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    “Que… tipo de acordo seria esse?”, Yrah questiona, hesitante, medindo cada palavra.  

    Byron se inclina para mais perto antes de responder. “Somos demônios, imagino que saiba que a senhorita está se referindo a um acordo mágico, por assim dizer.”

    A raposa murmura receosa. “Eu já ouvi falar…”, comenta ela, como se já soubesse a resposta, mas não quisesse escutá-la.

    E não foram coisas agradáveis, Yrah pensa.

    A diaba, segurando a pequena raposa, a encara com um sorriso de quem tem em mãos uma boa oportunidade, e nesse caso de forma literal. “Em resumo, o que nós propormos nesse acordo, somos obrigados a cumprir”, ela pontua. “Quanto aos termos, depende exatamente do que você precisa.”

    “Você fala que precisa de ajuda para deixar esse lugar e de alguma fonte mágica. Quais seriam as exatas extensões desses pedidos?”, Byron complementa.

    Yrah troca olhares rápidos entre aqueles dois, incerta de como proceder. Era isso que eu queria, não era? Mas… eu não pensei tão fundo assim, ela avalia. Se eu disser alguma coisa errada, posso me dar muito mal.

    A raposa fica quieta por alguns instantes, ponderando sobre o que precisa dizer.

    Yrah joga um olhar firme para a succubus que a mantém suspensa. “Eu… quero um vínculo mágico. Com um de vocês. E… proteção. Contra as criaturas da floresta”, ela declara após pensar. 

    “E qual seria a natureza desse vínculo?”, Byron indaga, cauteloso. 

    “Seria… só uma ligação para aumentar a minha regeneração de magia”, Yrah responde. “Eu não preciso de muito para viver, só o bastante para eu não decair. E eu só preciso de proteção até achar um lugar em que eu possa ficar em paz.”

    Então, meio que ela consome mais mana para existir do que é capaz de gerar sozinha, Rubi analisa. 

    A succubus sorri confiante. “Isso podemos fazer”, ela afirma. “Mas na segunda parte… ainda temos algumas coisas a fazer por aqui, pode levar algum tempo até sairmos para outro lugar.”

    Byron lança olhar severo à diminuta criatura. “Mas, dado que, enquanto estiver sob nossa proteção, estará segura, eu creio que isso não será um problema para a nossa companheira, não é?”, ele comenta.

    A raposa balança a cabeça fervorosamente. “Não é não!”, ela afirma. “Eu não tenho nenhum lugar em mente mesmo.”

    “Certo, e em troca dessas coisas, você vai nos ajudar pelo caminho, com sua magia e seu conhecimento desse lugar. Algum problema com isso?”, pergunta a diaba. “Podemos acabar fazendo algumas coisas bem feias no meio. A depender do que acontecer, talvez até mesmo contra os espíritos.”

    Diferente dos orcs, ela não parece ser alguém com instintos violentos, pensa Rubi. Talvez ela não se adapte bem a andar conosco.

    A pequena criatura encara o corpo da garra-cinza sem vida ao fundo. O sangue ainda escorre do peito e pela ponta do longo pescoço, do lugar de onde deveria haver uma cabeça. Já cheguei muito longe para poder mudar de ideia e nem sei se vou poder sair daqui se eu recusar agora, ela divaga.

    “Tudo bem por mim”, Yrah responde. “Não me importo com o que aconteça com os habitantes da floresta. Só… só preferiria não me envolver em nada que ferisse a floresta. Pelo menos isso.”

    Rubi arqueia uma sobrancelha. “Nossa”, ela comenta, surpresa. 

    Não esperava uma resposta tão direta assim, a diaba pensa. 

    “É uma resposta natural na minha opinião”, diz Byron, olhando para a raposa com um brilho afiado. “Exilar um ser que depende de magia para viver, em uma terra como essa, é praticamente uma sentença de morte velada, não é?”

    Yrah não responde, apenas mantém sua atenção no corpo ao chão, quieta, sem confirmar nem negar.

    “Bem, nós não planejamos fazer nada diretamente contra a floresta. Parece um pedido justo por mim”, Rubi confirma. 

    Byron leva a mão ao queixo e examina os arredores. “É. Não vejo nenhum ganho real que poderíamos ter com isso”, ele conclui. “Árvores e natureza não são o tipo de baboseira que eu pretendo me envolver por enquanto.”

    Mesmo sem um lar, ela ainda é uma criatura da natureza e não quer ver essa terra em chamas, analisa Rubi, otimista. Até que ela é legal. Vou preparar um bom acordo pra ela.

    “Então, acho que podemos começar…”, afirma a diaba, concentrando-se.

    Byron, no mesmo instante, dá um passo para trás, dando espaço entre as duas. Um semblante curioso e seguro instaura-se em seu rosto.

    Uma aura rosada começa a se expandir pela pele de Rubi, enquanto atrás de sua cabeça se forma sua auréola, em forma de flor, brilhando intensamente.”

    A magia súbita agarra completamente a atenção da raposa. Ela olha para a diaba e sente aquele brilho todo emanar um vento frio em sua direção. 

    É muita magia sombria, Yrah constata, enquanto tenta manter a calma, mas seu coração ainda acelera. A aréola atrás a deixa intrigada. Um símbolo que ao mesmo tempo prende seu foco, mas que a atormenta, como tentar olhar para uma chama intensa. O que ela é?

    “Yrah, a zeladora…”, Rubi começa, a voz suave. “Até que encontre uma nova moradia, vou lhe conceder proteção contra os perigos desta terra e estarei à disposição para fazer o vínculo que lhe fornecerá a mana necessária para sobreviver…” 

    Cada palavra da diaba acerta os ouvidos da raposa como se não houvesse nenhuma distância entre as duas. 

    “Também lhe garanto que não será obrigada a participar de nenhuma ação que resulte na destruição direta da floresta. Você não tentará nos prejudicar. Caso tente, o destino de sua vida será decidido por mim no mesmo instante. Aceita esses termos?”

    Antes de responder, Yrah sente algo invisível a envolvendo. Um cobertor frio que sai dos dedos que a seguram e se espalham ao redor de seu corpo peludo. “Eu…”, ela começa, com dificuldades em falar. “… Eu aceito!”

    Rubi sorri e a aura que a envolve se desprende dela e voa como uma brisa em direção a Yrah, que acaba absorvendo tudo aquilo para dentro de si. 

    Ela zonza e o mundo ao seu redor começa a girar. Eu não… me sinto bem, pensa a vulpina, lutando para se manter acordada. 

    Quando tudo acaba e a movimentação mágica ao redor da diaba e da raposa termina, Byron se aproxima-se novamente. 

    “Um bom pacto, eu diria”, ele elogia.

    Rubi solta um sorriso sincero. “Achou? Eu fiz sem pensar muito antes.”

    “Sim. Achei efetivo o bastante”, o diabo responde num tom casual. “Eu não usaria esses termos, colocaria alguns bem mais destacados como os do orc e cobraria diretamente a alma dela na última cláusula, mas ainda assim, um bom pacto.”

    “Eu não quis cobrar muito, sabe? Só o essencial e tal.”

    E colocar a alma em jogo poderia desincentivá-la demais, ela pensa. 

    “No final, foi uma boa escolha”, o demônio ressalta. “Ainda mais considerando o estado que simples termos deixaram nossa nova aliada.”

    “O que?”, Rubi questiona, sem entender. 

    Ela volta a olhar para Yrah e a vê mole em suas mãos. 

    As patas, a cauda e a cabeça estiradas para baixo entre seus dedos, completamente ausente de consciência.

    Isso nunca é um bom sinal, pensa a diaba.

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