Capítulo 10 - Um último passeio antes do adeus
Agora, com o caminho livre, o grupo das meninas, iluminado pelo Sol da tarde, se vê novamente contemplando os campos verdes. A maior parte da vegetação em sua frente é composta por grama, com poucas árvores de grande porte espalhadas pela imensidão do campo à sua frente. O vento, no sentido nordeste, passando pela grama, faz o tapete de plantas dançar.
“Sem tantos arbustos,vai ficar bem mais fácil seguir montada até as ruinas”, Jenny pontua.
As garotas retiram a bagagem que está sobre os cavalos e começam a os aprontar para a viagem montada.
A meia-elfa retira sua mochila das costas do animal e nota um detalhe incomum. “Tem algo errado com esses cavalos”, diz ela.
Rubi, que está ao lado da meia-elfa segurando sua mochila, dá uma boa olhada no animal e não vê nada estranho. “Por quê?”, ela pergunta.
“Eles parecem normais”, Arielle afirma em um tom de desconfiança.
“E tem alguma coisa errada nisso?”
“Devem ser roubados”, Helga comenta.
“Ah sim”, diz Arielle. “Não tinha pensado nisso.”
“Como você sabe?”, Rubi pergunta.
“Os Cultistas adoram deixar claro que as coisas deles são deles”, Helga afirma.
A afirmação deixa Rubi curiosa. “Deixar claro em que sentido?”, ela pergunta.
“Quer dizer que eles não são muito de se esconder”, Jenny comenta.
“Quem usaria um manto vermelho no meio de uma floresta?”, Helga pergunta retoricamente.
“Tem razão. Não analisei esse detalhe”, Rubi pontua. “Não parece nada inteligente.”
“Isso vale para os cavalos deles também”, Jenny continua. “Eles marcam runas e desenhos com fogo ou deixando cicatrizes. Alguns animais ficam todos marcados, da cabeça até a cauda. Eles também usam selas vermelhas e com espinhos.”
“Sempre tem uma runa dessas pelo menos abaixo da sela”, diz Helga. “Nesses não tem.”
“Isso é bem cruel”, diz Rubi. “E bastante doloroso para os animais.”
“Muito cruel”, Arielle concorda, sua voz soa em um tom bastante amargo.
Rubi se assusta vendo a meia-elfa falando assim. Caramba. Foi a primeira vez que ouvi ela falar assim, pensa a demônio. Normalmente ela é tão inocente que dá vontade de morder.
“Pode até ser cruel, porém dá certo”, Helga afirma. “Eu nunca vi alguém roubar um cavalo deles.”
Arielle olha para Helga com um olhar de desdém, julgando-a pela afirmação fria.
“O que foi? Não estou dizendo que faria isso, mas é verdade que funciona”, Helga se explica.
Rubi estranha o comportamento de Arielle. Será que é tão ruim assim?, ela se questiona. Eu quase matei a Jenny, e ela me perdoou. O que a faria sentir rancor de verdade contra alguém? Preferiria nunca descobrir a resposta. O ditado é verdade, demônios fogem quando um homem bom vai à guerra.
Ao final da conversa, o grupo termina de se preparar. Jenny e Helga montam em seus cavalos, enquanto Rubi e Arielle compartilham o mesmo animal, que é guiado pela meia-elfa, com a demônio na garupa. As quatro partem, cavalgando em alta velocidade pelas planícies.
Jenny se aproxima pelo lado esquerdo de Arielle e Rubi. “Nunca montou num desses?”, ela pergunta enquanto guia seu animal.
“Não”, diz Rubi se segurando na cintura da meia-elfa.
Helga também se aproxima e fica em paralelo pela direita de Rubi. “Não sabe mesmo montar?”, ela insiste na pergunta de Jenny
Rubi fica envergonhada. “Eu nunca aprendi”, ela afirma.
Não sei andar a cavalo nem no jogo, nem na vida real. Tentei montar no que restou na clareira, mas falhei miseravelmente. Pensei que pudesse ter um maestria ou algo do tipo, mas nada…, ela relembra frustrada. Ainda bem que a Arielle se ofereceu para ajudar.
“Esse é o nosso lorde demônio”, Helga afirma de maneira irônica. “Estamos ferradas”, ela lamenta.
“Tá tudo bem”, diz Arielle tentando animar Rubi. “Todo mundo tem coisas que não consegue fazer.”
“É verdade”, Rubi concorda.
Não tem como não querer morder uma fofura dessas, ela contempla.
A meia-elfa cavalga pela planície com muita maestria, e mesmo tendo que levar uma pessoa extra, seu cavalo é quem lidera o grupo na frente.
Rubi fica impressionada vendo a habilidade de Arielle.Isso é bem legal, ela pensa. Será que tem algum lugar com aulas de hipismo na minha cidade? Se houver, vou levar o Miguel.
A demônio olha para os lados observando Jenny e Helga. Elas estão cavalgando com olhares determinados e concentrados, e mesmo sem ver, ela tem certeza de que essa é a mesma expressão de Arielle no momento. Mas para isso, eu preciso sair daqui primeiro, ela se motiva determinada, relembrando o motivo de toda essa jornada.
E a cada instante, o grupo fica mais e mais próximo de seu objetivo. Depois de horas viajando pela planície, as garotas, ainda sob a luz do sol da tarde, avistam no horizonte as grandes rochas indicando que estão chegando ao seu destino. Mesmo com as ruínas longe é possível notar, entre os grandes pilares de rocha, um intenso brilho verde.
As ruínas formadas por grandes pilares de pedra em pé, dispostos pelo chão criando um grande círculo de rochas no meio da planície. Mas, diferente do local da noite anterior, um dos pilares de pedra está faltando.
No local onde ele deveria estar, apenas rochas menores são vistas espalhadas fora do círculo. Vinhas e arbustos cobrem essas rochas menores, indicando que elas estão ali há muito tempo.
Esse lugar é quase idêntico ao lugar onde fui invocada, Rubi relembra. Menos por um detalhe.
“O que é aquele brilho verde?”, a demônio pergunta.
“Deve ser a barreira”, Arielle supõe.
“Eu tenho quase certeza que ontem ela era rosa”, diz Jenny.
“O mesmo rosa da minha coroa?”, Rubi pergunta.
“Exatamente”, diz Jenny.
“Qual era a cor da coroa do seu irmão?”, questiona a meia-elfa.
“Verde. Exatamente igual àquele.”
“E ele ó o demônio do que mesmo?”, Jenny pergunta.
“Da preguiça”, Rubi responde.
“Não é uma reunião de família que eu queira ver”, diz Helga.
“Não vai haver uma. Não nesse mundo.” A demônio afirma com intensidade.
Elas diminuem o passo de seus cavalos, seguindo com cautela, pois sabem que se conseguem avistar as ruínas, quem está nas ruínas também pode avistá-las.
Agora mais próximas é possível notar, dentro das ruínas, um grande domo verde translúcido toma conta de praticamente todo o espaço interno daquele local.
“Aquele domo é a barreira que vocês falaram?”, Rubi pergunta.
“Sim”, Arielle afirma. “Não conseguimos passar por ele até que você fosse invocada.”
“Sabe lidar com aquilo?”, Jenny pergunta.
Rubi suspira. “Sei”, ela afirma não muito animada. “Tem o jeito fácil e o jeito difícil.”
Pelo tom de Rubi, Jenny já se desanima, mesmo assim ela pergunta, “E você só consegue usando o jeito difícil, não é?”
“Uhum”, responde Rubi.
“Qual o jeito fácil?”, Arielle pergunta.
“Existem magias para esse tipo de remoção de barreiras”, a demônio responde. “Seria muito mais fácil só usar uma dessas.”
“E o difícil?”, Jenny questiona.
“Batendo por muito tempo”, Rubi afirma. “Até quebrar.”
Escutar isso faz Helga ficar animada. “Isso eu consigo fazer”, ela afirma com um sorriso no rosto.
“Pra você é fácil. Não usa mana para atacar”, a meia-elfa crítica.
“Uma boa pancadaria nunca me desanimou, e dessa vez não vai ser diferente.”
“E depois de quebrar ainda vamos ter que lidar com todos os mantos vermelhos dentro das ruínas”, Jenny lembra.
“Podem vir todos de uma vez”, diz Helga.
Arielle fica receosa pensando nessa opção. “Da outra vez você fez isso, não adiantou nada”, ela pontua. “Rubi, tem certeza que essa é a nossa única opção? Não pareceu muito efetivo.”
Rubi pensa um pouco. “Não devem ter conseguido causar dano por tempo suficiente”, ela supõe. “Quando eu digo bater muito, é muito mesmo.”
“Então dessa vez vamos fazer com que seja”, Jenny afirma confiante.
“A minha mana…”, a meia-elfa lamenta.
“Eu te entendo…”, Rubi murmura.
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