Capítulo 237: Adeus, Santa Fantasma! (4/4)
— ⟅…Isso é impossível.⟆
Flone pareceu entender suas intenções, e respondeu com uma voz desanimada.
— ⟅Eu já tentei milhares… não, dezenas de milhares de vezes. Mas não importa o quanto eu bagunce tudo, a barreira nunca desaparece.⟆
Ao ouvir a voz deprimida dela, Seol Jihu enfiou a mão no bolso.
— Nunca se sabe até tentar todas as opções.
— ⟅?⟆
— Acho que consigo fazer ela sumir.
Seol Jihu falou enquanto tirava uma conta que brilhava com uma luz púrpura.
— ⟅O que é isso? É bonita.⟆
— É um artefato perfeito para cancelar barreiras e feitiços.
Seol Jihu articulou com clareza.
Essa conta era o item que ele havia trocado com Competência. De acordo com o homem que a possuía antes, certa vez ele descobriu um segredo antigo. Aparentemente, nem conseguiu cogitar entrar no local por causa da escala absurda da barreira e das armadilhas que protegiam o lugar.
Embora tenha fugido por medo da própria vida, disse que sempre teve curiosidade sobre o que havia lá dentro.
O problema é que ele conseguiu a conta ao vender a informação sobre a ruína poucos dias antes do Banquete.
Quando Seol Jihu soube disso, aceitou a troca imediatamente.
Embora a conta roxa tivesse um número limitado de usos, ela possuía a capacidade de desmontar feitiços e armadilhas em ampla escala.
Claro, não havia como garantir que funcionaria. Porém…
— Confie em mim — Seol Jihu deu uma risada tímida. — É um artefato que contém o poder dos Sete Deuses. Não sei quão bom era esse tal Sábio, mas ele era só um humano.
Certo. Por mais habilidoso que esse Sábio fosse, ainda era humano.
Não fazia sentido que conseguisse enfrentar o poder dos deuses.
Embora Flone entendesse o que Seol Jihu dizia, permaneceu em silêncio. Ela já havia tentado escapar daquele lugar incontáveis vezes e fracassado, e agora também já tinha perdido a conta de quantas vezes caiu em desespero por causa disso.
Por isso, não podia responder com facilidade. Sabia que, se não criasse expectativas, também não se decepcionaria. Já estava cansada demais de se ferir.
Mas, ao ver Flone hesitar, Seol Jihu rapidamente puxou conversa.
— Hm… Deixa eu te dizer isso agora. Obrigado por ter me ajudado de tantas formas. Sou muito grato. Pode descansar em paz agora, Flone.
Flone não respondeu.
Seol Jihu estalou os lábios.
Como diz o ditado, ‘ver é crer’. Parecia melhor mostrar a ela de uma vez, do que falar cem vezes.
Bom, ele teria que se despedir no momento em que o fizesse, no entanto.
Os passos lentos de Seol Jihu pararam em frente ao caixão. Então, ele encostou a conta roxa sobre ele.
— ⟅Você não precisa fazer isso…⟆
Uma voz triste ecoou.
— ⟅Vai ser um desperdício. Você devia usar esse artefato valioso em algo mais importante.⟆
Flone tentou impedi-lo, mas Seol Jihu balançou a cabeça.
— Não existe nada mais importante que isso.
E então, continuou com calma:
— Mesmo que isso falhe… eu trago outra coisa.
— ⟅U-hã?⟆
— Prometo. Se essa conta não funcionar, eu trago outra coisa pra te libertar. Um método mais forte, mais eficaz.
— ⟅…⟆
Flone não respondeu. A fumaça negra se retorceu no ar, e Seol Jihu não sabia bem como interpretar aquele gesto.
Mas isso durou só um instante.
Se hesitasse mais, sentia que sua determinação iria desmoronar. Na verdade, já estava vacilando.
Com uma respiração profunda, Seol Jihu ativou sua mana. Então, ao canalizá-la de uma vez só na conta…
Paat!
A conta brilhou e depois a luz sumiu. A visão de Seol Jihu foi tomada pelo branco e logo voltou ao normal.
Quando ele continuou a injetar mana de forma constante na conta…
Woong.
Uma vibração intensa ressoou no túmulo.
Woong.
De novo.
Woong.
E mais uma vez.
Woong!
De repente, o som se intensificou, e Seol Jihu sentiu uma energia pesada tocar seu corpo e depois atravessá-lo.
Woong! Woong! Woong! Woong!
Como um semáforo, a conta em forte vibração começou a piscar com uma luz radiante.
Enquanto sua visão começava a embaçar, Seol Jihu conseguiu ver algo. A cada tremor da conta, uma enorme corrente ondulava no ar acima dela.
Como uma gota d’água caindo sobre uma superfície lisa e espelhada, causando ondas, a energia sem forma se espalhava em círculos pelo ar. Era uma visão verdadeiramente magnífica.
De repente, rachaduras começaram a surgir no caixão em vibração…
— ⟅…Hã?⟆
E então, ele explodiu de uma vez.
— ⟅Aaaaaah!⟆
Flone também pareceu estar em choque, soltando um longo e surpreso grito.
Seol Jihu não sabia o que estava acontecendo com ela, mas Flone reconhecia as mudanças.
— ⟅I-Impossível.⟆
— Flone?
— ⟅De verdade… de verdade…!⟆
E com isso, a voz se calou.
Em seguida, a fumaça negra desapareceu como se estivesse sendo sugada para dentro do caixão estilhaçado.
Logo, uma donzela frágil surgiu, flutuando, com os pedaços restantes do caixão caindo ao seu redor.
Como era a primeira vez que Seol Jihu via a Santa Fantasma de frente, ele ficou hipnotizado por sua aparência quase que por instinto.
Ela era realmente uma garota linda.
Desde os traços faciais bem definidos até a expressão serena, ela exalava um encanto estranho e inexplicável.
O mesmo valia para as mãos delicadas pousadas suavemente sobre o ventre, a pele branca quase indistinguível da roupa branca imaculada que usava, e os cabelos prateados como o luar, caindo como uma cascata.
Então, Flone virou-se lentamente ao abrir os olhos.
“Os olhos dela…”
A mandíbula de Seol Jihu caiu levemente.
Flone tinha pupilas pretas tão tênues que parecia ter olhos totalmente brancos. Talvez por causa da luz da conta, emanavam uma aura mística.
Seol Jihu gaguejou ao perguntar:
— D-Deu certo?
— ⟅…Mn.⟆
Mesmo com a boca fechada, ela murmurou um ‘sim’ abafado e assentiu com a cabeça.
— ⟅A cada pulsação da energia da conta, a barreira e o feitiço estão derretendo. Não… já derreteram.⟆
— Eu não senti nada.
— ⟅Mas como? Assim tão fácil?⟆ — Pelo modo como murmurava para si mesma, parecia que ainda custava a acreditar. — ⟅…É verdade?⟆
Ela olhou ao redor, ainda trêmula, e por fim desabou em lágrimas.
As lágrimas da Santa Fantasma não eram transparentes como as humanas, mas sim vermelho-sangue. Gotas límpidas de sangue escorriam de seus olhos brancos.
No entanto, não era algo assustador. A aura mística que a envolvia fazia Seol Jihu murmurar como se estivesse encantado:
— Não chore.
Flone ergueu a cabeça, ainda chorando.
— Já acabou.
Ninguém podia culpá-la por não conseguir acreditar. O que ela não conseguiu alcançar em centenas de anos havia sido resolvido com tamanha facilidade por aquele jovem.
Quando seu olhar incerto e entristecido pousou em Seol Jihu, ele abriu um sorriso.
— Eu disse que ia funcionar.
— ⟅…⟆
— Parabéns!
— ⟅O-o que eu faço? O que eu faço agora?⟆
— Como assim? Você sofreu tanto até aqui.
— ⟅E-eu…⟆
Tocada profundamente, Flone não conseguiu continuar. Pelo jeito como olhava para os enfeites funerários espalhados ao redor do caixão e procurava por algo, parecia querer retribuir de alguma forma.
No entanto, Seol Jihu já estava feliz só por saber que ela havia sido libertada.
Com isso, ele havia retribuído a dívida por ela ter salvado sua vida.
Cumpriu o Mandamento Dourado.
— ⟅I-isso!⟆
Flone pegou um acessório que tilintava e estendeu as mãos.
Sentindo que ela estava colocando algo em seu pescoço, Seol Jihu olhou para baixo. Lá, viu um colar belíssimo com uma pedra azul.
Era uma lembrança da mãe de Flone, que ela guardava com carinho.
— Tenho mesmo permissão pra ficar com isso?
— ⟅Você não quer?⟆
Seol Jihu balançou a cabeça. Não achava má ideia ter algo que o lembrasse daquela relação.
— Vou cuidar bem dele.
— ⟅Obrigada!⟆
Antes que Seol Jihu percebesse, o interior do túmulo já estava tomado por luz e vibração, a ponto de mal se ouvir qualquer som.
Até Flone estava quase invisível, coberta por um aglomerado de luz.
— …
Mesmo que tivesse prometido se despedir sem arrependimentos, agora que o momento inevitável chegou, sentia o coração esvaziar.
— ⟅Iiiih!⟆
Quando se conheceram.
— ⟅Deve ter sido muito difícil.⟆
Quando ela salvou sua vida e o consolou.
— ⟅Vou te dar isso, então pare de chorar.⟆
Quando ela o confortou enquanto chorava.
— ⟅Volte outra vez.⟆
Quando ela se despediu com carinho.
Os momentos que compartilhou com Flone passaram por sua mente. Pensando bem, sentia que só havia recebido, sem ter dado nada.
Apesar da luz ofuscante, forçou os olhos para mantê-los abertos. Ao ver Flone se transformando em partículas de luz, Seol Jihu percebeu que ela logo desapareceria.
Apesar de ter tantas coisas que queria dizer…
— Senhorita Santa!
Seol Jihu ergueu os braços…
— Adeus!
E soltou as emoções que giravam em seu peito.
— Adeus, Senhorita Santa!
Flash!
Uma explosão de luz irrompeu. O espetáculo de luz se espalhando em todas as direções era tão ofuscante que Seol Jihu teve que fechar os olhos com força.
Quando os abriu novamente…
— …Ah.
Flone não estava mais lá.
A luz havia sumido, e as vibrações cessaram. A conta roxa também estava despedaçada. Apenas três ou quatro enfeites fúnebres restavam ao seu redor.
Seol Jihu ficou encarando fixamente as partículas de luz espalhadas. Muitas coisas desapareceram, e o túmulo recuperou seu silêncio.
— Então ela se foi…
Murmurou com uma voz que carregava tanto tristeza quanto leveza.
Depois de permanecer parado por muito tempo, Seol Jihu apertou com força o colar que Flone havia colocado em seu pescoço.
— ⟅Ai!⟆
Então, soltou um longo suspiro.
— ⟅Não aperta tanto assim. Dói.⟆
— Ah, desculpa.
Seol Jihu abriu a mão rapidamente.
— ⟅Vamos sair daqui primeiro. Ah, não esquece de pegar o resto também, tá?⟆
— Posso mesmo? Obrigado.
— ⟅Sem problemas.⟆
— Então… hã?
Seol Jihu parou de repente. Havia respondido automaticamente, mas… com quem ele estava falando?
Seu pescoço coçava.
Quando Seol Jihu olhou para baixo, assustado, seus olhos quase se arregalaram até sair da órbita.
“A cor do colar…”
…tinha mudado.
A gema, que antes emitia um brilho azul claro, agora brilhava com um tom escuro e manchado.
— ⟅Heehee.⟆
Ela riu feliz.
Seol Jihu ficou encarando em silêncio a pedra, que agora até balançava sozinha de um lado para o outro.
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