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    O sol desponta no horizonte, lançando seus primeiros raios sobre a floresta. Na borda sul da clareira de Cahjia, cercados pelas imensas árvores, estão Byron, Brok e Rubi.

    A diaba está abaixada, verificando coisas em sua mochila no chão. O orc, assim como Rubi, também checa o interior de sua bolsa de couro presa pela alça. E o diabo os aguarda pacientemente, segurando uma grande espada com a mão esquerda, apoiando-a no ombro.

    “Tudo aqui”, diz o orc.

    “Aqui também”, fala a succubus. 

    “Espero um dia me acostumar com a necessidade de sair carregando tantas coisas a cada viagem”, Byron comenta.  

    “… “É bom estar pronto”, pontua Brok. “A floresta não perdoa os despreparados.”

    “Ele tem razão”, ressalta a diaba. “Ter materiais úteis, prontos à mão, é bem importante.”

    “Reconheço o valor de ter as ferramentas corretas em uma emergência. A logística por trás disso é a parte que me incomoda”, Byron comenta, depois suspira. “Pelo menos, dessa vez podemos andar com menos bagagem. Já fico tremendamente aliviado só de não ter que carregar a minha bolsa de pertences por todos os lugares.”

    Rubi gira os olhos. “Você quer dizer aquela sacola de osso, né?”, ela questiona, com ironia. “Até eu fico mais tranquila de não te ver carregando aquela coisa.”

    “De fato”, pontua Byron. “Troféus são para ficarem guardados, não sendo carregados aqui e ali.”

    Rubi olha para o demônio com uma leve incredulidade. Acho que ele não entendeu a parte esquisita da coisa, ela avalia.

    “É uma vantagem dessa cidade…”, o orc acrescenta. “Tudo nessa floresta é mais perto daqui. Dá para andar carregando só o essencial.”

    O diabo leva a mão livre ao queixo e acena. 

    A diaba respira fundo, depois lança um olhar inquieto para a construção no centro das ruínas. “O que me deixa preocupada é só essa parte de deixar aqueles tesouros todos desprotegidos”, ela comenta.

    “Quanto a isso, não há muito o que ser feito”, Byron pontua. “Vamos ter que confiar no local onde o escondemos e no corvo que a senhorita deixou.”

    “Mas aquele feitiço não vai proteger o tesouro”, Rubi reclama, cruzando os braços. “Se alguém aparecer pra pegar, o máximo que vou poder fazer é ficar olhando quem está nos roubando.”

    “Nesse caso”, diz Byron, com a voz firme. “Garanto que o ladrão pagaria dez vezes mais pelo que levou.” Ele aperta o cabo da espada com mais força. Os olhos se estreitam e sua expressão fica sombria, como se já encarasse o invasor imaginário.

    Rubi franze o cenho, meio perplexa. Uau. Ameaças realmente ficam mais convincentes quando se tem uma arma grande na mão, né?, ela pensa. A espada deu uma realçada nele. Não cogitei que seria possível, mas ele ficou ainda mais intenso, sem nem mudar a forma de falar.

    “É. Você tem razão. O tesouro físico podemos recuperar”, Rubi comenta, lembrando-se de algo importante. 

    Ela leva a mão à bolsa presa na cintura e saca um frasco com um líquido vermelho. 

    Brok vê a succubus estendendo aquele vidro em sua direção. “Poção?”, ele pergunta. 

    “É o mesmo caso do tesouro na torre. Você vai estar sozinho e, numa emergência, não vai ter muito o que eu possa fazer além de observar.” 

    O orc, sem questionar muito, pega o frasco. “… Obrigado”, agradece ele.

    “Quantas poções a senhorita ainda tem?”, Byron questiona.

    Rubi confere dentro da bolsa e responde, “Três. Uma de recuperação de vida e duas de mana.”

    “Hum”, murmura Byron. “Devemos usá-las com cautela. Não conseguiremos outras com facilidade. Mesmo que tenhamos os materiais. Produtos manufaturados como esse são recursos muito raros por aqui.”

    “Eu imaginei”, Rubi comenta. “Mas se temos em mãos, devemos usar. Depois nos preocupamos com isso.”

    “O que… pretendem fazer com o corpo do dragão?”, questiona o orc. “Vão deixar ele ali ou vão movê-lo para outro lugar?”

    “Também é algo que não podemos resolver agora”, responde o diabo. “Mesmo morto, ainda é o corpo de uma criatura mágica poderosa. Pode haver problemas se lidarmos com isso indevidamente. Enterrá-lo por aqui está fora de cogitação e não temos um lugar para movê-lo.”

    “E mesmo que tivéssemos um lugar, ele é muito grande”, retruca Rubi. “Íamos gastar dias para tentar fazer algo.”

    Talvez mesmo o Byron transformado iria ter dificuldades, ela pensa. 

    “Que tal se… quando a minha tribo chegar, nós cuidássemos dele para vocês?”, Brok oferece.

    “Não seria ruim”, Byron responde e, em seguida, olha para a diaba com satisfação. 

    “Vocês conseguem mesmo?”, Rubi pergunta.

    “Nós podemos dar um jeito”, diz Brok. “Somos bons em nos livrar de obstáculos e criaturas.”

    “Se você diz… Vou deixar nas suas mãos”, ela comenta, ainda incerta. 

    Será que eles vão comê-lo?, ela se pergunta, franzindo ligeiramente o nariz.

    “Então, estamos acertados”, conclui Byron.

    “Certo… Já posso ir?”, pergunta o orc, hesitante.

    “Só mais uma coisa”, interrompe a succubus.

    Ela estende a mão na direção dele. “Sentinela Cinzento!”, a diaba conjura.

    Um corvo mágico, de penas acinzentadas, surge no ar. Ele bate as asas e voa até a árvore mais próxima, onde pousa num galho e fixa os olhos em Brok.

    “Obrigado”, diz o guerreiro, com um aceno respeitoso.

    “Se cuide. E veja se não morre, viu?”, despede-se Rubi com um meio sorriso.

    Brok começa a caminhar rumo à floresta, devagar. O pássaro o acompanha do alto, saltando de galho em galho, atento.

    “Aliás, Brok…”, o diabo começa a falar, exibindo novamente olhar e voz firmes, chamando instantaneamente a atenção do guerreiro. “Cuide bem do frasco que a senhorita lhe deu. Independentemente de consumir ou não a poção, guarde-o. Ele é importante. Garanta que nos devolverá no nosso próximo encontro. E sob hipótese alguma o perca. Entendido?” 

    Byron fala no tom de uma ameaça velada e sorri ao final, exibindo ao orc suas presas afiadas como facas.

    Brok se vê refletido na lâmina do demônio e, temeroso, instintivamente leva a mão até a bolsa, protegendo-a como se dentro dela estivesse alguma relíquia sagrada.

    “Eu… entendi”, ele diz, engolindo seco.

    O orc volta a recuar em direção à mata, mas bem mais atento, tanto com o demônio, quanto aos sinais do ambiente. Em poucos minutos, Brok e o corvo desaparecem por completo. A floresta volta a ser apenas floresta.

    “Precisava disso?”, Rubi pergunta.

    “Você confiou um objeto importante a ele”, Byron responde, tranquilo. “Ele tem que saber que, se perder aquilo, pode lhe causar problemas no futuro.”

    Se o Byron fica cauteloso assim… como eu deveria estar, sabendo que deixei um bocado de coisinhas minhas rolando por aí?, ela pensa, com um toque de angústia no peito. Também tem o coitado do Brok. Tenho certeza de que ele também sentiu o terror da espada. 

    Rubi observa o demônio mais uma vez, contemplando sua silhueta imponente. A espada repousa sobre seu ombro como a de um guerreiro veterano, e seu olhar transmite o ar de um combatente impiedoso.

    Será que… eu estou prestes a transformar o Byron em um monstro?

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