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    Na floresta, os primeiros raios de sol começam a despontar no horizonte. Pássaros alçam voo junto do canto vivo da mata que desperta.

    No alto de uma árvore, Yrah encara Byron e Rubi com as orelhas e o cenho arregalados. “Três dias?!”, ela questiona, sua voz ecoa alta e surpresa. “Eu dormi por esse tempo todo?!”

    “Isso mesmo”, Byron confirma. “Foi uma das consequências do pacto em seu corpo.”

    Ela olha para Byron, seu semblante pesado de preocupação. “Eu… não sabia que poderia ser perigoso assim…”, comenta a raposa.

    A diaba desencontra as pupilas dela. “É… mas você acordou”, a diaba pontua, sem graça. “Se você não se sente mal, então tudo bem, né?”

    Yrah examina as próprias patas e cauda, conferindo seu estado. Ela não encontra nada diferente, nem sente nada anormal. “Acho que… está tudo bem mesmo”, ela constata. 

    As orelhas e a feição preocupada da raposa relaxam. 

    Rubi deixa escapar um suspiro de alívio. Por um momento pensei que eu a tivesse deixado em coma, mas deu certo no final, ela pensa.

    Yrah olha para o terreno abaixo da árvore alta onde se encontra, examinando os arredores. “Nós… ainda estamos no lugar onde encontrei vocês”, ela pontua. “Ficaram esse tempo todo me esperando?”

    Rubi acena. “Sim”, ela responde. “Não tínhamos como ter certeza de onde começava e terminava a região onde você pode ficar sem ter os problemas de decaimento que mencionou.”

    Os olhos da pequena raposa se abrem e a cauda felpuda dela balança. “Ah! Obrigado”, agradece ela, curvando a cabeça. 

    Ela é tão fofinha, pensa Rubi, com as pupilas brilhando e sua própria cauda serpenteando como um chicote animado. 

    “Também pode se dizer que tomamos essa região como base temporária”, afirma Byron. “Enquanto você dormia, ainda saí para explorar um pouco das redondezas.”

    “Deu para ver que aquelas aves são bem mais ativas por aqui”, a diaba acrescenta. “Foi o bastante para sacar que a situação nesse lugar é um pouco diferente do resto da floresta.” 

    Grupos mais fortes, mais numerosos, mais experientes e indivíduos maiores. Faz sentido os orcs quererem ir embora dos arredores, ela conclui.

    A brisa fresca da manhã os atinge, balançando as folhas que os cercam e fazendo a madeira ranger. 

    Do alto do galho, a raposa encara o norte, observando contra o vento aquela região da floresta. Seus pelos brancos e macios movem-se como um o bater do ar. 

    “É por causa do Grande Senhor dessa terra”, Yrah afirma, pensativa. 

    O comentário agarra o interesse de Rubi e a cauda dela para de balançar. “E esse seria algum tipo de líder dos pássaros que enfrentamos por aqui?”, ela pergunta. 

    “Uhum”, confirma a raposa, ainda voltada ao norte. “Quando ele aparece na floresta, deixa as aves de sentido bem mais agitadas que o normal.”

    Esse deve ser o monstro chefe do enxame, Rubi deduz. É bom ver que ela tem ciência dele. Nem o Brok conseguiu confirmar se existia um bicho assim.

    Byron leva a mão ao queixo, intrigado com algo da última constatação. “É dessa forma que chama essas criaturas? Aves de sentido?”, ele pergunta.

    “Sim. Eles bagunçam com a nossa cabeça. É assim que elas caçam”, Yrah responde. 

    O diabo deixa escapar um ruído áspero da boca. “Devo concordar que é um nome digno”, ele diz, com um tom resignado. 

    Um sorriso afiado como uma faca se desdobra nos lábios de Rubi. Ela tocou bem no ponto onde eu queria chegar, ela pensa. 

    “Falando nisso…”, a diaba começa, com a voz calma. “Você falou antes que usa ilusões, não é?”

    “Sim, consigo”, Yrah responde. “É o que eu uso para me proteger dos animais daqui.”

    A raposa inclina a cabeça para trás e vê a diaba a encarando com um estranho ânimo no olhar. 

    A cauda da succubus se move lenta, como a de uma predadora à espreita. “Conseguiria me explicar como elas funcionam? Tipo a ordem de efeito ou se tem algum gatilho”, ela pergunta.

    O súbito interesse e o olhar interrogativo fazem Yrah baquear. “É… posso…”, ela responde, incerta. “Por quê?”

    “A senhorita tem uma suspeita de algo que esteja afetando. E ela pode confirmar isso, dependendo de como as suas ilusões funcionam”, explica Byron, assertivo.

    Já é difícil entender como uma magia funciona mecanicamente só vendo o resultado final. Tentar deduzir algo que nem se pode enxergar ou sentir os efeitos deve ser quase impossível, ela pensa. 

    A raposa balança a cabeça para cima e para baixo, confirmando. “Ah. Entendi”, ela diz. “Então… hum.” 

    Yrah começa a falar, mas sua feição e voz soam hesitantes, enquanto pondera sobre o que dizer. “Eu nunca precisei explicar isso antes…”, ela comenta.  

    “Só me diga o que puder do funcionamento. Já vai me ajudar”, pede a diaba.

    Pra confirmar meu palpite sobre a coroa, eu preciso de toda informação possível, ela pensa.

    “Bem, então tem a ver com as minhas marcas”, diz Yrah.

    Ela aponta para a direção dos diabos e inclina a cabeça, de forma que suas orelhas também rumem para eles. 

    “Essas manchinhas vermelhas?”, Byron questiona.

    “Sim! Quando eu uso a minha magia, quem olhar para ela vai ver outra de mim ou de outro alguém que eu estiver pensando perto dele”, explica a raposa.

    Ela olha para a própria cauda. “Dura um tempinho, o bastante para eu me afastar ou fazer outra coisa.”

    “Interessante”, pontua o diabo.

    Rubi observa intrigada, analisando. “Você, falando assim, dá a entender que essa ilusão só existe na cabeça de quem é afetado pela sua magia.”

    Não é como um holograma ou algum construto mágico intangível, ela pensa. 

    “Acho que sim”, diz Yrah, concordando. “Não é assim que as ilusões funcionam?”

    Outra brisa da manhã atinge a árvore. Os cabelos rosas da diaba oscilam com o vento que bate em seu rosto. Daquele galho alto, Rubi observa o amanhecer da floresta, iluminada pelo sol, ao mesmo tempo em que uma certeza ilumina sua mente. 

    “É isso…”, ela comenta, de maneira simples, encarando o horizonte.

    “Confirmou o seu palpite?”, Byron indaga, interessado.

    Yrah curva a cabeça para o lado, sem entender o que acontece. “Sobre o que?”, ela questiona.

    Não há força no mundo capaz de sobrepujar ou controlar seu egoísmo e a sua vontade de ter tudo o que quiser. É isso que o texto da coroa da ganância dizia… Rubi relembra. A minha vontade…

    Um sorriso largo e confiante surge em seu rosto, enquanto encara o horizonte.

    “Pelo visto, tenho alguma imunidade a efeitos mentais”, Rubi afirma.

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