Índice de Capítulo

    Naquela noite.

    Seol Jihu não esperava conseguir dormir depois de sair do turno de vigia e entrar na tenda. Mas, apesar de sua mente inquieta, ele adormeceu sem dificuldade.

    Durante o sono leve, sentiu a mão de alguém envolvendo cuidadosamente seu pescoço. E quando uma sensação macia pressionou suavemente seu rosto, ele deixou sua mente se soltar, como se todo o estado de inquietação anterior tivesse sido mentira.

    Cada vez que se virava, um toque gentil acariciava lentamente suas costas ou as batia de leve. E quando um aroma sonolento invadiu suas narinas, ele logo voltou a dormir.

    Em meio a um silêncio e quietude que pareciam um maravilhoso campo de grama abraçando seu corpo, Seol Jihu dormiu como um bebê, sem acordar uma única vez.

    Como resultado, ao despertar, sua mente perplexa havia se acalmado um pouco.

    Seol Jihu inclinou a cabeça enquanto esfregava os olhos sob a luz da manhã.

    “Estranho.”

    Seu corpo estava impregnado com uma fragrância desconhecida. Sentindo aquele aroma refrescante que fazia seu coração acelerar, Seol Jihu enterrou o rosto nos braços e nas roupas, inspirando profundamente.

    Pensando bem, parecia que alguém havia cuidado dele enquanto dormia. Exatamente como na época em que era cuidado no Templo da Luxuria…

    Mas essa não era a única coisa estranha.

    Enquanto comia e limpava o acampamento, Seol Jihu ficou incomodado com Sakamoto Jun e Hugo.

    — Invejoso… Estou tão, tão invejoso…

    — ?

    — Como foi? Pode descrever em detalhes, por favor?

    Por exemplo, Sakamoto Jun murmurava coisas estranhas de forma polida, diferente do tom casual que costumava usar. Já Hugo tentava cheirar Seol Jihu ou esfregar o rosto em suas roupas.

    — Ei… Para…

    Seol Jihu teve que fazer um esforço enorme para afastar Hugo, que parecia um touro.

    — Por que estão fazendo isso?

    — Bastardo miserável!

    — Hã?

    — Traidor!

    A expressão de Hugo já tinha ultrapassado os limites da inveja e do ciúme, tingindo-se de fúria.

    Seol Jihu olhou ao redor com o rosto confuso. Ao ver Kazuki virar e encará-lo, Seol Jihu lançou um olhar pedindo socorro.

    — …

    Mas, em vez de ajudá-lo, Kazuki apenas lançou-lhe um olhar curioso antes de desviar discretamente o olhar para o lado. Lá, Seol Jihu viu Seo Yuhui caminhando com a cabeça baixa.

    Quando cruzou o olhar com ela, o rosto de Seo Yuhui ficou vermelho como um pôr do sol refletido num rio. Ela virou o rosto e olhou para o horizonte distante.

    Bem, não havia muito o que ver, já que estavam numa planície coberta de grama.

    Seol Jihu logo percebeu que algo devia ter acontecido enquanto ele dormia, mas também deixou de se importar.

    Isso porque começou a ver um ponto preto à distância.

    Logo, quando as muralhas cinzentas de um castelo começaram a surgir, os olhos de Seol Jihu brilharam.

    Era Haramark.

    A equipe da Aliança finalmente havia retornado a Haramark depois de duas semanas.

    Antes de se despedirem, Seol Jihu e Kazuki apertaram as mãos.

    — Bom trabalho.

    — Você também, senhor Kazuki.

    Quando Seol Jihu respondeu com cortesia, Kazuki inclinou a cabeça.

    — Hm… Não acho que fiz algo que mereça ser chamado de bom trabalho. Sem você, talvez ainda estivéssemos no Estágio 2. — Kazuki continuou: — E… me desculpe por ter dito que você era teimoso lá na Montanha Rochosa da Pedra Imensa. Me desculpe mesmo.

    Aquela conversa durante o treinamento devia estar incomodando Kazuki o tempo todo.

    Embora Seol Jihu já tivesse esquecido completamente, Kazuki era do tipo que era tão rigoroso consigo mesmo quanto com os outros.

    — Vai participar do próximo Banquete também? — Seol Jihu perguntou.

    — Não.

    Ao contrário das expectativas de Seol Jihu, Kazuki respondeu com firmeza.

    — Não tenho certeza, mas acho que talvez seja melhor deixar isso de lado.

    A forma calma como Kazuki murmurou soava amarga.

    Com o fim desse Banquete, Kazuki tomaria rumos diferentes da Federação Empresarial Japonesa, que contava com o apoio das Tríades, já que isso seria difícil de fazer sozinho.

    Seol Jihu o encarou por um momento antes de abrir a boca:

    — Senhor Kazuki.

    — ?

    — Já pensou em entrar para a Carpe Diem?

    Ao ouvir essa proposta repentina, Chohong, que bocejava alto, arregalou os olhos de surpresa. Até Hugo, que segurava a mão de Seo Yuhui e se recusava a soltar, deu um pulo e se virou, espantado.

    Os olhos de Seol Jihu estavam fixos em Kazuki. Em vez de ser uma decisão fruto de muita reflexão, essa ideia surgiu ali mesmo.

    Para ser mais preciso, ele queria tentar trabalhar com Kazuki. O homem à sua frente talvez preenchesse o vazio deixado por Dylan… Não, Seol Jihu estava convencido de que Kazuki faria mais do que preencher esse vazio.

    — Não precisa me responder agora.

    — Eu vou recusar. — No entanto, Kazuki balançou a cabeça quase imediatamente. — Talvez eu tivesse considerado mais se você tivesse perguntado antes do Banquete… — Kazuki coçou o queixo e então deu um leve sorriso. — Mas não quero largar o volante ainda.

    — Volante?

    — Não podem existir dois capitães no mesmo navio, não é?

    Foi então que Seol Jihu entendeu por que Kazuki recusou.

    Com um sorriso, Kazuki se virou e levantou a mão.

    — Até logo.

    Ao ver Kazuki se afastar com apenas aquelas três palavras, Seol Jihu coçou a bochecha com o dedo. Sentia-se envergonhado, como uma criança que teve seus pensamentos mais íntimos revelados.

    Depois de se despedir do restante do grupo, Seol Jihu seguiu de volta ao escritório da Carpe Diem com Chohong.

    Quando estava prestes a chegar ao prédio com o qual tanto sonhava, encontrou uma pessoa inesperada. O velho de terno preto que vinha na direção contrária era Jang Maldong.

    — Velho? — Chohong falou primeiro. — Ainda tá vivo?

    Thwack!

    — Aaaargh!

    Chohong segurou a cabeça e rolou no chão.

    — Aaai! Por que me bateu?

    — Sua idiota. Por que não vai pagar por outra Cerimônia pra tentar me matar?

    — Eu só tava dando um oi porque tava com saudade!

    — É mesmo?

    Quando Jang Maldong ergueu a bengala de novo, Chohong se levantou num salto e fugiu. Jang Maldong abaixou o braço com uma respiração irritada, e então viu Seol Jihu rindo sem graça.

    — Parece que você acabou de voltar.

    — Sim. E o senhor, Mestre…?

    — Tô voltando de uma reunião com um candidato à equipe.

    Seol Jihu soltou uma pequena exclamação. Por ‘candidato’, ele só podia estar se referindo ao novo Arqueiro.

    Jang Maldong devia ter estado trabalhando duro enquanto eles estavam fora, no Banquete.

    — Eu até tentei discretamente convidar o senhor Kazuki, mas fui rejeitado.

    — Isso é óbvio. Por que ele entraria nesse time, considerando a posição que tem em Paraíso? Enfim, cadê o Hugo? — Ao ver Seol Jihu hesitar, Jang Maldong estalou a língua. — Deixa pra lá. Provavelmente foi direto pra taverna, como sempre. Será que um dia ele vai largar esse hábito, tsk.

    Seol Jihu sorriu com amargura. Não tinha coragem de contar que Hugo estava perseguindo Seo Yuhui.

    — Vamos subir.

    Jang Maldong subiu as escadas sem cerimônia. Assim que entrou no escritório, tirou o paletó e se largou numa cadeira.

    — Ufa, agora me sinto vivo. Foram tantas recomendações… Praticamente fiz um tour por todas as cidades de Paraíso… Hm?

    Ao ver Seol Jihu parado, Jang Maldong perguntou:

    — Por que não senta?

    — Obrigado.

    Quando o jovem de repente se curvou até a cintura e o agradeceu, Jang Maldong piscou os olhos.

    — Do que você tá falando?

    — Se não fosse pelo senhor, Mestre… — Seol Jihu se endireitou e falou com sinceridade — Eu não estaria de pé neste escritório agora.

    E ele não estava errado. Se não fosse pelo treinamento infernal de Jang Maldong, Seol Jihu talvez tivesse morrido ou sido eliminado já no Estágio 1.

    — Graças ao treinamento do Mestre, consegui voltar com vida. Muito obrigado.

    A expressão de Jang Maldong se quebrou diante da cortesia de Seol Jihu. Para ser honesto, ele era extremamente vulnerável a esse tipo de ‘ataque’.

    — Não… bem… você é que se esforçou bastante…

    A ponto de um enorme sorriso surgir em seu rosto normalmente severo.

    Logo, ele rapidamente forçou uma expressão séria e se virou com uma tosse seca.

    Kuhum. Você deve estar cansado. Descanse por hoje. A gente conversa amanhã.

    No entanto, Seol Jihu não saiu. Ao ver como ele hesitava e mexia os lábios, Jang Maldong percebeu que ainda havia algo que o jovem queria dizer.

    Após um breve momento de silêncio, Seol Jihu falou diretamente:

    — Eu matei pessoas.

    Ao ouvir essa confissão repentina, uma das sobrancelhas de Jang Maldong se ergueu.

    — …Quantas?

    — Duas.

    — Por quê?

    — Porque arruinaram o Banquete que eu mal consegui restaurar.

    Uma luz perceptível brilhou nos olhos de Jang Maldong.

    — Está dizendo que mereciam morrer?

    — Na minha opinião, sim.

    — Então tudo bem.

    Ao ver Jang Maldong passar por cima daquilo com tanta facilidade, Seol Jihu ficou surpreso.

    — Por que tá surpreso? Se mereciam morrer, devia matá-los mesmo — Jang Maldong resmungou. — Eu é que não ia ficar parado se você tivesse perdoado eles com uma desculpa qualquer. Bem, vou precisar ouvir os detalhes pra saber mesmo… mas bom trabalho. Se encontrar leopardos que não mudam suas manchas, arranque-os pela raiz.

    Seol Jihu assentiu, achando que foi exatamente isso que fez. Ao ouvir Jang Maldong dizer aquilo, sentiu o vazio dentro de si começar a se dissipar.

    — Enfim, pode ir agora. Não consigo descansar com você parado aí.

    — S-Sim!

    Justo quando Seol Jihu estava prestes a sair, o som de passos subindo as escadas ecoou de repente.

    Quem escancarou a porta no momento seguinte não foi Chohong nem Hugo. Era Ian, com a barba branca esvoaçando ao vento.

    — Ian?

    — Maldong!

    Ian gritou com alegria, depois acenou para Seol Jihu.

    — Quanto tempo, Seol!

    — O-o-oi.

    Quando Seol Jihu retribuiu o cumprimento, Ian colocou a mão no ombro do jovem.

    — Você acabou de voltar do Banquete?

    — Como soube tão rápido?

    Jang Maldong perguntou, surpreso.

    — Não subestime a rede de informações do Reino.

    Depois de fazer um sinal de paz com os dedos, Ian ergueu a cabeça e riu. Em seguida, agarrou Seol Jihu e Jang Maldong e os puxou com força.

    — O que você tá fazendo?

    — Vamos, vamos, depressa!

    — Ir pra onde?

    — Pra taverna, claro. Tem ideia da curiosidade que eu tava sobre esse Banquete?

    Os dois discutiram por um tempo, mas Ian saiu vencedor.

    No fim, Ian arrastou Seol Jihu e Jang Maldong até o Comer, Beber e Curtir.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (3 votos)

    Nota