Capítulo 117 - Um momento para descansar e pensar
Na região onde Byron e Rubi se encontram, a região abaixo das copas começa a ficar tingida pelas últimas luzes do dia, misturando o laranja do entardecer com a escuridão atrás das folhas e dos troncos.
O sangue das garras-brancas e da garra-cinza escorre pelo chão e os corpos delas já estão encobertos de moscas que se banqueteiam com os restos expostos.
“Onde a senhorita gostaria de ficar por agora?”, Byron pergunta, retomando a conversa.
A diaba, abraçada com a pequena raposa, corre o olhar rapidamente pelos arredores. “Por hora, vamos só procurar alguma árvore para passar a noite”, ela responde.
Não quero ficar por aqui quando os animais desse lugar começarem a espreitar… e o cheiro do sangue vai chamar mais deles, pensa ela. Já houve muitas lutas por hoje.
O demônio leva a mão ao peito e se curva diligentemente. “Como achar melhor”, ele diz.
Ele caminha até sua espada, cravada ao lado da garra-cinza sem vida, e a arranca do solo com firmeza. Enquanto Byron se recompõe, Rubi observa as copas ao redor, buscando por alguma que possa acomodá-los.
“Deve ter alguma boa por aqui”, Rubi comenta.
Byron também começa a analisar a parte superior dos troncos que os cercam. Algo lhe chama a atenção e ele ergue o braço, apontando para uma árvore mais alta à direita.
“Aquela serve?”, ele pergunta.
Rubi a examina brevemente, conferindo cada parte. Além de ser maior, o tronco e os galhos da árvore são mais grossos que os demais e a copa no alto é bem mais densa em folhas.
“Serve sim”, responde a diaba. “Podemos ficar lá por enquanto.”
“Então está decidido.”
Sem aviso, Byron se cobre em chamas. Do meio do fogo sua forma poderosa emerge, misturando suas cores vulcânicas com as do entardecer da floresta.
A súbita mudança de aparência pega Rubi de surpresa. “Não é um pouco demais?”, pergunta ela.
“É bem mais prático assim. Além disso, não sou bom em escaladas”, responde o demônio, com sua voz grossa.
Ele abre as enormes asas membranosas, espalhando fuligem no chão ao redor, e, diligentemente, estende a mão à Rubi.
“Posso oferecer uma carona à senhorita?”, o demônio oferece. Apesar da voz grave, Byron ainda exala um tom gentil e requintado.
Desse jeito o Byron vai me deixar mal acostumada igual a ele, ela pensa. Mas…
“Eu não recusaria um convite para voar por aí”, responde a diaba.
Rubi segura a mão dele, ainda mantendo Yrah abraçada consigo. Com um único bater de asas, Byron ergue-se do chão, espalhando rajadas de vento que levantam folhas secas e poeira em redemoinho.
A succubus sente a brisa forte empurrar seus cabelos e sua cauda para trás enquanto é erguida do solo.
Byron a carrega com leveza em uma mão, enquanto na outra mantém a espada firme, transportando ambos como se não pesassem nada.
Atrás deles, ficam apenas os corpos sem vida das aves gigantes, já entregues ao silêncio da mata.
Rubi ainda olha para a garra-cinza uma última vez. Um meio olhar franzido de quem está intrigado com algo.
Aquela tinha algo diferente, ela pensa, checando cada pena cinzenta da criatura. Acabou que eu nem perguntei.
Quando chegam à árvore, Byron sobrevoa até um galho alto que é quase encoberto pelas outras folhas ao redor. Lá, deixa Rubi descer primeiro e depois, ainda no ar, retorna à sua forma usual e aterrissa ao lado dela sem problemas.
Daquele lugar alto, é possível ver o sol desaparecendo no horizonte, com sua luz encobrindo toda a floresta. No céu, com algumas nuvens brancas, os pássaros voam livremente ao passo em que o dia se encaminha ao fim.
Rubi se senta, posicionada de frente à paisagem iluminada, admirando-a através das folhas. Ela deixa a raposa deitada sobre seu colo e começa a acariciar suas costas.
“Aqui é lindo”, diz ela, impressionada, sem deixar de olhar para o horizonte.
Essa floresta pode ser um lugar perigoso, mas ela tem as suas belezas, pensa a diaba.
O demônio crava sua espada no tronco principal e começa a ajeitar seus trajes sobre o corpo, desamarrotando o tecido escuro sobre sua pele. “Um lugar bom e calmo, se me permite dizer”, comenta ele.
Enquanto ele se apronta, as pernas e a cauda da succubus começam a balançar para frente e para trás e o olhar dela fica inquieto para o lado.
Após alguns instantes, ela desvia o foco para o diabo. “Byron, se importa de me contar algumas coisas sobre a sua última luta?”
O demônio ergue o queixo, atento. “Fique à vontade para perguntar o que quiser. Tantas coisas aconteceram nesse curto espaço de tempo que eu nem saberia por onde começar.”
A cauda de Rubi, pendurada para baixo, trêmula como um cipó ao vento. “No começo da batalha, quando você pousou do nada e parou de olhar para o bicho, o que você viu exatamente?”, ela pergunta.
Byron arqueia uma sobrancelha. “Chegou a assistir às penas ondulando?”, ele pergunta, querendo confirmar algo.
“Sim. Eu acompanhei a luta toda. Por quê?”
“Quis apenas confirmar se a senhorita estava olhando diretamente para a ave quando ela fez aquilo. Pensei que tivesse afetado você também.”
“Ah. Vi ela ficando toda arrepiada e se mexendo como uma moita, mas não entendi o que ela fez com você, nem senti nada diferente.”
“Hum…”, Byron murmura, pensativo. “Creio que a senhorita não viu exatamente a mesma coisa que eu.”
“Consegue me explicar o que aconteceu?”
Antes de continuar, o demônio dá alguns últimos tapas em sua roupa e se senta sobre o galho ao lado de Rubi.
“É difícil descrever exatamente, mas… quando aquelas penas tremularam, a criatura e tudo em meu campo de visão viraram um borrão extremamente incômodo e nauseante. Senti que não poderia continuar olhando para elas sem ficar atordoado.”
Então ela realmente fez algo que mexeu com a cabeça dele, Rubi conclui. O balanço em sua cauda aumenta e um leve sorriso confiante surge em seus lábios.
“Nada disso aconteceu com a senhorita?”, Byron questiona.
Rubi balança a cabeça para os lados, negando. “Pra mim, ela só ficou balançando as penas e te atacou em seguida.”
O demônio acena. “Impressionante”, ele comenta.
“Só para confirmar. Quando ela gritou, como você diria que foi o piado dela comparado com os das garras-brancas que encontramos antes?”
O demônio suspira e treme, sentindo um calafrio desconfortável, apenas por se lembrar daqueles ruídos estridentes reverberando em mente. “Na melhor das hipóteses, eu diria que ele foi o pior até agora”, ele responde.
Rubi olha para a raposa em seu colo. O sorriso leve deixa escapar um riso curto. “Sabe, Byron, acho que tive uma pista de um dos poderes da coroa”, ela comenta.
O cenho de Byron se arqueia, com as pupilas brilhando com o vislumbre de algo maior que se desenrola ao seu lado.
“Espero que a Yrah não demore muito para acordar. Ainda tem uma coisa que eu preciso confirmar com ela”, almeja a diaba.
Habilidade de Raça: [Toque Cinza](Grey Touch)
Requerimentos: Demônio, Behemoth, Nível 25
Ao causar dano de contato em um alvo, você desfragmenta a resistência mágica dele, reduzindo-a em 1% e recupera uma quantidade de mana equivalente à essa mesma porcentagem reduzida. A desfragmentação dura uma hora e pode se acumular até um máximo de 10% de redução.
Se atacar um alvo cuja resistência mágica já esteja no limite da desfragmentação, ainda recebe a mana normalmente e renova a duração do efeito.
Caso não haja mana a ser recuperada, o valor é convertido em vida.
Se não houver vida ou mana a serem recuperadas, o excedente é convertido em Vida Temporária que dura uma hora.
Tempo de Recarga: Passivo
Usuários conhecidos: Byron, Abaddon, Miguel.
*Nota: A quantidade máxima de Vida Temporária que um indivíduo pode acumular é igual a 10% de sua Vida Máxima. Qualquer valor excedente é dispersado.
Eu jurei que já havia postado essa habilidade antes.
A título de curiosidade, os efeitos dela são mencionados de maneira mais explícita capítulos 86 e 87
Fim do Volume 08

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