Índice de Capítulo

    — Depositei um dinheiro na sua conta bancária.

    Foi o que Kim Hannah disse a Seol Jihu assim que chegaram perto do portal de transferência.

    Ele estava observando, meio hipnotizado, o enorme portal ovalado, e foi pego de surpresa. Seus olhos se arregalaram.

    — Dinheiro? Mas eu nem…

    — Não é o valor do contrato. Você só vai receber isso depois de assinar.

    Kim Hannah o interrompeu antes que ele pudesse continuar.

    — Considere como um pequeno presente meu, um agradecimento. Agora vou poder me mover com mais facilidade, tudo graças a você.

    — Hm, certo… Mas, tem certeza que eu posso aceitar esse dinheiro?

    — Claro. É uma recompensa mais do que merecida, então não se preocupe e gaste como quiser.

    — Uhm, obrigado.

    — Como assim ‘obrigado’? Eu é que devia te agradecer. Enfim, confere quando chegar do outro lado, tá? Peguei só uma parte do meu salário, então não espere nada demais. De qualquer forma, você tem coisas mais urgentes para resolver primeiro, certo?

    E ela estava certa. Além das dívidas financeiras, ele também tinha outras dívidas para acertar.

    — Valeu mesmo, de verdade.

    — Certo. Você pode gastar como quiser, mas primeiro apague os incêndios mais urgentes, entendeu? Nada de gastar com besteiras. Garantir que não haja problemas na Terra é um dos princípios básicos que os Terrestres devem seguir.

    Seol Jihu parou diante do portal. A substância azul que ondulava suavemente à sua frente emitia uma luz forte e hipnotizante.

    — Deve ser meados de abril quando você voltar. Vou passar mais um dia aqui antes de retornar à Terra. Te ligo em… umas oito horas no tempo terrestre.

    Seol Jihu estava totalmente focado no portal à sua frente e apenas assentiu levemente, demonstrando que ouviu, antes de dar um passo cauteloso à frente. Quase imediatamente, o dorso de sua mão esquerda começou a brilhar, e então uma luz ainda mais intensa, forte o suficiente para cegar qualquer um, o envolveu por completo.

    Conforme o jovem era tomado pela luz, Kim Hannah gritou, acenando com a mão:

    — Você vai atender meu telefonema, ouviu?! Se não atender, vou marchar até sua casa! Seol Jihu!

    Enquanto a sensação de ser sugado o dominava, Seol Jihu fechou os olhos.


    Quando abriu os olhos, viu o cenário familiar de seu quarto alugado.

    Ele estava preocupado se conseguiria mesmo voltar para casa e se não acabaria indo parar num lugar estranho, mas no fim, tudo deu certo. Seol Jihu não sabia quem era aquele homem, mas com certeza ele calculou as coordenadas com precisão.

    Seu alívio, no entanto, durou pouco. Seol Jihu franziu o cenho e tapou o nariz — um fedor horrível o atingiu em cheio. Ao varrer o ambiente com os olhos, não conseguiu conter um suspiro de choque. O lugar estava um verdadeiro caos.

    Abriu as janelas para deixar o ar fresco entrar. Inspirou profundamente e ficou ali, em silêncio, observando a rua. Viu estudantes universitários conversando e rindo enquanto passavam, um táxi descendo lentamente a ladeira…

    “Voltei.”

    Dava para perceber, mais ou menos, que estava realmente de volta à Terra.

    “Que horas são?”

    Seol Jihu instintivamente procurou os bolsos, apenas para perceber que seu celular não estava com ele.

    — …Ah.

    Lembrou-se de que o celular era um dos itens proibidos de entrar no Paraíso. O que significava que ele provavelmente ficou na frente da casa de Yoo Seonhwa, há um mês. Provavelmente o cartão do banco também ficou por lá.

    Querendo ver as horas, Seol Jihu não teve escolha senão ligar seu velho laptop. Estava coberto de poeira, mas, felizmente, ligou sem problemas.

    17 de abril, segunda-feira

    09:14:07 AM

    “Fui convocado em 16 de março…”

    Parece que a diferença de tempo entre a Terra e o Paraíso, cerca de 1 para 3, estava mesmo correta. Agora que tinha confirmado a data, Seol caiu em um leve dilema.

    “O que eu faço agora?”

    Não era como se não tivesse o que fazer, na verdade, ele tinha coisas demais para resolver.

    Havia uma razão para Kim Hannah tê-lo mandado de volta à Terra. Ela exigiu que ele garantisse que, dali em diante, acessar o Paraíso a partir da Terra não causaria nenhum problema. Se fosse dado como desaparecido, acabaria criando dores de cabeça para muita gente.

    Nesse aspecto, podia-se dizer que Seol Jihu já tinha certa liberdade de movimentação. A menos que ele mesmo os procurasse, nem sua família nem Yoo Seonhwa o contatariam por conta própria. Eles não ligavam para ele há anos, afinal. Mesmo seus amigos próximos haviam deixado de falar com ele fazia muito tempo.

    “…Espera, isso não é algo para se orgulhar, né.”

    Ele precisava corrigir, um a um, todos os erros que cometeu. E, para isso, precisava de dinheiro. Agora entendia por que Kim Hannah o deixou com algum.

    “Certo, primeiro…”

    Seol Jihu se conectou à internet via Wi-Fi. Acessou sua conta bancária online e, ao ver o saldo, soltou um grito de surpresa.

    — O quê?! 150 milhões de won1?!

    Era uma quantia com sete dígitos. Ele estava esperando, no máximo, uns poucos milhares, então esse valor o deixou completamente pasmo.

    — Mas que droga… Aquela mulher disse que era do salário dela, então como é que…

    Como não sabia quanto Kim Hannah ganhava por mês, ou quanto ela possuía no total, talvez não fosse tão estranho reagir daquele jeito.

    Seol Jihu continuou olhando para o monitor do laptop e, pouco depois, viu no extrato uma transferência de ₩2 milhões feita por Yoo Seonhwa. Aquilo o trouxe de volta à realidade na hora.

    Ele havia devolvido esse dinheiro em espécie, mas tinha ‘emprestado’ muito mais do que isso dela. Ao revisar o histórico de transações dos últimos três ou quatro anos, uma risada amarga escapou de seus lábios.

    “Tenho que pagar ela primeiro.”

    Levou um bom tempo para calcular cada centavo que devia, mas ele insistiu e continuou.

    “Pai pagou uns ₩28 milhões2… Mãe, ₩16 milhões3… Hyung me emprestou 2,2 milhões4… Jinhee, 600 mil5… Ah, é mesmo. Também roubei o notebook e o carro dela.”

    Ele já havia vendido o notebook num camelô, e deixou o carro penhorado numa loja perto do cassino. À medida que os detalhes de seus erros passados vinham à tona, sua culpa crescia de forma incontrolável. Provavelmente acabaria pagando mais do que devia, mas não queria pedir nada de volta.

    Concluiu o cálculo do valor que pegou de Yoo Seonhwa e levou um susto daqueles.

    “E-eu peguei tudo isso dela?”

    Mesmo um cálculo casual indicava algo em torno de 46 milhões6. Ele não fazia ideia enquanto dava pequenas mordidas aqui e ali, mas agora que havia somado tudo, a quantia não era algo com que se pudesse brincar.

    “Onde ela sequer conseguiu tanto dinheiro pra começo de conversa…”

    Seol Jihu suspirou. De repente, os ₩150 milhões pareceram bem insuficientes. Claro, ele não ia se conter agora. Afinal, só resolvendo todos os seus deslizes financeiros anteriores conseguiria seguir em frente e dar o primeiro passo em sua nova vida.

    “De qualquer forma, eu nem tenho um celular ou meu cartão do banco…”

    Se houvesse um lado positivo, era o fato de ele estar apenas com o celular e o único cartão bancário que usava com frequência naquele dia. Conseguiu encontrar sua carteira quase esquecida num canto do quarto, calçou os sapatos e saiu.

    A primeira parada foi no banco. Imediatamente, solicitou um novo cartão para substituir o perdido e pagou integralmente os ₩30 milhões que havia pegado emprestado com agiotas. Depois, sacou os ₩120 milhões restantes em dinheiro vivo. Recebeu 24 maços de cédulas de ₩50 mil, cada um contendo 100 notas.

    Pegou um táxi assim que saiu do banco.

    Apagara o incêndio mais urgente primeiro.

    E seus bolsos estavam cheios.

    Seu próximo destino?

    Obviamente, o cassino.

    1. Aproximadamente 575 mil reais[]
    2. 100 mil reais[]
    3. 60 mil reais[]
    4. 8,5 mil reais[]
    5. 2,5 mil reais[]
    6. 175 mil reais[]
    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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