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    Quanto tempo passou?

    Depois de agonizar por quase dez minutos, Seol Jihu mal conseguiu escapar das garras da Santa Fantasma. Para falar a verdade, o mais correto seria dizer que a própria Santa o deixou ir.

    — Ai, ai, ai…

    Sentado no chão e massageando as têmporas, Seol Jihu lançou um olhar para o lado. A fumaça negra estava grudada na parede.

    Ela estava emburrada de novo.

    “Puhuhuhu.”

    Seol Jihu riu.

    “Eu tô tão feliz.”

    Refrescante? Revigorante? Nunca imaginou que as coisas acabariam assim, desde o momento em que encontrou o túmulo com o grupo de Samuel.

    Pensando bem, quanto tempo fazia desde que ele tinha se divertido assim, sem preocupações?

    Relembrando os últimos meses, ele estivera bem ocupado, desde a missão de resgate, o treinamento, a participação no Banquete etc.

    Sentia suas emoções se desgastarem com o ritmo agitado de tudo aquilo, mas agora que deixou as preocupações de lado e brincou com a Santa Fantasma, estava se sentindo muito melhor. Quase como na época em que foi dispensado do exército, sentia-se cheio de vida e pronto pra qualquer coisa.

    “Então é por isso que dizem pra fazer viagens de cura.”

    Seol Jihu virou de barriga para baixo, apoiou o queixo nas mãos e ficou encarando a fumaça negra, que ainda fazia bico de raiva.

    — Senhorita Santa.

    O quê?

    Ela parecia saber que ele não tinha feito por mal, pois respondeu com uma voz irritada.

    — Você pode me mostrar seu rosto?

    Meu rosto? Por quê?

    — Quero ver.

    Ele não tinha nenhum fetiche por cadáveres. Era só que estava um pouco curioso.

    “Quando foi mesmo…?”

    Ele tinha vislumbrado as costas da Santa Fantasma no passado. Lembrava que pareciam limpas demais para o corpo de uma morta.

    Também havia aquele ar frio saindo do caixão.

    Achava que devia haver uma razão para aquilo. Caso contrário, simplesmente não fazia sentido um corpo com séculos de idade estar tão bem preservado.

    …Não.

    Mas a resposta da Santa Fantasma foi um ‘não’.

    — Por que não?

    A menos que seja absolutamente necessário, eu não gosto de me ver. E também não gosto que me vejam.

    Seol Jihu estremeceu ao ouvir a recusa clara. Como se ela tivesse se tornado fria e séria de repente, sentiu uma malícia aterradora se espalhar até ele como uma saraivada.

    Será que não devia ter perguntado?

    — Me desculpa.

    Não. Não é culpa sua.

    Ao ver o jovem desanimar, o espírito rapidamente voou até ele.

    Não estou brava com você… É só que um dos motivos de eu estar presa nessa floresta é meu corpo.

    Aquilo era algo inesperado.

    — Achei que fosse por causa da barreira colocada ao redor da Floresta da Negação.

    É também. Mas o meio dessa barreira é o feitiço gravado no meu corpo.

    Seol Jihu inclinou a cabeça.

    É fácil se pensar como uma algema. Estou morta, mas minha alma está presa ao meu corpo, e meu corpo está preso à floresta.

    — Isso é possível?

    Deve ser. Senão eu não estaria assim. Sabe, meu corpo real, de quando eu era viva, já apodreceu há muito tempo. Eu só o reconstruo quando quero, usando a energia vital da floresta.

    Em outras palavras, o corpo dentro do caixão não era um cadáver, mas um aglomerado misterioso de energia, formado por ressentimento condensado, assim como a fumaça negra.

    — Mas por que… por que fizeram isso tudo?

    Não sei. Acho que pensaram em todas as possibilidades.

    — ?

    Aqueles filhos da puta estavam com tanto medo de mim. Aposto que fizeram tudo o que podiam pra impedir que tirassem meu cadáver da floresta.

    — Isso chegou a acontecer?

    Uma vez. Minha mãe tentou. Ela deve ter querido me salvar a qualquer custo. Mas…

    A voz dela tremeu enquanto fazia uma pausa.

    Seol Jihu não entendia completamente o que aquilo significava, mas aquele tal ‘sábio’ que estabeleceu a barreira provavelmente a fortaleceu com duas ou três camadas extras.

    A Santa Fantasma não disse mais nada. Apenas desenhou um círculo no ar e ficou flutuando com um ar abatido.

    Os olhos de Seol Jihu seguiram o espírito contorcido até se fixarem no caixão luxuoso.

    “Um meio…”

    Organizando a informação, entendeu que o cadáver dentro do caixão atuava como elo intermediário. Em outras palavras, libertar o selo sobre o corpo não só suspenderia a barreira, como também permitiria que a alma daquela mulher infeliz fosse libertada.

    Um traço de hesitação passou pelo rosto de Seol Jihu.

    Sua expressão, enquanto encarava intensamente o caixão, tornou-se complexa e sutil.

    “Eu acho que é possível, mas…”

    Não era como se ele não tivesse ganância.

    Para Seol Jihu, a Santa Fantasma era como a Árvore Generosa. Ele podia visitá-la e relaxar, como naquele dia, e às vezes ela ainda lhe dava presentes incríveis.

    “Não.”

    “Não posso. Não devo.”

    Seol Jihu percebeu o quão egoísta seria desejar que esse conforto durasse para sempre.

    A Santa Fantasma fora enterrada viva na flor da juventude. Seol Jihu não conseguia sequer imaginar como ela se sentiu durante os séculos em que precisou suportar solidão e injustiça.

    Seria uma coisa se ele não pudesse fazer nada a respeito. Por mais lamentável que fosse, agora que tinha um meio, não podia simplesmente ignorar.

    Seol Jihu inspirou fundo e então perguntou:

    — Qual é o seu nome, senhorita Santa?

    Eu? Flonecia Lusignan La Rothschear

    — Flonecia… o quê?

    Ao se espantar com o nome inesperadamente longo, Seol Jihu viu a Santa Fantasma dar uma risadinha.

    Flone. Pode me chamar de Flone.

    — Flone… É um nome fofo.

    Hee.

    Ela estava emanando intenção assassina um minuto atrás, mas agora sorria só por causa de um comentário.

    — Flone…

    Seol Jihu franziu os lábios, como se quisesse aproveitar aquele momento por mais um tempo.

    Mas, assim como há encontros na vida, também existem despedidas.

    E era melhor que as despedidas fossem curtas.

    Seol Jihu foi direto ao ponto.

    — Flone, você não quer sair daqui?

    Quero.

    Ela respondeu sem hesitar nem por um instante.

    Seol Jihu abriu um sorriso.

    — Ótimo.

    Hm?

    — Vou te ajudar.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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