as lágrimas transbordariam.

    “Eu chorava tão fácil assim?”

    Percebeu que vinha chorando com frequência desde que entrou no Paraíso. Sabia disso, e ainda assim queria chorar.

    Ele realmente não acreditava que venceria. Achava que iria morrer. De verdade.

    Nesse instante, um grito estrondoso atingiu seus ouvidos. O soluçante Seol Jihu levou um sobressalto e olhou ao redor. A praça ecoava com os rugidos dos humanos. Os Orcs haviam perdido o ânimo e começavam a ser empurrados para trás.

    Vendo tudo isso com um olhar atordoado, Seol Jihu despertou e reuniu forças nas pernas dormentes.

    A guerra ainda não havia terminado.


    Seol Jihu subiu até o campo de grama com o apoio de Kazuki. Ele havia esgotado até a última gota de sua força para lutar contra o Campeão Orc e, como continuou lutando depois disso em um estado grogue, agora estava completamente exausto.

    Mas o resultado falava por si. Todos os 110 participantes haviam saído vivos. Claro, a maioria estava ferida de alguma forma, mas ainda assim o resultado era fantástico.

    Havia duas razões para esse sucesso. A primeira era a eliminação rápida do Xamã Orc por Kazuki, e a segunda, ainda mais importante, era o fato de Seol Jihu ter derrotado o Campeão Orc logo no início.

    Para ser preciso, eles haviam usado o próprio sistema militar dos Orcs contra eles. Quando um Orc da classe comandante caía, a moral dos Orcs despencava e mais da metade dos Guerreiros Orcs se tornava visivelmente mais fraca.

    Ao perceber essa mudança, Kazuki imediatamente aproveitou o impulso e correu para apoiar a Chohong, que estava em dificuldades. E, uma vez que derrotaram o outro Campeão Orc restante, o resto foi fácil.

    A princípio, Kazuki achou que era azar os inimigos se moverem de forma tão organizada. Mas aprendeu que isso também podia ser algo bom.

    Depois que a batalha terminou, os Sacerdotes começaram a correr de um lado para o outro atarefados. Os que tinham ferimentos mais leves beberam poções de cura, enquanto os que estavam gravemente feridos receberam atendimento direto dos Sacerdotes.

    O clima não estava ruim. Pelo menos, era uma enorme melhora em comparação à tensão anterior, quando todos se encaravam como se fossem se matar.

    “Ainda não.”

    No entanto, Seol Jihu não se permitiu relaxar. Ele nem podia dizer: ‘É cedo para relaxar.’ Desde o começo, o Banquete não era um lugar para descanso. Só poderia dormir em paz depois que essa maldita provação terminasse e ele voltasse para o Paraíso.

    Com um olhar preocupado, Seol Jihu voltou-se para a Praça do Desejo Dissonante. Não conseguia ver as seis pessoas que haviam ido à frente.

    Não havia levado horas para o grupo de Seol Jihu conquistar a Praça do Sacrifício, então ele esperava que o grupo da Oh Rahee já tivesse retornado.

    — Não demonstre nervosismo.

    Vendo Seol Jihu vagando ao redor da entrada, Kazuki sussurrou:

    — Sente-se em frente à entrada e finja estar esperando com calma.

    Não era ‘espere’, mas ‘finja esperar’. Seol Jihu inclinou a cabeça diante dessa diferença, mas, como parecia ser um conselho, sentou-se em silêncio.

    Logo, o ansioso Seol Jihu ouviu o som de uma porta se abrindo. Ele largou a poção de cura que estava bebendo e se levantou. Teria corrido se pudesse, mas, lembrando das palavras de Kazuki, apenas manteve os olhos fixos no mesmo ponto.

    Pessoas começaram a sair da Praça do Desejo Dissonante.

    “Um, dois, três, quatro…

    Seis. Exatamente seis pessoas surgiram, carregando itens grandes e pequenos enrolados em panos. Seol Jihu soltou um suspiro de alívio, mas logo percebeu uma tensão estranha no ar entre eles.

    Oh Rahee parecia irritada com alguma coisa, enquanto Hugo estava de boca fechada, exausto. Os dois membros escolhidos da facção minoritária também pareciam com o espírito esmagado.

    Mesmo sem ninguém dizer uma palavra, era possível sentir que algo havia acontecido.

    Seol Jihu esboçou um sorriso amargo. Estava feliz que todos haviam retornado vivos, mas sabia que esse tipo de atmosfera era normal no Estágio 2.

    Até mesmo o grupo que havia conquistado a Praça do Sacrifício começava a dar sinais de retornar àquela hostilidade. Era tolice esperar que todos se dessem as mãos e rissem juntos só porque haviam limpado a Praça do Sacrifício uma vez.

    — Hugo.

    — Uh, uh… Por que você está com essa cara cansada? Está bem?

    — Estou. Mas e vocês, por que demoraram tanto?

    — Ah, então… — Hugo lançou um olhar para Oh Rahee e soltou um suspiro. — Era muito longe.

    — Longe?

    — É. O caminho até a sala onde dava pra receber o prêmio era mais longo do que esperávamos. E, quando chegamos lá, ainda havia várias salas para escolher…

    Hugo balançou a cabeça.

    — Droga. Só para encontrar sua própria sala já levava um tempão, mas além disso, todos os seis tinham que se mover juntos, observando uns aos outros… argh!

    Ele estremeceu como se só de lembrar já fosse assustador.

    Então, Chohong se aproximou de fininho:

    — Deixa de drama. Tá reclamando de barriga cheia.

    — Ah, qual é! Eu não podia nem abrir a boca sem permissão, qualquer um podia correr a qualquer momento, e ainda tinha um demônio assustador com uma espada me vigiando o tempo todo. Você tem ideia do quanto me esforcei pra não prestar atenção? Achei que ia morrer só de esgotamento!

    Parece que Oh Rahee tinha pressionado mais do que o necessário. Seol Jihu conseguia imaginar o quão sinistra devia ter sido a atmosfera.

    — Tanto faz. E aí, o que você conseguiu?

    — Merda.

    — O quê?

    — Nem pergunta. Se perguntar, eu vou chorar.

    Hugo acenou a mão. Chohong soltou uma risadinha.

    — Ah, então você se ferrou?

    — Olha só isso aqui. Esse lugar só pode estar tirando com a nossa cara…

    Resmungando, Hugo desembrulhou o pano. Depois de ver o que havia dentro, Seol Jihu voltou sua atenção para o ambiente ao redor.

    Ele finalmente havia chegado tão longe. Reuniu, mesmo que à força, os 110 participantes, superou as expectativas na primeira conquista da Praça do Sacrifício e trouxe todos os seis vivos da Praça do Desejo Dissonante.

    Estava com 80% do caminho completo. Seria ótimo se o resto acontecesse naturalmente, mas Seol Jihu achava improvável.

    Ele sabia disso só de lembrar como o Estágio 1 havia progredido. Na época, havia convencido todos a trabalharem juntos, mas depois de um tempo, Oh Rahee sugeriu abandonar os participantes de Nível 3.

    Da mesma forma, embora tudo estivesse indo bem até agora, não havia garantia de que terminaria sem problemas. Mais cedo ou mais tarde, alguém reclamaria, fosse algo grande ou pequeno, e Seol Jihu já esperava que pelo menos mais um incidente surgisse.

    Então, o que ele poderia fazer para evitar isso?

    Seol Jihu encontrou a resposta em fazer do Banquete um verdadeiro banquete. Quando avistou Oh Rahee atravessando o campo, seus olhos brilharam.

    — Senhorita Oh Rahee.

    Ela não parou. Talvez estivesse longe demais para ouvi-lo.

    — Senhorita Oh Rahee!

    Ele aumentou a voz, mas ela continuou sem se abalar. Seol Jihu não sabia se ela não o ouvira ou se estava o ignorando, mas, julgando pela maneira como caminhava com os braços cruzados e uma postura arrogante, ele apostava na segunda opção.

    Seol Jihu pigarreou e levantou o braço. Então, gritou a plenos pulmões:

    — OH RAAAAAAHEEEEE!

    Oh Rahee parou. Ela virou a cabeça para o lado de maneira assustadora, e Seol Jihu rapidamente acrescentou:

    — Senhorita!

    No instante seguinte, Seol Jihu encarou Oh Rahee com uma verdadeira tempestade de inverno soprando atrás dela.

    — O que você disse?

    Era a primeira vez que a via tão emocional, então ele apressou-se em abrir a boca:

    — Ah… Esse é o seu nome, certo, Senhorita Oh Rahee?

    — Meu sobrenome… Bem, suponho que tenha ouvido do Kazuki ou de outro. Enfim, você me chamou?

    — Sim. Eu chamei várias vezes, mas você não virou, então…

    — …

    Os olhos de Oh Rahee se estreitaram. Ela inclinou a cabeça e, após hesitar por um momento, soltou um breve suspiro.

    — De qualquer forma, ouvi dizer que você derrotou o Campeão Orc.

    — Hã? Ah, sim.

    Seol Jihu coçou a cabeça.

    “Já espalharam a notícia?”

    — Não fiz isso sozinho. Só foi possível por causa do apoio da minha equipe.

    — Isso é óbvio, não? Quem acreditaria que você derrotou um Campeão Orc sozinho? Nem eu tenho confiança de fazer isso.

    Seu tom não era condescendente nem zombeteiro. Era simplesmente o jeito dela falar, e, na verdade, parecia mais surpresa do que qualquer outra coisa.

    — Que estranho… — Ela murmurou para si mesma enquanto lançava olhares curiosos para Seol Jihu.

    — Enfim, o que você quer?

    Seol Jihu ia perguntar “O que você conseguiu?”, mas ao ver o que ela segurava nas mãos, mudou a pergunta:

    — Você queria uma arma? — perguntou, reparando que Oh Rahee carregava algo grande e longo enrolado em um pano.

    — …É. — Oh Rahee assentiu levemente. Ao desfazer o nó do pano, revelou-se um grande machado de duas mãos.

    O símbolo de uma flor gravado na cabeça do machado harmonizava-se com a delicada luz branca que fluía até a extremidade do cabo, dando à arma uma aparência bela e sagrada.

    — Um machado?

    — Hilário, não é? — Oh Rahee parecia mais do que um pouco decepcionada.

    No Paraíso, encontrar uma arma ou armadura de alta qualidade era extremamente difícil. Parte disso se devia à queda do Império, mas o principal motivo era a severa falta de materiais causada pela longa e arrastada guerra.

    Por isso, o preço dos equipamentos saltava absurdamente a cada aumento de nível. Além disso, encontrar uma arma adequada para um Alto Ranker era quase impossível.

    Oh Rahee teria ficado eufórica se tivesse recebido uma espada longa do mesmo nível que aquele machado. Mas não havia o que fazer, afinal, a recompensa do Estágio 2 concedia o desejo dos participantes de forma ‘dissonante’.

    — Se terminou, posso ir?

    — Não.

    — O quê?

    — Espera aí. — Seol Jihu arrastou Hugo até eles. Notou que Hugo ficou calado feito uma pedra no momento em que Oh Rahee apareceu.

    Seol Jihu sorriu largamente e, de propósito, elevou o tom de voz:

    — Vocês querem trocar?

    — ?

    — Hã?

    Oh Rahee parecia perguntar: ‘Do que você está falando agora?’ Mas ao ver a espada longa de tom vermelho-sangue na mão de Hugo, piscou surpresa e soltou um:

    — Ah.

    Os olhos de Hugo também se arregalaram ao ver o machado nas mãos de Oh Rahee.

    — Posso… posso ver? — Oh Rahee perguntou primeiro.

    — E-Eu também. — Hugo concordou.

    Então, os dois começaram a examinar as armas trocadas.

    — Vocês não conferiram o que pegaram lá dentro?

    — Eu já disse. Ninguém trocou uma palavra sequer.

    Quando Seol Jihu perguntou, Hugo respondeu com uma concentração incomum.

    — Nem tivemos tempo… — Hugo murmurou, atônito.

    “Faz sentido”, pensou Seol Jihu. Considerando o quão desconfiados estavam uns dos outros, pedir “Posso ver o que você conseguiu?” era provavelmente fora de cogitação.

    De qualquer forma, a julgar pelo rosto encantado de Hugo, parecia que ele gostou do machado.

    O mesmo valia para Oh Rahee. Ela examinava cuidadosamente a espada longa vermelha, que exalava uma aura demoníaca e ameaçadora. Pelo canto curvado de seus lábios, dava para ver que estava satisfeita.

    As duas armas pareciam similares em funcionalidade. E mesmo que houvesse alguma diferença, a troca era justa enquanto ambos os lados concordassem.

    — Sua primeira impressão foi péssima… mas estou adorando tudo o que você faz.

    — Perdão?

    — Nada não. — Oh Rahee balançou a cabeça. Depois, lançando um olhar a Hugo, perguntou: — Ei, você.

    — Hã?

    — E aí?

    Hugo levantou os dois polegares para cima, sem nem precisar pensar.

    — Fechado!

    — Ótimo.

    A troca estava concluída.

    Oh Rahee girou a espada no ar antes de acariciar sua lâmina com a mão e sorrir. Hugo correu em círculos balançando o machado, como uma criança que acabara de ganhar um presente de Natal.

    Vendo isso, os outros quatro que haviam entrado na Praça do Desejo Dissonante com eles não ficaram parados. No caso de alguém ter um item interessante para trocar, também começaram a desenrolar seus panos.

    Logo, outras pessoas se aglomeraram. Ao verem as recompensas que os seis haviam recebido, não puderam deixar de ficar maravilhados.

    O prêmio mais cobiçado entre os Terrestres.

    Um Banquete que havia, de forma magnífica, atiçado seu interesse.

    Pouco depois…

    — Hã… — Uma pessoa engoliu em seco e perguntou: — Quando vamos escolher o próximo grupo de participantes?

    Ao ouvir isso, Seol Jihu sorriu, satisfeito.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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