Capítulo 106 - A caçada continua
Na floresta, Byron voa abaixo das copas, contornando os troncos e os galhos com facilidade. A cada batida de asas, deixa para trás uma leve trilha de cinzas, como rastros de um incêndio contido.
A floresta canta naturalmente, com pássaros, insetos e folhas tocadas pelo vento. Atrás, já não se vê Rubi. À frente, apenas a floresta, estranhamente calma, o aguarda.
Ele ainda segue a direção indicada por Rubi, mas se mostra incerto de seu destino. Devem estar por aqui, ele pensa, correndo o olhar em cada moita atrás de seu alvo.
O grande demônio passa pela mata, com a luz que se infiltra entre as folhas sendo absorvida em sua pele em tom de carvão, dando a ilusão de uma enorme sombra vaga no meio verde.
Não irei atrasá-la, ele afirma a si mesmo, como um voto.
Pouco tempo depois, Byron ouve algo à esquerda. Um farfalhar distinto.
O demônio vira o rosto e percebe uma garra-branca correndo, quase paralelamente a ele, acompanhando seu voo.
Aperta com força a empunhadura da espada em sua mão e começa a reduzir a velocidade e altura do voo, aprontando-se para atacar.
Porém, antes de erguer a arma, um som surge à direita.
Um olhar rápido revela uma segunda ave branca o acompanhando da mesma forma que a primeira.
O cenho do demônio se franze. Criaturas irritantes… Estão tentando me encurralar, ele pensa.
As aves altas o seguem compassadamente, com olhos fixos e ferozes, como predadoras aguardando o instante certo para saltar.
Assim que me virar contra uma, a outra vai gritar e pular em mim, ele analisa. Eu devia…
Linhas alaranjadas na pele do demônio começam a intensificar a cor, as cinzas deixadas para trás tornam-se brasas e a temperatura ao redor aumenta rapidamente.
Mas logo o ar se resfria, e as linhas incandescentes voltam a se acalmar. Não… ainda não, ele pensa, cauteloso. Por hora, sou apenas um guerreiro. Tenho que me comportar como tal.
O diabo olha para cada uma das criaturas, tentando reparar de relance detalhes. O que ela faria em meu lugar?, ele se questiona. Um bater de asas depois, um riso abafado aparece no rosto sombrio dele. Ela simplesmente avançaria, sem nem olhar para os lados.
Byron desacelera, controlando o voo com precisão. Um gesto controlado em que ele abre mais um pouco suas asas membranosas e aumenta o intervalo das batidas.
As garras-brancas, um pouco atrás, lentamente encurtam a distância, aproximando-se tanto por trás quanto pelos lados. Elas alinham seus pescoços com o corpo, como atletas em uma corrida. As passadas tornam-se mais longas e, a cada instante, um possível salto contra Byron fica mais iminente.
Byron aguarda pacientemente o momento certo para seu movimento. Ele reduz a velocidade ao ponto de quase emparelhar-se com as aves.
Após a passagem de uma árvore, o demônio subitamente executa um potente bater de asas, inclinando-se subitamente à esquerda.
Ele aponta sua espada para a garra-branca e colide com ela, surpreendendo-a. Tal qual um cavaleiro com uma lança, a arma perfura a lateral do animal ao mesmo tempo em que o empurra para o lado.
A ave solta um grito rouco e agudo, misto de dor e surpresa.
A segunda garra-branca, pega de surpresa pela mudança drástica na rota, segue em linha reta por alguns instantes, antes de desviar à esquerda.
O demônio retira sua arma do corpo do animal e segue voando baixo no novo rumo, afastando-se da ave ferida.
Byron recupera sua estabilidade e olha para trás, checando suas presas.
A garra-branca intacta mantém a corrida firme, ainda movimentando-se à direita do demônio, enquanto a alvejada também continua o perseguindo, mas mantém uma distância consideravelmente maior e anda mais devagar, cautelosa.
Elas não são combatentes. Assim que são feridas, já mudam de estratégia, ele analisa, com um sorriso diabólico estampado no rosto.
De repente, a ave mais próxima arrisca um salto em direção ao demônio.
As patas fortes são voltadas para frente, lançando as garras longas e afiadas contra Byron.
O ataque atinge a perna do demônio e as unhas do animal cravam-se na pele espessa.
Byron sente uma dor aguda, como se uma agulha penetrasse subitamente entre seus músculos. Além disso, o peso extra do animal o faz perder o equilíbrio e reduzir a velocidade do voo.
Ele brande a espada contra a criatura, mas ela pula para longe antes da lâmina alcançá-la e volta a correr no chão.
“Grr”, ele murmura, irritado.
O demônio abre completamente as asas, parando no ar quase imediatamente, da mesma forma que um paraquedas faria, e aterrissa em solo habilmente.
Assim que suas pernas tocam o solo, ele já salta contra a garra-branca.
A criatura, instintivamente, crocita diretamente contra ele. Um som estridente que o abala até as entranhas, mas não para o seu ataque. Como um impulso, seu corpo balança a espada contra a ave.
Um corte se abre no peito, manchando as penas brancas de vermelho.
A ave contra-ataca, erguendo uma garra contra o pulso da mão que segura a espada, agarrando-a com as pontas, ficando-se sobre a pele.
Byron sente a criatura tentando forçar sua mão ao chão, mas seus músculos resistem aos puxões como pedra. Mesmo que me acerte, seus golpes não passam de uma pequena provação, ele pensa.
Com a outra mão, ele agarra o pescoço da garra-branca com força, esganando-o. O animal, pressionado, libera a pata que segura o pulso do diabo e começa a se debater, tentando arranhá-lo.
Antes de a ave ter qualquer chance de se libertar, Byron brande a espada com firmeza e, em um corte limpo, separa o pescoço do tórax.
A garra-branca ferida, alguns metros atrás, hesita ao ver o corpo de sua similar tombando aos pés de Byron sem vida, derramando uma poça de sangue no solo.
Sentindo na pele o perigo que o demônio representa, um instinto a avisa para não se aproximar e ela começa a recuar com passos lentos que pouco a pouco aumentam a velocidade.
Byron abre as asas, com os olhos fixos na ave que foge.
Não vou deixar o serviço na metade, ele pensa, deixando um riso seco escapar, carregado de algo feroz e primitivo.
Ele alça voo e, em poucos segundos, alcança a garra-branca que corre por sua vida, deixando uma trilha de sangue para trás.
O demônio se posiciona acima da ave e golpeia, lançando a ponta da sua espada sobre as costas dela. A lâmina atravessa toda a carne, saindo pelo meio do peito e fincando-se no solo.
O animal grita de dor, enquanto seu sangue escorre pelas feridas e as forças rapidamente esvaem de seu corpo.
Momentos depois, Rubi aparece naquela região da floresta. Ela chega correndo, com passos silenciosos e com o arco pronto em mãos.
Mas, vendo que tudo está calmo, o semblante da succubus relaxa. Ele veio para muito longe, ela reclama, um leve aborrecimento ecoa em seus pensamentos.
Byron está um pouco à frente do corpo da última garra-branca abatida. Ele cobre-se em chamas e retorna à sua forma humanoide.
“Foi uma batalha movimentada, mais até do que estou acostumado”, ele responde, abaixando a cabeça em um misto de cumprimento e um pedido de desculpas.
Rubi aproxima-se mais um pouco e percebe os dois corpos das aves caídas ao chão. “Você…” ela começa a comentar enquanto observa os cortes largos e as perfurações profundas na carne, impressionando-se. “Conseguiu se sair muito bem sozinho.”
“Dessa vez, posso considerar que obtive um sucesso maior que na última”, ele responde com ânimo, encarando suas presas abatidas.
Ele está começando a gostar de usar a espada, Rubi reflete, satisfeita com o entusiasmo dele.
O diabo começa a limpar a espada entre as penas brancas do animal, esfregando-a dos dois lados até remover completamente as manchas de sangue. Enquanto o faz, exibe um grande ar de satisfação.
“Senhorita, há muitas outras dessas pelo caminho que seguiremos?”, ele pergunta, ansioso.
A succubus estreita os olhos, medindo-o em silêncio. Talvez ele esteja gostando até demais…, pensa ela, com um leve receio. Ainda assim, um breve sorriso surge em seus lábios. Mas de toda forma, é muito bom vê-lo se divertindo.
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