Capítulo 78: Carpe Diem (4/4)
— Haaaaaah…
Seol Jihu voltou para o ‘Comer, Beber e Curtir’, encontrou um lugar para se sentar e soltou um grande suspiro.
O bar continuava tão barulhento quanto antes. Mas ele não se importava com isso no momento. Sua cabeça estava cheia das lembranças do momento em que fora rejeitado para notar o que acontecia ao redor.
— Foi mal, mas parece que não poderemos trabalhar juntos.
— E se quer um conselho, deveria sair de Haramark o quanto antes. Você encontrará muitas boas equipes em outras cidades. Começar por lá pode ser uma escolha melhor para você.
Seol Jihu não conseguiu dizer nada diante daquela rejeição simples, mas firme e resoluta.
No fim, só pôde voltar ao bar e tomar goles melancólicos de sua bebida alcoólica.
Ele chegou a Haramark cheio de sonhos, e agora, naquela situação em que não tinha para onde ir, parecia patético até aos próprios olhos.
Seol Jihu apoiou o queixo na mão e fez um bico, com uma expressão preocupada no rosto. Se não fosse pela Sinyoung… Talvez já tivesse se juntado a uma boa equipe em Scheherazade e estivesse numa aventura agora.
“Talvez eu devesse ter aceitado a Sinyoung desde o começo?”
Se tivesse feito isso, teria recebido um apoio incrível e, mais importante, estaria ao lado de Yun Seo-Rah, que disse que faria o seu melhor…
— Tsk.
Seol Jihu lambeu os lábios e deu um gole na garrafa. Sentira-se tão feliz e realizado na Zona Neutra, mas agora, do lado de fora, parecia um idiota.
Além disso, sabia que não podia continuar sem fazer nada, mesmo que ainda tivesse algum dinheiro guardado.
“Quero fazer alguma coisa.”
O problema era seu baixo nível.
Ele era apenas um Nível 1. Mais ainda, não havia equipe estúpida o suficiente para aceitar um Guerreiro novato quando já havia tantos disponíveis por aí.
“Não tem jeito. Vou ter que começar como carregador e ir subindo…”
Justo quando puxou um cigarro e o acendeu, sentindo-se um pouco ansioso…
Slam!
Ouviu-se um barulho alto de alguém batendo na mesa e então…
— Atenção, todo mundo!
O grito alto de um homem trouxe silêncio ao bar antes barulhento.
Seol Jihu olhou de relance e viu um homem em pé, com uma mão levantada no ar. Era magro e tinha cabelos longos que desciam até a cintura.
— Há algum Guerreiro ou Sacerdote habilidoso aqui? Ah, também estou procurando um carregador, então não importa se o seu nível for baixo.
— Do que está falando, Samuel?
Um sujeito sentado na mesa ao lado, mastigando um petisco, perguntou enquanto olhava para o homem, Samuel. Samuel abaixou a mão e respondeu:
— É uma missão emitida pela família real. Vamos explorar a Floresta da Negação.
— Eii, tô fora. Por que eu iria para aquele lugar maldito?
O sujeito resmungou e voltou a cuidar da própria vida. Outros reagiram de forma parecida. Alguns balançaram a cabeça, outros riram de forma sarcástica.
No entanto, Seol Jihu era diferente. Ativou seus Nove Olhos assim que ouviu que estavam procurando um carregador, e o resultado foi: Samuel não apresentava nenhuma cor.
“Será que devo?”
Pelo menos, não havia nenhuma cor indicando perigo. E também, ele não estava numa situação em que pudesse ser exigente.
Deveria aproveitar todas as oportunidades que surgissem. Seol se moveu, pensando que, no mínimo, deveria ouvir o que o outro tinha a dizer antes de decidir.
Samuel ignorava completamente a reação dos outros, mas quando viu Seol Jihu se aproximando, abriu um sorriso brilhante.
— Oho! Nosso primeiro sortudo chegou.
— Ouvi dizer que você está procurando um carregador.
— De fato. Já tem alguma experiência?
— Não, seria minha primeira vez.
— Primeira vez?
Samuel pareceu um pouco preocupado.
“Será que vou levar outro não?”
— Eu aprovo!
Foi então que Seol Jihu ouviu uma voz familiar. Samuel se virou para olhar.
— Você conhece esse cara, Alex?
— Sim. E estou totalmente de acordo com isso. Garanto que você não vai se arrepender.
Seol Jihu piscou ao ouvir o nome Alex. Ali estava um jovem vestido como Sacerdote, sentado à mesa de Samuel, acenando para ele.
— Se o Alex garante, então não deve ser tão ruim. Beleza, então! Junta-se a nós!
Samuel assentiu com a cabeça e puxou Seol para uma das cadeiras vazias.
— Alex.
— Bom te ver de novo. Não imaginava que nos encontraríamos tão rápido.
— Eu também não.
— Sou membro da equipe do Samuel, sabia? A propósito… Vejo que, no final das contas, você é um homem mesmo. Hehehe.
Alex sorriu de forma marota.
— Uou, uou. Já vi que vocês dois se conhecem, então deem chance para a gente se apresentar também.
Samuel acenou com a mão entre os dois jovens e estendeu a própria para um aperto de mãos.
— Prazer. Meu nome é Samuel. Sou o líder do time. Um Explorador de Nível 4.
— Seol. Guerreiro de Nível 1.
— Kuheu! Eu adoro como os asiáticos são educados!
Samuel então apontou triunfantemente para a esquerda. Uma mulher de cabelos castanhos cacheados e outra de cabelo curto loiro platinado brilhante estavam sentadas ao seu lado.
— Você já conhece o Alex, então vamos pular ele. Primeiro, esta dama aqui… É a Clara, uma Caçadora de Nível 2. E ao lado dela está… Grace, uma Espadachim com Escudo de Nível 3. De certa forma, ela é sua veterana.
As duas mulheres acenaram ao mesmo tempo. Seol Jihu também ergueu a mão e acenou de volta, fazendo as duas rirem discretamente enquanto trocavam olhares entre si.
— Ah, é. Você disse que será sua primeira vez como carregador?
— Sim.
— Não vai ser difícil, na verdade. De vez em quando vamos pedir para cuidar de algumas coisinhas, mas no geral, pense no seu trabalho como carregar a nossa bagagem durante toda a expedição.
— É só isso que preciso fazer?
Seol Jihu inclinou levemente a cabeça, achando aquilo simples demais.
— Mm! Claro, tem algumas regrinhas. Primeiro: você não pode ficar para trás durante a viagem. Se acabar nos atrasando, complica tudo, sabe como é? E segundo: não deve se jogar nas lutas sem pensar. As coisas podem se complicar, e ninguém espera que um carregador lute por nós. Então, o que acha? É fácil, né?
— Sim, parece fácil.
— Ótimo! Agora, vamos falar sobre a divisão das recompensas. Primeiro de tudo, um carregador não tem direito a pedir por artefatos recuperados durante uma expedição. Concorda?
Seol Jihu não fazia ideia do que era exatamente um ‘artefato’, mas ainda assim concordou. Esta era uma regra que todo Terrestre já deveria conhecer, mas como seria a primeira vez de Seol como carregador, Samuel estava se dando ao trabalho de explicar as coisas.
— Muito bem. Quanto às outras recompensas, dividimos tudo igualmente.
— Sério?
Seol ficou surpreso com aquela proposta. Pensava que seria nada mais do que um escravo glorificado, mas ao ouvir os termos, era melhor do que esperava.
— Vocês dividem igualmente até com o carregador?
— Obviamente. Um carregador ainda é parte da equipe, certo?
Samuel parecia confuso, como se não conseguisse entender por que o jovem estava perguntando aquilo, o que só fez Seol se sentir ainda mais confuso. No entanto, o Explorador logo percebeu o que estava acontecendo e esboçou um sorriso torto.
— É, ouvi dizer que existem times por aí que tratam carregadores como escravos, mas eu não sou assim. Você é um Terrestre como eu, e está só tentando ganhar experiência, afinal.
Ele estava deixando claro que, em Paraíso Perdido, a relação entre uma equipe e um carregador deveria ser de benefício mútuo.
— Você nos ajuda e nos deixa focar na expedição, e nós te protegemos do perigo. Certo?
— Entendido.
— Porém, não espere ser tratado de forma muito especial, tá? Você estar conosco facilita um pouco para nós, mas se você não estivesse aqui, nós mesmos carregaríamos nossas coisas de qualquer jeito.
Considerando que a maioria dos Terrestres começavam como carregadores, fosse Contratado ou Convidado, as palavras de Samuel eram, na verdade, bastante atenciosas.
— Certo, agora. Hora de chegar no assunto principal.
Samuel formou um sorriso malicioso e então, de repente, aproximou-se bastante do ouvido de Seol para sussurrar algo.
— Espero que você não tenha achado que realmente íamos fazer apenas um reconhecimento na Floresta da Negação.
Ao ouvir aquele sussurro, a expressão de Seol Jihu também se tornou difícil de ler.
— Ah. Claro que vamos cumprir nossa missão, sem problema. Porém… Opa. Melhor terminarmos essa conversa em outro lugar.
Samuel sussurrou até ali e apontou para a saída do bar com o queixo.
— Nos siga. Vamos conversar em um lugar mais tranquilo. Quando ouvir o que temos a dizer, até você vai achar que encontrou um tesouro. Eu garanto.
Samuel piscou e gritou — Vamos sair daqui! — antes de se levantar energicamente da cadeira.
— Vamos. Decide depois de nos ouvir. Se não gostar do que ouvir, pode recusar depois.
Alex também deu sua opinião. Seol Jihu se perguntou se havia mesmo necessidade de mudar de lugar, mas não disse nada e se levantou também.
Alex levantou-se com um sorriso animado no rosto e murmurou:
— Estou com um bom pressentimento sobre essa expedição.
— Como assim?
— Porque estamos conseguindo um Guerreiro de Nível 3 como carregador. Você não veria algo tão absurdo em outros times por aqui.
— Mas eu sou Nível 1.
— Claro, claro.
Alex deu uma risadinha rouca.
No escritório do Carpe Diem.
Depois que Seol Jihu foi embora, o escritório permaneceu estranhamente silencioso por um tempo.
Cada um tinha muito em que pensar. Dylan olhava para fora enquanto continuava a tragar seu cigarro com força, enquanto Hugo mantinha uma expressão que gritava: ‘Eu não entendi o que aconteceu.’
— Eiii, merda. Que vergonha do caralho.
Chohong deitou no sofá e continuou reclamando.
— Sério? Porra. Como diabos ele conseguiu completar aquilo?
Enquanto Chohong expressava sua insatisfação, Hugo finalmente abriu a boca para perguntar:
— Dylan, ainda não entendi.
Chohong logo lançou um olhar de advertência para ele, mas Hugo acenou com a mão, indicando que sabia.
— Não estou dizendo que não vou seguir sua decisão, já que você é o líder e tal, mas ainda assim não entendo. Digo, ele não é bom o suficiente para a gente aceitar?
— De jeito nenhum.
Dylan respondeu de forma simples.
— Se considerar a natureza única da nossa equipe, deveria entender por que não podemos aceitá-lo.
— Mas mesmo assim…
— O que precisamos é de um Guerreiro que aumente nosso poder de combate imediatamente. Um novato não é adequado.
Dylan concluiu e voltou a tragar o cigarro.
— Dylan!
— Hugo, chega.
Chohong interveio enquanto coçava a cabeça.
— O atual líder do Carpe Diem é o Dylan. O velhote o nomeou pessoalmente. Vamos parar de discutir sobre isso.
— Eu sei que você está certa, mas mesmo assim. Ehew.
Hugo suspirou, ainda parecendo lamentar pela oportunidade perdida. Dylan eventualmente apagou o cigarro e abriu a boca lentamente.
— Ele tinha olhos muito puros.
Chohong e Hugo se viraram para Dylan com rostos confusos.
— Do que você está falando agora? Alguma coisa do velhote pegou em você ou o quê?
— Hehe. Talvez. De qualquer forma, aquele cara chamado Seol… É um pouco lamentável. Eu entendo de onde vem o sentimento do Hugo.
— É isso aí! Então, tipo, vamos trazer ele para debaixo da nossa asa! Nós também já fomos novatos, lembra?
— Seol é uma tela em branco.
Dylan respondeu calmamente.
— Uma enorme tela em branco, sem nenhuma mancha de tinta. Nem consigo imaginar quão grandes são as dimensões dessa tela, então como eu, ou qualquer outro, poderíamos simplesmente jogar tinta nela de qualquer jeito?
— Que porra. Fala de um jeito que eu entenda, por favor?
Hugo reclamou amargamente, fazendo Dylan esboçar um leve sorriso.
— Reconheço que ele é incrível, mas ainda é um Nível 1. Não sabe muita coisa, então inevitavelmente cometerá erros também.
— Por isso mesmo!
— Por isso mesmo que ele não pode se juntar a equipes como a nossa.
Hugo gritou de frustração, mas ficou completamente sem palavras após aquelas palavras.
Dylan continuou:
— Esse é o momento mais importante para o Seol. É agora que o caminho futuro dele será determinado e que seu potencial inacreditável começará a se revelar.
— Está dizendo que não somos bons o suficiente para ele?
— Não é que não sejamos bons o bastante, é mais sobre quem somos. Sempre lutamos com a vida na linha. Passamos por todo tipo de merda e também ficamos cínicos no processo. O que um cara como Seol poderia aprender com a gente?
As explicações calmas de Dylan fizeram Hugo ficar sem resposta.
— É assim que vejo: corrigir perfeitamente seus erros por trás, liderá-lo na frente enquanto lhe ensina tudo que precisa saber… Seol precisa entrar para uma equipe assim. E, no mínimo, isso não é a gente.
— Claro, a Chohong e eu não prestamos pra isso, mas ainda temos você e o velhote…
Hugo falou num tom bem menos enérgico que antes.
— Eu não tenho tanta confiança nisso. E você sabe que o velhote está prestes a se aposentar.
Dylan afirmou firmemente sua posição e soltou um longo suspiro.
— Certo. Vamos parar de falar sobre isso e seguir em frente. Temos que ir agora mesmo.
— Ir para onde?
Dessa vez, foi Chohong quem perguntou.
— Trabalho. É um pedido do time do Samuel. Hugo, levanta aí. Vamos nessa.
Hugo lambeu os lábios e assentiu devagar.
— Tá bom, beleza. Acho que agora entendi. De qualquer forma, que trabalho é esse?
— Parece que vamos ter que ouvir diretamente da boca dele. Mas ele disse que seria um negócio bem gostoso para a gente.
— Bem, se é aquele desgraçado, definitivamente vale a pena ouvir. Onde vamos nos encontrar?
— Numa estalagem. Talvez ele já tenha algo planejado. Enfim, vamos logo.
Dylan empurrou a porta do escritório para sair, com a outra mão no bolso.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.