Capítulo 13 - Fogo
O golpe final de Helga destroça a barreira. As rachaduras se expandem por todo o domo, fazendo-o desmoronar aos pedaços dentro das ruínas. Inicialmente, alguns cultistas se assustam vendo os destroços translúcidos caindo sobre suas cabeças. Porém, antes de tocarem o chão, os escombros se desfazem no ar, como se nunca tivessem existido.
Após o alarde inicial os nove cultistas dentro das ruínas retornam às suas posições de combate. Quatro deles permanecem próximos ao centro, dentre eles Edric. Três desses quatro estão portando espadas e adagas, enquanto Edric está de mãos limpas. Todos estão em guarda, protegendo o cristal que permanece flutuando entre eles.
Os outros cinco, mais próximos à borda das ruínas, avançam também munidos de espadas e adagas. Seu alvo inicial é Helga, que além de estar mais próxima, é a principal responsável pela queda da barreira.
Helga, mesmo cansada, os aguarda. Ela não recua um único passo, ao invés disso, pega seu escudo no chão, levanta seu pesado machado com a outra mão e se prepara para lutar. “Podem vir cinco ou vinte. Não tenho medo de vocês”, ela brada em voz alta.
Os algozes furiosos de Helga levantam suas lâminas enquanto encaminham-se até ela. No caminho, uma onda de flechas mágicas os intercepta pela direita de Helga, empurrando-os alguns passos para trás, retardando seu progresso.
Helga, surpresa, olha na direção de onde vem o disparo e vê Rubi com seu arco empunhado, Arielle terminando a conjuração de um feitiço e Jenny correndo em sua direção.
“Benção do vento!”, exclama a meia-elfa.
Com essa magia, a velocidade de Jenny aumenta consideravelmente. Ela alcança Helga rapidamente e se posiciona ao seu lado, com a espada em mãos. As duas aguardam, em posição de combate, enquanto à frente delas, os cultistas, apesar dos ferimentos, continuam a avançar.
“A maldição da Rubi afetou eles”, Jenny pontua. “Quero ver eles lutarem por muito tempo com a capacidade de se regenerar reduzida.”
Helga solta um riso sarcástico. “Eu não vou agradecer à chifruda por isso”, ela adverte. “E ela disse que não era uma maldição.”
“Não acho que ela espere algum agradecimento da sua parte.”
“Achei que fossem ficar atrás olhando”, diz Helga, caçoando das amigas.
“Ficar olhando você morrer?”
“Não. Ficar olhando eu acabar com todos eles”, ela responde rindo ao final.
“Você pode fazer isso, só não precisa fazer sozinha”, Jenny completa, entusiasmada com o ânimo de sua amiga.
Quando seus inimigos chegam, os sons das armas metálicas se encontrando toma conta da luta.
Enquanto isso, um pouco atrás. Arielle começa a conjurar um novo feitiço e Rubi prepara uma flecha.
Rubi avista que um dos mantos vermelhos mais próximo ao centro, dentro das ruínas, corre em sua direção. A arma dele brilha em um tom alaranjado. Aquilo é um encanto, ela pontua. Eles não estão para brincadeira.
“Ajuda elas. Eu vou atrás do cristal”, diz Rubi. “ Dou conta daqueles quatro.”
Arielle, sem poder responder com palavras devido a conjuração que está fazendo, apenas acena com a cabeça, concordando com Rubi.
Rubi avança para dentro das ruínas, deixando Arielle para trás. Ela é vista soltando um raio de energia na direção da batalha entre Jenny e Helga.
Próximo ao cristal, Edric, calmo, mantém seus olhos fixos em Rubi. Atrás dele, armado com uma adaga, está Joshua. E na frente de Edric, portando uma espada, está um outro cultista mais jovem.
Por mais que Edric esteja descontente com o cenário atual, ele se mantém centrado e focado em seu dever sem perder sua postura. O jovem em sua frente tenta o mesmo que seu líder, mas ele está visivelmente desconcertado. Joshua treme, está nervoso, ainda mais agora vendo a Lorde Demônio vindo em sua direção.
Edric vira para seu companheiro atrás e pede, “Joshua, proteja o cristal, ela está vindo atrás dele.”
Joshua leva alguns segundos para processar a ordem. “Tud…certo!”, ele responde, incerto se realmente consegue fazer aquilo..
Edric olha novamente para frente. “Gram, temo que o Carmim não consiga segurá-la por muito tempo. Preciso que você o substitua quando isso acontecer.” Sua voz carrega um tom de pesar, ciente de que está, essencialmente, pedindo a Gram que se sacrifique.
“Eu já entendi! Vou dar o meu melhor pela causa”, diz Gram. E ele começa a ir para a direção de Rubi.
Assim que ele se afasta alguns metros, Edric roga uma magia, “Que grandes chamas aqueçam sua batalha.” E a lâmina da espada de Gram é envolta em labaredas. O jovem olha para trás e acena agradecendo ao seu líder.
Em seguida, Edric respira fundo, se concentra em algo e diz, “Espíritos antigos, dêem-me forças.” Suas mãos também se cobrem em chamas
Bem a frente, próximo a um dos grandes pilares de rocha, está Rubi parada. Em seu arco há uma flecha laranja e seu olhar está percorrendo o centro das ruínas procurando seu alvo. Com eles na frente assim, eu não consigo ver o cristal, ela pensa.
Um cultista está se aproximando dela e não parece se intimidar por enfrentar um Lorde Demônio. Ele segura uma espada cuja lâmina brilha com chamas alaranjadas. “Eu, Carmim, não permitirei que você passe!”, ele grita.
Rubi aponta com seu arco na direção de onde acredita estar o cristal e se concentra em uma magia. A flecha em seu arco muda de cor, passando de laranja para vermelha. Eu não preciso passar por vocês, ela pensa, logo em seguida ela levanta a mira do seu arco, mas ainda na direção do centro. “Torrente Vermelha”, ela exclama, soltando o disparo.
A flecha se divide em várias flechas menores, similar ao efeito do Voleio Arcano, mas em vez de se espalharem em formato de leque, elas se organizam em um padrão circular. As flechas sobem momentaneamente e então fazem uma trajetória curva, passando por cima da maioria dos cultistas e caindo distribuídas em uma área ao redor do centro das ruínas.
Edric, Carmim e Gram veem as flechas passarem acima deles. Temendo o pior, olham para o local onde deveria estar o cristal e observam a magia atingindo em cheio a área. No entanto, a maioria dos disparos atinge Joshua, que se coloca à frente e intercepta as flechas com seu peito e ombro, desviando-as do cristal.
Os três cultistas olham com pena para o companheiro alvejado. Mas Joshua, apesar da dor que sente, sinaliza com o polegar e dá um sorriso. “Prossigam!”, ele exclama.
Gram e Carmim voltam a avançar contra Rubi. Motivados pelo esforço de Joshua, agora estão ainda mais furiosos.
Rubi se estressa com a insistência dos cultistas. Eu não queria ter que derrubar todos eles. Mas eles vão ficar se jogando na frente…, ela pensa e começa a criar outra flecha. Não vai ter jeito, não é? Vou ter que pegar pesado. Sem dizer nada, ela ativa um feitiço. O tom vermelho claro da flecha que segura fica mais intenso se tornando rubro.
Carmim, muito próximo a Rubi, nota a mudança na flecha, mas sem se abalar, continua velozmente para atacá-la. A demônio, não o ataca, nem se afasta, permanece na borda, aguardando pelo manto vermelho que está se aproximando.
Ele é veloz e tenta cortá-la com sua espada flamejante. Quando ele desfere o ataque, a demônio pula por cima dele. E enquanto está no ar, ela atira sua flecha nas costas de Carmim. A força é tamanha que o derruba no chão instantaneamente. O barulho abafado do choque do peito de Carmim contra o chão é audível até do centro das ruínas. Agora inconsciente, ele solta sua espada que se apaga em seguida.
Quando Rubi retorna ao chão após o ataque, é acertada por uma rajada de fogo em sua perna esquerda. A chama se expande ao contato e a Lorde Demônio é envolta em labaredas. Ela sente sua pele arder e grita de dor no meio do fogaréu.
E, tão rapidamente quanto a chama se expande, ela se apaga. Rubi sente o odor da própria pele queimada na fina fumaça que paira ao seu redor. Que desgraça foi essa?, ela se pergunta, respirando ofegante, surpresa, e com dor. Ela olha para a sua perna, e vê em sua canela uma queimadura. Então, isso é sofrer dano? Não é o tipo de coisa que quero me acostumar.
Ela olha para frente, buscando descobrir de onde vem essa magia. No entanto, não consegue, pois ela se vê já engajada em combate com outro cultista. Gram, se aproveita do momento de distração de Rubi para se aproximar e atacar.
O cultista brande sua espada da esquerda para direita e Rubi, instintivamente, desvia pulando para a direita. Porém, ao final do movimento, ela novamente é atingida por outra rajada de fogo em seu ombro.
A chama se expande novamente. Ela sente aquele mesmo calor arder em sua pele. Quando a chama se contrai, ela sente o cheiro de sua pele queimada. E apesar da chama acertar em sua camisa e se estender por todo seu corpo, suas roupas e equipamentos estão inalterados.
Que droga!, ela pragueja.
Gram, sem perder tempo, mais uma vez se engaja com ela, desferindo uma estocada com a ponta de sua espada ardente.
Rubi se vê encurralada. Com esse maluco balançando essa coisa na minha frente eu não consigo prestar atenção, ela pensa. Eu devia ter usado um feitiço de mobilidade ao invés do Disparo Pesado. Se eu for trocar de feitiço agora, vai ser só pior. Ela decide fazer uma esquiva para trás com um pulo longo, se distanciando bastante de Gram. No momento em toca o chão é recebida com outra rajada de fogo em seu braço. O processo se repete com ela sendo coberta em chamas.
Quando o fogo se dispersa, Rubi usa os poucos instantes que ganha ao se distanciar de Gram para procurar quem está atirando fogo contra ela. Olhando para o centro das ruínas, descobre que o conjurador do fogo é Edric. Ele está com suas mão em chamas, girando elas no ar e concentrando fogo no meio delas, preparando mais um disparo.
Rubi reage com surpresa. Ele é um mago?! A droga de um Mago?!… Achei que fosse vir me dar um soco ou sei lá!, ela pensa, indignada.
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