Capítulo 73: Haramark (2/3)
Eles eventualmente escaparam da floresta e continuaram a marcha. Caminhar o dia inteiro nunca seria uma experiência agradável ou satisfatória, no entanto.
Quando a noite caiu, Seol Jihu teve a primeira experiência de acampar ao ar livre no Paraíso. Ficar acordado como vigia durante a noite também foi a primeira vez desde que deixou o exército.
Essas provavelmente foram as razões pelas quais seu corpo inteiro doía e sua cabeça parecia pesar uma tonelada quando acordou pela manhã. Ele não sentia uma rigidez e dor tão intensas desde que deixou os alojamentos do primeiro ranker na Zona Neutra.
Disse a si mesmo que era algo a que precisava se acostumar de qualquer maneira e continuou a marcha sem reclamar uma única vez. Tornar-se amigo de Hugo ao longo do caminho foi um bônus inesperado. Ele podia ser um cara um tanto esquentado, mas quando Seol o conheceu melhor, viu que era tão extrovertido e amigável quanto Alex.
Hugo também passou a gostar do jovem. Ele acreditava que Guerreiros tinham que ser durões e, por isso, achou Seol do seu agrado, já que o jovem não reclamava nem mesmo quando a velocidade da marcha aumentava periodicamente sem qualquer explicação. Além disso, quando o grandalhão se entediava e começava a falar de qualquer besteira, o jovem o ouvia com grande interesse, o que fazia Hugo se tornar ainda mais amigável com Seol.
Dessa maneira, os dias se passaram, e, quando o quarto dia na estrada se aproximava do fim…
O trio deixou as colinas onduladas para trás e se deparou com uma planície que parecia se estender para sempre. E, ao longe, no final da estrada que levava à cidade de Haramark, o brilho moribundo do pôr do sol lançava seu tom âmbar sobre as muralhas de pedra, tão pequenas e distantes em sua visão.
Era Haramark.
Assim como Maktan havia dito, o trio azarado levou quatro dias para chegar ao destino.
Hugo levantou ambos os braços para o alto e gritou de felicidade.
— Assim que eu chegar, vou direto para o ‘Comer, Beber e Curtir’. Ah, certo. E vocês dois?
Hugo fingiu virar uma taça nos lábios e perguntou aos companheiros. Alex disse que gostaria de descansar e recusou na hora.
— Mas, por quê?! Se despedir depois de tomar um ou dois copos é coisa de homem, não acha?
— Pode ser que você ainda tenha energia de sobra porque é um Guerreiro, mas eu sou um Sacerdote. Além disso, preciso passar no templo para fazer um relatório.
— Hã? Não é como se estivéssemos em uma expedição, então por que um relatório?
— Ora, vamos. Toupeiras apareceram nas proximidades de Haramark. Isso é algo que preciso alertar os outros o mais rápido possível.
— Ahh, é mesmo. Tinha esquecido.
Hugo massageou a testa e virou o olhar para Seol.
— Seol, e você…
— Ei, você disse que essa é sua primeira vez em Haramark, certo?
Antes que Hugo pudesse terminar de falar, Alex se intrometeu.
— Ah, sim, é a primeira vez.
— Claro, tomar uma gelada não é má ideia, mas… o ‘Comer, Beber e Curtir’, é… Hm. Talvez não seja o lugar mais adequado pra você.
— Do que está falando?
— Ah, é só um bar. Um bar multiuso, digamos.
Alex acrescentou que Seol descobriria se fosse lá pessoalmente e sorriu de maneira estranha.
— De qualquer forma, se quiser descansar de verdade, posso recomendar uma estalagem que conheço. As pessoas vão lá só para dormir, então será suficientemente tranquilo para você. É meio velha, mas deve servir para o que precisa.
— Ah, obrigado.
— Não precisa agradecer. Bem, vamos indo.
— Che.
Hugo fez beicinho de insatisfação. Seol não conseguiu evitar dar uma risada, interiormente, é claro, ao ver o grandalhão agir como uma criança mimada.
Se há encontros, também há despedidas.
Quando o trio chegou a Haramark, trocaram breves despedidas e seguiram caminhos separados.
Talvez os sentimentos de Hugo tivessem se ferido com isso, ou talvez estivesse apenas emburrado, tanto faz, ele apenas jogou um ‘tchau’ frio e se virou para partir. Alex soltou um longo suspiro e guiou Seol até a estalagem de que falara.
— Estou preocupado com o Hugo.
— Não se preocupe. Ele é cabeça-dura e faz o que quer, mas não é do tipo que guarda rancor ou sentimentos ruins. Se você comprar uma bebida pra ele depois, te garanto que ele vai sorrir igual cachorro roendo um osso.
Após ouvir as palavras de Alex, Seol esboçou um sorriso gentil.
Agora que finalmente havia chegado à cidade, queria dar uma olhada ao redor, mas estava exausto demais. Mais do que fazer turismo, desejava desesperadamente se jogar numa cama quentinha.
— Bem-vindo a Haramark, meu amigo. — Alex e Seol apertaram as mãos longamente, e o Sacerdote se despediu com as palavras: — Vamos nos encontrar de novo no futuro.
Agora sozinho, Seol Jihu empurrou cautelosamente a porta da estalagem e entrou. Uma senhora idosa, cochilando atrás do balcão do andar térreo, abriu lentamente um dos olhos.
— O que deseja?
— Ah, alguém que conheço recomendou este lugar, então…
— Sozinho?
— Sim.
— Um quarto simples vai te custar 10 moedas de bronze por noite. Se quiser algo melhor, temos quartos especiais. Esses vão te custar 20 moedas de bronze.
— Quero o quarto especial.
Depois de pagar as 20 moedas, Seol recebeu uma chave e, seguindo as instruções da velha, subiu as escadas até o andar superior.
O chamado quarto especial era estreito, mas surpreendentemente limpo e arrumado. Ele até viu um pequeno vaso de planta medicinal em cima de um armário ao lado da cama. Também gostou do fato de haver uma antiga escrivaninha de madeira sob a janela, com duas cadeiras ao lado.
Embora não fosse nem de perto tão sofisticado quanto as acomodações da Zona Neutra, achou que aquela rusticidade simples não era nada ruim.
Seol Jihu colocou a mochila no chão e se deitou na cama. Por um tempo, ficou olhando em silêncio para o teto envelhecido.
Tivera um incidente no meio do caminho, mas, além disso, conseguiu concluir o restante da viagem sem mais problemas.
Lutou ao lado de estranhos, fez amizade com eles e se separaram depois.
“Mas tenho certeza de que vamos nos encontrar novamente um dia.”
Sentia um pouco de vazio, mas, ao mesmo tempo, via aquilo como mais uma parte da aventura que precisava aprender a apreciar e a se acostumar.
Enquanto a cama rangia levemente sob seu peso, seus olhos se fecharam devagar. Lembrando-se da grama fria sob seu corpo durante o acampamento, essa cama parecia incomparavelmente macia e confortável.
Logo, o corpo do jovem relaxou como algodão molhado, e ele mergulhou num sono profundo.
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