Capítulo 9: O Despertar (2/2)
【Remetente: O Guia】
【1. Escape do salão de assembleia e chegue à área de espera do segundo andar do prédio principal da escola antes que o tempo acabe.】
【2. Tempo restante: 03:59:38】
KWANG!!
A porta parecia prestes a se partir enquanto as violentas batidas continuavam, emitindo um protesto metálico áspero. Não, era mais preciso dizer que a porta iria se partir, e em breve.
KWANG, KWANG!!
Mesmo vendo com os próprios olhos, era difícil acreditar que aquilo estava realmente acontecendo; a espessa porta de metal havia sido atingida apenas duas vezes, mas cedeu como se fosse feita de papel. Várias dobradiças grossas estavam penduradas perigosamente, prontas para cair ao menor impacto.
— P-Precisamos bloquear isso!!
Mais do que um grito, foi como se todos tivessem entrado em um frenesi.
Os movimentos humanos sob ameaça de morte eram notavelmente rápidos. Yi Seol-Ah pegando sua cadeira e correndo em direção à porta foi o sinal inicial; dezenas de corpos logo se precipitaram para lá.
Alguém trouxe cadeiras desocupadas, outro subiu no palco para ver se havia algo útil ali, enquanto o restante simplesmente usava os próprios corpos para empurrar a porta.
— Kkheuk!
As fortes e incessantes batidas na porta pareciam conter certa raiva, e a força do impacto lançou quatro ou cinco homens para trás como se não pesassem nada.
— Saiam da frente!
Justo a tempo, um grupo trouxe o púlpito do palco e o enfiou contra a porta. Embora isso sozinho não fosse suficiente para bloqueá-la completamente, ainda era melhor do que nada.
As cadeiras foram empilhadas ao lado do púlpito num piscar de olhos. Além disso, cerca de vinte homens apoiaram a porta com todas as forças. Logo, a porta já não parecia prestes a se partir. E, depois que um homem colocou uma cadeira abaixo da maçaneta como uma trava improvisada, a multidão começou a suspirar em alívio genuíno.
— Haa…
Yi Seol-Ah parou de pressionar a porta com as costas e se agachou no chão, como se estivesse tonta.
Talvez a visão de uma jovem frágil lutando desesperadamente parecesse lamentável, pois um homem de meia-idade falou com ela enquanto enxugava o suor da testa.
— Você é bem esperta para alguém tão jovem.
Ele se referia ao fato de ela ter agido primeiro. As pessoas que seguiram seu exemplo assentiram em concordância. Se não fosse pela rápida ação de Yi Seol-Ah, a porta já teria cedido.
Yi Seol-Ah não sabia como responder e abaixou o olhar timidamente.
— -NNão foi nada…
— Eu mesmo congelei de medo. Mas, rapaz, fiquei surpreso ao ver você reagir assim. Quando percebi, heh, eu também já estava me movendo.
— Todos fizeram o possível para ajudar. Eu não teria conseguido bloquear a passagem sozinha.
A aparência envergonhada de Yi Seol-Ah ajudou a aliviar um pouco da atmosfera tensa que permeava o salão de assembleia. Sua personalidade gentil realmente combinava com sua aparência radiante e bonita. Além disso, o fato de ela ser uma Convidada, bem como a primeira a reagir, foi o suficiente para que o grupo desenvolvesse uma impressão favorável dela.
Infelizmente, o que acabara de acontecer foi algo chocante demais para permitir que o ambiente se tornasse caloroso e acolhedor.
— Então, o que devemos fazer agora?
O suspiro resignado de alguém trouxe todos de volta à realidade. Alguns voltaram seus olhares esperançosos para Yi Seol-Ah, mas até ela estava perdida.
Logo, os olhares coletivos dos Contratados começaram a se voltar para os Convidados.
Quando o caos diminuiu, Seol voltou sua atenção para o celular. Além da mensagem do Guia, ele havia recebido mais duas. Uma delas era o ‘Diário de um Estudante Desconhecido’, seu chamado item bônus.
【Remetente: Desconhecido】
【#Salão de Assembleia (um trecho do Diário de um Estudante Desconhecido, página 2.)】
…Havia apenas uma porta para entrar e sair do salão de assembleia.
De alguma forma conseguimos bloqueá-la, mas ao mesmo tempo, também bloqueamos nossa única saída.
Logo, o lado de fora ficou silencioso.
Infelizmente, meus colegas se dividiram em dois grupos.
Um queria esperar para ver por mais um tempo, enquanto o outro queria sair para dar uma olhada…
Quando a discussão esquentou, esquecemos da existência do que estava do lado de fora das paredes.
…Logo, todos aprendemos que ‘aquela coisa’ não era um simples monstro ou um zumbi.
【#Salão de Assembleia (um trecho do Diário de um Estudante Desconhecido, página 3)】
Foi um verdadeiro pandemônio.
Não havia palavras melhores para descrever.
A porta que havíamos bloqueado desesperadamente se tornou inútil.
…No meio do caos, de alguma forma consegui descobrir o ‘buraco’.
“Buraco?”
Seol prestava atenção especial à última linha. Mas, quando levantou a cabeça, o grupo dos Contratados havia se aproximado mais, quase cercando-o.
— Caramba. Isso só está começando, e já estão pegando pesado. Olha só os arrepios no meu braço!
Kang Seok esfregava o braço enquanto falava, mas parecia ter mais do que espaço suficiente para agir com descontração.
— Agora que a porta está toda bloqueada, eu me pergunto o que devemos fazer…
Suas palavras e atitude elevaram as esperanças dos Contratados, que ansiavam por uma solução rápida para seus problemas. No entanto…
— Vamos lá. Vamos dar uma olhada por aí, ver o que encontramos.
Kang Seok levou apenas seus capangas, Yi Hyungsik e Jeong Minwoo, deixando aqueles que esperavam uma resposta para suas preces completamente atordoados.
O homem de meia-idade de óculos, vestindo um terno de negócios surrado, o mesmo que elogiara Yi Seol-Ah antes, apressou-se para ficar à frente deles.
— C-Com licença.
— Ei, Hyungsik, dá uma olhada na parte de trás do palco. E Minwoo, você deveria…
— Com licença, jovem!
— …O quê, eu?
A resposta de Kang Seok veio alguns segundos depois.
O homem de meia-idade não tinha certeza se havia cometido um erro ou não, mas sentiu que Kang Seok havia feito isso de propósito.
— O que vocês estão tentando fazer?
— Uh… Procurando pelo salão de assembleia?
— Procurando pelo salão de assembleia?
— Sim. Tipo aqueles caras.
Kang Seok apontou para o palco, onde Yun Seora e o homem chamado Hyun Sangmin, o sujeito com o boné de beisebol verde, estavam ocupados procurando algo, virando a cabeça para todos os lados enquanto faziam isso.
— Procurando o quê, exatamente?
— Não sei bem. Agora que a saída está toda bloqueada, acho que temos que encontrar alguma coisa, certo? Nunca se sabe o que pode acontecer a seguir.
— Certo, certo. Isso mesmo. Claro.
O homem de meia-idade acenou com a cabeça de maneira entusiasmada, precisando segurar os óculos para que não caíssem de seu nariz.
— Então, quer que ajudemos também?
— Hã?
Kang Seok franziu levemente a testa.
— Por que você… Faça o que quiser, tio. Não sou o chefe aqui nem nada.
— Isso é verdade. Mas vocês, bem, como posso dizer isso… Hmm. Vocês são diferentes de nós, não é?
— Claro, somos diferentes. Então, o que quer dizer com isso?
O tom de Kang Seok permaneceu ríspido. Ele até soava bastante parecido com o Guia ao falar com os Contratados.
— O que quero dizer é que deveríamos nos ajudar mutuamente. Só isso.
O homem de meia-idade ignorou o tom hostil e tentou argumentar, mas o que recebeu de volta foi apenas uma risada debochada.
— Vou ter que recusar educadamente. Ficar com um bando de gente se agarrando à gente vai ser um saco, então prefiro evitar.
— O que quer dizer com ‘um saco’?
— Tanto faz. Cuide dos seus próprios problemas, beleza? Nós três vamos seguir nosso próprio caminho.
Kang Seok recusou a oferta sem hesitação e se virou para sair. O homem de meia-idade gritou:
— Ei, espere um minuto, jovem!
Mas Kang Seok ignorou e continuou andando.
— Que desgraçado mesquinho.
Os passos de Kang Seok pararam abruptamente. Ele olhou para o teto por um momento, soltou um longo suspiro e então virou a cabeça para encarar a pessoa que havia o xingado.
Ele encontrou uma mulher sentada com os joelhos encolhidos, olhando para ele com olhos cheios de veneno. Era Shin Sang-Ah.
— O que você disse?
— Você é um desgraçado mesquinho. Só se preocupa com o próprio pescoço.
— Mas que diabos… Ei, isso está errado, sabia? Eu também me importo com esses dois caras aqui.
Kang Seok envolveu os ombros de seus capangas em um gesto exagerado, com um sorriso viscoso nos lábios. Os olhos de Shin Sang-Ah se tornaram ainda mais hostis.
— Uau, olha só para esse olhar! Você pode matar alguém só com isso, moça.
— Ei, não é ela aquela mulher burra que fez um escândalo agora há pouco? Sabe, pedindo uma bolsa pra ela também e tal.
Yi Hyungsik e Jeong Minwoo riram de forma rouca à custa dela. Não dizia o velho ditado que ‘é mais odiosa a cunhada que impede a sogra do que a própria sogra que te bate’?
— Você não consegue ver essas pessoas aqui? Tem mulheres e crianças!
— Eu vejo muito bem. Tenho olhos bons, sabia?
Shin Sang-Ah gritou com raiva, mas Kang Seok não deu a mínima.
— E, e vocês três… só querem sobreviver sozinhos?
— O que espera que façamos quando também estamos com pressa?
— É por isso que dissemos que ajudaríamos, não foi!?
— Meu Deus, como pode ser tão densa? Ei, presta atenção. Não precisamos da sua ajuda insignificante e nem queremos. Para de tentar nos empurrar esse peso morto.
— Peso morto!?
— Isso mesmo. Você não passa de um fardo. Até um idiota cego pode ver que está tentando se agarrar à gente. Então, xô, xô. Cai fora.
Shin Sang-Ah ficou pasma, sua boca se abrindo lentamente em descrença.
— Vocês três… vocês sequer são humanos?
— Oh? Talvez vocês sejam parasitas, então?
Kang Seok respondeu sarcasticamente até o fim. Shin Sang-Ah não conseguiu conter a raiva e se levantou de um pulo, se preparando para dar um tapa nele. Kang Seok apenas riu de desprezo e tirou os braços dos ombros dos capangas.
E no exato momento em que a situação explosiva estava prestes a se descontrolar, uma jovem saltou rapidamente entre os dois lados para intervir. Era ninguém menos que Yi Seol-Ah.
— Por favor, vocês dois, parem!
Shin Sang-Ah abriu a boca para dizer algo, mas pareceu pensar melhor e simplesmente virou o rosto, sem falar nada. No entanto, seus punhos cerrados tremiam de raiva. Enquanto isso, Kang Seok apenas balançou a cabeça com desdém.
— Já é difícil o bastante passar por isso juntos, então por que vocês dois estão brigando desse jeito?
— Trabalhar juntos, meu rabo.
Kang Seok retrucou com um grito.
— Nós três já nos conhecíamos. Muito antes de virmos para cá, sabia? Por isso, já viemos com um plano nosso.
— Mas!
— Mas, mas, mas. Beija a minha bunda, em vez disso. Ei, você também é uma Convidada, então já deveria ter percebido isso.
Kang Seok sorriu e estendeu a mão para Yi Seol-Ah.
— Vamos parar com essa discussão, certo? Seol-Ah, por que não se junta a nós? Seu irmão é o Sungjin, não é? Eu também o colocarei sob minha proteção.
— …Por que você está disposto a deixar nós dois entrarmos no seu grupo?
— Isso é óbvio, não é? Diferente desses aí, vocês dois vão ser muito úteis para nós.
— Você é uma pessoa muito fria, sabia?
A expressão de Yi Seol-Ah demonstrava decepção, e suas palavras saíram lentamente, sem força.
— Eu também achei que você fosse uma boa pessoa…
Kang Seok apenas deu de ombros, sem se importar, e ergueu a mão.
— Ei, cara! E você?
O ‘você’ a quem ele se referia era um certo jovem que estava a uma curta distância dali, cuidando dos próprios assuntos… Seol.
— Você não quer acabar logo com esse Tutorial idiota? Tenho certeza de que terminaremos rapidinho se você se juntar a nós.
Embora toda a situação tivesse se transformado em uma grande farsa, no fim das contas, isso pouco importava. Agora, até um idiota poderia perceber que Seol tinha um valor desconhecido.
Afinal, ele era alguém a quem nem mesmo o Guia ousava menosprezar. Em outras palavras, ele era alguém especial.
— Por favor, ajude-nos!
Até Yi Seol-Ah implorou para ele.
— Por favor, ajude essas pessoas! Não as abandone, por favor!
Seol não pôde deixar de sentir que estava encurralado entre a cruz e a espada ao ser colocado nessa situação.
De um lado, Kang Seok, do outro, Yi Seol-Ah.
E de um lado, os Convidados, e do outro, os Contratados.
Um lado falava sobre a realidade da situação, enquanto o outro tentava apelar para suas emoções.
Talvez sem surpresa, ao se deparar com tal escolha, Seol instintivamente ativou sua habilidade. Todo o salão de assembleia foi banhado por uma cacofonia de cores.
“O que…?”
Por um momento, Seol erroneamente pensou que estava afundando em um mar de sangue.
E não, ele não havia cometido um erro.
As cores da saída bloqueada mudaram de laranja para verde; em vez disso, era Kang Seok quem agora brilhava em laranja. Ao mesmo tempo, Yi Seol-Ah não emitia cor alguma.
No entanto, Seol não podia se dar ao luxo de se preocupar com essas mudanças de cor naquele momento. Por quê?
Porque todo o chão estava tingido por um tom profundo de vermelho, era por isso. Era como se estivesse olhando para um mar de sangue.
“…Recuo imediato recomendado, não era isso?”
…Assim que Seol pensou nisso, um alto alarme disparou dentro de sua cabeça.
Bump!
De repente, o chão de madeira do salão de assembleia tremeu para cima. As tábuas envelhecidas começaram a se despedaçar, pedaços voando violentamente um por um. As pessoas tiveram que realizar uma dança instável enquanto tentavam recuperar o equilíbrio perdido em meio ao tremor do chão.
— O q-quê diabos!?
— Um terremoto?
Esse pensamento provou ser ingênuo demais para a situação atual.
Aconteceu num piscar de olhos.
O chão explodiu como se uma bomba tivesse sido detonada. E, entre as lacunas dos pedaços de madeira voando, um braço comprido e apodrecido disparou para fora. Havia seis ganchos presos na extremidade desse braço.
O braço desenhou um arco curto, mas afiado no ar, desceu ao chão e agarrou os cabelos da atordoada Yi Seol-Ah, puxando-a para dentro do buraco recém-criado.
— Kyaaaak!!
A cabeça de Yi Seol-Ah bateu com violência contra o assoalho e quicou para cima, e, como uma bola de golfe rolando em direção ao buraco da bandeira, foi sugada rapidamente para dentro do buraco negro aberto no chão de madeira.
— Noonaaaa!!!
Yi Sungjin se lançou sobre o par de pernas viradas para cima que chutavam desamparadas no ar.
— Ajudaaaaa!!
Esse grito despertou a todos de imediato, e a multidão correu para agarrar Yi Sungjin, que também estava sendo puxado para dentro do buraco. Enquanto mais de dez pares de mãos puxavam, agarravam e seguravam com força, sapatos voaram, e até mesmo meias frouxas foram arrancadas.
Em meio ao caos frenético, algumas pessoas conseguiram agarrar as pernas e tornozelos de Yi Seol-Ah, e, a partir disso, desenrolou-se um desesperado cabo-de-guerra.
— Segurem firme!! Não soltem!!
— Puxem para cima!! Eu disse, puxem eles para cima!!
O local inteiro mergulhou em puro e desenfreado caos. Gritos e berros ecoavam; ninguém se segurava enquanto lutavam com todas as forças.
Mesmo com a força combinada de mais de dez homens, Yi Seol-Ah não conseguia ser puxada para fora do buraco. Eles eram violentamente sacudidos de um lado para o outro devido à força avassaladora puxando para baixo, fazendo muitos perderem a pegada e caírem no chão.
— Euahahah!
— Ei! Não soltem!
Foi então.
KYAAAAAAAK!
O grito era, sem dúvida, de Yi Seol-Ah, mas o tom horripilante tornava impossível acreditar que um ser humano poderia emitir tal som.
Splash!
E do buraco, um líquido vermelho explodiu para cima. Era como ver um liquidificador cheio de tomates sendo ligado sem a tampa, com pedaços triturados de carne e suco voando para todos os lados.
O sangue carmesim choveu como uma pequena fonte.
— Noona!! Noonaaaa!!
As pernas que até então chutavam e se contorciam de repente ficaram rígidas e imóveis. Todos os seus dez dedos dos pés se encolheram simultaneamente; suas coxas tremeram; e então, como uma marionete com os fios cortados, seus joelhos se dobraram. Uma sensação doentia de algo sendo cortado foi transmitida para as mãos de todos que tentavam puxá-la de volta.
A força de tração vinda de baixo desapareceu de repente. Todos caíram de costas com estrondosos baques.
Entre eles, um homem esfregava o traseiro dolorido. Com uma careta, olhou para suas mãos.
Ele ainda segurava um tornozelo esbelto. Abaixo dele, uma perna lisa e bem torneada. Mais abaixo, uma saia azul encharcada de sangue.
Além disso… ele não conseguia ver nenhuma outra parte do corpo conectado. Tudo o que via eram restos de intestinos esmagados e pedaços de carne mutilada.
— Aaa…
Ele viu a silhueta de algo humano lentamente emergindo do buraco no assoalho.
— Aaah…
Seus cabelos longos e desgrenhados pareciam dançar descontroladamente, encharcados de sangue e pedaços de carne humana da cabeça aos pés.
— Aaah, ah…
Sua cabeça era pelo menos quatro vezes maior que a de um homem adulto. E havia um único olho gigante que ocupava quase metade dessa enorme cabeça.
— Ah, ah, ahhhhaaaack!!
O homem não conseguiu se conter mais e gritou. Levantou-se o mais rápido que pôde e correu para salvar sua vida. Não sabia para onde, mas contanto que pudesse se afastar daquela criatura o máximo possível, isso era o bastante.
Logo, o salão de assembleia mergulhou em puro caos. Não havia outra descrição apropriada. As pessoas ficaram completamente aterrorizadas com a grotesca aparência da criatura e, gritando a plenos pulmões, dispersaram-se por todos os lados.
“…Meus, meus pensamentos estão…”
Quando Seol recobrou a consciência, percebeu que estava correndo em direção à porta bloqueada.
“Por que…”
Ele deveria estar ouvindo todo aquele pandemônio ao seu redor, mas os sons se tornavam cada vez menos proeminentes, desaparecendo no nada. Tudo parecia desacelerar para um movimento quase paralisado.
Tudo, até o homem ocupado puxando e jogando fora as cadeiras que bloqueavam a saída; até a criatura monstruosa que agora havia se revelado completamente do buraco, estendendo seus longos membros como uma aranha e iniciando seu ataque contra a multidão em fuga…
Cada um desses pequenos detalhes, ele podia vê-los se desenrolando em câmera lenta, sem perder nada.
“Por que…”
Ele estava com dificuldades para respirar. O suor que caía em seus olhos se espalhava como tinta, borrando sua visão.
“Por que…”
Quantos morreriam ali hoje? O chão já estava escorregadio de sangue. E também estava pegajoso.
Seu corpo ficou mais pesado e sua velocidade de corrida diminuiu gradualmente. Ele até começou a se perguntar se estava apenas agitando braços e pernas sem rumo. Tudo estava um completo caos.
No fim, Seol parou de correr e ficou parado, mesmo estando a poucos passos da saída.
De repente, a respiração contida explodiu para fora. Ele conseguia ouvir seu próprio fôlego escapando; o vento frio que soprava pela saída agora completamente aberta fez com que seu corpo fervente e enraivecido relaxasse. Seu coração continuava a martelar em seu peito.
Seol sabia muito bem o quão estúpido e perigoso era ignorar os avisos de recuo imediato. Ainda não era tarde para fugir, nem agora. E, no entanto…
“Por que… estou tão calmo?”
O ar acre ardia em seu nariz, seu corpo queimava e ele se sentia tonto. Mas então, a sensação familiar de vertigem que o atacava desapareceu.
A névoa onírica dissipou-se quase imediatamente, e o mundo ao seu redor tornou-se claro novamente. Seol fechou os olhos lentamente.
O monstro estava ocupado devorando um cadáver, mas parou e virou a cabeça abruptamente. Girou como o ponteiro dos segundos de um relógio e encontrou um único homem parado próximo à saída do salão. Correu em sua direção de quatro patas.
Kheehick?
Ao ver que o homem não se movia nem um centímetro, inclinou a cabeça em confusão e esticou o pescoço. E, da mesma forma que uma pessoa avaliaria um prato de comida antes de comê-lo, o monstro estudou Seol com grande interesse.
A matéria estranha e desconhecida roçou em suas bochechas, e o odor repugnante atacou seus sentidos.
Era uma sensação estranhamente familiar, e um cheiro acolhedor.
Sua percepção sensorial tornou-se incrivelmente aguçada. Os olhos fechados de Seol se abriram levemente. Bem diante de seu nariz, esperava uma enorme fenda vertical negra de uma pupila, cercada por escleras injetadas de sangue.
E quando seu olhar encontrou aquele olho transbordando de desejo assassino…
— …
Um sorriso relaxado surgiu nos lábios de Seol.
Keeeick!
O monstro apressadamente retraiu o pescoço.
Com os olhos ainda semicerrados, ele deu um leve chute na perna quebrada da cadeira caída perto da saída.
Se deveria enfrentá-lo ou dar-lhe as costas; ele já tinha sua resposta; o Seol do sonho lhe disse.
Ele disse a Seol que uma criatura como essa… não era nada para ele. Ele até perguntou a Seol: “você já superou situações ainda mais perigosas do que essa, não foi?”
…Até mesmo o Seol de antes do vício em jogos, antes de perder sua habilidade, disse a mesma coisa; agora era a hora de apostar tudo.
Ele agarrou a perna da cadeira que girava no ar. Por alguma razão, sentiu-se perfeitamente encaixada em sua mão.
E, mesmo que não fosse uma lança, ainda assim a segurou como se fosse e assumiu uma postura.
E, logo depois disso, seus olhos se arregalaram.
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