Capítulo 55: Senhorita Raposa (1/3)
Mana.
Se alguém fosse falar sobre esse poder misterioso, a conversa não teria fim. No entanto, se fosse para defini-lo da forma mais simples, poderia ser chamado de um ‘dom único’.
Depois que os invasores devoraram a Divindade Suprema, esse poder se tornou o único método de resistência que os humanos possuíam contra as raças alienígenas.
Excluindo um ou dois casos extremos, todos os humanos geralmente possuíam alguma quantidade de mana. O potencial de crescimento de um indivíduo era ditado pelos talentos inatos ou pela linhagem sanguínea, mas, sem dúvida, os humanos já nasciam com esse poder dentro de si.
Praticamente todos que usavam esse poder ‘profissionalmente’ diziam a mesma coisa: o ideal seria começar a treinar sua mana o mais cedo possível na vida.
Esse conselho não visava apenas indicar que a quantidade de mana disponível aumentaria com o treinamento. A pessoa também treinaria os caminhos por onde a mana fluía dentro do corpo, o chamado ‘Circuito’.
Alguém que nascesse com uma grande quantidade dessa energia precisava ter cuidado ao iniciar o treinamento. Já houvera vários casos em que os Circuitos frágeis não suportaram a circulação da mana e se romperam. Em alguns casos, seus Circuitos foram completamente destruídos.
Assim como o aço é temperado repetidamente para remover o máximo possível de impurezas, o ‘Circuito’ também se fortalecia gradualmente conforme uma quantidade gerenciável de mana fluía continuamente pelo caminho. Portanto, treinar desde cedo era, de fato, a decisão correta.
No entanto, a situação que Seol enfrentava era bastante complicada.
Seus poderes se manifestaram quando ele era extremamente jovem. Um pequeno caminho se formou gradualmente conforme ele seguia seu instinto e usava o poder recém-descoberto. Ele jamais recebeu treinamento adequado; nem sequer percebia conscientemente que vinha abusando de seu poder repetidamente.
E o momento em que perdeu esse poder se mostrou um ponto crítico em sua vida.
Embora usasse sua mana quase subconscientemente, vinha dependendo dela havia quase vinte anos. Inevitavelmente, a quantidade de energia que podia manipular havia crescido bastante. No entanto, graças ao uso excessivo e súbito do poder, o Circuito que mal estava se mantendo acabou sendo forçado ao limite e se rompeu.
Graças à ‘Visão do Futuro’, seu corpo ‘lembrou-se’ instintivamente de novos caminhos que poderiam ser usados como alternativa. Isso levou à recuperação dos poderes de Seol, mas, mesmo assim, seu antigo Circuito permaneceu quebrado.
O motivo pelo qual Seol escolheu as Lágrimas de Psychi foi porque, após aprender a Aplicação de Mana, passou a explorar regularmente, durante a meditação, como o Circuito de seu corpo operava, e acabou descobrindo o caminho danificado.
【Lágrimas de Psychi】
Psychi, o renomado alquimista de Scheherazade.
Ele se compadeceu de uma mulher cujo corpo fora arruinado por um treinamento desastroso de mana ainda na infância.
Para essa mulher, cujo corpo continuava a definhar a cada dia que passava, Psychi perseguiu o conhecimento sem descanso e pesquisou uma maneira de devolver-lhe a vida que tanto almejava.
Ele partiu numa longa jornada para obter todos os ingredientes de seu elixir e, após conquistar inúmeras provações e dificuldades árduas, conseguiu saborear os frutos do sucesso. No entanto, ao retornar à cidade de Scheherazade, a mulher a quem devotara toda a sua vida já havia partido deste mundo.
Muitos homens influentes desejavam possuir os resultados de sua incrível jornada, mas Psychi simplesmente escolheu ir até o templo sagrado onde repousavam os restos mortais da mulher. Lá, ele derramou lágrimas de tristeza e orou.
Orava para que, mesmo que jamais voltasse a vê-la, ao menos ela pudesse receber aquele último presente vindo dele.
A divindade se comoveu diante daquele amor puro, que havia renunciado à honra e à riqueza, e achou justo nomear aquela oferenda como Lágrimas de Psychi.
E assim, as Lágrimas de Psychi nasceram, o item milagroso que talvez exemplificasse a mais pura essência da alquimia. O item que continha todo o conhecimento que um homem adquiriu ao longo de sua vida inteira, da juventude à velhice.
— Mm…
A visão de Seol estava embaçada. Ele piscou várias vezes, fazendo com que a secreção acumulada deslizasse para fora do rosto.
Ele ouvia os sons úmidos e de respingos toda vez que tentava se mover. Era quase como se estivesse se debatendo dentro de uma poça d’água ou de lama espessa. Seu corpo inteiro estava pegajoso e pesado. Seol se ergueu com cautela da banheira, apenas para começar a vomitar com urgência.
— Euuuph…!
O odor amargo e acre de sangue seco misturado ao fedor podre de imundície atacou seu nariz. Seol continuou vomitando por um tempo e, após se recuperar, percebeu toda a secreção imunda e excrementos enchendo a banheira junto a ele. Uma careta profunda surgiu em seu rosto.
Havia sangue negro apodrecido cheio de pedaços de pele descamada; um líquido amarelo doentio que podia ser suor ou pus; cocô de verdade; e, por fim, pedaços endurecidos flutuantes completamente irreconhecíveis…
Todos aqueles excrementos nojentos e fedidos estavam fazendo de tudo para promover uma festa dentro da banheira. Era tanta ‘substância’ que Seol mal conseguia acreditar que tudo aquilo tinha saído de seu próprio corpo.
“Foi uma boa ideia dormir na banheira…”
Seol prendeu a respiração ao abrir as torneiras. A água morna jorrou e conseguiu desalojar os excrementos endurecidos, lavando-os aos poucos.
Seol decidiu que aproveitaria para tomar um banho também. Tinha o pressentimento de que, ao sair da Zona Neutra, tomar um banho quente como aquele seria um luxo que talvez não pudesse mais se dar por um bom tempo. Além disso, queria se livrar da sujeira o mais rápido possível.
Ele despejou os suplementos de banho que auxiliavam na recuperação natural e mergulhou o corpo na água morna. Ficou ali por mais de trinta minutos e esfregou o corpo inteiro duas vezes. Só então se sentiu plenamente revigorado.
Seol se sentiu muito mais satisfeito depois de ver seu reflexo bem mais limpo no espelho. Porém, logo caiu em uma contemplação silenciosa. Agora que havia se livrado de todas aquelas coisas nojentas, era hora de confirmar os efeitos das Lágrimas de Psychi.
“Mm…”
Ele percebeu que o fluxo de sua mana havia se tornado ainda mais suave. Mesmo que nunca tivesse achado o fluxo lento, agora era como alguém que usava 3G e finalmente migra para LTE1), descobrindo um mundo totalmente novo.
Seol logo descobriu o motivo ao examinar seu Circuito. Não apenas seu Circuito anteriormente danificado havia sido consertado, como também o comprimento total do Circuito havia aumentado bastante. Além disso, as impurezas que bloqueavam o caminho haviam sido removidas, o que, na prática, significava que a largura total do Circuito também havia se multiplicado diversas vezes.
Mais importante ainda: como a quantidade que podia fluir pelo Circuito aumentou, o vigor com que ela fluía também se intensificou.
Se comparasse o antigo fluxo de mana a um riacho fofo gotejando de um vale, agora era como um rio majestoso que serpenteava e rugia livremente.
E, de fato, ele achava ainda mais fácil controlar sua mana. Arrepios percorreram sua pele ao perceber o quão revigorante era sentir a energia se espalhando e penetrando até os menores pontos de acupuntura por todo o corpo.
A partir dali, Seol seria capaz de emitir muito mais mana do que os próprios atributos sugeriam.
【Sua Janela de Status】
【4. Habilidades】
3. Outras habilidades (1)
– Circuito Reforçado (Superior)
“Será que é assim a sensação de fazer a Purificação da Medula2?”
Seol sorriu depois de checar sua Janela de Status.
Uma sequência estranha de coincidências o havia levado até aquele momento. Se sua Classe fosse Feiticeiro, provavelmente pensaria que aquele havia sido um dos maiores golpes de sorte da vida, algo que jamais voltaria a acontecer.
No entanto, Seol só conseguia pensar na recuperação de seu velho caminho e permanecia alheio à verdade real.
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