Índice de Capítulo

    Uma expedição era uma entidade que compartilhava um mesmo destino, essa afirmação de Samuel era algo com que praticamente todos os Terrestres prontamente concordariam.

    Não importava se o relacionamento entre eles era ruim ou se existia algum ressentimento; enquanto pertencessem à mesma expedição, todos os membros tinham que cooperar uns com os outros. Caso contrário, havia uma grande chance de a expedição se tornar um caos incontrolável durante uma marcha ou batalha. Isso, obviamente, colocaria a vida de todos em risco.

    Nesse sentido, tanto Seol Jihu quanto Clara careciam do aspecto ‘educacional’ que tornava os Terrestres quem eles eram.

    Cega pela ganância, Clara deu motivo com suas ações tolas e, ao ser criticada por isso, ficou irritada. Seol Jihu foi provocado por ela e, em seguida, a encurralou implacavelmente.

    O resultado foi a atmosfera da expedição se tornar gélida. Todos sentiam como se estivessem pisando em ovos.

    Clara continuava a enxugar os cantos dos olhos, respirando de forma pesada e áspera, como se não conseguisse superar sua raiva. Seol Jihu a ignorava deliberadamente.

    Eventualmente, Samuel parou de liderar a equipe apenas dez minutos depois de deixarem a tumba.

    — Mestre Ian, peço desculpas, mas podemos retornar para as proximidades da tumba?

    — Mm? Por quê?

    — Parece que saímos rápido demais.

    — O que você quer dizer com isso?

    — Acho que deveríamos fazer uma pequena pausa primeiro. Pelo que nos contou antes, imaginei que as proximidades da tumba fossem o local mais seguro…

    Samuel lançou um olhar para Clara, que ainda soluçava, e o final de sua frase se perdeu.

    — …Me desculpe. Ela não está na equipe há muito tempo. É apenas Nível 2, então ainda é um pouco inexperiente em alguns aspectos.

    Ele revelou o motivo da pausa com um tom de voz embaraçado. Ian examinou os arredores, sem se importar muito.

    — Pensando bem, não fizemos nenhuma pausa desde que entramos na floresta pela manhã. Até mesmo a hora da refeição passou batido. Certo, vamos descansar aqui.

    — Quer dizer, bem aqui? Mas…

    — Vai ficar tudo bem. Se está preocupado com os efeitos da Floresta da Negação, acredito que estaremos seguros.

    — É mesmo?

    Ian assentiu com a cabeça.

    — Um Mago é mais sensível ao fluxo de energia mágica. Se minha hipótese estiver correta, o limite de ativação daquela magia defensiva estará um pouco além de onde estamos agora.

    — É… mesmo?

    Por um breve instante, uma luz estranha cintilou nos olhos de Samuel. Porém, foi algo realmente rápido.

    — É difícil de acreditar, não é? Um feitiço que cobre essa floresta imensa.

    — Bem, ele era chamado de sábio até mesmo pelas pessoas do antigo Império. Não deveria nem me comparar a ele, um falso como eu. Ah, é apenas uma suposição minha, então não se prenda muito a isso.

    Ian acenou displicentemente com a mão e se acomodou com um leve gemido.

    — Todos, vamos fazer uma pequena pausa! Comam algo, se estiverem com fome!

    Samuel gritou em voz alta e depois ficou encarando Clara em silêncio por um tempo. Permaneceu ali, parado, como se estivesse em um dilema. Em seguida, chamou Alex, que ainda tentava, sem sucesso, acalmar Clara.

    — Alex, vamos conversar um pouco.

    Samuel arrastou Alex para um canto e eles conversaram em voz baixa por um tempo. Alex fez uma expressão preocupada e desviou o olhar para Clara, que agora estava sendo consolada por Grace.

    Depois, Samuel se aproximou de Clara. Seu semblante parecia determinado, como se já tivesse tomado uma decisão.

    — Clara. Precisamos conversar.

    Hic! Aquele desgraçado…!

    — Pare! Você não é mais uma criança! Não percebe que suas ações estão prejudicando o clima da expedição?

    Clara continuou fungando amargurada.

    — Eu só, eu…!

    — Eu entendo. Eu entendo, então abaixe a voz. Vou ouvir tudo o que você quiser dizer, mas venha comigo.

    Samuel disparou irritado, agarrou o braço dela e a arrastou para mais fundo na floresta. Grace seguiu os dois em silêncio até desaparecerem da vista.

    — Que idiota. Sério mesmo.

    Chohong soltou palavras zombeteiras enquanto mastigava um pedaço de carne seca.

    — Chohong.

    Dylan a advertiu rapidamente, já que Alex havia voltado. Mas este apenas acenou com a mão, com um sorriso fraco no rosto.

    — Não, não. Está tudo bem. Honestamente, nem eu tenho algo para defendê-la… Tsk.

    Enquanto via Alex clicar a língua, Hugo abriu a boca.

    — Vai ficar tudo bem se você não for atrás deles?

    — Mm?

    Hugo levantou o dedo mínimo.

    — Quero dizer, ela é a sua garota, não é? O Samuel acabou de pedir para você acalmá-la de algum jeito.

    — Bem, isso…

    Os ombros de Alex murcharam visivelmente antes que ele bagunçasse o cabelo em frustração.

    — Argh, droga! Não quero mais saber.

    — Não vou te ajudar se se meter em confusão depois…

    Hugo deu uma risada alta. Alex soltou um longo suspiro e tirou o altar de sua mochila. Colocou alguns pratos sobre ele de qualquer jeito e jogou um pouco de comida por cima. Ao ver isso, Chohong não se conteve e perguntou:

    — O que você está fazendo? O que está fazendo com a comida?

    — Quero, pelo menos, fazer ela comer algo. Além disso, também é para os outros se alimentarem.

    Alex respondeu sem nem olhar para ela.

    — Por que ela mesma não vem comer aqui?

    — Com a personalidade dela, não vai se acalmar tão cedo. Tudo o que posso fazer é alimentá-la e torcer pelo melhor.

    — Bom, faça como quiser. Mas se ela voltar para cá e continuar com aquele jeitinho irritante dela, não vou ficar quieta. Entendido?

    Che. Eu ouvi. Mas mesmo assim, você não está favorecendo alguém de forma bem descarada?

    Alex cuidadosamente pegou o altar e começou a caminhar na direção para onde seus companheiros tinham ido. Enquanto isso, Chohong lançou um olhar de esguelha depois de ter seu ‘ponto fraco’ exposto de maneira tão direta. Seol Jihu estava sentado um pouco afastado, ocupado em tragar um cigarro.

    Hugo parou de engolir comida e se aproximou sorrateiramente do jovem, estendendo as mãos em concha. Seol deu uma risada e tirou um novo cigarro para ele.

    — Keuh! Como esperado, Seol, você realmente é esperto, sabia?

    Hugo sorriu brilhantemente e deu um tapinha leve no ombro do jovem.

    — Você não está desanimado por causa daquela briga, certo?

    — De jeito nenhum.

    — Isso mesmo. Você não fez nada de errado. Até eu não queria tocar naquele caixão, sabia?

    — Sério?

    — É. Tipo, eu até fiquei meio tentado naquela hora, mas parecia que meus instintos me impediram de fazer qualquer coisa. Eu não parava de ter a sensação de que não deveria tocar naquele caixão.

    Seol Jihu olhou para Hugo com renovado interesse. O grandalhão era um Guerreiro Bárbaro, então o jovem não pôde deixar de se perguntar se ele possuía algum tipo de instinto animalístico ou algo do tipo.

    — De qualquer forma, você foi muito incrível naquela hora.

    — ?

    Ainda com o cigarro preso entre os lábios, Hugo se levantou. Em seguida, assumiu a posição de quem mira algo à sua frente e formou uma expressão grave e intensa.

    — …Se você realmente quiser isso, tente pegar sobre o meu cadáver.

    Chohong caiu na gargalhada. Até Dylan começou a rir discretamente. As bochechas de Seol Jihu ficaram vermelhas na mesma hora.

    — Eu disse mesmo isso?

    — Disse sim! Nossa, achei que ia me mijar de tanto rir!

    — Bom, é que… eu simplesmente não consegui entender. Ainda não sei se aquilo valia tanta cobiça assim.

    — Com certeza era algo capaz de despertar esse tipo de ganância.

    Seol Jihu falou o que lhe veio à mente para mudar de assunto, mas uma resposta acabou vindo mesmo assim.

    — Eu não sei muito sobre o colar em si, mas sei bem o que aquele objeto era.

    Ian massageou levemente a nuca enquanto continuava.

    — Se a memória não me falha, aquilo era provavelmente a Prova de Castitas.

    — Prova de… quê?

    Quando Hugo perguntou de volta, Ian esclareceu:

    — É a prova da castidade. Um dos artefatos concedidos a uma santa.

    — Mas virar santa não era só um gesto simbólico?

    — Bem, não é só mulher casta que é canonizada como santa. E, já que você se torna uma figura simbólica, às vezes é necessário aparecer em público, não acha?

    Ian piscou levemente e, em seguida, olhou para Seol Jihu.

    — Você já ouviu falar de um sistema mágico chamado Memorizar?

    — Já ouvi falar.

    — Ótimo, isso facilita a explicação. Originalmente, o Memorizar deveria ser algo exclusivo da classe Mago. À medida que seu nível aumenta, o número de magias que você pode ‘armazenar’ também sobe. Por exemplo, eu posso armazenar até quatro magias.

    — É impossível para um Sacerdote armazenar magias?

    — Normalmente, sim. Isso porque Sacerdotes estão mais ligados aos deuses. Muitas magias importantes, que exigem o poder dos deuses, só podem ser ativadas através do princípio da troca equivalente. Não é à toa que Sacerdotes carregam altares e oferendas para todo lado.

    Seol Jihu assentiu. Por alguma razão, ele se lembrou do rosto da Maria de repente.

    — A verdade é que muitos Sacerdotes acham esse ponto bem incômodo. No entanto, existe um item que compensa essa deficiência.

    — Por acaso, aquele crucifixo que o Alex carregava era um deles?

    — Correto. Existem artefatos que permitem armazenar magias e lançar magia sagrada sem precisar de oferendas. Claro, existe um limite de usos, mas só esses dois pontos já tornam tais artefatos extremamente valiosos para Sacerdotes. Em emergências ou quando as magias preparadas se esgotam, esses itens se tornam indispensáveis.

    Só agora Seol Jihu entendia por que Alex desejava tanto aquele item. Agora que havia perdido seu artefato, Alex não era diferente de um Sacerdote comum.

    — Acho que essa Prova de Castitas é um item muito melhor do que o que o Alex perdeu.

    — Não precisa nem mencionar! Na verdade, até fico envergonhado de ter pensado em comparar os dois. Você pode armazenar seis magias sagradas pelo tempo que quiser, sem nenhum custo, o que equivale a possuir o poder de um Mago de nível 6. Além disso, não há limite de vezes que você pode usar o artefato, então dá para imaginar o quão incrível ele é?

    Ian falava com paixão, mas Seol Jihu ainda não conseguia captar totalmente. Ele só podia supor o quão extraordinário era o item, julgando pela boca escancarada de Chohong.

    — Se tivéssemos saído de lá com aquele artefato, tenho certeza de que todos os Sacerdotes do Paraíso teriam vindo atrás de nós.

    — A esse ponto…?

    — Não estou exagerando. E ainda tem os outros acessórios: a espada longa e o escudo. Cada um deles provavelmente valeria tanto quanto a Prova de Castitas.

    Com sua explicação concluída, Ian olhou para o jovem com olhos calorosos.

    — Bem, agora é minha vez. Respondi a uma pergunta sua, então gostaria que respondesse a uma minha.

    Seol Jihu inclinou a cabeça.

    — Desde que eu possa responder.

    — Então me diga: o que você teria feito se eu tivesse votado a favor naquela hora?

    Essa era mais uma pergunta sem uma resposta fácil. Afinal, ele havia ficado indeciso até o último momento.

    O que deveria dizer? Seol Jihu ponderou por um instante antes de decidir ser honesto.

    — Eu não sei. Tentaria convencer os outros? Lutaria? Ou simplesmente desisti e fui embora? Antes do Hugo votar contra, eu estava em um dilema. Não tenho certeza de qual teria sido minha escolha.

    Ele tentou entender a possível razão de Ian perguntar aquilo, mas o velho Mago permaneceu impassível. E pensar que, quando se conheceram, Seol Jihu achou que ele era uma figura excêntrica. Agora, vendo aqueles olhos profundos e pensativos, Ian parecia uma pessoa completamente diferente.

    — Independentemente do resultado, você nunca pensou em tocar nos itens do sarcófago, não é?

    — Exato.

    Ian encarou Seol Jihu em silêncio, como se estivesse tentando julgá-lo.

    — Você é um homem justo.

    — Um homem justo? De jeito nenhum. Hahaha.

    Seol Jihu soltou uma gargalhada.

    “Eu sou justo?”

    Até um vira-lata daria risada dessa ideia. No entanto, as sobrancelhas de Ian se ergueram e abaixaram rapidamente depois de ver o jovem negar aquilo sem a menor hesitação.

    — Ser modesto é uma qualidade admirável. Ainda assim, para mim, você parece um homem justo. Caso contrário, você não teria se esforçado tanto para proteger uma mulher que já estava morta. Estou errado?

    — Não vou negar que senti simpatia por ela. Mas se acredita que agi apenas por causa dela, então…

    — Está dizendo que não? Se for o caso, por que tentou desesperadamente impedir a Clara naquela hora?

    — Mm… Se fosse para colocar em palavras, diria que também foi por mim.

    — Por… você mesmo?

    — Sim.

    E não era mentira. Afinal, ele não queria morrer. Além disso, também não queria que sentimentos ruins permanecessem em seu coração.

    Ian fechou os olhos calmamente. Como se estivesse refletindo sobre o que Seol Jihu acabara de dizer, permaneceu parado, sem se mover.

    Seol Jihu inclinou a cabeça em confusão e olhou para Chohong, mas ela apenas deu de ombros, levantando as mãos como quem dizia ‘também não sei’.

    Depois de um tempo, a barba de Ian começou a tremer.

    — Fufu. Fufufufu…

    Ele sorriu suavemente, esfregou a testa e abriu os olhos.

    — Então era isso. Eu me perguntava por que sentia uma certa incongruência sempre que olhava para você, mas agora… acho que consegui entender um pouco melhor. Você é mesmo um sujeito interessante. Suas palavras e ações são incomuns, mas seus pensamentos também são bem peculiares.

    — Ei, isso não é a mesma coisa?

    Hugo perguntou, mas Ian parecia estar falando consigo mesmo, então não respondeu. Logo, o Mago sorriu calorosamente e acariciou a barba.

    — Seol, deixe-me me apresentar corretamente. Sou Ian Denzel, Alquimista de Nível 4, atualmente a serviço do Corpo Real de Magia. Sou da Área 4.

    De repente, ele se apresentou.

    — Pelo que ouvi, não faz muito tempo que você chegou a Haramark. Já encontrou um time para se juntar?

    Acena, acena.

    — Muito bom. Na verdade, eu estava planejando me demitir do Corpo Real de Magia.

    — Sério?

    Surpreendentemente, Dylan perguntou, o que era raro.

    — Já informei minha decisão. Disse que a exploração da Floresta da Negação seria minha última missão para eles. Bem, é verdade que era confortável lá, mas também podia ser sufocante e entediante. Acredito que já retribuí a gentileza deles.

    Ian sorriu brilhantemente.

    — De qualquer forma. Logo estarei desempregado, e nenhum time me convidou ainda, então… que tal? Que tal dois sujeitos em situações parecidas se unirem?

    Após ouvir a sugestão do mais velho, Seol Jihu ficou completamente atordoado.

    — Com licença?

    — Estou dizendo: não gostaria de ir na próxima expedição com este velho aqui? Depois que formarmos um time, claro.

    Uwahk?! Ei, Dylan!

    Hugo gritou e rapidamente se ajoelhou no chão em uma posição de prostração.

    — Droga, o que você está fazendo? Ajoelha logo! Seol-nim! Desculpe por termos te rejeitado da última vez!

    Ao ouvir isso, os olhos de Ian se arregalaram.

    — Do que estão falando?

    — Meu Deus.

    Dylan começou a rir secamente, e Ian rapidamente entendeu o que havia acontecido.

    Huh-uh. Mas, por quê? Sempre achei que você tivesse olhos bem atentos.

    — Para ser sincero, fiquei tentado sim. Mas eu não tinha confiança nenhuma. Se o velho estivesse conosco, então…

    — Ah, aquele sujeito? Agora que penso bem, faz tempo que não ouço nada dele.

    — Ele está se preparando para se aposentar.

    A floresta ficou mais barulhenta à medida que várias pessoas começavam a levantar a voz. Hugo continuava a implorar para Dylan, mas este permaneceu em silêncio. Enquanto isso, Ian disse a Seol Jihu que ele não precisava responder imediatamente, que deveria pensar com calma, e encerrou a conversa ali.

    Seol Jihu ainda estava atordoado, mas mesmo assim, a felicidade crescia rapidamente em seu peito. A expedição estava chegando a uma conclusão bem-sucedida, e parecia que ele ainda receberia recompensas adicionais. Além disso, até mesmo um Mago havia tentado recrutá-lo com as palavras ‘vamos formar um time’.

    Ele pensava que tudo daria certo, contanto que voltassem a Haramark em segurança. Foi então que aconteceu.

    — Aaaaaaack!!

    Ao longe, um grito desesperado ecoou.

    A conversa fluída cessou abruptamente.

    Duas pessoas reagiram antes de qualquer outra.

    — Dylan!

    Chohong agarrou sua maça e gritou, fazendo Dylan ranger os dentes.

    — Foi o Alex. Veio da direção da tumba!

    “O que foi isso??”

    A expressão de Seol Jihu endureceu. O que estava acontecendo? Samuel e sua equipe não haviam mudado de local justamente para acalmar a Clara?

    — Que imbecis!!

    Chohong cuspiu furiosa e saiu correndo primeiro.

    A atmosfera cordial se desfez num instante. Mesmo enquanto corria junto com os outros instintivamente, Seol Jihu continuava a rezar em seu coração.

    …Para que seus pensamentos estivessem errados.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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