Capítulo 6: O Carimbo Dourado (1/2)
— Condições?
Seol repetiu.
— Quer me ouvir ou não?
— Estou ouvindo.
— Primeiro. Você tem que jurar, aqui e agora, que nunca entrou naquele mundo antes.
— Claro, isso é fácil.
— Segundo. Quero que me conte seu segredo quando eu entregar o Convite. Sobre como já sabia dessas coisas…
— Não posso fazer isso.
Seol recusou imediatamente.
— O que te faz pensar que eu contaria? Não tenho mais nada a dizer sobre isso.
— Mesmo se eu te der um Convite especial?
Convite especial? A frase despertou a curiosidade de Seol, mas ele balançou a cabeça.
— Não. Se eu passar a confiar mais em você no futuro, talvez. Mas não agora.
Como ainda não podia confiar completamente em Kim Hannah, deixou a resposta em aberto.
Kim Hannah inclinou ligeiramente a cabeça para trás. Olhando para o céu noturno, soltou um longo suspiro.
— …A última condição. Depois que você entrar com sucesso naquele mundo, tem que negociar comigo primeiro antes de qualquer outra pessoa, entendeu?
— E se eu falhar?
— A menos que você seja um retardado além da imaginação, isso nunca vai acontecer. Eu te arrasto à força para aquele mundo, se for preciso.
Ao ouvir a declaração fervorosa de Kim Hannah, Seol fez alguns cálculos mentais. Parecia que ela não cederia nesse último ponto. Se ele não concordasse, nem mesmo um Contrato seria possível, muito menos um Convite.
“Parece que esse negócio de Convite é realmente precioso…”
Já que ela usou a palavra ‘negociação’, Seol concluiu que havia desistido da ideia de um contrato de escravidão. Depois de avaliar suas opções, tomou sua decisão.
— Eu aceito.
— …Ótimo.
Kim Hannah guardou o celular. Suspirou mais uma vez antes de enfiar a mão no bolso e começar a remexer. Pelo tremor de sua mão, Seol pôde imaginar o quanto ela estava relutante em usar aquele Convite.
Quando finalmente tirou a mão do bolso, havia quatro carimbos presos entre seus dedos. Um era vermelho, os outros eram bronze, prata e, por fim, dourado.
— Você disse que não vai assinar o Contrato…
Kim Hannah descartou o carimbo vermelho.
— Quanto ao de bronze… Eu posso usá-lo por conta própria, mas ainda é um bem compartilhado. O de prata, nem preciso mencionar.
A maneira como ela falava enquanto coincidentemente balançava o dedo do meio incomodou Seol um pouco, mas ele aguentou. O único carimbo restante era o dourado. Esse era o seu tão falado ‘precioso Convite’.
Com um olhar angustiado, ela apertou o carimbo dourado na mão. Então, avançou contra Seol como se fosse devorá-lo ali mesmo.
— E-Espere!
— O quê? Não terminamos de conversar? Você não queria um Convite?
— Esse carimbo dourado…
— É a minha vida, seu desgraçado!
Com um grito frustrado, Kim Hannah agarrou o braço esquerdo de Seol, que tentava recuar. Então, pressionou o carimbo dourado contra a palma da mão dele como se fosse uma adaga. Imediatamente, uma luz dourada brilhou. Ela subiu e depois se dissipou como uma maré recuando, tornando-se cinza.
Sentindo-se completamente intrigado, Seol abaixou os olhos para sua mão esquerda. No centro da palma, uma pequena marca redonda emitia um brilho dourado avermelhado. Embora tenha desaparecido rapidamente no momento seguinte, ele ficou hipnotizado pelo que viu.
Logo depois, um envelope foi enfiado contra seu peito. Pela embalagem luxuosa, Seol deduziu que se tratava da carta de Convite.
— O Portal se abrirá às 22:30h de hoje. Faltam cerca de duas horas, então resolva seus assuntos pessoais. Quanto a essa carta, não me importa se você a lê ou não.
Segurando a bolsa cheia de dinheiro, Kim Hannah se virou abruptamente para ir embora. Quando deu alguns passos, estremeceu visivelmente e se virou para encará-lo uma última vez.
— Você… É bom que sobreviva. Não me importa o que faça, apenas sobreviva e entre naquele mundo. Entendeu!?
— ?
— Se morrer depois de tudo isso, vamos ver o que acontece! Vou cobrar cada centavo que você me deve, nem que tenha que te caçar até os confins da Terra, entendeu!?
Ela devia estar furiosa, pois sua voz carregava um incrível desejo de matar. Depois desse pequeno surto, desapareceu rapidamente na escuridão.
Seol caiu sentado no chão. Parecia que um furacão tinha acabado de passar. Ele simplesmente seguiu o ritmo da dança enquanto acontecia, mas agora que tinha acabado, sentia-se completamente exausto.
Ele abriu e fechou a mão esquerda algumas vezes antes de voltar sua atenção para a carta de Convite. Dentro do envelope, havia uma única carta dobrada com precisão.
Por alguma razão, ele acabou relembrando seu passado enquanto sentia um certo orgulho de si mesmo. Nunca havia recebido um convite antes, nem em sua vida nem durante aquele sonho, mas agora que tinha um em mãos, sentiu-se um pouco comovido.
Seol abriu a carta com cuidado.
Saudações!
Gostaríamos de agradecer por aceitar nosso Convite para Paraíso Perdido, um mundo estrangeiro conectado ao nosso.
Paraíso Perdido é um mundo para poucos escolhidos.
Um mundo repleto de aventuras emocionantes e riquezas deslumbrantes! Um mundo de ruínas lendárias e vivas, e de competições ferozes!
Esta carta de Convite guiará o honorável convidado até os portões do Éden e o ajudará a escapar da monotonia da vida cotidiana!
*Esta carta de Convite só é emitida para um convidado honorável com a aprovação do carimbo dourado.
*O horário de abertura do Portal será às 22:30h, no dia 16 de março de 2017. Recomendamos que o convidado abra esta carta nesse horário, em um local isolado.
*Esta carta de Convite é necessária para a confirmação da aplicação do Selo e para o recebimento do bônus inicial. Não a perca e certifique-se de levá-la consigo.
*Esta carta de Convite permite que o convidado honorável leve outra pessoa como assistente.
— Ah, droga.
Seol parou de ler palavra por palavra e olhou para o celular. Já passava das oito e se aproximava rapidamente das nove.
“Não tenho muito tempo.”
Ele resmungou levemente antes de sorrir de canto. Kim Hannah disse para ele resolver seus assuntos pessoais, mas ele não tinha muito o que fazer. Sua família o deserdou e ele não tinha amigos próximos. Mesmo que ficasse sem entrar em contato por um ou dois meses, ninguém se importaria.
Na verdade, provavelmente ficariam felizes por não terem que lidar com ele.
De qualquer forma, não havia muito o que fazer com o tempo que restava. Também não recebeu nenhuma instrução sobre preparativos.
Foi então que Seol se lembrou de Yoo Seonhwa.
— …
Ele enfiou a carta de Convite no bolso e se levantou. De repente, sentiu que o tempo estava contra ele.
Seol foi direto para uma sauna. Esfregou-se completamente e cortou o cabelo no barbeiro dentro da sauna. Assim, uma hora se passou voando.
Antes que pudesse aproveitar a sensação de frescor que não sentia há dias, correu para seu apartamento rápido o suficiente para rivalizar com um super-herói. Vestiu a roupa mais limpa que conseguiu encontrar, parou em um caixa eletrônico para sacar 2 milhões de won, pegou um táxi e seguiu para Nonhyeon-dong.
No caminho, sua mente estava inquieta.
“Eu preciso mesmo ir? Ela provavelmente não quer nunca mais me ver. Ela mesma disse isso!”
“Talvez seja melhor simplesmente transferir o dinheiro pelo banco.”
No entanto, Seol logo percebeu que ir pessoalmente seria apenas uma forma de satisfazer a si mesmo. Ele sabia o quanto havia machucado Yoo Seonhwa com suas palavras. Queria se desculpar, mesmo que isso significasse levar um tapa bem merecido.
Seu coração batia mais forte e rápido à medida que se aproximava da casa de Yoo Seonhwa. Ao chegar à porta da frente, Seol respirou fundo e tocou a campainha. Mas, por mais que esperasse, ninguém atendeu.
Tok, tok.
Ele bateu na porta várias vezes, mas o silêncio persistiu. Seol conferiu o horário e percebeu que restavam menos de dez minutos.
“Ela ainda está no trabalho?”
Mexeu no celular e então sentou-se na escada que levava ao corredor.
“Será que estou fazendo a coisa certa?”
Agora que havia chegado tão longe, não podia mais chamar aquele sonho de fantasia. Afinal, tudo o que viu e experimentou no sonho estava se tornando realidade.
Apesar de ter falado com tanta confiança para Kim Hannah, ainda estava preocupado com tudo isso. Claro, o leite já havia sido derramado e os dados lançados. Não tinha escolha a não ser enfrentar os desafios que viriam.
Seol decidiu pensar de forma otimista. Se teve coragem suficiente para considerar se afogar, certamente poderia usar essa mesma coragem para alcançar coisas maiores.
Assim que firmou sua determinação, o relógio marcou 22:30h. Seol olhou ao redor, mas não viu ninguém.
Ding!
Quase no exato momento, ele ouviu um som vindo do elevador. Viu uma luz triangular verde indicando ‘1’. Alguém estava subindo.
Antes que perdesse a chance, Seol apressadamente puxou o saco de papel contendo os 2 milhões de won. Então, ajoelhou-se e enfiou a sacola pela abertura da caixa de correio da porta.
Assim que terminou, uma luz circular apareceu acima dele. A misteriosa luz o envolveu antes de desaparecer sem deixar rastros. Isso aconteceu num piscar de olhos.
Pouco depois, a porta do elevador se abriu, e uma única mulher saiu. Com uma expressão de exaustão e abatimento, Yoo Seonhwa destrancou a porta e entrou em casa.
Ela deu um passo cansado para frente, apenas para chutar suavemente algo.
— Hm?
Seus olhos se arregalaram ao notar uma sacola de papel pesada a seus pés. Após verificar o conteúdo, virou-se rapidamente, atônita.
No entanto, tudo o que encontrou foi a solidão da escuridão se assentando silenciosamente no corredor vazio do apartamento.
Seol sentiu frio, talvez por causa do ar gelado que fazia cócegas em seus dedos dos pés. Instintivamente, estendeu a mão para procurar seu cobertor, mas tudo o que seus dedos errantes encontraram foi um travesseiro.
Ele o abraçou com força, mas o frio permaneceu. E agora que seu cérebro havia despertado, não queria voltar a dormir. Deixou isso bem claro com uma pequena, mas insistente, dor de cabeça.
No fim, Seol abriu os olhos.
Sentindo-se meio grogue, olhou ao redor. Não importava quantas vezes verificasse, aquele ainda era seu pequeno apartamento alugado.
Alarmado, olhou apressadamente para a palma de sua mão esquerda. Estava limpa. Estudou-a cuidadosamente, mas não havia nenhum sinal de um Selo.
— Ha. Hahaha…
Uma risada amarga escapou de seus lábios.
— Foi tudo um sonho?
Ele riu roucamente para si mesmo antes de se jogar no chão.
— Claro, faz sentido. Por que alguém como eu teria a chance de…? Droga! Isso é alguma piada comigo…?
Como um homem que havia perdido a razão, ficou encarando o teto por um longo tempo antes de ligar a televisão.
— …Mais cedo, a temperatura havia caído abaixo de zero, mas, no momento, a temperatura em Seul está em torno de 2,4 graus Celsius. Está mais alta do que no mesmo horário de ontem…
A tela escura gradualmente piscou para a vida, e a voz clara de uma apresentadora do tempo entrou em seus ouvidos. Mas, em vez de assistir à TV, Seol pegou um maço de cigarros e o sacudiu levemente. Puxou um dos dois cigarros restantes e o colocou entre os lábios. Em seguida, mudou de canal.
— A Farmacêutica Sinyoung anunciou que desenvolveu um novo medicamento…
O olhar de Seol seguiu a fumaça cinza e se fixou na tela da TV.
Nos últimos dias, os noticiários estavam destacando novos medicamentos entrando no mercado como manchetes principais. Como o ‘sonho’ de Seol havia sido tão vívido, ele acabou prestando atenção à notícia.
— Localizada na cidade de Seul, a Farmacêutica Sinyoung é uma empresa de pesquisa médica fundada há quatro anos com o propósito de desenvolver novos medicamentos. Suas expectativas aumentam à medida que continuam a apresentar resultados concretos…
A imagem na tela mudou, e um homem vestindo um jaleco branco desarrumado apareceu.
— …Possui características antioxidantes que suprimem a origem da inflamação, além de aumentar o nível de testosterona no sangue…
Talvez por causa da fumaça do cigarro, a tontura de Seol parecia se intensificar. Ele rastejou até a janela mais próxima, estendeu a mão e a abriu completamente. Assim que o vento frio atingiu seu rosto, sentiu-se um pouco melhor.
Se apoiou contra a parede antes de deslizar para um agachamento, num silêncio atordoado. Ele ficou encarando a TV, que despejava informações irrelevantes e indecifráveis, e, quase por hábito, enfiou a mão no bolso.
— !!!
Ele estremeceu. Sua mão parou. Sentiu como se cada célula de sua mão esquerda tivesse despertado de repente. Lentamente, bem devagar… puxou o objeto preso entre os dedos. Um envelope de papel familiar revelou-se.
Era a carta de Convite.
Seol ergueu a cabeça abruptamente no instante em que seu celular começou a vibrar.
【A mensagem do Guia chegou.】
【Recomendamos que todos os Convidados e Contratados confirmem a mensagem imediatamente.】
Seol instintivamente se levantou após ouvir esse anúncio robótico ecoando em seus ouvidos. Quando olhou apressadamente para fora da janela, sua mandíbula caiu.
— O que diabos…?
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