Capítulo 250: Escolha do Destino (6/12)
Embora Kim Hannah tivesse dito a Seol Jihu para não se envolver no assunto, ele acabou esquecendo da Rosa Branca com o tempo.
Isso porque seus dias se resumiam a abrir os olhos com o nascer do sol e só conseguir respirar direito quando ele já estava se pondo.
Assim como Teresa havia dito, a morte repentina de Dylan deixou a transição de funções e responsabilidades incompleta. Embora Seol Jihu estivesse se esforçando para aprender, era como bater a cabeça contra terra seca.
Chegava ao ponto de o mundo começar a girar como se ele tivesse batido a cabeça dezenas de vezes. Mesmo tentando evitar, não conseguia conter os gemidos de exaustão.
Se não fosse por Jang Maldong, que o guiava no que fazer, estaria completamente perdido.
Recentemente, como a Carpe Diem precisava anunciar oficialmente que um novo líder havia sido escolhido, Seol Jihu vinha visitando pessoalmente todas as organizações com quem tinham boas relações anteriormente.
Embora pudesse enviar um mensageiro ou usar o cristal de comunicação, isso só era viável com algumas organizações específicas.
Por exemplo, a Sicília, a organização mais influente de Haramark e a chamada Conquistadora da Região Sul, era uma daquelas que Seol Jihu precisava visitar pessoalmente.
— Que interessante — uma voz descontraída, com um leve som nasal, ecoou. — Parece que foi ontem que te vi na Zona Neutra… Pensar que o garotinho que seguia a Agnes por aí estaria na minha frente um ano depois como líder de uma equipe renomada. Isso traz boas memórias.
Seol Jihu sorriu sem jeito. Ao encarar de frente aquela mulher ruiva de uniforme, com a cabeça levemente inclinada apoiada no punho fechado, sua pele se cobriu de arrepios.
Seus olhos preguiçosos, da cor do sangue, lembravam a fera que se sentava orgulhosa no alto de uma pedra durante o safári de ônibus que ele fez quando era criança.
Se desviasse o olhar por um instante, parecia que ela saltaria para acertar sua nuca sem hesitar. Apesar de intimidado, ele conseguiu abrir a boca.
— Agradeço, Don Cinzia.
— Don, é?
Um sorriso debochado escapou de sua boca.
— Prefiro que não me chame assim. ‘Don’ é uma forma de tratar os mais velhos com respeito.
Cinzia ergueu as mãos e continuou:
— Não sou nobre, nem uma chefona com grandes feitos. E mais importante, só passei dos trinta recentemente. Me chamar de Don… Não acha exagerado? Agnes?
Ao inclinar levemente a cabeça e perguntar, Agnes, que estava ao lado da mesa, assentiu em silêncio.
— Parece que a Agnes também concorda.
— Peço desculpas, então.
— Não precisa se desculpar. Sei que foi por respeito. De qualquer forma… — Cinzia riu suavemente antes de voltar o olhar para o jovem. – Ouvi dizer que o novo líder da Carpe Diem tem amizade com as Tríades.
Ela lançou o golpe de forma súbita, quando sua guarda estava baixa. Considerando a relação entre Sicília e os Tríades nos últimos anos, esse comentário não era algo leve, e os músculos faciais de Seol Jihu se contraíram.
— Sei o que está pensando. Mas não se precipite. — Cinzia balançou a mão, como se achasse o assunto um incômodo. — Tivemos uma reunião com as Tríades há alguns dias. Hao Win veio pessoalmente nos visitar.
Os olhos de Seol Jihu se arregalaram.
— Esquecer o passado e olhar para o futuro… Ele soube usar as palavras. No começo, duvidei dos meus ouvidos. Já era surpreendente que pessoas que sempre agiram com soberba viessem pessoalmente visitar um inimigo. Jamais imaginei que fariam um discurso tão rastejante.
Cinzia deu de ombros e tirou um charuto do casaco, envolto em folhas luxuosas de tabaco. Com um gesto já familiar, Agnes acendeu para ela.
— De certa forma, temos boas expectativas. Decidir reconciliar conosco deve ter sido uma grande decisão para eles. É correto dizer que o conflito interno que enfrentaram por anos chegou ao fim.
Cinzia acrescentou: — Bem, vamos ter que esperar pra ver — e então tirou o charuto da boca.
Uma fumaça turva misturou-se ao som da respiração ao sair.
— Indo direto ao ponto. Se as Tríades falaram sério, então o método deles de obter lucro não deveria conflitar com o nosso. Eles também têm uma força reserva. Já que entramos no Paraíso e recebemos a mesma missão, a Sicília está disposta a torcer por eles, desde que não se oponham a nós. Entendeu tudo isso?
— Um método de obter lucro que não entra em conflito? Mesmo com os dois disputando espaço em Haramark? E a Sicília estava disposta a ‘torcer’ por eles?
Parecia que ela estava insinuando que apenas observaria seus movimentos em silêncio. De qualquer forma, Seol Jihu não aprofundou o assunto. Apenas assentiu com a cabeça.
— Então — Cinzia sorriu, satisfeita. — De quem você gosta mais?
Seol Jihu piscou.
— Como eu disse, você prefere o Hao Win ou… — Cinzia arrastou as palavras e lançou um olhar para Agnes, que estava em pé ao seu lado. — Prefere a Agnes?
— …
Seol Jihu estava errado por ter escutado isso como um ‘Você gosta mais da mamãe ou do papai?’
Ele queria dizer para ela parar com a brincadeira, mas não conseguiu evitar o peso do olhar ansioso que ela lhe lançava.
— Eu tenho que responder?
— Tem sim. Preciso saber a resposta.
— Uh…
— O que foi? Isso é bem melhor do que perguntar diretamente de que lado você está, não é?
Seol Jihu achava que a pergunta original era ainda mais infantil, e percebeu um tom de malícia em sua voz. No entanto, decidiu guardar seus verdadeiros sentimentos para si.
Afinal, era verdade que, do jeito que foi formulado, era mais fácil responder do que escolher entre a Sicília e as Tríades.
Assim, depois de pensar por um momento, o jovem apontou hesitante para a atraente empregada.
— Eu gosto… um pouco mais da senhorita Agnes…
— Keuk!
Cinzia abaixou a cabeça.
— Ouviu isso, Agnes?
— Sim.
— Parabéns. Parece que seu ‘adestramento’ está funcionando. Não está feliz?
— Nem um pouco — Agnes respondeu sem qualquer alteração na expressão. Ela então notou o olhar vago de Seol Jihu e virou levemente o rosto para o lado.
Talvez fosse impressão de Seol Jihu, ou talvez fosse apenas a luz do sol entrando pela janela, mas seu pescoço parecia levemente avermelhado.
— Ahahaha, ahahaha! — Cinzia caiu na gargalhada ao ver Agnes olhando para o horizonte distante. Riu tanto que chegou a engasgar com a fumaça e tossir.
Depois de finalmente conseguir se recompor, Cinzia lançou um olhar discreto e falou:
— Desculpe por te colocar nessa saia justa. Como companheira de longa data da Agnes, é raro ver esse lado dela.
“É mesmo?”
Para Seol Jihu, arrancar esse tipo de reação da Agnes não era tão difícil assim. O único problema era que ele precisava estar preparado para levar uma surra depois.
— Huu. Obrigada, fazia meses que eu não ria assim. Agora vamos lá. Não posso te deixar sair de mãos abanando… — Cinzia então perguntou enquanto esfregava os olhos: — Está vinculado a alguma agência de informações?
— Não.
— Já imaginava. O Dylan tinha os próprios contatos, mas… — Cinzia abriu a gaveta. — É um presente. Pegue.
Então, ela fez um gesto leve com a mão. Seol Jihu pegou por reflexo o objeto que voou em sua direção e viu que era um broche hexagonal com a letra ‘S’ gravada.
— Não é grande coisa. Só um emblema que simboliza a Sicília. Mas não é algo que damos para qualquer um.
— Por que está me dando isso…?
— Há uma lojinha decadente num beco ao sudoeste. Pode ser meio difícil de achar, já que fica escondida num canto, mas tenho certeza de que você dá conta. É uma área perigosa, mas se os rumores sobre suas habilidades forem verdadeiros, não há com o que se preocupar.
Seol Jihu perguntou, mexendo no broche:
— Tenho que mostrar isso à agência de informações?
— Isso. Eles se chamam Assassinos Indianos. O posto de Haramark é só uma filial, mas são bons o suficiente. Pelo menos, não vão tentar te enganar com as informações — o canto da boca de Cinzia se curvou. — Um líder precisa saber o que está acontecendo no mundo, não acha?
Na verdade, Seol Jihu já tinha uma informante quase onisciente chamada Hannaemon, mas como o que Cinzia dizia não era mentira, ele aceitou com gratidão.
— Obrigado!
— De nada. Dê um alô ao velhote por nós. A Agnes fará uma visita de retorno em breve.
Seol Jihu inclinou a cabeça. Não importava para onde fosse, sempre usavam a expressão ‘visita de retorno’. A Família Real de Haramark, com Teresa, dissera o mesmo, e também Kazuki da Umi Tsubame e Hao Win das Tríades.
— Sim, avisarei ele. — Seol Jihu se levantou, mas então encarou Cinzia fixamente.
— O que foi?
— …Nada. Com licença.
Curioso sobre o Status de Cinzia, ele havia ativado os Nove Olhos. No entanto, não conseguiu ver sua Janela de Status.
Ela também não tinha cor. Era a segunda pessoa, depois de Seo Yuhui, sobre quem a Observação Geral não funcionava.
Depois de sair da Sicília, Seol Jihu foi direto para o beco sudoeste. Embora tenha sentido vários olhares suspeitos enquanto procurava o local certo, esses olhares desapareceram assim que ele mostrou o broche.
Seol Jihu encontrou o esconderijo dos assassinos após certa dificuldade, e um homem usando turbante o recebeu com mais respeito do que o necessário ao ver o visitante.
Embora os clientes normalmente fossem divididos em diferentes categorias, o homem ofereceu a Seol Jihu o segundo maior nível, o nível VIP, sem nem perguntar quem ele era.
Seol Jihu teria que pagar uma quantia considerável de moedas de prata todo mês pelas informações, mas assinou um contrato de três meses na hora.
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