Índice de Capítulo

    Deveriam continuar ou voltar para Zahrah?

    Alex e Hugo debateram por muito tempo sobre essa questão crucial. Como o incidente havia ocorrido exatamente no meio do caminho, foi difícil para eles chegarem a uma decisão rápida.

    Seol Jihu não disse nada. Ele sabia que tinha pouca experiência em situações como essa e deixou a decisão para os dois veteranos.

    A dupla conversou por um tempo e, no fim, decidiu seguir em frente.

    Concordaram que, em vez de voltar e esperar por outro Arqueiro e carroça, desperdiçando ainda mais tempo e dinheiro, seria mais simples caminhar o restante do percurso até o destino.

    Seol Jihu também concordou. Estava um pouco preocupado em andar toda aquela distância, mas decidiu confiar na sua resistência geral, algo que treinou com grande esforço na Zona Neutra.

    — Certo. Vamos sair, mas antes, vamos pegar o que pudermos.

    Depois que o acordo foi fechado, Hugo de repente falou sobre outro assunto.

    — Vou dar uma olhada na Arqueira, então vocês dois procurem o que puderem.

    Hugo assobiou para si mesmo enquanto se virava e se afastava.

    — Vou recolher as adagas que os Toupeiras derrubaram, então Seol, cuide da parte do Maktan.

    Alex também se moveu rapidamente. Seol Jihu se perguntou o que aquele cara estava fazendo, apenas para vê-lo se abaixar e pegar as adagas largadas pelos Toupeiras mortos. Enquanto isso, Hugo arrastava o cadáver da Arqueira para fora dos destroços da carroça. Só então o jovem entendeu o que estava acontecendo.

    Eles estavam saqueando os mortos. De fato, estavam ‘roubando’, os pertences pessoais dos falecidos.

    O corpo de Maktan estava caído em frente à carroça quebrada, com uma agulha cravada na testa e os olhos ainda abertos. Seol Jihu achou difícil estender a mão. Não era repulsa ou medo diante de um cadáver humano, mas simplesmente um sentimento de culpa.

    Mas ele era alguém que Seol havia conhecido apenas no dia anterior. O jovem não nutria sentimentos particulares pelo homem morto, nem bons nem ruins.

    Ainda assim, aquele homem havia cumprido seu papel até o fim. Ele confiou nos Terrestres que transportava para que cumprissem suas funções também. Seol deveria protegê-lo, mas no fim, não conseguiu salvá-lo.

    — Hm? O que foi? Por que está hesitando?

    Hugo se aproximou de Seol com um rosto radiante.

    — Caramba. Aquela garota estava cheia de coisas, cara. Tinha tanta coisa além daquele arco longo! Vem ver!

    O grande Guerreiro empurrou um punhado de itens misturados para ele. Seol Jihu os recebeu quase por reflexo e acabou franzindo um pouco o cenho. O arco e as flechas eram óbvios, mas entre os itens saqueados havia também equipamentos defensivos e até roupas íntimas femininas.

    Pensando ‘Não é possível’, ele virou a cabeça para olhar, e, como esperado, viu as costas completamente nuas da Arqueira caída de bruços na terra.

    Era o mesmo para Maktan. O rigor mortis devia ter dificultado mover o corpo, mas Hugo habilmente despia o cadáver imóvel do cocheiro.

    — Hugo.

    — Hm? Ah, é você, Seol? O que foi?

    — É mesmo necessário tirar as roupas dele, e até a roupa íntima?

    — Claro. Pode ser que não venda por muito, mas cada centavo conta.

    Hugo respondeu diretamente, como se não entendesse por que alguém faria tal pergunta.

    — Ainda assim…

    — Ainda assim isso, ainda assim aquilo. Está preocupado que o morto possa pegar um resfriado?

    Hugo riu da própria piada antes de sua expressão ficar séria. Ele falou com Seol em um tom sério.

    — Escuta, cara. Você precisa estar equipado com uma armadura decente se quiser ser reconhecido como Guerreiro. E quando sobe de nível, precisa comprar novos equipamentos, mas o preço aumenta tanto que chega a doer fisicamente. Dinheiro não nasce em árvore, meu camarada. A gente economiza cada centavo assim até conseguir comprar o que precisa.

    Agora que Seol ouviu isso, aquela ideia também começou a fazer sentido. Ainda assim, alguma hesitação permaneceu em seu coração. Hugo riu ao perceber o humor do jovem.

    — Não tem ninguém aqui pra te elogiar por ser uma pessoa nobre, Seol. O que você acha que vai acontecer se deixar os corpos aqui intactos? Os animais selvagens vão devorar os corpos e estragar tudo, ou algum sortudo vai passar e saquear tudo de qualquer maneira.

    — …

    — Se ainda se sentir culpado, pense assim: você vende isso e compra uma arma melhor. Daí, na próxima vez que encontrar Toupeiras, mata cada um daqueles filhos da puta. Essa é a melhor maneira de apaziguar as almas dos mortos. Entendeu?

    Hugo finalmente encontrou a bolsa de dinheiro e sorriu alegremente. Entre a mistura de moedas de cobre e níquel, havia uma única moeda de prata.

    — Toma.

    Hugo retirou a moeda de prata e, depois de dar uma olhada ao redor, entregou-a a Seol.

    — Isto é…

    Era a moeda de Seol, dada a Maktan como pagamento pela carona.

    — Ei, anda logo. Ele tá de costas agora.

    — Mas…

    — Tá tudo certo, tá tudo certo.

    Hugo enfiou a moeda de prata no bolso do jovem. Depois, colocou o dedo indicador sobre os lábios e fez shh, com um sorriso.

    — A verdade é que eu também recuperei o pagamento que dei pra aquela garota quando a gente tava de zoeira, sabe! Ehehe.

    Hugo riu e ainda acrescentou que agora Seol era cúmplice e que deveria manter isso em segredo de Alex.

    Hugo então se virou para sair. Seol Jihu estava prestes a segui-lo, mas parou. Seu rosto ficou complicado ao olhar para o corpo nu de Maktan.

    “Este tipo de mundo…”

    O jovem lentamente se abaixou e retirou a agulha. Depois fechou os olhos do homem morto. Ele ouviu os outros chamando para que se apressasse. Acelerou os passos e os alcançou.

    Hoje, ele quase entendeu um pouco do que era esse mundo, o Paraíso.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota