Índice de Capítulo

    Seol Jihu analisou cuidadosamente o contrato da Gula. Nenhuma palavra havia sido alterada desde a primeira vez que o leu. Claro, considerando a personalidade que Kim Hannah demonstrara até agora, ela não era o tipo que tentaria passar a perna assim.

    Depois de revisar o contrato, Seol Jihu assinou na linha pontilhada. Ao devolver o documento para ela, falou:

    — Agora que assinei o contrato, quero te perguntar uma coisa.

    — ?

    — Você não trabalha pra Sinyoung?

    — Sim, trabalho.

    — Então por que disse aquelas coisas naquela vez? Não seria mais vantajoso pra você se eu acabasse assinando com eles?

    Kim Hannah dobrou o contrato com cuidado e profissionalismo, guardando-o dentro do paletó antes de arquear uma sobrancelha.

    — Tava até me perguntando por que você ainda não tinha feito essa pergunta. Mas, não era melhor ter perguntado isso antes de assinar o contrato? E se mudar de ideia depois do que eu disser?

    — Você ia falar de um jeito que me fizesse não mudar de ideia de qualquer forma. Bom, eu só queria ouvir palavras honestas, sem me preocupar com possíveis distorções.

    — …Você até que fica mais esperto quando se trata dessas coisas, hein.

    Kim Hannah lançou-lhe um olhar firme e retirou os óculos. Também pousou a colher e começou a bater levemente o dedo indicador na mesa.

    — Tá bom. É uma longa história, mas já que quer ouvir, eu conto. Você sabe qual é a situação atual da Sinyoung?

    Seol Jihu estava prestes a perguntar ‘Eles não são a maior organização do Paraíso?’, mas se conteve. Pelo tom da pergunta dela, parecia que havia algo sério por trás.

    — Eles estão encurralados, sem conseguir sair do lugar.

    Kim Hannah apoiou o queixo na mão e encarou a rua do lado de fora do restaurante, com os olhos semicerrados. O reflexo de seu rosto no vidro parecia amargo.

    — A situação deles tá bem complicada agora. A Sinyoung perdeu sua força de combate mais poderosa, e também está perdendo sua justificativa de existir. Não é como se a fundação tivesse enfraquecido a ponto de desmoronar, mas, ao mesmo tempo, não dá pra negar que estão consideravelmente mais fracos que antes. Tô curiosa, você já leu Romance dos Três Reinos?

    Ela surgiu com isso do nada, mas Seol ainda assim assentiu.

    — Cao Cao conseguiu ‘garantir’, o jovem imperador e, assim, criou a base sólida pra controlar o império, certo? A Sinyoung fez algo parecido. Um ano atrás… não, espera. Três anos atrás, pelo fluxo de tempo de lá… aconteceu a primeira rebelião dentro da aliança humana.

    Kim Hannah baixou a voz e prosseguiu.

    — Especificamente, um certo reino queria que os Terrestres fossem mais proativos, então se aliou a outros reinos com ideias parecidas e tentou um método mais agressivo do que o habitual. Como resultado, várias organizações se rebelaram abertamente contra essas exigências absurdas. Uma região inteira se levantou pra resistir, então dá pra imaginar o tamanho da rebelião.

    — Uma região? Qual?

    — O Sul… o movimento de resistência se formou ao redor do Sul, como centro. E, no fim, a guerra estourou. Esses caras foram derrotados… num piscar de olhos, e… empurrados ao limite… Ah.

    No meio do discurso, Kim Hannah soltou um ‘Ah!’. Tinha se esquecido do pacto de não revelar os segredos do Paraíso e acabou fazendo exatamente isso.

    Seol Jihu acenou com as mãos rapidamente para mostrar que não havia problema.

    — Todos os Terrestres participaram da rebelião?

    — Não. Alguns participaram, mas houve os que apoiaram as famílias reais. No entanto, a maioria permaneceu neutra.

    Kim Hannah então colocou a mão sobre o peito.

    — Foi bem nessa época. A Sinyoung estava neutra até então, mas declarou apoio à realeza e entrou no conflito.

    Ela ergueu dois dedos.

    — A Sinyoung teve dois motivos pra intervir. O primeiro foi, claro, lucro. E o segundo, a confiança de que venceriam.

    Como se sentisse sede, Kim Hannah tomou grandes goles de água gelada.

    — Phew… Claro que, mesmo a Sinyoung, não tinha poder militar suficiente pra suprimir uma rebelião daquele tamanho sozinha. Mas, embora fossem poucos, havia Terrestres do lado da realeza, então eles se juntaram. A Sinyoung também persuadiu seus aliados a participarem. E, a partir desses eventos, começaram a convencer outras organizações neutras a entrarem também. E o mais importante…

    Para mostrar a importância do que estava prestes a dizer, sua expressão ficou visivelmente séria.

    — Eles soltaram um único Ranker Único no campo de batalha.

    Para ser reconhecido como Ranker Único no Paraíso, era preciso estar no nível 7 ou acima. Nem todos conseguiam alcançar esse nível, e só havia um punhado de indivíduos assim em todo o Paraíso.

    — O nome dele é Sung Shihyun.

    “Sung Shihyun…”, Seol Jihu repetiu o nome mentalmente. Já tinha ouvido falar antes. E, pelo jeito como Kim Hannah cruzou os braços contra o peito, parecia que não ficava nem um pouco satisfeita ao falar sobre ele.

    — A Sinyoung se empolgou com o poder de combate do Sung Shihyun, e graças a ele, conseguiram uma vitória esmagadora contra os rebeldes. As famílias reais queriam aproveitar o embalo e até destruir a base da rebelião, mas a Sinyoung não quis isso. Em vez disso, apresentaram um pretexto bonito, dizendo que a luta contínua entre humanos só enfraqueceria a influência da humanidade no planeta. Então, iniciaram negociações de cessar-fogo.

    Não importa quão bonito seja um pretexto, ele ainda será um pretexto. Isso significava que a Sinyoung já havia começado suas maquinações no cenário político do Paraíso bem antes das negociações começarem.

    — No fim, as famílias reais prometeram permitir total liberdade à região Sul, sob a condição de que todos os rebeldes remanescentes fossem relocados pra lá.

    — Mm… Isso não é praticamente o que os rebeldes queriam desde o começo?

    — Se olhar só o resultado, sim. Mas também pode dizer que foram exilados. Aposto que já ouviu falar que o Sul vive em constante guerra, né?

    Seol Jihu já tinha ouvido uma versão resumida disso, de que atualmente quatro espécies diferentes habitavam o Paraíso, e que os humanos eram os mais fracos entre elas.

    — O Sul é praticamente a linha de frente da guerra. Em outras palavras, é a área mais perigosa.

    — Ah.

    Seol Jihu deixou escapar um suspiro de surpresa. Agora entendia quem tinha saído mais beneficiado da rebelião, só com essas duas frases que ela disse.

    — Isso mesmo. Foi como se a Sinyoung tivesse mandado todas as forças rivais pro Sul pra servirem de escudo de carne. E, graças a isso, puderam aumentar sua influência política na Capital sem nenhuma preocupação. E ainda tinham a família real no bolso, então… do que mais precisavam ter medo, né?

    Kim Hannah disse a última frase com uma leve pitada de desprezo antes de se recostar lentamente na cadeira.

    — Mas nenhuma flor floresce pra sempre… Nem tudo foi um mar de rosas pra eles. Cerca de dois anos atrás, no tempo de lá, surgiu um novo problema. Um que ninguém esperava.

    — Problema, é?

    — Sung Shihyun.

    Lá estava aquele nome de novo.

    — Bom… mesmo eu não sei ao certo por que ele fez o que fez. Alguns dizem que ele teve um desentendimento com a administração da Sinyoung, outros dizem que a família real agiu por preocupação com o crescimento da influência da Sinyoung. Ou talvez… tenha sido a própria ganância do Sung Shihyun que falou mais alto…

    — Que tipo de pessoa é esse Sung Shihyun, afinal?

    — Não posso falar sobre a identidade dele aqui. Mas saiba disso: ele não é uma boa pessoa. As habilidades dele são realmente incríveis, mas me lembro dele como alguém extremamente arrogante, que sempre fazia o que bem entendia. O importante é que ele insistiu em liderar uma expedição militar contra a vontade de todo mundo, falhou miseravelmente e desapareceu desde então.

    — Morreu?

    — Esse é o problema… ninguém sabe. Só porque ele ‘morreu’, lá, não quer dizer que morreu aqui também. Mas ele sumiu completamente, tanto de lá quanto daqui.

    Seol Jihu concordou que tudo aquilo parecia bastante esquisito e abriu a boca para falar.

    — Imagino que, com o desaparecimento do Sung Shihyun, a Sinyoung tenha sofrido bastante, né?

    — Com certeza. Aquele cara era o que chamamos de Irregular.

    Kim Hannah assentiu.

    — Não importa qual organização seja, há um limite de quantas pessoas você consegue mobilizar de uma vez pra solicitações individuais ou missões. O motivo da Sinyoung ter crescido de forma tão explosiva foi o apoio total da família real. Claro que, em troca, a Sinyoung tinha que obedecer às exigências deles. E quem cumpria as missões quase impossíveis ou tarefas complicadas era o Sung Shihyun.

    Mas, com o desaparecimento de Sung Shihyun, ficou mais difícil lidar com as demandas da realeza. Assim, a base sobre a qual a Sinyoung se apoiava pra crescer em influência e riqueza começou a tremer.

    Compreendendo isso, os olhos de Seol Jihu se estreitaram.

    — Acho que consigo entender a motivação dos rebeldes. Quão absurdas deviam ser as exigências da realeza? Eu entendo o lado deles, mas… não deveriam esperar pra ver a situação antes de sair pedindo as coisas?

    — Pois é… Seria o certo a se fazer, mas…

    Por algum motivo, Kim Hannah deixou a frase no ar. Como se estivesse tentando evitar dizer algo diretamente.

    — De qualquer forma, é aqui que essa história termina. Na verdade, isso nem é algo que você devia saber neste momento. Mas… eu devia responder àquela pergunta que você me fez antes.

    Kim Hannah pigarreou e olhou diretamente para Seol Jihu.

    — Depois que o poder de combate chamado Sung Shihyun desapareceu, a Sinyoung ficou extremamente atarefada. Eles têm interesses demais pra gerenciar e ainda precisam ficar de olho na família real. Eu mesma deveria estar lidando com oito tarefas diferentes agora.

    — Oito?

    Seol Jihu só conseguiu soltar uma risada vazia. Chegou a se perguntar se era certo ela estar ali naquele momento.

    — E então, no meio dessa loucura, surgiu um novo Irregular. Obviamente, estou falando de você. Os caminhos que trilhou, as coisas que fez e conquistou… são incrivelmente parecidos com os do Sung Shihyun. Bom, se você fosse a Sinyoung, como reagiria?

    — Provavelmente tentaria me recrutar.

    — Óbvio. Mas, depois de terem perdido o Sung Shihyun, dessa vez iriam se preparar. Você sentiu isso também quando olhou o contrato deles, né? Todas aquelas cláusulas prometendo te apoiar… eram armadilhas que te prenderiam de vez. Sim, te ajudariam a ficar mais forte, mas também te transformariam num fantoche que só se move segundo a vontade da Sinyoung.

    Ele já esperava algo assim, mas ouvir diretamente dela dava outra sensação. Era como se seu corpo estremecesse por dentro.

    “Mas… por que eu?”

    — Pra ser sincera, você é uma presa suculenta à espera de ser devorada.

    Seol Jihu encarou Kim Hannah em silêncio, com o olhar perdido.

    Agora ele entendia por que não devia se aliar à Sinyoung, mas o fato de ela estar ajudando-o era outra história. No fim das contas, Kim Hannah ainda trabalhava para a Sinyoung, afinal.

    — E, por fim, o motivo de eu estar te ajudando assim.

    Ela entrelaçou os dedos.

    — Bom, pode me criticar por ser interesseira, se quiser. Aquele selo dourado era propriedade particular minha. E além disso… eu não queria que te roubassem de mim.

    — Roubar?

    — Mn. Se eu te forçasse a entrar na Sinyoung, claro, eles iam me elogiar por isso. Iam até me promover como recompensa. Mas… só isso, entende? No momento em que você entrasse na empresa, os figurões lá de cima fariam de tudo pra te possuir. E como eu não tenho poder nenhum, acabaria perdendo você.

    Kim Hannah então levantou as duas mãos num leve gesto de ombros.

    — Nesse caso, não seria muito mais lucrativo pra mim se você não entrasse e ficasse mais forte fora da empresa? Muito mais, né? Aí você cresce, fica poderoso, começa a me apoiar, e eu passo a ter voz de verdade dentro da Sinyoung. Sabe como é? Uhuhuhuhu.

    — I-Isso é sério?

    — É claro! ‘Fui eu que criei esse cara’, ‘ele é chegado comigo’, ‘ele só negocia comigo’, etc, etc. Quer pedir alguma coisa pra esse cara? Então fala comigo primeiro. Keuh…

    O pescoço de Kim Hannah encolheu um pouco e os ombros começaram a tremer levemente, como se só de imaginar isso ela já ficasse empolgada.

    Agora que ouviu toda a história, Seol Jihu meio que concordava com ela. Mas aquele futuro cor-de-rosa só seria possível se ele realmente crescesse e se tornasse alguém poderoso. E, honestamente, sentia-se pressionado pelas expectativas dela.

    — Acho que você tá me superestimando.

    — Hmm.

    Vendo o sorriso sem jeito do jovem, Kim Hannah fez um leve biquinho.

    — É… Do jeito que você agiu aqui na Terra, eu também fiquei um pouco preocupada, sabe?

    Ela deu uma risadinha, e isso acabou arrancando um sorriso suave e genuíno dele também.

    Os dois continuaram o café da manhã, conversando sobre o que precisavam fazer para terem um futuro feliz do outro lado.

    — Não pensa demais nisso.

    Enquanto voltavam para o apartamento dele, Seol Jihu mergulhou em pensamentos. Então, Kim Hannah resolveu aconselhá-lo um pouco.

    — Você ainda é só Nível 1. Ninguém espera que faça algo incrível agora. Por isso, só precisa focar em se acostumar com a vida de lá pelos próximos anos. Pode até encarar isso como um jogo.

    — Um jogo?

    — Isso. Tipo videogame. Você entra quando tiver um tempo livre, algo assim. Claro que, no seu caso, vai ser sua principal ocupação.

    Seol Jihu se lembrou de já ter ouvido algo parecido antes.

    Vai nessa. No fim das contas, isso tudo é só um maldito jogo, cara. Um jogo. E você tem que aproveitar a jogatina.

    Mas, diferente de quando Kang Seok disse aquilo, dessa vez Seol Jihu não sentiu repulsa. Na verdade, achou que talvez não fosse tão ruim encarar tudo isso como Kim Hannah sugeriu. No fim, cada um tinha seu próprio jeito de se divertir, afinal.

    Ao chegarem perto do prédio onde ele morava, encontraram uma mulher de meia-idade ocupada separando o lixo na calçada. Era a faxineira que ele já tinha visto algumas vezes por ali.

    A mulher reclamava em voz baixa enquanto lidava com a montanha de lixo. Quando avistou o rapaz e a mulher de óculos, inclinou um pouco a cabeça. Seol Jihu, sentindo-se culpado pela bagunça, fez uma reverência rápida e correu para dentro do prédio.

    Depois de entrarem no apartamento, começaram a se preparar para retornar ao Paraíso.

    — Isso aqui… posso deixar aqui mesmo?

    — Faz o que quiser.

    Depois de remover todos os itens proibidos, Kim Hannah tirou um pequeno pedaço de papel do bolso.

    — Então tá. Chegou a hora de voltar pro Paraíso, aquele que você tanto queria.

    Seol Jihu sorriu de canto e também pegou seu próprio pedaço de papel. Foi nesse momento que Kim Hannah falou mais uma vez.

    — Pergunto isso pelo seu bem, mas… você sabe o que precisa fazer assim que voltarmos, né?

    — Sei, sim.

    — Ótimo. Então vamos.

    Rasga.

    Com o som do papel sendo rasgado, uma luz circular surgiu no ar. Kim Hannah foi engolida por essa luz dos pés à cabeça e desapareceu num piscar de olhos.

    Seol Jihu observou tudo com curiosidade, prestes a rasgar seu próprio papel — mas parou.

    Viu o celular jogado num canto do quarto. Desde que Yoo Seonhwa o devolvera, ele nem sequer havia recarregado o aparelho, que agora estava desligado.

    “O lugar onde eu preciso estar…”

    Sentiu uma súbita vontade de confirmar algo. Se ligasse o celular… será que haveria ligações da família? Ou da Yoo Seonhwa?

    Não demorou para perceber o quão vergonhosamente irreal aquele desejo era.

    “…Não tem chance de me ligarem mesmo.”

    Seol Jihu soltou um longo suspiro antes de rasgar o papel de transferência ao meio.


    — Ehew, por que tem tanto lixo aqui… hm?

    A mulher de meia-idade continuava reclamando enquanto separava o lixo. Foi então que sentiu a presença de alguém atrás dela. Virou-se para dar uma olhada.

    Uma mulher linda, vestindo um vestido bonito, estava ali parada segurando um envelope na mão. Devia ter vindo logo cedo, pois seus cabelos ainda estavam úmidos.

    Quando seus olhares se encontraram, a bela mulher a cumprimentou educadamente.

    — Olá, tia.

    — Aigoo, olá pra você também. Faz tempo que não nos vemos… Espera, eu te vi ontem por um instante, né? Então nem faz tanto tempo assim.

    A mulher de meia-idade respondeu de forma calorosa, como se fossem conhecidas de longa data.

    — E você veio hoje também? Achei que tivesse decidido não aparecer mais por aqui.

    — Sim, é que hoje tenho um assunto a tratar.

    Yoo Seonhwa forçou um sorriso desconfortável.

    — Por acaso, a senhora viu o rapaz que mora no 405?

    — Ahh… ele? Sim, vi ele.

    Um brilho surgiu nos olhos de Yoo Seonhwa.

    — Ele está em casa?

    — Bom, então… Talvez uns 30 minutos depois que você foi embora ontem? Uma hora? Algo assim. Ele voltou pra casa nesse horário, depois que você saiu. Quis dizer que você tinha vindo aqui, mas ele parecia tão cansado, tão perturbado, que…

    A boca de Yoo Seonhwa se entreabriu.

    Ontem, depois que Seol Jihu fugiu, ela correu atrás imediatamente. Havia algo que precisava confirmar de qualquer jeito. Pagou um extra pro taxista só pra chegar o mais rápido possível na casa de Seol Jihu.

    O problema foi que ele não tinha voltado pra casa. Ela esperou por muito tempo, mas ele não apareceu.

    Se soubesse que ele voltaria tão logo depois, teria esperado. Como poderia imaginar que ele retornaria só depois que ela fosse embora? Devia ter vagado pelas ruas sem rumo antes de voltar pra casa, de alguma forma.

    — Acho que ele tá aí dentro agora. Mas… o que eu faço… Aigoo…

    — O que foi?

    — É meio escandaloso eu dizer isso, mas… será que devo?

    — Tenho certeza de que não há problema. Por favor, pode falar.

    — Eu vi ele entrando há pouco tempo, mas tinha uma moça muito bonita bem colada nele, sabe.

    — Como é?

    Assim que viu a expressão de Yoo Seonhwa, a faxineira tratou de completar a fala às pressas.

    — Eu não sei exatamente o que tá acontecendo. Essa moça pegou uns utensílios de limpeza ontem à noite, disse que ia limpar o 405. Falava com tanta firmeza, tão direta, mesmo parecendo uma raposa. Esse monte de lixo aí, veio daquele quarto, sabe?

    — …

    — E-Eu fui longe demais?

    — …Não, de jeito nenhum.

    Yoo Seonhwa se despediu e entrou no prédio às pressas. Subiu as escadas correndo. Não era ciúmes. Com certeza não era apego, também.

    No entanto…

    Conforme ouvia a história da faxineira, as diversas possibilidades que lhe passaram pela cabeça começaram a convergir para uma situação que ela rezava para que não fosse verdade.

    Se o que viu ontem não estava errado, então…

    “Não, ele não pode.”

    Ele finalmente tinha se recuperado, mas isso…

    Se suas suspeitas se confirmassem, ela jurava a si mesma que o salvaria, não importava o custo. Com esse pensamento, chegou diante da porta do 405.

    — Jihu!

    Thud, thud!

    — Seol Jihu!

    Bateu na porta por um tempo, mas não obteve resposta.

    Yoo Seonhwa mordeu o lábio inferior e tirou uma chave da bolsa. Ele lhe deu essa chave tempos atrás, dizendo que podia usá-la em caso de emergência.

    Ela sabia que não devia fazer isso, mas agora não era hora de se prender a detalhes. Enfiou a chave na fechadura e ouviu o clique.

    Yoo Seonhwa empurrou a porta com força, mas não entrou. Porque, assim que viu o interior, sua expressão se tornou de pura perplexidade.

    A faxineira acabara de dizer que ele estava ali, mas…

    — Ji, Jihu…

    Não havia ninguém no quarto.

    Nem sinal de presença humana.

    O quarto estava vazio.

    Yoo Seonhwa olhou em volta, atordoada, até que de repente avistou alguns objetos que não pertenciam àquele lugar. Eram itens femininos. Dava pra perceber claramente que não eram de Seol Jihu.

    Ela fechou os olhos com força e então fechou a porta em silêncio. Trancou-a de novo e ficou parada ali, imóvel, por um longo tempo.

    — Seu idiota…

    Pouco depois…

    Yoo Seonhwa respirou fundo, como quem havia tomado uma decisão. Com o rosto fechado, ligou o celular.

    Foram necessários poucos toques até a ligação ser atendida, e uma voz que soava artificial surgiu no alto-falante.

    — Senhorita S-Seonhwa?

    — Sim, sou eu.

    — Oh, meu Deus! É mesmo você, Senhorita Seonhwa?

    — Sim, sou eu. Quero conversar sobre algo com você.

    Yoo Seonhwa falou com voz pesada e lançou um olhar ao redor. Em seguida, levou o celular bem próximo à boca e começou a sussurrar por um tempo.

    — …Como é? O q-que você disse?

    — É isso que eu vou fazer.

    — Espera, espera um pouco. Senhorita Seonhwa?

    — Não posso falar por muito tempo agora. Quanto aos detalhes…

    Yoo Seonhwa deixou as palavras no ar e mordeu o lábio de novo.

    Após um breve silêncio…

    — …As coisas que você disse, estão vindo do fundo do seu coração?

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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