Capítulo 89: Apaziguando uma Alma (2/3)

Eles passaram algum tempo próximos à tumba, mas os efeitos da Floresta da Negação não se manifestaram. Se fosse apenas uma pessoa, poderiam atribuir isso à coincidência, mas quando várias pessoas também pararam de suprimir suas emoções e nenhum pensamento estranho invadiu suas mentes, isso fortaleceu ainda mais as suposições de Ian.

Claro, o fato de os efeitos da floresta não os ameaçarem mais era algo bom, mas, de acordo com Ian, ainda não era exatamente motivo para celebração.

Se essa magia expansiva fosse realmente uma proteção, então quão forte seria o ressentimento que se acumulava e fervia dentro daquela tumba?

“Nada é fácil, hein.”

Seol Jihu só pôde lamentar interiormente. Ele pensava que, embora fosse chamada de expedição, não deveria ser muito diferente do que havia experimentado até agora. Apenas iria um pouco mais longe, enfrentaria alguns monstros, encontraria algum tipo de ruína histórica, obteria resultados e sairia de lá. Era o que pensava.

No entanto, o abismo entre seus pensamentos e a realidade provou ser enorme. Será que essa situação se qualificava como ‘um infortúnio em cima do outro’? Logo após escalarem a montanha chamada ‘Lioners’, agora tinham que enfrentar um perigo ainda maior. Claro, nada havia acontecido ainda, mas mesmo assim…

Seol Jihu ativou seus Nove Olhos e começou a morder os lábios ferozmente. De tudo ao redor, apenas a tumba estava envolta em uma sombra negra como breu. Depois de recuperar sua habilidade, essa era a segunda vez que via essa cor, o aviso de Escape Imediatamente.

— Isso não pode estar certo.

Samuel franziu ligeiramente a testa depois de caminhar ao redor da entrada da tumba. Chohong se aproximou dele.

— O que não pode estar certo?

— A entrada.

— O que tem a entrada?

— Estou vendo alguns vestígios.

— Sério? Que tipo de vestígios?!

Quando Chohong demonstrou irritação, Samuel estalou os lábios. Parecia um pouco atordoado naquele momento.

— Parece que o grupo do Kahn também descobriu essa tumba.

— Eh?

— Tenho certeza. Os vestígios batem com os que encontrei enquanto vinha para cá.

— Espera aí. Espera.

Chohong rapidamente reuniu o restante da expedição. Assim que todos estavam presentes, Samuel começou a explicar.

— As marcas de entrada e saída ainda são visíveis a olho nu. Mas há uma diferença notável entre elas: as marcas de saída mostram grande pressa. É como se estivessem fugindo… Parece que escaparam arriscando a vida e se dispersaram para todos os lados.

— Isso é estranho.

Dylan também conferiu, e a incerteza estava estampada em sua expressão.

— Se eu não vi errado, o líder dos Lioners estava carregando a arma do Kahn, não estava?

Ele não tinha visto errado. Todas as armas coletadas após a batalha repousavam quietamente nas mochilas carregadas pelos carregadores.

— No entanto, o grupo do Kahn encontrou a tumba, entrou, foi expulso e se dispersou para escapar… Eles não foram mortos pelos Lioners?

— Não sei. É possível que tenham sido caçados um a um, mas… não consigo entender. Tem algo errado. Algo não se encaixa aqui.

Sentindo-se em conflito agora, Samuel massageou a testa. Soltou um gemido e murmurou, como se não pudesse evitar.

— Não vamos descobrir nada ficando aqui quebrando a cabeça. Vamos apenas entrar e descobrir.

Dylan não parecia totalmente convencido, mas também não discordou da ideia. Como havia uma quantidade limitada de informações, a única maneira restante era enfrentar a situação de frente.

— Parece que teremos que mudar a formação. Chohong e Hugo devem ir na frente…

— Esperem um minuto.

Seol Jihu levantou a mão. A opinião de Samuel era entrar na tumba primeiro e descobrir o resto depois, mas isso definitivamente não podia acontecer. Embora suas palavras tivessem sido interrompidas, Samuel não pareceu insatisfeito.

— Seol? Aconteceu algo?

— Não deveríamos entrar assim.

— Não deveríamos?

Seol Jihu rapidamente abriu a boca ao sentir os olhares exigindo explicações.

— Uhm… Esta tumba é o local de descanso de uma antiga morta, certo?

— Certo.

— Além disso, é a tumba de uma mulher cheia de ressentimento que foi enterrada viva. Se entrarmos assim e tentarmos roubar os bens funerários, ela não ficaria muito irritada conosco?

Suas palavras faziam sentido, mas apenas até certo ponto.

— Você está dizendo que não devemos saquear esta tumba simplesmente por obrigação moral?

Seol Jihu ficou sem saber o que acrescentar. Ele queria impedi-los de entrar, mas mesmo para ele, sua justificativa parecia fraca. Afinal, essa expedição tinha sido formada justamente para saquear a tumba. Se estivesse tão descontente com isso, então nem deveria ter participado.

— Não é isso que estou dizendo…

No entanto, também não podia revelar a existência de seus Nove Olhos.

— Não é? Está bem, pode falar o que pensa. Você também é membro da expedição.

A única razão para estarem ouvindo suas palavras era o grande mérito que ele conquistou na batalha contra os Lioners. Mas, se queria mudar a opinião do chefe da expedição, precisaria de uma razão muito boa.

“O que eu faço?”

Ele ponderou por um momento, até que se lembrou da existência de certo item em sua posse.

— Me deem dez minutos. Não, cinco. Há algo que gostaria de testar primeiro.

— Cinco minutos não é problema. Mas, o que você pretende fazer?

Em vez de responder, Seol Jihu abriu a boca da bolsa que levava no ombro. A bagagem havia sido entregue aos carregadores, mas ele sempre carregava sua própria bolsa.

— Mestre Ian, poderia me dar uma folha de papel que não vá usar?

— Mm? Aqui está.

Quando Seol Jihu perguntou enquanto remexia em sua bolsa, Ian rapidamente puxou uma folha de papel. Em seguida, ficou observando o jovem em silêncio, com a expressão cheia de curiosidade, como se quisesse ver o que aquele Guerreiro de Nível 1 faria a seguir.

— Achei.

Pouco depois, Seol Jihu puxou uma longa pena.

— Hã?

Grace apontou para a pena e exclamou:

— Isso, essa coisa aí! Ei, você conseguiu isso lá no Tutorial?

— Consegui. Como você sabe?

— Eu também consegui isso durante a caça ao tesouro, sabe? É um item ESPECIAL, não é?

— É sim.

— Uau, fazia tanto tempo que eu não via isso.

Quando Grace falou de forma fascinada, Chohong não conseguiu se conter e perguntou:

— E o que é isso aí, então?

— Ah, isso. É chamado de Pena da Consciência Fluída. Você ganha isso naquela máquina de sorteio de itens, se tiver sorte. Custava umas 300 moedas na época.

— E qual é o efeito disso?

— Mm… Em resumo, ele converte o fluxo da consciência do alvo em palavras.

— …E como você usou isso, então?

O rosto de Chohong ainda mostrava confusão. Grace riu de maneira sinistra.

— Usei depois de entrar na Zona Neutra. Tinha um cara que nos acompanhava desde o Tutorial, e eu fiquei curiosa sobre por que ele ficava me rondando.

— He-eh. E o que aconteceu?

— Foi como eu esperava, sabe? Que revelação. ‘Que corpo incrível’, ‘quero dar um tapa nessa bunda’, ‘quero jogar ela na cama’, ‘será que eu forço a barra?’, coisas assim.

Quando Grace falou essas coisas com naturalidade, Samuel começou a tossir alto por algum motivo. Chohong, por outro lado, abriu um sorriso brilhante.

— Pu-hah. Que alívio, então. Pelo menos você descobriu antes que ele fizesse algo.

Grace então inclinou a cabeça.

— Na verdade, não.

— …O quê? Você não se separou dele depois de ler aquelas coisas?

— Mn. Eu apenas deixei ele se aproveitar de mim.

Grace falou como se fosse a coisa mais natural do mundo. Não só Chohong, mas até Hugo a encarou com incredulidade, o que fez Grace resmungar.

— Por que estão me olhando assim? É minha preferência, tá? Por favor, respeitem.

— Para de mentir!!!

De repente, Samuel gritou de raiva.

— Você é quem se aproveitou de mim, não o contrário!! Eu estava dormindo, mas você subiu na minha cama feito um gato e depois…!!

— Kek. Mas as coisas escritas pela pena não eram verdadeiras?

— Keuk…!

Samuel continuou a tremer enquanto Grace ria suavemente.

— Que idiota… Por isso que deveria ter aproveitado quando eu dei a chance. Eu dei muitas dicas, mas você ficou indeciso, sabia? Por isso essa noona teve que…

— Tá, tá bom. Chega. Estamos no meio de uma expedição, certo? Continuem a briguinha de casal depois que voltarmos, e por enquanto, não se esqueçam de onde estamos.

Dylan interveio para mudar o clima. Samuel virou a cabeça para o lado, enquanto Grace mostrou a língua.

— Como você usou essa pena naquela vez?

Quando Seol Jihu perguntou, Grace apoiou o dedo indicador no queixo e revirou os olhos.

— Talvez… Hmm, acho que enrolei um fio do cabelo do Samuel na pena…? O cabelo dele já era comprido naquela época, então conseguir um fio ou dois não foi difícil, sabe?

“Um fio de cabelo, é?”

Seol Jihu olhou ao redor. Então, avistou algumas gramíneas altas crescendo na própria tumba.

“Será que posso considerar essas plantas como parte da tumba?”

Decidiu descobrir. Seol Jihu estendeu a mão, arrancou um talo e o enrolou firmemente na pena. Quando cuidadosamente a colocou sobre o papel de Ian, a pena misteriosamente começou a vibrar sozinha.

— Usar a Pena da Consciência Fluída para descobrir o que a tumba está ‘pensando’… Huhuh. Que sujeito interessante.

Ian expressou sua admiração e ficou olhando para o papel. Não era só ele, todos os membros da expedição focaram sua atenção na pena e no papel.

Foi então.

Sem que ninguém a tocasse, a pena ficou em pé de repente. E então, como louca, começou a se mover freneticamente, rabiscando várias letras. As cabeças de todos se aproximaram para ver.

“Vamos ver.”

Pouco depois.

O rosto de Seol Jihu congelou completamente após ler o primeiro parágrafo.