Capítulo 58: Grilhões Gloriosos; Liberdade Perigosa (1/1)
O grupo de Salcido saiu como se estivesse fugindo, e o homem com quem Oh Minyoung tinha contrato também sumiu da vista sem fazer alarde.
Eles claramente não queriam se indispor com a Sinyoung, mas, seja como for, o resultado final era que o brutamontes e Oh Minyoung haviam sido abandonados por seus supostos apoiadores.
Não importava se alguém era Convidado ou Contratado. Agora que haviam perdido seus patrocinadores, era fácil imaginar o que aconteceria com eles.
— Cerra bem os dentes, entendeu?
Thwack!
Sangue jorrou do nariz do brutamontes.
Agora que a situação se inverteu, Hyun Sangmin estava como peixe na água. Implorou a Kim Hannah por uma chance de se vingar e, assim que ouviu as palavras ‘Só não mate eles’ saírem da boca dela, partiu pra cima e socou o brutamontes no rosto.
O brutamontes já estava tão entorpecido que mal notou o soco e desabou no chão como uma folha de papel.
— E aí, seu filho da puta, como é que tá agora, hein?!
Como se aquele soco não fosse suficiente, Hyun Sangmin montou em cima do brutamontes e começou a desferir socos seguidos.
— Nunca imaginou que ia acabar assim, né?! Seu pedaço de merda!!
Os punhos carregados de emoção esmagaram o nariz do brutamontes até que o osso virasse polpa. Os socos continuaram a acertar em cheio; logo, o brutamontes ficou mole, com os olhos virados.
Hyun Sangmin respirava pesadamente enquanto limpava o nariz. Mas ainda não tinha terminado. Com os olhos ardendo, olhou ao redor e…
— Acha que vai aonde?!
— Aaaahk?!
Correu feito uma fera e agarrou os cabelos de Oh Minyoung, que quase conseguira se esgueirar para fora da zona de perigo.
— Não era você que tava pisando forte na minha mão agora há pouco? Hã?
Slap!
Com um som de tapa claro, a cabeça dela girou com força, como se fosse se soltar do pescoço.
— Cerra os dentes você também.
Hyun Sangmin forçou o rosto dela a virar na direção certa e desferiu uma cabeçada forte.
— Euup!!
Com os olhos arregalados, Oh Minyoung cobriu a boca com as duas mãos e caiu no chão com força.
Os gritos de dor não conseguiam escapar de sua boca machucada. Ela se contorcia no chão antes de começar a chorar aos berros.
E enquanto Hyun Sangmin a chutava como se fosse uma bola de futebol, Seol pensava consigo mesmo o que deveria fazer ali.
Como poderia descrever aquilo…?
Aqueles dois realmente estavam errados… Mas, Seol achava que Hyun Sangmin estava indo um pouco longe demais.
Mesmo assim, pedir para ele parar era um problema por si só.
— Eu aguento injustiça, mas não suporto sair no prejuízo.
Ele tinha dito isso quando se conheceram. Tecnicamente, dava pra argumentar que Hyun Sangmin estava naquela situação atual por causa do favor que Seol pediu. Então, tentar detê-lo agora seria, mais ou menos, uma traição.
— Sangmin, chega. Já deu.
Foi então que um homem de meia-idade saiu da multidão e se aproximou apressado, segurando o braço de Hyun Sangmin.
— Eish, quem diabos… Ah, é você, Ahjussi!
Hyun Sangmin sacudiu o braço com raiva e gritou com o homem.
— Por que apareceu tão tarde?
— Me desculpe. Sério. Tinha uma coisa que eu precisava fazer.
— Você sabe o que aconteceu comigo agora há pouco?
— Eu sei. Entendo, então vamos parar por hoje, tudo bem? Ela agora é propriedade da Sinyoung, então se você machucar demais, a gente vai ter que pagar compensação.
Seol não gostou do termo ‘propriedade’, mas felizmente Hyun Sangmin parou a surra depois disso. O homem de meia-idade que o afastava calmamente era seu Convidador.
— Não precisa sentir pena dela.
A voz de Kim Hannah permanecia fria como gelo.
— Tem mais de uma pessoa por aí querendo dar uns tapas nela, pode acreditar.
— Sério?
— Aham. Sabe aquela vez em que a Yun Seora foi espancada? Foi essa mulher aí quem incitou os caras do Cartel.
— ?
— Não sabia? Achei que já tivesse sacado. Foi ela quem disse que o braço tava danificado. Foi ela quem manipulou aqueles idiotas, mandando atacarem a Yun Seora, prometendo uns pontinhos de graça. Tudo obra daquela vadia.
— Sério mesmo?
Seol encarou Oh Minyoung, que chorava no chão, completamente pasmo. A pouca empatia que sentia por ela voou embora num instante.
— E não foi só isso. Lembra da garota que morreu no Tutorial? Ela matou aquela menina pra roubar as moedas. Um golpe só na nuca com o cabo de esfregão! Pop!
O jovem de cabelo encaracolado entrou na conversa de repente. O jeito sorridente dele passava uma impressão tão agradável que Seol mal conseguia acreditar que aquele era o mesmo sujeito que tinha destruído a mão do brutamontes com um simples punhal.
Esse jovem percebeu Seol olhando pra ele e começou a fazer um escândalo.
— Ah! Olá, olá!! Meu nome é…
— Shin Hansung? Por que você não leva esses dois pra nossa carruagem, hm?
Assim que Shin Hansung tentou se enfiar na conversa, Kim Hannah assumiu sua expressão séria característica.
— Tsk. Sempre me fazendo fazer as coisas chatas.
— Ah, é? Quer que eu faça?
— Tá bom. Eu vou. — Shin Hansung resmungou ao ver o olhar afiado pousar sobre ele. — É por isso que você não arranjou um marido até hoje…
— O que foi que você disse?!
Mas, antes que Kim Hannah explodisse, Shin Hansung já havia fugido rapidamente, arrastando o brutamontes inconsciente e a Oh Minyoung, que se debatia amargamente.
Kim Hannah começou a ranger os dentes ao encarar o jovem encaracolado, que já não passava de um pontinho distante.
— Aquele desgraçado…
Ela deve ter notado o olhar de Seol, pois logo recuperou o fôlego e trocou a expressão.
— Já tomou café da manhã? Que tal conversarmos depois que você comer alguma coisa?
Seol balançou a cabeça devagar. Perdeu o apetite depois de tantos acontecimentos inesperados logo após sair da Zona.
Como se já esperasse por essa resposta, Kim Hannah começou a empurrar os pratos bagunçados da mesa para o lado. Foi nesse momento que ela finalmente notou Yun Seora parada ali por perto, com um olhar incerto, e então sorriu calorosamente para ela.
— Senhorita Yun Seora? Me desculpe, mas preciso conversar em particular com o Seol agora.
— …
— O Shin Hansung deve voltar logo, então por que você não escolhe uma mesa vazia e espera por ele?
Embora Kim Hannah tivesse sido sutil, a insinuação era clara. E Yun Seora também não era nenhuma tola. Ela não parecia muito satisfeita, mas, após lançar um breve olhar para Seol, se virou em silêncio e se afastou.
Kim Hannah esperou e observou enquanto Yun Seora se afastava cada vez mais, antes de se colar firmemente ao lado de Seol.
— !?
E o jovem pôde sentir a maciez das curvas dela pressionadas contra seu braço. Antes que ele pudesse afastá-la, todo atrapalhado…
— Preste atenção, tá bom? Enquanto conversamos, vou te mostrar dois contratos.
A voz de Kim Hannah baixou bastante o tom.
— Dois contratos?
— Isso mesmo, dois. E quando eu colocar a mão sobre um dos papéis e começar a falar, você precisa desconfiar de tudo que eu disser, entendeu?
— Do que você tá falando?
— Não tenho tempo pra te explicar. Era pra eu cuidar do contrato da Yun Seora também, mas recebi uma ordem repentina pra deixar isso nas mãos do Shin Hansung. Vou tentar atrapalhar ele, mas com aquela lábia dele, com certeza vai se intrometer… então fique esperto.
No meio da fala, Kim Hannah sinalizou com os olhos. Seol não pensou muito a respeito e lançou um simples olhar ao redor, sua expressão logo ficou estranha.
Agora que algum tempo havia se passado, todos os sobreviventes, bem como aqueles que os haviam convidado ou feito contratos, estavam ali. E mesmo que a maioria estivesse no meio de negociações, alguns olhavam discretamente para ele, enquanto outros o encaravam abertamente de longe.
— E são esses que querem que nossa negociação fracasse.
Kim Hannah estreitou os olhos de maneira quase graciosa e sussurrou com seriedade ao ouvido de Seol.
— Você… precisa entender o seu valor.
— Noonim! Voltei…!
Foi então que uma voz alegre soou em seus ouvidos.
“Já voltou?!”
Acompanhado de Yun Seora, o jovem encaracolado se aproximava com um sorriso afável no rosto.
— E por que tá sentado perto da gente?
Shin Hansung estava prestes a ocupar o assento do outro lado, mas então um sorriso sem graça apareceu em seu rosto.
— Ah, só queria ver as habilidades da minha famosa senpai, né?
— Corta essa comédia sem graça e vai cuidar do seu próprio contrato, tá? Por que tá tentando se enfiar na nossa conversa?
— Ahh, deixa disso. Tem espaço de sobra aqui, vamos compartilhar…
— Eu mandei você sumir. Melhor ouvir enquanto ainda tô sendo educada.
— Poxa, não faz assim. No fim das contas, tanto ele quanto a senhorita Seora vão assinar com a Sinyoung de qualquer forma.
— E quem te disse isso?
Ao ouvir o tom gélido dela, Shin Hansung demonstrou uma leve surpresa.
— Não é o caso?
— Nunca pense que eu não sei o que tá acontecendo. Já entendi por que os superiores te mandaram junto comigo. Mas acredito que já deixei bem clara a minha posição.
— Bem, isso é…
— Claro que vou dar meu melhor hoje. Mas a decisão final é dele, entendeu? Não se esqueça… ele não é um Contratado, e sim um Convidado. Entendido?
— …Entendi. Tá bom. Já tô indo.
“Desistiu mais fácil do que pensei?”
Ele devia insistir bastante, mas o Shin Hansung, agora com expressão desanimada, simplesmente se virou para ir embora.
No entanto, Seol logo percebeu que havia subestimado aquele jovem encaracolado. Ele arrastou outra mesa e a colocou perto o suficiente para tocar na de Seol.
Kim Hannah o encarou com incredulidade. E Seol, ao ver aquele sujeito se sentar com tanta naturalidade, pensou que sua cara de pau devia ser realmente fora do comum.
Mas havia algo mais que Seol não tinha notado: Yun Seora escolheu se sentar bem perto dele, não em frente a Shin Hansung.
— Fiz você esperar, Senhorita. Imagino que esteja curiosa por que eu estou aqui no lugar do Diretor, certo?
Com uma atitude que deixava claro que não se importava com quem estivesse ouvindo, ele iniciou a negociação do contrato.
— Bem, o Diretor ficou bastante envergonhado. Imagino que já saiba o motivo…
Yun Seora baixou um pouco a cabeça.
— De qualquer forma, também estou aqui para trazer uma mensagem do Presidente.
Essas palavras fizeram com que ela erguesse a cabeça; seus olhos ganharam um novo brilho.
— …Diretamente dele?
— Sim. Não é muito longa, aliás. É uma mensagem direta, objetiva e sem rodeios. Você conhece o estilo do nosso Presidente, não é?
Yun Seora assentiu para que ele prosseguisse.
Shin Hansung pigarreou com uma tosse forçada e começou a falar.
— Em primeiro lugar, parabéns por ter chegado a Paraíso. Para ser sincero, eu não queria que você colocasse os pés neste mundo, mas agora que as coisas aconteceram assim, respeitarei sua decisão.
— …
— No entanto, suas ações durante o Tutorial e na Zona Neutra foram bastante decepcionantes. Muito provavelmente, se não fosse pela ajuda daquele jovem, você nem teria conseguido sair da Zona Neutra. Sua irmã mais velha está profundamente envergonhada.
O corpo de Yun Seora tremeu levemente, então.
— Não direi mais nada. Se quiser permanecer neste mundo, mostre que está preparada.
Shin Hansung falou até ali e colocou um punhal sobre a mesa.
— Quando chegar à carruagem, encontrará aqueles dois de antes amarrados e esperando. Aquele brutamontes e a mulher. Lembra deles?
— …Sim.
— Mate os dois na frente do Presidente e da Senhorita Yun Seohui. Com suas próprias mãos.
Seol não pôde deixar de duvidar do que acabara de ouvir. Ela precisava fazer o quê?
— O Presidente acrescentou que, se você não for capaz nem disso, nem pense em entrar na Sinyoung. Ele disse que usaria força, se necessário, pra te mandar de volta à Terra.
Seol achou que Yun Seora pelo menos levaria um ou dois segundos para tomar a decisão.
Infelizmente, ela não levou.
— Não me importo com o homem, mas tem algum motivo pra eu matar a mulher também?
— Claro. Se quiser, eu posso te dar vários. Posso dizer isso sem reservas.
— Vou fazer.
Ela nem hesitou ao pegar o punhal.
— Nesse caso, tudo certo.
Shin Hansung sorriu e puxou o contrato.
— Este aqui é um contrato temporário. Assim que realizar a tarefa que acabei de te passar, ele entra em vigor.
Yun Seora levou seu tempo para ler com atenção o conteúdo do contrato antes de prontamente assinar na linha pontilhada.
— Então, devo… ir agora mesmo…
— Ahh, espere só um minutinho, por favor.
Shin Hansung levantou ambas as mãos, parecendo um pouco incomodado com a disposição dela.
— É que tem a condição de você realizar o ato na frente do Presidente, sabe… Embora eu possa garantir por você, imagino que prefira fazer tudo certinho, né?
Yun Seora concordou com a lógica dele.
Agora mais aliviado, Shin Hansung declarou que seu trabalho estava encerrado. Em seguida, apoiando o queixo nas mãos entrelaçadas, passou a observar a mesa ao lado.
— …Ehew.
Kim Hannah soltou um suspiro longo antes de colocar sobre a mesa dois maços de contratos, junto com uma caneta.
— …Antes de mais nada, bom trabalho.
Ela então encarou Seol por um instante.
— E obrigada. Por cumprir a promessa de negociar comigo primeiro.
— Ah, eu… não foi nada.
Percebendo que Seol estava começando a ficar sem jeito, ela não se estendeu e posicionou os dois contratos lado a lado sobre a mesa.
O conteúdo do contrato à esquerda estava resumido e claro. Já o da direita, por outro lado, era repleto de letras miúdas preenchendo todo o espaço da página de cima a baixo.
Ao lançar um olhar rápido para ambos, Seol não pôde deixar de sentir algo estranho. Especialmente no contrato da direita, quanto mais lia, mais inclinava a cabeça diante das cláusulas absurdamente restritivas.
Para ser mais específico, aquele contrato estava cheio de termos com dupla interpretação.
No exato momento em que encontrou o nome ‘Kim Hannah’ no documento da esquerda e ‘Sinyoung’ no da direita, ouviu a voz dela continuar:
— Você já entendeu por que os sobreviventes que saem da Zona Neutra precisam assinar contrato imediatamente, né?
De fato, ele já conseguia imaginar, mesmo sem explicações.
Não importava o quão bem alguém passasse pelo Tutorial ou pela Zona Neutra, ao encarar o imenso palco chamado Paraíso Perdido, não passavam de crianças perdidas à beira de um rio. Em outras palavras, esse era o momento em que mais precisavam de apoio e proteção.
Claro, mesmo agora, havia uma diferença clara entre Contratados e Convidados. Se para os primeiros era algo unilateral, um simples ‘faça o que mandam’, para os segundos era mais uma relação de ‘acordo mútuo’. Se um Convidado não gostasse dos termos, podia simplesmente se levantar e ir embora da mesa.
— Mm… Bem, então. Que tal começarmos com as ofertas da Sinyoung?
Kim Hannah iniciou seu discurso de vendas.
— No momento em que você assinar esse contrato com a Sinyoung, a organização vai transferir imediatamente 500 milhões de won como taxa de assinatura. Não parcelado — tudo de uma vez.
“500 milhões de won?!”1
Seol não conseguiu esconder o choque com o valor. Crescido em uma família de classe média baixa, ele jamais imaginou ter tanto dinheiro assim.
— Ainda é cedo pra se surpreender, sabe.
Kim Hannah cruzou os braços e continuou com um tom bem profissional.
— A Sinyoung vai te apoiar em três áreas principais. Primeiro: financeiramente. Assim que assinar, você se tornará um funcionário da Sinyoung, tanto aqui em Paraíso quanto na Terra. A cada duas semanas, cinco milhões de won2 serão depositados na sua conta bancária. Ou seja, você terá um salário mensal de dez milhões de won3. Também receberá bônus por desempenho, por méritos e um bônus anual conforme a tabela de RH. Além disso, receberá pagamento por missões concluídas e por qualquer risco que assumir durante missões em Paraíso. Tudo isso deve ultrapassar com folga o salário mensal. Claro, isso depende de passar no período de experiência.
Ela listava as condições rapidamente.
— Em segundo lugar: você receberá um conjunto completo de equipamentos novos toda vez que subir de nível… sem custo algum. O mesmo vale para explorações em grupo ou expedições militares. E, se durante as missões caírem equipamentos adequados ao seu perfil, você terá prioridade de escolha.
Seol engoliu em seco. Quanto mais ouvia, menos suspeitava. Ou ao menos era o que parecia.
— E, pelo que vi, você gosta de treinar.
— Treinar? Como assim?
Aquilo ele realmente não esperava ouvir.
— Pois é. A Sinyoung tem uma instalação de treinamento que não perde pra ninguém neste mundo. Se quiser, o melhor Terrestre da empresa pode te treinar pessoalmente. E posso garantir que essa pessoa é mais habilidosa do que a própria Agnes.
Ele tentava ouvir mantendo uma postura cética, mas estava cada vez mais difícil.
— Só reforçando: essas condições que estão sendo oferecidas são sem precedentes na história da Sinyoung. Nem mesmo o lendário Sung Shihyun recebeu um tratamento assim.
Como ela mesma disse, era tudo bom demais. Honestamente, Seol estava profundamente tentado. Com uma simples assinatura, poderia trilhar um caminho firme e seguro, tanto na Terra quanto em Paraíso.
— E então… Como pode ver, o contrato tem duração de quatro anos.
Foi nesse momento que Kim Hannah colocou a mão sobre os papéis da Sinyoung.
— E quando eu colocar a mão sobre um dos papéis e começar a falar, você precisa desconfiar de tudo que eu disser, entendeu?
Seol ainda estava imerso em um dilema pesado, mas esse pensamento interrompeu tudo de imediato.
A partir dali… agora sim, começava o verdadeiro jogo.
— Você pode até achar que isso se parece com um contrato de escravidão, mas não é. Um Terrestre talentoso leva em média de 4 a 5 anos para atingir os níveis mais altos. Considerando isso, dá pra ver o quanto a Sinyoung valoriza você. Em outras palavras, eles estão dispostos a apostar tudo, e até a pia da cozinha, pra garantir que você alcance os altos níveis em menos de quatro anos.
…Então era mesmo um contrato de escravidão. Eles o aceitariam inicialmente fingindo valorizá-lo, depois o observavam por quatro anos antes de decidir o que fazer com ele.
— E os termos desse contrato não são imutáveis. Conforme seu nível subir, podemos renegociar cláusulas para algo ainda melhor.
…Ou, inversamente, para algo pior.
— Ah, e sobre aquilo de quererem te apoiar… Bem, vou ser honesta com você. Pode considerar isso como um pagamento antecipado. No mínimo, você tem que retribuir tudo o que recebeu no Paraíso. Isso é da natureza humana, afinal de contas. A Sinyoung é uma entidade empresarial, não se esqueça; uma organização gigantesca, uma corporação, está investindo tanto no seu futuro. Então, não seria justo você recompensá-los à altura? Estou errada?
— …
— Bem, não precisa se preocupar com isso. Lembre-se, a Sinyoung não é o tipo de lugar onde você acabaria sem nada para fazer além de chupar o dedo. Muito provavelmente, você vai acabar sobrecarregado durante um ou dois anos.
…E se ele falhasse em retribuir tudo o que recebeu?
— E por fim… A Sinyoung é, indiscutivelmente, a organização mais poderosa do Paraíso Perdido. Aposto que você percebeu isso ao ver o que aconteceu. A Sicília da Cinzia? O Cartel do Salcido? Não passam de um bando de gatos de rua diante de um tigre de verdade. A Sinyoung já varreu todos uma vez, então mesmo outras organizações renomadas não têm escolha a não ser abaixar a cabeça e ouvir o que a Sinyoung tem a dizer.
— Em outras palavras, a Sinyoung pode se tornar o escudo mais seguro para você em tempos de necessidade.
…E, por causa disso, certamente também teria muitos inimigos.
— Kyah, nossa. Noona Hannah, seu discurso de vendas é realmente excelente.
Shin Hansung soltou um gritinho de admiração. Sua expressão deixava claro o quanto estava impressionado.
Enquanto isso, Kim Hannah afastou delicadamente a mão do documento. Então, Seol desviou o olhar para o outro contrato.
— Ah, e sobre esse contrato aqui… Bem, não tenho nada de especial a dizer.
Seol decidiu perguntar.
— Agora que pensei nisso, por que há dois contratos para mim?
— Hm? Eu já não te disse? Aquele carimbo dourado não era propriedade da Sinyoung.
Os olhos de Kim Hannah se arregalaram ainda mais enquanto ela fingia ignorância.
— Aquele Selo Dourado, eu o recebi diretamente de um templo.
— De um templo?
— É. Do templo da Gula.
— …O quê?
Dessa vez, foram os olhos de Seol que se arregalaram ao ouvir um nome que não esperava.
— Gula. Uma dos sete deuses que apoiam a humanidade no Paraíso.
— Espera aí. Isso significa que eu vou assinar diretamente com uma deusa, com você como intermediária?
— Tecnicamente, sim, algo assim…
Kim Hannah parecia incomodada enquanto batucava levemente na mesa com o dedo.
— Na verdade, nem eu tenho certeza.
— Do quê?
— É verdade que eu recebi o selo. Mas o que me disseram na época foi que haveria um momento em que eu teria que usá-lo, então deveria guardá-lo com cuidado. Coincidentemente, acabou sendo usado com você. Se quiser esclarecimentos sobre isso, acho melhor perguntar diretamente à Gula.
Kim Hannah deu de ombros.
— De qualquer forma, isso não é o mais importante agora. Então, você já deu uma olhada nesse contrato… certo?
À primeira vista, Seol pôde perceber que aquele não oferecia nem metade do que a Sinyoung estava oferecendo.
— Você vai ver que o pouco apoio mencionado aí vem em meu nome, mas se comparar com a Sinyoung, vai perceber que não é nem de longe a mesma coisa.
Ela estava certa quanto a isso.
No entanto, não dava para dizer que os termos oferecidos eram ruins. Por exemplo, não tentava restringi-lo, nem exigia nada em troca. E ele também não precisava pertencer a nenhuma organização.
Embora o nome de Kim Hannah estivesse incluído no contrato, era apenas até o ponto de ela oferecer proteção pessoal sempre que pudesse. A maior — e talvez única — vantagem desse contrato em relação ao outro era que prometia liberdade total para Seol.
— Não tem jeito, né? O apoio mencionado nesse contrato não passa do reconhecimento da Sinyoung por todas as suas conquistas, passadas, presentes e futuras; eles também tentarão manter uma relação amigável com você por tempo indeterminado. Só isso. Então, se quiser mais do que isso, assine aqui.
Kim Hannah apresentou os papéis do contrato da Sinyoung.
— Olha só, a Noonim está cuidando de tudo, hein? Vou fazer um relatório maravilhoso para o Diretor.
— Cala essa matraca. Não tá vendo que tô no meio de algo?
— Sim, senhora! Boca fechada, entendido!
Ignorando a tagarelice barulhenta de Shin Hansung, Seol refletia sobre suas opções.
Os termos oferecidos pela Sinyoung eram, por mais que ele analisasse, incrivelmente tentadores. Havia várias armadilhas escondidas nas cláusulas, mas depois de ouvir a breve persuasão de Kim Hannah, parecia que todo mundo fazia algo semelhante em Paraíso, de qualquer forma.
E daí se ele tivesse que se abrigar sob a asa de alguém? Eles não iriam descartá-lo assim, do nada. Com certeza não. Se ele mostrasse esforço, não reconheceriam isso ao menos?
E já que ele não entrou em Paraíso com alguma grande ambição, mas sim com uma curiosidade insaciável, ele não pôde deixar de pensar assim.
No entanto, algo simplesmente não parecia certo.
Por algum motivo, seu coração dizia não de novo.
Uma presença gigantesca, que ele não conseguia perceber claramente naquele momento, tentava alcançá-lo das profundezas de uma escuridão oculta. Era essa a sensação.
“Além disso, a Kim Hannah também não teria dito aquilo antes…”
Deveria escolher o caminho das algemas gloriosas ou o da liberdade perigosa?
Seol permanecia confuso e incerto diante dessa encruzilhada, com ambas as direções cheias de possibilidades infinitas. Então, por hábito, ativou os Nove Olhos.
“…Droga.”
E, pela primeira vez desde o início da negociação, ele se viu em desespero. Mas não podia evitar.
Amarelo, laranja, vermelho, preto…
Se qualquer uma dessas cores aparecesse, ele estava decidido a nem considerar o contrato. Não era exatamente para isso que sua habilidade servia?
Infelizmente, nenhum dos contratos brilhava com os quatro tons de perigo.
Um brilhava em dourado.
O outro não tinha cor alguma.
Isso era inédito para ele.
— Então, o que vai fazer?
Parado diante do entroncamento…
— …Eu…
Seol percebeu que agora enfrentava uma das decisões mais importantes de sua vida.
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