Capítulo 71: Primeira Experiência (3/3)
Ele não estava imaginando coisas.
Whish.
A rajada de vento que passou pela orelha de Seol Jihu ardeu como se estivessem esfregando uma lixa em seu rosto. As duas criaturas parecidas com cavalos já corriam a toda velocidade, e ainda assim Maktan continuava a chicoteá-las com força, sua voz urgente ressoando.
— Isso não tá com uma cara boa, né?
O grandalhão estalou a língua e colocou um elmo de batalha de topo achatado, parecido com um balde. Então gritou:
— Tinha mesmo que usar essa estrada pela floresta?!
— Essa estrada é minha linha de vida! Não teve problema nenhum nove dias atrás!
Maktan respondeu sem nem olhar para trás.
— Há quanto tempo você tá usando essa estrada, então?
— Três meses!
— Merda! Em três meses, você deixou rastro pra todo lado aqui!
O Guerreiro resmungou e abaixou o corpo.
— Seol, você devia se abaixar também.
Alex se curvou e também puxou Seol para o chão da carroça.
— Escuta bem. A partir de agora, não saia do meu lado. Entendeu?
Nem um traço da habitual malícia estava presente na expressão de Alex agora; ele falava com uma voz grave. Seus olhos sérios e focados só fizeram o peito de Seol Jihu apertar ainda mais.
Seol Jihu se ajoelhou no chão da carroça e baixou o corpo, apertando com mais força as duas lanças. Ao mesmo tempo, ativou os Nove Olhos.
“Filho da…”
Conseguiu conter o palavrão a tempo. A floresta inteira estava tingida de laranja.
Não se aproxime.
No entanto, ele já estava dentro da zona de perigo. Essa era sua primeira vez enfrentando uma situação assim.
Deveria ter impedido a carroça de entrar nessa floresta desde o início, mas havia adormecido e nem sequer percebeu que estava sendo entregue de bandeja para a boca de um tigre.
Seol Jihu estava prestes a sugerir que saíssem dali o mais rápido possível, mas fechou a boca ao ver Maktan chicoteando os animais com força, suor escorrendo do rosto franzido. A carroça já corria a toda velocidade muito antes de ele acordar.
“O que eu faço agora?”
Era quase um alívio que a floresta não estivesse em preto1 ou vermelho2. Mas o laranja já apresentava um perigo significativo. Afinal, ele quase se deu mal por subestimar uma zona amarela3, no passado.
Enquanto seu semblante ficava mais tenso, Alex, ao lado, tirava um crucifixo do tamanho da palma da mão.
O ambiente estava estranhamente silencioso… exceto pelos sons das patas batendo no chão e pelos murmúrios baixos de Alex enquanto entoava o feitiço.
Conforme o silêncio insuportável persistia, o grandalhão começou a ranger os dentes. Enquanto isso, a arqueira continuava com a orelha grudada no chão da carroça, sem dar sinal de que se moveria.
— Fala alguma coisa.
— …
— Ei! A distância, a direção, quantos são! Qualquer coisa serve, então fala!
— …Não sei.
— O quê?
— Não sei. Não consigo dizer.
Ela ergueu a cabeça e fez uma expressão confusa.
— Consigo ouvir um som estranho misturado aos outros, mas… está muito fraco e não dá pra identificar.
— Hã?! Tem certeza de que é uma Rastreadora?
O Guerreiro soltou palavras de frustração, fazendo a mulher arqueira estreitar os olhos, irritada.
— Tá querendo dizer o quê?
— Porra, você diz que é Nível 3, mas não sabe de nada?
— Cala a boca! Por acaso eu pareço uma Alto Ranker pra você? O que você quer que eu faça se preciso estar no chão de verdade pra ouvir direito?
Seu orgulho devia ter sido ferido, pois ela retrucou imediatamente. O Guerreiro pareceu não ter mais o que dizer e apenas soltou um longo suspiro.
— Decide logo! Continuamos ou paramos? Rápido!
Maktan perguntou com uma voz nervosa.
— Droga! Que escolha a gente tem? Para a carroça!
— Não! Continua correndo!
Assim que o grandalhão deu sua opinião, a mulher se opôs de imediato. Maktan já estava prestes a puxar as rédeas para parar a carroça, então, compreensivelmente, soltou um palavrão.
O homem negro olhou para a mulher com uma expressão incrédula, antes de rosnar como uma fera selvagem.
— Sua maluca do caralho. Vai bater de frente comigo justo agora?
— É você quem não sabe de nada. O que vai fazer se pararmos e ficarmos cercados?
— E como você sabe que não tem uma emboscada esperando logo à frente? Por isso mesmo temos que parar e descer da carroça!
— Chega, vocês dois!
Alex finalmente interveio, incapaz de aguentar mais. O crucifixo em sua mão agora emitia uma luz calma e suave.
— Não importa se é um time ou uma expedição, Arqueiros sempre vão na dianteira. Vamos ouvir o que ela tem a dizer por enquanto, pode ser? E aí, Hugo?
Ao chamá-lo pelo nome, ficou claro que Alex conhecia o grandalhão.
Depois de acalmar Hugo, Alex virou-se para encarar a arqueira.
— Eu deveria dar prioridade à sua opinião por você ser uma Arqueira, mas mesmo eu acho que o melhor seria pararmos num lugar adequado e descobrirmos com o que estamos lidando. Só dá pra bolar uma estratégia quando sabemos contra o quê estamos lutando.
— Eu sei disso. Mas olha em volta, não tem nenhum lugar adequado pra parar.
A arqueira respondeu, descontente, antes de morder o lábio inferior.
— Parece que estamos sendo guiados. Consigo sentir que tem algo errado.
As sobrancelhas de Alex tremeram.
— Puta merda! Cês ouviram o que ela falou agora? Era pra ser uma Arqueira e vem com papo de instinto?!
Hugo gritou, furioso. Se não estivesse agachado no chão da carroça, talvez estivesse pulando de raiva com aquele corpanzil.
Alex manteve a paciência ao abrir a boca.
— Se tá se baseando no instinto, não posso confiar em você. As chances estão meio a meio. É melhor pararmos a carroça agora e entendermos logo a situação.
A arqueira bufou e virou de costas, encarando a outra direção.
— Tá bom. Mas você tem que me dar 30, não, 15 segundos. Não posso afirmar com certeza, mas talvez estejamos enfrentando um grupo de Cavaleiros.
Alex não discordou. O que ela dizia fazia sentido, mas, ao mesmo tempo, se estivesse certa, parar a carroça agora seria praticamente suicídio.
— Maktan! Não para a carroça de uma vez, só diminui a velocidade aos poucos! Assim a gente pode arrancar de novo a qualquer momento, entendeu?
— Entendido!
— Certo! Mas… o que…?
Alex se virou novamente para encarar a Arqueira, e ficou paralisado com o que viu. Os olhos da mulher brilhavam com uma luz suave antes dessa luz desaparecer. Ela então ergueu o tronco com cautela e espiou por entre as laterais da carroça.
— Ei, ei! O que tá fazendo? Senta agora!
Hugo surtou. Ela o ignorou completamente enquanto observava ao redor. Depois, assentiu com a cabeça.
— Acho que não estamos sendo guiados. Deve ser seguro reduzir a velocidade.
— Guiados ou não, eu disse pra abaixar essa porra de cabeça!
— Pelo amor de Deus, para de gritar, tá?!
A Arqueira tapou os ouvidos, visivelmente irritada.
— Você é idiota? Se eu fosse atacada de surpresa, quem teria sido atingido primeiro era o cocheiro!
Hugo ficou ainda mais perplexo. Sua boca se abriu e fechou algumas vezes, até que uma expressão de desconfiança surgiu em seu rosto.
— Você… Você é mesmo Nível 3?
— Ha.
A mulher soltou um suspiro. Era como se nem soubesse mais o que fazer com ele. Então, levou uma mão à cintura e abriu a boca.
Foi então que aconteceu.
Psh! Psh!
Junto aos sussurros sutis de ar sendo cortado…
— De qualquer forma…
…suas palavras cessaram abruptamente.
Seus olhos, que até agora zombavam de Hugo, giraram repentinamente. Ela então começou a vacilar, como numa encenação teatral. Sua cabeça e ombros tremeram devagar antes de cair de cara no chão.
Seu corpo estremeceu por um segundo apenas antes de ficar mole. Ela estava morta.
O rosto de Alex se contorceu feio assim que avistou uma longa agulha fincada na parte de trás da cabeça da mulher.
— Sua idiota!
Hugo também gritou com raiva.
Seol Jihu não conseguia entender o que acabara de acontecer. A mulher que, há poucos segundos, transbordava confiança, havia morrido num piscar de olhos. Era como se estivesse preso em um pesadelo terrível.
Alex retirou a agulha e franziu o cenho.
— Espera aí. Isso… pode ser…?
Logo depois, ouviram gritos de dor vindos dos animais na frente.
No mesmo instante em que Seol pensou “Merda”, a carroça tombou de lado.
— Uaaahhh?!
Alex foi arremessado, os braços rodopiando no ar sem controle.
Seol Jihu também foi lançado. Antes que percebesse, já estava voando. Ainda segurava firmemente sua lança; e, no momento em que sentiu o estômago subir, viu claramente ‘aquilo’… o pescoço de Maktan jogado para trás e os braços balançando sem força, com uma agulha cravada em sua testa.
A carroça virou, e o trio sobrevivente foi arremessado pelos fundos. Seol Jihu conseguiu cair em segurança nos arbustos e rolou pelo chão para dissipar o impacto.
— Merda! Cavaleiros, o cacete! São as malditas Toupeiras!!
Seol ouviu Hugo rugindo a plenos pulmões, mas não havia tempo para se preocupar com isso. Antes mesmo que pudesse recuperar o fôlego, quatro mãos brancas como papel saíram do solo abaixo dele, cada uma empunhando adagas afiadas.
— !
Não teve nem tempo de ver os golpes, largou a lança e rolou mais longe. Se ergueu de novo assim que parou de rolar e olhou para onde estivera segundos antes. As quatro adagas cravaram ali. Um arrepio percorreu sua espinha.
No entanto, mais urgente que entrar em pânico era recuperar sua lança.
Agarrou a arma e cravou com força no solo de onde saíam as mãos.
ESTOCADA!!
Sentiu a lança perfurar a terra macia e depois encontrar algo mais sólido. Era como se tivesse perfurado um nabo gigante.
Então empurrou ainda mais fundo e girou o cabo da arma. Imediatamente, duas das quatro mãos começaram a se debater como se estivessem tendo convulsões.
Ao ver isso, as outras duas mãos começaram a forçar a saída do chão, como se tentassem emergir dali.
— Nem pense nisso.
Seol puxou a lança e cravou de novo rapidamente, fazendo as outras mãos entrarem na mesma dança de agonia.
— Seeeoooll!! Huuugo!!
Seol se virou na hora ao ouvir o grito urgente.
Alex ainda não conseguira se levantar; resistia amargamente contra duas mãos que haviam brotado do solo e o seguravam. Seus braços e ombros tremiam violentamente no esforço, mas as adagas se aproximavam cada vez mais.
Devido ao tombamento da carroça, a distância era maior do que Seol imaginava. Ele puxou a lança, a ponta manchada de sangue desenhou um arco no ar.
Rapidamente, canalizou mana através de seu Circuito Reforçado. Concentrou todo o poder no braço direito e lançou a lança com toda a força.
Swish!
A lança, carregada com sua mana, passou voando por Alex e cravou fundo no solo.
— Uwahck?!
Alex virou o rosto por reflexo, mas logo arregalou os olhos, surpreso. Percebeu então que suas mãos não sentiam mais a pressão vinda do subsolo. Rapidamente puxou os braços e se levantou do chão.
— Hã?
Hugo chegou ali atrasado e ficou encarando Seol com a mesma expressão de choque. Em seguida, gritou:
— Ali! Sua perna esquerda!!
Seol estava se abaixando para pegar a outra lança, mas assim que ouviu o aviso, deu um pulo para trás. Outra adaga passou exatamente onde seu pé estivera. Ele pousou de volta no chão e cravou a lança no solo, mas ao sentir movimento novamente por baixo, ergueu a perna esquerda.
Ele desviou da mão armada com a adaga com sua movimentação ágil e enfiou a lança no chão. Logo, a terra se tingiu da cor do sangue.
— Ohh?
Quando Seol deu conta de quatro, talvez cinco agressores desconhecidos de uma vez só, Hugo começou a sorrir com uma expressão que dizia: ‘Mas olha só esse moleque!’
Ele então caiu na gargalhada, ergueu seu enorme machado bem alto e o cravou com força no chão.
KWANG!!
O que veio a seguir foi um estrondo que não poderia, de forma alguma, ter sido causado apenas por um machado. Os tímpanos de Seol estremeceram violentamente. A terra explodiu e se espalhou, deixando o ar ao redor visivelmente distorcido. Ele não sabia se aquilo era mana de Hugo ou uma de suas habilidades, mas, se fosse pura força física, então era uma das demonstrações de poder mais eletrizantes que já tinha presenciado.
— Esse é o melhor jeito de lidar com essas malditas Toupeiras.
Hugo abriu um largo sorriso enquanto apoiava o machado no ombro. Seol não conseguia entender o comportamento relaxado daquele sujeito, já que ainda estavam em pleno combate, mas parecia que Alex entendia.
— Boa! Mandou bem, Hugo! Agora é a nossa vez!
Alex rapidamente pegou o crucifixo do chão, os olhos queimando de raiva.
— Filhos da puta. No momento em que aparecerem na superfície, vai ser o funeral de vocês.
O significado por trás dessas palavras se revelou logo em seguida. Tendo como ponto central o local onde Hugo golpeara com o machado, mais de dez pares de braços irromperam do solo de maneira desordenada.
— Alex!
Hugo apertou o machado com força e gritou.
— Eu sei!
Alex soltou um curto e ofegante suspiro, pressionou uma das mãos contra uma ferida na lateral do corpo e estendeu o crucifixo à frente.
— Luxu Lu Luxuria!!
Subitamente, uma luz ofuscante explodiu a partir do crucifixo. Ao mesmo tempo, as criaturas que estavam emergindo do solo congelaram no meio do movimento.
— Ah, sim. Hora de arrancar umas hortaliças.
Hugo avançou como se tivesse ganhado asas e puxou um dos braços que saía da terra. Então, um monstro estranho, com dois braços e duas pernas, cuja aparência lembrava um tronco de árvore coberto por couro animal, foi arrancado do esconderijo.
Hugo partiu o monstro imóvel ao meio com facilidade e, sem pausa, repetiu a ação de puxar e matar as criaturas.
Logo, a duração do feitiço chegou ao fim, permitindo que os monstros finalmente emergissem por completo. A essa altura, porém, seu número havia sido reduzido a apenas sete. Além disso, todos estavam cambaleando, como se tivessem levado uma pancada forte na cabeça.
Seol manteve-se atento ao chão perto dos pés, mas Alex falou com um tom relaxado.
— Tá tranquilo. Já acabou.
— Acabou? Como assim?
— É. Veja, essas Toupeiras instintivamente odeiam mana. Esses desgraçados aparecem na superfície assim que você despeja mana suficiente onde eles estão escondidos.
— Toupeiras?
Alex esboçou um sorriso torto diante da pergunta de Seol. No entanto, como o jovem tinha acabado de salvar sua vida, responder aquilo era o mínimo.
— Pense nelas como peixes terrestres. Se movimentam nadando por debaixo da terra.
Seol Jihu inclinou a cabeça, confuso. Ele nem conseguia imaginar como algo poderia nadar no subsolo.
— De qualquer forma. Eles falharam no ataque surpresa, então já era. O Hugo é um Guerreiro Bárbaro de Nível 4. Toupeiras atacando debaixo da terra podem até ser irritantes, mas lutar com elas na superfície é mais fácil que tirar doce de criança.
Alex apontou para frente. Hugo estava tratando aqueles monstros insanos, chamados Toupeiras, como um bando de crianças desobedientes. Ao vê-lo balançar o machado e derrubá-los um por um, até Seol sentiu a mente se livrando da ansiedade.
Alex continuou.
— Na verdade, as Toupeiras são uns filhos da mãe traiçoeiros e ardilosos. E esses bichos em particular já devem ter enfrentado Terrestres algumas vezes.
— Como você sabe?
— Simples. Onde você acha que esses monstros arrumaram aquelas adagas?
— …Ah.
— Eles também devem ter percebido que havia um Arqueiro entre nós, então se esconderam bem fundo e tentaram nos confundir. Do contrário, teríamos detectado a aproximação deles assim que se aproximassem da superfície. Eles se espalharam e esperaram por uma brecha antes de disparar aquelas agulhas. Assim que matassem um de nós, partiriam pro ataque completo.
— Que assustador…
— Nem me fale. Mas aquela Arqueira idiota!
Alex cuspiu as palavras com raiva antes de tossir e limpar a garganta. Falar mal de alguém morto era perda de tempo, afinal.
— Enfim, não é só isso. Como geralmente andam em bandos, se movem em grandes grupos e então… Ehehehe.
Alex começou a rir de um jeito estranho e moveu o dedo indicador de Hugo para Seol. O jovem olhou para si mesmo e seu queixo caiu de surpresa. Viu quatro agulhas fincadas bem no centro da armadura no peito. Parecia que havia sido atingido durante o combate.
— E além disso, eles têm inteligência suficiente para dividir funções entre si. Ah, não se preocupe. Aqueles que estavam nos atacando à distância já devem ter fugido.
Alex viu Seol vasculhando a área com o olhar e impediu que o jovem se movesse, antes de inclinar a cabeça com um semblante intrigado.
— Hmm. Mas isso é bem estranho. Até agora, não tinha ouvido falar de Toupeiras aparecendo perto de Haramark.
— Terminei!
Hugo esmagou a cabeça da última Toupeira com as próprias mãos e então gritou, erguendo os braços para o alto.
— Mandou bem, Hugo.
— Isso foi moleza. Mas e você, tá bem?
Hugo caminhou com passos largos e se aproximou, fazendo a pergunta a Alex. O jovem Sacerdote sorriu fracamente.
— Na verdade, fui atingido uma vez.
— Então trate de se curar logo. Não vou conseguir te agradecer se você morrer.
— Puhat! Verdade, né?
Alex desabou no chão antes de puxar um pequeno frasco. Enquanto o Sacerdote gemia no chão, Hugo deu alguns passos estudando Seol Jihu.
— Ei, cara. Vi teus passos agora há pouco. Você tem certeza que é só Nível 1?
— É, eu também tava pensando nisso. Seria mais fácil acreditar que o Seol é Nível 3, considerando que aquela Arqueira era Nível 1.
Alex falou com uma expressão de frustração enquanto despejava o líquido curativo sobre os ferimentos. Hugo assentiu como se concordasse com a avaliação.
— Aquela desgraçada. Nunca vi uma Rastreadora como ela. Achei que ia morrer de frustração, sério.
— Aquela mulher não era uma Rastreadora.
Alex riu suavemente.
— E obviamente ela também não era Nível 3. No máximo, era Nível 2, e provavelmente tinha subido de nível recentemente.
— O quê?
Hugo perguntou com uma expressão incrédula. Alex soltou um suspiro leve, como se a dor tivesse diminuído bastante, e respondeu ao brutamontes.
— Eu vi com certeza. Foi só por um momento, mas os olhos dela brilharam. Se estou certo, aquilo não era a habilidade Olhos de Mil Quilômetros, e sim Visão de Águia. Você sabe que Olhos de Mil Quilômetros, é uma habilidade obrigatória para Arqueiros ao chegar no Nível 3, né?
— Peraí um instante. Agora que você falou… Visão de Águia, é algo que se aprende no Nível 2…
Hugo murmurou para si mesmo, atônito, antes de sua expressão desmoronar.
— Maldição!! Ela mentiu pra gente desde o começo!
— Ah, vai. Você sabe que tem muita gente mentindo sobre os níveis em Haramark. Digo, tem um monte de idiota inventando desculpa quando você pede pra mostrar as Janelas de Status.
— Droga. Como é que ela conseguiu aquele arco longo, então? O equipamento dela também parecia ser muito bom.
— Provavelmente arranjou um bom patrocinador ou algo assim.
Alex soava convicto de sua conclusão enquanto se levantava. Então, voltou-se para Seol.
— Seol? Um conselho, se me permite. A gente pode até ter vencido hoje, mas não foi o que eu chamaria de uma boa vitória. Claro, você lutou muito acima das expectativas, mas pra mim e pro Hugo, foi uma luta ruim.
Seol Jihu assentiu com a cabeça. Ele entendia mais ou menos o que Alex queria dizer.
Se todos tivessem agido de acordo com as opiniões de Hugo e Alex, esses inimigos teriam sido eliminados sem grandes dificuldades. Mesmo que um Arqueiro liderasse uma equipe, esse era o resultado de se dar o direito de decisão final a alguém que não tinha qualificação para isso.
Com essa experiência, Seol gravou essa lição até os ossos.
— Che. Se eu soubesse que eram Toupeiras, nem teria suado.
Hugo continuou reclamando, amargo.
— Quem é que ia imaginar que enfrentaríamos Toupeiras? Mas… de qualquer forma.
Alex olhou ao redor e seus ombros caíram, sem forças. Maktan e a mulher Arqueira estavam mortos, e a carroça estava despedaçada.
— E estamos bem no meio disso tudo… ehew.
Contudo, Alex não perdeu a esperança e ainda assim fez a pergunta:
— Alguém tem alguma ideia brilhante?
É claro, ninguém levantou a mão.
— …
— …
— …
O brutamontes, o jovem e o Sacerdote soltaram um longo suspiro quase ao mesmo tempo.
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