Índice de Capítulo

    Depois de chegar a Nur, Seol Jihu esperou até o amanhecer para ir até o porto.

    Após seguir para um local deserto que havia visto durante a tarde, ele verificou se não havia ninguém por perto antes de entregar seu corpo a Flone.

    O método que Seol Jihu escolheu para atravessar o mar foi voando. Ele estava aproveitando o fato de que Flone podia exercer força física se quisesse.

    Pegar um barco também era uma opção, mas ele não tinha certeza se encontraria um capitão disposto. Mais importante ainda, ele chamaria atenção ao pegar um barco. Como Seol Jihu sonhava em cometer o crime perfeito, voar nos braços de Flone era a abordagem mais segura.

    “Também é bem mais rápido.”

    Atravessando o mar escuro salpicado de ondas, Seol Jihu sentia o coração bater acelerado. Sentia-se um pouco culpado, como uma criança fazendo algo travesso.

    Quanto tempo se passou?

    Seol Jihu jogou o cabelo para trás para evitar que ele esvoaçasse no ar e avistou uma costa se aproximando na escuridão.

    Tecnicamente falando, aquele litoral marcava o início do território dos Parasitas.

    — E aí? Lembra de alguma coisa?

    Não tenho certeza. Meio que…?

    Flone, que atravessava o mar em linha reta, virou suavemente para o lado. Ao mesmo tempo, Seol Jihu ativou seus Nove Olhos.

    “Puta merda!”

    Ele imediatamente prendeu a respiração. Toda a costa estava tingida de amarelo.

    “Atenção Necessária.”

    Hesitação surgiu em seu semblante. Ele sabia que aquela área era território dos Parasitas, mas pelo que ouvira, o exército delas frequentemente não ficava ali.

    Julgando pela cor da costa, talvez a informação estivesse errada.

    — Talvez seja melhor voltar…

    Hã?Naquele momento, Flone soltou um gritinho após voar pela costa por um bom tempo. Achei!

    Seol Jihu olhou ao redor e viu um prédio solitário brilhando com uma luz diferente.

    — Tem certeza que é lá?

    Tenho. Sacrificium, a vila no penhasco.

    Assim como Flone disse, o prédio ficava na beirada de um penhasco à beira-mar. Talvez por ainda estar escuro, emanava uma aura sinistra, isolado no meio do nada.

    O problema era que a vila estava sem cor.

    “Por quê?”

    Segundo Flone, a vila era um lugar incrivelmente perigoso. Seol Jihu tinha certeza de que veria uma cor de perigo. No entanto, a vila estava incolor, por mais que ele olhasse.

    Será que tinha relação com a costa estar amarela?

    Ele não tinha certeza, exceto por uma coisa: a partir de agora, até mesmo uma ação aparentemente insignificante poderia determinar vida ou morte. Não, certamente determinaria.

    Flone parou perto da vila.

    Seol Jihu encarou o capacete de exército camuflado em suas mãos. Ele havia gasto uma boa quantia para comprar aquele equipamento, que só podia ser usado uma vez, mas tinha um efeito fantástico.

    Seu plano original era mandar Flone entrar e acampar por perto, escondido. Mas como a área ao redor estava tingida de amarelo, ele teve que mudar de ideia.

    “O que eu faço?”

    Olhando para aquela cor, ele se sentia inseguro em se separar de Flone e ficar sozinho. Mas também não queria entrar na vila com ela.

    Na verdade, desde que escapara do laboratório no território dos Parasitas, ele nunca mais quis pisar lá.

    — E se eu me esconder debaixo d’água?

    A ideia de ficar no território dos Parasitas o incomodava tanto a ponto de cogitar algo tão absurdo. Mas, no momento seguinte, ele balançou a cabeça.

    Não era como se os Parasitas não tivessem criaturas voadoras. Se as ondas o arrastassem para o mar aberto, ele estaria em uma péssima situação.

    Também não havia rochas ou pequenas ilhas para se esconder.

    “Que problematico…”

    Hum, o que você vai fazer?

    Uma voz hesitante ecoou em sua cabeça já confusa.

    — Você precisa mesmo ir?

    Talvez percebendo o leve tom de aborrecimento na voz de Seol Jihu, Flone abaixou a cabeça.

    Eu quero ir…

    — …

    A curiosidade é um motivo, mas eu realmente quero encontrar o Vovô. Tem algo que quero perguntar se eu o encontrar…

    — Mas não há garantia de que seu avô esteja na vila.

    Sim, mas… não é uma questão de possibilidades. É o único lugar onde ele pode estar.

    — ?

    Disseram que ele foi assassinado, mas nunca recuperamos o corpo.

    Seol Jihu franziu as sobrancelhas e ergueu o olhar. Viu um fantasma encarando a vila com uma expressão fervorosa.

    Eu percebi isso depois de morrer.

    Flone continuou.

    Eu me tornei livre graças a você, mas a maioria dos espíritos que já viveram ficam presos a um lugar específico.

    — Por lugar específico, você quer dizer…

    O lugar onde morreram. — Flone enfatizou. Se ele não estiver na vila, então se tornou um espírito livre e foi embora ou passou para o outro lado. Nesse caso, não poderemos encontrá-lo, e poderei desistir sem arrependimentos.

    Com Flone dizendo tudo aquilo, a expressão de Seol Jihu suavizou.

    — …O que você quer perguntar a ele?

    Isto.— O pingente no pescoço de Seol Jihu tilintou. Quero saber por que Mamãe me deixou isso e por que ela disse o que disse quando colocou isso no meu caixão…

    Ao ouvir sua voz carregada de tristeza, Seol Jihu mordeu os lábios.

    “Agora que penso nisso…”

    Esse colar… Um fragmento das Sete Virtudes. Você fez bem em encontrá-lo.

    Após um breve silêncio, Seol Jihu perguntou:

    — Como está o lugar?

    Hm?

    — A vila, quero dizer.

    Ah, sei lá? Não sinto nenhuma presença marcante… É só que…

    — Só que…?

    É estranho. Parece que está me chamando para entrar… É a única forma que consigo descrever.

    Seol Jihu cruzou os braços e baixou a cabeça.

    “Preciso tomar a decisão certa.”

    Entrar junto ou ficar sozinho.

    Após olhar alternadamente entre a ausência de cor e o amarelo, Seol Jihu tomou uma decisão.

    — Você pode ir.

    Posso ir?

    — Sim, mas vamos juntos.

    E-Eh? Você vai mesmo? Sério?

    — Pode ajudar na hora de fazer perguntas se você tiver esse pingente.

    Apesar de ter dado esse motivo, a verdadeira razão era que ele confiava em seus Nove Olhos.

    Claro, os Nove Olhos eram mais variados do que se podia imaginar. Embora a vila estivesse incolor agora, entrar ou tocar algo errado poderia mudar a cor para algo mais sinistro num instante.

    “Mas…”

    Mesmo levando isso em consideração, Seol Jihu achou melhor entrar.

    Ele não sabia por quê, mas tinha um forte pressentimento de que ficar perto de Flone aumentaria muito suas chances de sobrevivência.

    Ele também seria capaz de lidar com qualquer situação que surgisse.

    Sério? Nós dois vamos mesmo?

    — …Sim — um suspiro pesado o suficiente para afundar o oceano escapou da boca de Seol Jihu. — Mas não se esqueça da promessa que me fez.

    Sim! Claro!

    Flone gritou, radiante.

    Logo… o jovem e a fantasma contornaram o penhasco e desapareceram dentro da vila.


    Seol Jihu e Flone entraram na vila sem maiores dificuldades. Como o interior estava extremamente escuro, Seol Jihu ligou a pedra de iluminação que havia trazido.

    — Hm…

    A vila parecia pequena do lado de fora, mas como era de se esperar, o interior o fez exclamar em surpresa automaticamente.

    Era possível ver vestígios de que o lugar havia sido revirado recentemente, como se tivesse sido desgastado pela passagem do tempo. Uma coisa que o surpreendeu foi que não havia muitos enfeites ou artigos de luxo que valessem a pena ser levados.

    “Levaram tudo…?”

    — Deviam ter deixado alguma coisa pra mim… — Seol Jihu murmurou para si mesmo antes de, de repente, se lembrar de Phi Sora.

    Não precisaria se preocupar caso ela tivesse morrido ou voltado depois da expedição, mas havia a chance de que ainda estivesse ali. Ele precisava tomar cuidado para não se deparar com ela.

    Então essa é a Sacrificium…

    — Flone? Acho que não tem nada por perto.

    É. Vamos pra outro lugar.

    — Não esquece. Não podemos ficar aqui mais de uma hora.

    Tá bom, tá bom.

    “Pra onde eu vou?”, Flone se perguntou sozinha antes de subir as escadas.

    Preocupado com a possibilidade de se separar, Seol Jihu rapidamente a seguiu.

    No início, a atmosfera desolada e fantasmagórica o incomodava. Mas a sensação desconfortável desapareceu conforme conversava com Flone.

    Talvez por causa da fumaça negra que ela emitia constantemente, Seol Jihu pareceu se acostumar com o ambiente com o passar do tempo.

    Depois de vagarem por um longo tempo pelo segundo andar, Flone empurrou uma porta. Havia móveis e uma cama no interior, mas o cômodo parecia luxuoso demais para ser apenas um quarto simples.

    Seol Jihu avistou um retrato de uma mulher sorrindo gentilmente, e quando viu a pequena cômoda abaixo dele, seus olhos se arregalaram.

    A Guilda Rosa Branca devia ter deixado passar aquele cômodo, pois um lindo ornamento estava pousado sobre a cômoda.

    Era uma taça de vidro grande. O pé era de cristal, e a taça, cravejada de gemas. Dentro dela, orbes douradas, brilhando como uvas tentadoras, estavam empilhadas.

    — Só pegar uma já seria…

    Como uma moeda de ouro valia 550 milhões de won, cada orbe dourada facilmente valeria mais de um bilhão.

    Pode pegar.

    Vendo Seol Jihu encantado com a taça, Flone sussurrou.

    — E-Eu posso?

    Pode sim. Não é como se tivesse dono.

    — Mas o imperador…

    Relaxa. Aquele imperador ganancioso foi decapitado na guilhotina.

    Ou seja, ele tinha sido morto em outro lugar.

    Nesse caso, não havia motivo para Seol Jihu hesitar.

    Seol Jihu se aproximou da taça cravejada e encarou as orbes douradas com um olhar extasiado.

    “Quantas será que tem aqui?”

    Parecia haver pelo menos dez orbes ali dentro.

    A taça também é bonita. Vamos levar.

    Seol Jihu assentiu, em transe.

    “Esse lugar é mesmo um baú do tesouro.”

    Pensar que apenas um cômodo teria um tesouro tão incrível…

    Foi então…

    Enquanto Seol Jihu pegava as orbes de boca aberta, de repente sentiu um olhar estranho. Quando levantou a cabeça, guiado pelo instinto…

    — !

    Seu corpo congelou e seus olhos se arregalaram.

    A mulher do retrato, que sorria gentilmente, agora tinha os cantos da boca estendidos até as orelhas.

    Quando cruzou o olhar com a mulher, cuja cabeça havia girado em um ângulo estranho, sua respiração parou. O grito ficou preso em sua garganta.

    O que foi?

    Vendo Seol Jihu paralisado, Flone olhou para cima sem pensar muito. Então, ao ver a mulher sorrindo de forma aterradora…

    NÃÃÃO!

    Ela soltou um grito curto e balançou o braço instintivamente.

    Naquele instante, Seol Jihu conseguiu finalmente sair do transe. Uma cena nítida ficou gravada em sua mente.

    As garras afiadas de Flone rasgaram o retrato sem piedade…

    Tzzzzt!

    E o rosto sorridente da mulher se transformou em um olhar vazio.

    Você me assustou!

    Não demorou para que o retrato se tornasse um amontoado irreconhecível.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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