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    Assim que a manhã chegou, Seol se viu diante de uma tempestade de caos. Isso porque Odelette Delphine saiu por aí anunciando que ele havia conseguido concluir com sucesso a missão Impossível. Graças a ela, ele teve de repetir a mesma explicação várias vezes enquanto descia para o primeiro andar.

    — O que significa esse caos?

    Se não fosse pela entrada pontual de Cinzia acompanhada de todas as empregadas na praça do primeiro andar, Seol teria passado o resto do dia explicando a mesma história.

    Mas, ao ouvir a explicação sobre o que havia acontecido, até ela ficou atônita. Deu uma olhada rápida no quadro de avisos completamente vazio e um sorriso irônico surgiu em seus lábios.

    — Parece que devo um pedido de desculpas à Agnes.

    Ao ouvir aquilo, os cantos dos lábios de Agnes se curvaram discretamente.

    Algum tempo depois, iniciou-se um procedimento simples de saída.

    Cinzia ofereceu um breve elogio a todos, parabenizando-os pelo esforço durante os últimos três meses. Em seguida, os sobreviventes pagaram 1.000 SP e devolveram seus smartphones.

    Depois de tudo resolvido, o primeiro andar se encheu com o som das pesadas portas de aço sendo arrastadas.

    — Ao passarem por ali, o Paraíso que todos vocês estavam tão ansiosos para conhecer estará à sua espera.

    Cinzia falou enquanto apontava para o corredor escuro.

    — Não haverá ninguém para guiá-los para fora, já que precisamos permanecer aqui para desativar a Zona Neutra. Mas tenho certeza de que vocês são mais do que capazes de atravessar um corredor.

    Talvez percebendo que estava fazendo uma piada, alguns sobreviventes começaram a rir em resposta.

    — Bem, nada vai acontecer mesmo. Até preparamos uma área aberta com um banquete para vocês do lado de fora. Tudo o que precisam fazer é esperar por aqueles que virão buscá-los. Depois disso, negociem, assinem contratos, tanto faz… De qualquer forma, encontrarão refeições simples à sua espera nas mesas lá fora. Apreciem seu café da manhã em silêncio e esperem ali.

    Cinzia então tirou um maço de cigarros como se tivesse terminado seu discurso, mas voltou a abrir a boca.

    — Ah, e um pedido, se me permitem… pelo menos hoje, não briguem.

    Ela fez uma pausa para segurar um cigarro com os dentes, depois continuou com um tom surpreendentemente sério.

    — Aconselho que deixem para trás os eventos da Zona Neutra. Hoje é um dia para se comemorar, não é?

    Ela acendeu o cigarro, inalou profundamente e, após um momento, soltou a fumaça branca pelas narinas e lábios entreabertos.

    — Especialmente vocês, os Convidados… Sei muito bem o quão poderosos são os seus apoiadores. Conseguir mobilizar tantos Selos… imagino que tenham bastante influência por aqui.

    — …

    — Mas seria melhor abandonar esses rancores mesquinhos antes de deixar este lugar. Lembrem-se disso.

    Ouviu-se um som de escárnio vindo da multidão.

    — Mesmo fazendo um pedido tão gentil, inevitavelmente haverá derramamento de sangue já no primeiro dia… Fazer o quê. No momento em que pisarem fora deste lugar, vocês não serão mais da minha responsabilidade, então façam o que quiserem.

    Cinzia estalou a língua e continuou, jogando a franja para trás.

    — Com isso, declaro o encerramento oficial da Zona Neutra.

    Pela primeira vez, ela esboçou um sorriso suave.

    — Foi um verdadeiro fardo cuidar de vocês. Vamos evitar nos reencontrar.

    Então, se virou e partiu.

    “É só isso?”

    Seol encarou as costas de Cinzia se afastando, antes de observar ao redor. Os outros pareciam ter reações semelhantes.

    — Por que ainda estão aqui?

    Foi então que a voz afiada daquela mulher voltou a perfurar os tímpanos de todos.

    — Por que ainda não saíram? Precisam que a gente segure a mão de vocês também?

    Só então os sobreviventes começaram a se mover, um por um. Caminharam na direção apontada por Cinzia.

    “Então… está mesmo acabando.”

    Seol encarou uma das empregadas que seguia atrás de Cinzia. Talvez tenha percebido seu olhar, Agnes virou-se para ele. Ele acenou com a mão, meio atordoado, e ela respondeu como sempre, com uma reverência digna e silenciosa.

    — Vamos indo…! Partiu!

    Yi Seol-Ah agarrou animadamente o braço de Seol e o puxou.

    “É sério, acabou mesmo?”

    Mesmo sendo arrastado, Seol continuava olhando para trás. Não queria perder nenhum detalhe.

    Desesperadamente, absorvia cada visão da Zona Neutra.

    “Eu corri feito um louco nessa pista, não corri?”

    Ele viu o quadro de missões, agora vazio.

    Também viu as mesas do saguão onde se sentava com os companheiros de equipe para conversar ou discutir estratégias para a próxima missão.

    “Eu também pratiquei o Golpe, Estocada e Corte como um louco.”

    …A academia onde treinava como se não houvesse amanhã sob a orientação de Agnes; as lojas onde passava olhando as vitrines, se perguntando se algo chamaria sua atenção; o restaurante onde sempre comia; e até os próprios aposentos, que haviam sido preenchidos com as risadas e vozes dos irmãos Yi que ficaram com ele…

    As lembranças dos últimos três meses entravam e saíam rapidamente de sua mente.

    O lugar onde desejou por uma mudança, o lugar onde finalmente conseguiu mudar.

    O lugar que permaneceria para sempre em sua memória foi se afastando cada vez mais, até se tornar pequeno o suficiente para caber atrás de um simples punho. E logo, a escuridão do corredor engoliu as luzes da praça e não se pôde ver mais nada.

    — Ah.

    Seol estava prestes a estender a mão, apenas para perceber tardiamente que Yi Seol-Ah ainda segurava seu braço.

    — …Orabeo-nim?

    Yi Seol-Ah inclinou a cabeça. A maioria dos sobreviventes já havia deixado o corredor, e ainda assim o jovem hesitava em partir.

    — Uhm… É, vamos.

    Seol se virou para sair, mas permanecia dividido.

    “Mas… por quê?”

    Ele havia esperado pelo fim da Zona Neutra por tanto tempo, e ainda assim…

    “Por quê…?”

    Faltavam apenas alguns passos, e ele estaria entrando no Paraíso, e mesmo assim…

    “…Por que eu não estou feliz?”

    Só então Seol entendeu o motivo: estava infeliz por ter que deixar a Zona Neutra.

    Antes que pudesse fazer algo quanto a essa realização, a escuridão ao seu redor repentinamente se desfez. A luz do sol ofuscante feriu seus olhos, e uma brisa quente e úmida roçou em sua pele.

    Reflexivamente, Seol estreitou os olhos e ergueu a mão lentamente.

    A primeira coisa que viu foi o céu tingido com uma tonalidade avermelhada suave sob o sol escaldante. E abaixo dele, uma vasta planície desolada envolta no tom marrom-lodoso do nada. A planície se estendia tão longe e tão ampla que Seol, por um momento, pensou que conseguiria ver o fim do mundo, onde o céu e a terra se encontravam.

    “Então, este é…”

    …o Paraíso.

    De fato, agora ele estava em Paraíso Perdido, onde não havia nada até onde os olhos podiam alcançar.

    — Sabia… era uma torre.

    O queixo de Yi Sungjin se recusava a fechar enquanto ele olhava para cima, atrás de si.

    Uma torre branca solitária se erguia naquela paisagem desolada. Seu tamanho colossal fazia qualquer um recuar diante de sua imponência, mas ainda assim era impossível não achá-la bela de certo modo.

    — Que tal tomarmos café agora que demos uma olhada no lugar?

    Hyun Sangmin apareceu de repente entre o trio, enquanto Seol observava atônito o novo ambiente.

    Como Cinzia havia dito, várias mesas de madeira estavam dispostas do lado de fora da torre, com comida servida sobre elas.

    — Consegue ver quem veio buscar você?

    Seol lentamente direcionou o olhar para a multidão. O local estava bem barulhento, como se as pessoas encarregadas de buscar os sobreviventes já estivessem misturadas a eles.

    Seol balançou a cabeça devagar enquanto observava algumas pessoas se empurrando e gritando: ‘¡Amigo!’ Não viu Kim Hannah em lugar algum.

    — Acho que ela ainda não chegou.

    — Eu também. Bem, vamos pra lá. Todo mundo tá reunido naquele lado.

    Na mesa para a qual Hyun Sangmin conduziu o jovem, Shin Sang-Ah e Yun Seora já os esperavam.

    — Aliás. Pra um lugar chamado Paraíso, não tem nada demais, né?

    — Sabe onde a gente tá? Tirando a torre, não tem absolutamente nada por aqui.

    Quando a refeição começou, as pessoas passaram a conversar entre si. Hyun Sangmin reclamou que o cara que o convidou estava atrasado, enquanto Shin Sang-Ah revelou que estava preocupada por ser uma Contratada, mas ainda assim disse estar razoavelmente confiante em suas chances, já que agora era uma Sacerdotisa.

    Seol não comeu nada, apenas ficava girando o copo de madeira com algum tipo de bebida nas mãos.

    A única que observava em silêncio o humor amargo de Seol era Yun Seora, que eventualmente o cutucou suavemente com o dedo.

    — ?

    Seol levou um leve sobressalto e se virou para olhar. Yun Seora apontava com cautela para trás dele. Hao Win, sentado ao lado de seus companheiros de equipe, acenava para ele.

    Seol pediu licença aos outros e se levantou da mesa para ir até lá.

    — Seu acompanhante ainda não chegou?

    — Sim, ela ainda não apareceu. E você, Hao Win?

    — Pedi pra eles não terem pressa. Achei que talvez ficasse um pouco emotivo hoje, por algum motivo.

    Seol se identificou imediatamente com esse sentimento e assentiu com a cabeça.

    — De qualquer forma, tem como fazer alguma coisa com essa mocinha aqui, que tá com a cabeça virada desde que você chegou? Ela tá assim faz um tempão.

    A ‘mocinha’ à qual Hao Win se referia era, naturalmente, Odelette Delphine. Os braços dela permaneciam cruzados sobre o peito e ela nem sequer lançava um olhar para Seol. As bochechas estavam infladas de pura frustração. Qualquer um podia ver facilmente que ela estava completamente furiosa.

    — Senhorita Delphine?

    — Hmpf.

    — Ainda está brava?

    — HMPF!

    Odelette Delphine continuou bufando, o que fez Tong Chai cair na gargalhada.

    — Sinceramente, ainda não consigo acreditar. Você realmente concluiu a missão Impossível com nada mais que um único talismã.

    — Eu mesmo não tinha certeza… Dá pra dizer que eu não tinha plano nenhum, na verdade…

    Seol esfregou a bochecha esquerda instintivamente e estremeceu. Aquilo, fosse lá o que fosse, roçando seu rosto provavelmente só quis assustá-lo.

    Mas e se o inimigo tivesse mirado em seus pontos vitais logo de cara?

    Ele nem estaria de pé naquele lugar agora.

    Não importava quantas vezes repetisse aquela cena na mente, ele sabia que havia estado a um triz da morte naquele momento.

    — Eu quase morri… E nem consigo me lembrar do que estava pensando quando resolvi desafiar aquela missão.

    — Tá vendo, Delphine? Que tal parar de ficar brava agora?

    — Mesmo assim!

    Odelette Delphine girou na cadeira, encarou Seol e bateu as mãos sobre a mesa.

    — Você podia ter me dito alguma coisa!

    — Mas… se eu morresse, então você…

    — Mesmo assssimmm…!!

    Ela saltou da cadeira e…

    — Eu também queria tentar a missão Impossível…!!

    Em seguida, correu até Seol, agarrou os braços dele e se pendurou neles.

    — Eu também queria muuuito conseguir o cupom da loja VIP…!!

    — …

    — Que mesquinharia fazer tudo sozinho… Meu cupom VIP…!

    — …Ahahaha…

    O riso escapou da boca de Seol ao ver aquele choramingo fofo. Ela lhe lembrava uma irmãzinha chorosa reclamando com amargura, e ele simplesmente não conseguiu se conter.

    — Seu bobão, Seoooolllll…

    Ela estava tão adorável enquanto reclamava daquele jeito, que Seol beliscou levemente as bochechas dela e puxou. Ela o encarou com olhos emburrados e um som de ar escapando saiu de sua boca.

    — Buoooo… Uh?

    E então, como se tivesse visto alguma coisa, seus olhos se arregalaram e ela começou a pular no lugar. Agitou os braços e gritou:

    — Aqui!! Eu tô aqui!!

    Saiu correndo com passinhos leves. Seol imaginou que a pessoa que a convidou devia ter chegado. Com um sorriso satisfeito nos lábios, Hao Win desviou o olhar de Odelette Delphine e deu uma gargalhada alta.

    — Ela tem tanta energia, né?

    — Nem fala.

    — E você finalmente sorriu.

    — Hã?

    Seol levou a mão ao rosto com rapidez. Tinha sorrido?

    — É que… achei que seu rosto tava com uma expressão bem deprê já fazia um tempo…

    — …Eu?

    Agora que pensava nisso, a tristeza que sentia ao deixar a Zona Neutra parecia ter diminuído só um pouco. Assim como Hao Win havia sugerido, através da energia e entusiasmo ilimitados de Odelette Delphine, ele agora se sentia um pouquinho melhor.

    — Pois bem, pois bem. Não vou te segurar por muito tempo, então vamos brindar com uma ou duas taças.

    — Vamos sim. Obrigado.

    Seol assentiu com a cabeça.

    Embora tenha feito muitas boas memórias na Zona, não podia permanecer lá para sempre. Se há um começo, naturalmente também há um fim. E agora, era hora de uma nova aventura começar.

    Ao pensar assim, sua mente se sentiu bem mais leve.

    — Muito bem. Então, pessoal, tim-tim…

    Embora Odelette Delphine tivesse partido, Leorda Salvatore, Tong Chai e Hao Win ainda estavam ali.

    E, no exato momento em que os quatro copos estavam prestes a se tocar…

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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