Índice de Capítulo

    Quando terminam a refeição, começam a desmontar acampamento, pegam seus equipamentos e três dos quatro cavalos pertencentes aos cultistas. 

    Jenny, Arielle e Helga penduram suas mochilas nos cavalos e deixam a clareira, conduzindo os animais pelas rédeas.

    Enquanto isso, a borda da fogueira, Rubi se despede de Thalgrim. “Não deixe que eles se machuquem mais, entendeu?”, a demônio pede. “Especialmente o Zorvax. Avisa pra ele que não foi nada pessoal.”

    “Como desejar”, diz Thalgrim, mais uma vez abaixando a cabeça. “Que a sua jornada lhe traga ótimos frutos, minha lorde.”

    “Até mais Thalgrim.” 

    Rubi se despede de Thalgrim, deixando-o para trás na clareira, na companhia de seus companheiros derrotados. 

    O grupo retoma sua jornada pelo bosque. Aos poucos, conforme avançam, o mato e as árvores cobrem completamente a visão daquele homem e da clareira.

    “Ufa”, suspira Jenny. “Eu não aguentava mais aquele cara.”

    “Ninguém aguentava”, completa Helga.

    “Fiquei com pena de como ele ficou”, diz Rubi. “O charme deixou ele bem insuportável.”

    “Ele não era assim antes?”, pergunta Jenny.

    “Era”, responde Rubi. “Mas era mais discreto.”

    “Agora eu entendo porque a Helga estava com medo”, comenta Jenny.

    “Eu falei que era pra se preocupar”, lembra Helga. “Que os Deuses me livrem de ficar daquele jeito algum dia.”

    “O que foi que ele disse sobre as ruínas?”, pergunta Arielle.

    “Disse que o Edric já começou o feitiço”, responde Jenny.

    “E que leva várias horas para ele terminar uma invocação”, completa Rubi. “Foi por isso que cheguei bem tarde da noite. Eles começaram no começo da tarde.”

    “Até que ele foi útil, deu para aprender alguma coisa”, comenta a meia-elfa.

    “Não sem ter que ouvir todas as asneiras dele”, acrescenta Rubi.

    “Deixaram algum peixe para eles?”, Jenny pergunta.

    “Não”, Helga responde. “Não merecem.”

    “Comemos todos”, Rubi completa.

    “Foi um encanto bem potente. Quanto tempo aquele feitiço dura?”, pergunta Arielle.

    “Não faço a menor ideia”, a demônio responde. 

    Está durando bastante. Já tem mais de duas horas, Rubi analisa.

    “E não era um feitiço, é a minha habilidade.”

    “Habilidade?”, indaga a meia-elfa.

    “É o meu Charme. Eu sou uma succubus.”

    As três que estão à frente de Rubi simultaneamente param de andar e a encaram. Jenny exibe um olhar confuso, Arielle parece muito surpresa e Helga a olha incrédula.

    “Não tem como”, exclama Helga.

    “Eu não tinha pensado nisso”, comenta Jenny. 

    “Eu achei que você era um diabrete!”, exclama Arielle.

    Rubi fica um pouco chateada. “Não perceberam?”, ela questiona. 

    “Não”, dizem as três de forma quase uníssona. 

    Por que eu me sinto ofendida?, a demônio se pergunta. Elas esperavam mais? Será que as succubus são diferentes aqui? Espera… um diabrete de um metro e setenta?!

    “O que isso quer dizer?”, Rubi questiona.

    “Você é bem bonita de fato”, diz Jenny. 

    “É que quando a gente pensa em uma succubus”, Helga diz. “Não é você que vem à mente.”

    “E o que vem em mente para vocês?”

    “Uma mulher sedutora”, diz Jenny.

    “Eu imagino uma mulher mais volumosa de vários jeitos”, comenta Arielle.

    “Alguém com roupas finas”, fala Helga. “Ou quase sem roupas.”

    Rubi fica constrangida. Eu devia me sentir ofendida?, pergunta-se novamente.

    Jenny examina Rubi dos pés à cabeça. “Olhando melhor, seu corpo realmente é o de uma succubus, mas essa roupa não ajuda”, ela comenta. “Seu casaco cobre tudo atrás e essa camisa de mangas longas nem deixa seus ombros à mostra. Não dá para ver suas curvas direito.”

    As demais também avaliam a demônio e concordam acenando. 

    Para ser justa com elas, essas roupas que estou usando são só uma aparência cosmética que comprei a parte na loja, Rubi divaga. A armadura original parecia mais um biquíni feito de ferro. E eu não podia jogar vestida daquele jeito perto do Miguel. Obrigado ao mundo por manter a aparência quando fui invocada.

    “É que eu preferi o estilo mais fofa e comportada do que do tipo exibida sexy”, Rubi se explica de forma bem confiante.

    “Eu vou voltar atrás no que eu disse ontem”, comenta Helga. “Você não é o pior demônio que eu já vi, mas a pior succubus você é.”

    “Mas eu até encantei a galera ali atrás”, Rubi lembra. “O que uma succubus faria diferente?”

    “Com magia”, Helga esclarece. “Se você tem que fazer seu trabalho, você tem que estar pronta.”

    “Vou tentar me lembrar disso quando tiver que fazer o meu… trabalho”, diz Rubi. “Vocês me lembraram até a Camélia.”

    “Quem é essa?”, Jenny pergunta.

    “É outra sucucubus que eu conheço. Ela é exatamente como vocês descreveram. E provavelmente é outra Lorde Demônio que foi invocada.”

    “Ela é sua amiga?”, Arielle pergunta genuinamente curiosa.

    “Eu a odeio”, Rubi diz irritada só de pensar. “E ela adora jogar na minha cara que se acha melhor do que eu. Vivíamos competindo por recursos.”

    “Ela é muito mais alta e bonita?”, Jenny pergunta.

    “Eu diria que ela é um pouco mais alta que você, tipo um metro e noventa. E talvez… ela seja bem bonita”, Rubi responde sem graça em ter de admitir isso.

    “Se ela é tudo que a gente disse”, diz Helga. “Eu tenho quase certeza que ela é uma succubus melhor do que você.”

    “É verdade, ainda mais se ela for do tipo bonitona”, diz Arielle. “No seu lugar, acho que eu também sentiria inveja dela.”

    “Inveja? Não é inveja. Não é certo jogar essas coisas na cara de alguém. E ela só faz isso porque sempre tem um bocado de gente pra defender ela.”

    “Tipo um exército?”, Jenny pergunta. “Um exército particular?”

    “Não é bem um exército”, diz Rubi. “De onde eu venho, ela é bem popular e sempre tem alguns otários andando com ela querendo chamar atenção fazendo as coisas que ela pede. São como cachorrinhos seguindo o dono.”

    “Viu, ela faz o trabalho dela. E nem precisa de magia”, Helga pontua um comentário que fere diretamente o ego de Rubi. 

    “Nisso… você tem razão”, a demônio reconhece. 

    Além disso, a guilda dela era muito grande e cheia de gente forte. Em conteúdos de mapa aberto ou de grupos, Miguel e eu não tínhamos chance. É o lado ruim de não ter guilda, ela pensa, vencida. Engraçado como a Camélia não precisa nem estar por perto para me irritar.

    “Ainda assim, prefiro ser como sou do que me tornar alguém como a Camélia”, ela afirma com confiança.

    “Relaxa”, conforta Jenny. “Você parece mais legal que essa Camélia.”

    “Ela não parece do tipo que tem tempo para conversar”, diz Arielle. 

    “E alguém que não se garante sozinho não é confiavel”, Helga comenta.

    Rubi se alegra com as palavras de reconforto que ouve. Às vezes é bom ouvir um elogio, ela pensa com um sorriso em seu rosto. Eu podia não ter uma guilda ou uma lista de mil amigos à disposição. Mas pelo menos eu tinha liberdade e me divertia. E era sempre bom quando eu superava ela em algo.

    “Vamos apertar o passo”, diz Jenny. “Depois que sairmos do bosque, vamos seguir até as ruínas sem parar.”

    Todas concordam e continuam seguindo pelo bosque firmemente puxando os cavalos entre as árvores e a vegetação baixa. E pouco a pouco, o denso bosque começa a ficar para trás. 

    As árvores começam a ficar espaçadas e as grandes moitas deixam de aparecer, até eventualmente chegarem as planícies, sinalizando que atravessaram completamente o bosque.

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