Capítulo 63: Leite Derramado (3/4)

Seol Jihu continuava vagando sem rumo por uma certa rua.

Não era como se ele não soubesse o que fazer. Ele só estava… hesitante. A hesitação o dominava e impedia de dar aquele último passo.

Por um tempo, caminhou pela mesma rua repetidas vezes. Eventualmente, seus passos foram diminuindo cautelosamente, como se estivesse parado sobre gelo escorregadio. Parado ali, olhou para dentro de uma certa cafeteria pela janela da frente.

Seu olhar atravessou as mesas e cadeiras, indo além do balcão, até alcançar uma jovem que preparava café atrás do balcão.

Era Yoo Seonhwa.

…Ela era realmente linda.

Seus olhos límpidos pareciam demonstrar o quão honesta ela era; a luz que brilhava neles era calma e, ao mesmo tempo, apaixonada; suas mãos delicadas lidavam com a água quente com cuidado; e aquele brilho suave e caloroso que surgia sempre que ela sorria…

Aquele cara estava se declarando para ela? Um homem que havia acabado de receber uma caneca de café dela hesitou antes de estender seu celular. Os olhos de Yoo Seonhwa se arregalaram um pouco, mas ainda assim, ela conseguiu negar com um leve balançar de cabeça, fazendo com que o cabelo preso gentilmente roçasse seu pescoço.

O homem ainda tentou oferecer o celular, mas só depois que ela se curvou em reverência foi que ele, desapontado, recuou a mão. Mesmo parecendo um pouco incomodada, Yoo Seonhwa não perdeu o encantador sorriso em momento algum.

A porta da cafeteria soou com um tilintar, e o homem rejeitado foi embora.

Ao ver as costas daquele homem se afastando, Seol Jihu sentiu uma estranha sensação de déjà vu.

Respirou fundo algumas vezes e estendeu a mão para a maçaneta da porta, apenas para congelar no lugar novamente.

Se apenas avançasse a mão um pouco mais, teria alcançado a porta. No entanto, a distância entre ele e a entrada da cafeteria de repente pareceu enorme e impossível de ser superada, como se algo o agarrasse com força.

— …

No fim, ele recuou a mão e a levou ao peito. Foi quando sentiu.

Seu coração acelerado.

E seu medo.

As mesas costumavam estar cheias logo após o almoço. Mas, depois das quatro da tarde, a cafeteria geralmente ficava mais vazia.

Depois que um homem que estava ocupando uma determinada mesa por um bom tempo finalmente foi embora, uma garçonete terminou de limpar a mesa, voltou para o balcão e começou a conversar com suas colegas.

— Corpo, seis pontos.

Então, outra garçonete, que estava ocupada limpando uma das prateleiras, começou a rir alto.

— Uau, que generosa. Rosto, três pontos.

— Estilo, cinco pontos.

Por fim, uma terceira garçonete, que estava organizando os displays de pedidos, entrou na conversa como se estivesse esperando por isso. Ela então estalou a língua.

— Um total de 14 pontos. Que pena, mas rejeitado!

— Garotas?!

Yoo Seonhwa parou de operar o terminal de vendas e se virou para encarar as garçonetes. Elas interromperam a conversa e começaram a rir sem parar.

Vendo isso, Yoo Seonhwa balançou a cabeça lentamente.

— Isso é mesmo tão divertido assim?

— Eii, para de ser tão modesta, Unni. Todo mundo sabe que você adora isso em segredo.

— Do que vocês estão falando? Adorar o quê? Só acho meio incômodo, só isso. Se vocês continuarem…

— Isso é só porque você é uma muralha de pedra. Mas falando sério, Gerente Yoo, esse não foi o segundo que se declarou hoje?

— Foram dez na semana passada… Nesse ritmo, vamos bater um novo recorde!

Vendo as três garçonetes conversando animadamente entre si, Yoo Seonhwa apenas suspirou suavemente.

A verdade era que ela era abençoada com uma beleza impressionante, e por isso, muitos homens se aproximavam dela durante o dia para convidá-la para sair.

Além disso, não havia homem que simplesmente passasse reto sem se interessar, depois de ouvir sua voz reconfortante e ver a maneira graciosa com que ela se comportava.

Esses eventos aconteciam todos os dias, então as três garçonetes que trabalhavam ali meio período começaram a dar notas para os pretendentes que tentavam conquistá-la.

Uma ficava encarregada do corpo, outra do rosto e a última do senso de moda. Elas começaram a fazer avaliações sem permissão alguma; inclusive decidiram arbitrariamente que a pontuação máxima combinada era 30.

Claro, Yoo Seonhwa já tinha pedido que parassem com isso e se comportassem, mas numa reviravolta lógica absurda, as garotas passaram a argumentar que qualquer homem que quisesse sair com sua respeitada gerente precisava ter pelo menos 24 pontos.

Para constar, dentre centenas de homens que tentaram a sorte, a maiar pontuação até então havia sido 25. Por mais que tivesse começado como uma brincadeira, as três levavam a avaliação bem a sério.

De todo modo, Yoo Seonhwa queria que esse painel de juradas fosse desfeito imediatamente. Afinal, por mais cuidadosas que fossem, mais cedo ou mais tarde acabariam cometendo um deslize, e algum cliente ouviria… o que, naturalmente, resultaria numa dor de cabeça.

— Ohh! Temos nosso terceiro candidato do dia!

— Onde, onde?

— Bem ali fora. Olha só, ele tá parado lá faz mais de uma hora, todo hesitante.

— É mesmo. Vamos dar uma olhada mais de perto?

Elas só fingiam ouvir a gerente, nunca davam ouvidos de verdade.

Vendo as três se juntarem e começarem a cochichar, Yoo Seonhwa decidiu simplesmente ignorá-las. O dono da cafeteria costumava chamá-las de ‘as três patetas sem solução’ e, naquele momento, ela meio que entendia o motivo.

Enquanto isso, uma das garotas, com uma expressão arrogante, analisava o jovem do lado de fora, até que de repente arregalou os olhos e piscou várias vezes, surpresa.

O rapaz lá fora era alto. Seu peito e bíceps eram firmes. Tinha o tipo de corpo que essa garçonete preferia, músculos rígidos, porém ágeis e elegantes, sem parecer um fisiculturista. Seus lábios se abriram num sorriso bobo.

— Ai… ai. Aquele quadril e aquela cintura são um sonho! Corpo, dez pontos!

Ela então virou a cabeça para outra garota, que esfregava o queixo como um velho rabugento. Essa em específico tinha um padrão altíssimo e, até então, nunca tinha dado sequer um nove, muito menos um dez. Não era à toa que era responsável por julgar o rosto.

— …Hmm, ele é bonitinho. Oito pontos.

— Eu sabia que você ia fazer isso!

— Sabia o quê?

— Sabia que você gosta de caras com traços mais suaves e delicados.

— Como assim? Olha só, o rosto dele é bem másculo, não acha?

Ela assentiu com a cabeça e sorriu, satisfeita.

— Bom, se continuar assim, pode ser o maior pontuador de todos os tempos. E quanto ao estilo?

— …Dez pontos… Não, nove. Os sapatos tão um pouco fora do conjunto.

— Ohh? Até entendo ela, mas você?

— Sabe aquela blusa que ele tá usando? Aquilo ali sozinho deve custar algumas centenas de milhares de won.

— Hiik.

As garotas arregalaram os olhos, surpresas, antes que uma delas inclinasse a cabeça.

— Peraí, você não dizia que odiava marcas famosas?

— Não, tudo depende de como você usa, tá? Uma coisa é comprar as coisas mais caras só pra se exibir, outra é escolher tudo com cuidado e combinar do jeito certo, como ele fez.

— S-Sério? Eu não saberia dizer.

— No caso dele, acho que ou foi um coordenador profissional que vestiu ele, ou ele realmente entende de moda. Mesmo parecendo simples por fora, ele não engana meus olhos. O estilo dele é matador.

Uma avaliação que beirava elogios efusivos foi feita.

— Vamos ver. Dez pontos, oito e nove…

— Vinte e sete pontos! A história foi reescrita!

As garotas bateram palmas, e uma delas girou sobre os calcanhares para olhar para Yoo Seonhwa, que continuava concentrada no trabalho, ignorando se estavam fazendo uma festa ou não.

— Unni! Gerente! Vinte e sete pontos! Finalmente, temos um cara capaz de derrubar sua muralha inabalável!

— …Garotas.

A voz de Yoo Seonhwa se tornou pesada. Havia um limite para ela se manter em silêncio e ignorar tudo. Finalmente, decidiu que hoje daria uma lição inesquecível nelas.

— Eu já disse pra pararem com isso, não disse? Como acham que ele se sentiria se ouvisse vocês e essa…

Suas palavras se embaralharam, e o tom subiu no momento em que seus olhos se voltaram para fora da loja. Yoo Seonhwa congelou no meio da frase.

Mas, era de se esperar. As garotas falavam de um homem capaz de derrubar sua muralha… mas aquele alguém já havia feito isso uma vez.

— …Eu… Esperem. Já volto.

Yoo Seonhwa tirou o boné, pegou a bolsa e saiu apressada de trás do balcão.