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    O sol da manhã se ergue no céu, banhando toda a floresta com luz. Sobre o galho alto da árvore, Rubi se levanta, exibindo uma feição radiante e orgulhosa. 

    “Tudo faz sentido agora”, ela afirma, eufórica, fechando punho diante de si, como se agarrasse um prêmio no ar. 

    Byron, no galho ao lado, a observa com um meio-sorriso. “Então, esse era seu palpite?”, ele pergunta, surpreso com a constatação. 

    “Sim”, responde a diaba, com a cauda balançando rapidamente para cima e para baixo. “É por isso que as habilidades das garras-brancas não estão funcionando direito comigo.”

    “Intrigante”, o diabo ressalta, com ânimo, onde até a sua cauda, normalmente imóvel, treme levemente.

    “Não entendi”, comenta Yrah, sentada diante de Rubi. “Aconteceu algo que eu não vi?”

    Rubi e Byron param, voltando o olhar para a raposa, confusa com a euforia repentina dos dois. Depois, eles se entreolham, trocando uma conversa silenciosa feita só de olhares incertos.

    E, nesse tempo, a euforia se desfaz, substituída por um silêncio desconfortável. 

    Yrah se encolhe perante o clima estranho. “Eu… disse algo?”

    “Tudo bem conversar sobre isso agora?”, pergunta Byron, quebrando o silêncio.

    Rubi solta um breve suspiro. “Tudo, sim”, responde ela. “Ela vai nos acompanhar daqui em diante, então não há como evitar que ouça nossas conversas.”

    Mas, de qualquer forma, não é como se ela pudesse nos prejudicar, Rubi pensa. É uma das boas vantagens do pacto.

    Rubi a olha nos olhos. “Há alguns dias, alguma coisa mudou e vinha tendo uma sensação diferente, mas eu não tinha certeza do que era”, explica a diaba.

    “Ah! Tipo uma magia nova?”, Yrah pergunta.

    “Hum”, Rubi murmura por um instante. 

    Como provavelmente veio da coroa, com certeza tem a ver com mágica, ela reflete. Mas parece algo bem passivo, já que funcionou sozinho.

    “Acho que sim… deve ser tipo isso mesmo”, a diaba responde.

    Enquanto elas conversam, Byron divaga durante alguns instantes. “E quando a senhorita começou a elaborar isso?”, ele questiona, intrigado. 

    “Bem, faz pouco tempo”, ela responde, encarando-o. “Comecei a sentir algo desde quando você começou a treinar com as garras-brancas. Senti os gritos delas me incomodando menos. Mas só comecei a suspeitar de algo de verdade quando encontramos a Yrah.”

    O demônio abre os olhos e subitamente estala os dedos ao compreender a explicação. “Por isso a senhorita não sentiu o incômodo ao ver a garra-cinza usando aquela habilidade nauseante”, ele conclui.

    Rubi acena. “Sim. E isso também me fez pensar nos limites dessa imunidade”, ela diz.

    Byron a olha, curioso. “Já os tem em mente?”, ele questiona.

    Logo, Rubi lança um olhar seguro ao demônio. “Tenho uma ideia de como seriam…”, ela responde. 

    A succubus volta a se focar na raposa. Num gesto delicado, ela se abaixa para pegá-la com as duas mãos.  

    Yrah não resiste, apenas deixa-se ser agarrada por baixo e erguida até o nível do rosto da diaba. 

    Rubi encara a marca vermelha na testa dela. 

    “Até onde sei, não sou exatamente imune a habilidades, só aos efeitos mágicos que alteram meus sentidos”, ela explica. “Ainda escuto o grito das garras-brancas. Eles ainda são bem ruins, mas não tão fortes quanto antes.” 

    As sobrancelhas de Byron se curvam em fascínio. “Faz sentido. Provavelmente eles devem ser amplificados por magia ao ponto de desorientar”, supõe ele.

    “Isso. Essa parte mágica é a que sou imune, mas ao restante da habilidade, não”, diz Rubi, concordando.

    Yrah olha para frente, refletindo. “Então… é por isso que você não enxerga a minha ilusão?”, ela pergunta.

    A diaba confirma, assentando a cabeça. “Provavelmente, se a habilidade for unicamente sobre alterar um sentido, eu consigo ignorar”, Rubi responde, olhando diretamente nos olhos da raposa.

    A pequena criatura sente um leve arrepio, ficando tão próxima das pupilas amarelas da succubus. 

    “E, talvez, pode ser que essa imunidade só funcione contra habilidades até um certo nível, ou que habilidades de nível superior possam ignorar esse efeito”, Rubi ressalta. “Não seria estranho pensar nessas limitações.”

    “Acho essa última hipótese algo difícil de acontecer”, Byron pontua, com um ar cético e seco.

    O comentário faz Rubi desviar a atenção da raposa e encarar o demônio com surpresa. “Por que diz isso?”, ela pergunta.

    “A senhorita é um Lorde Demônio. Tecnicamente, esse poder vem do nível mais alto na hierarquia que um demônio pode ter…” 

    Lorde? Do mais alto nível?, Yrah se indaga, em meio à frase de Byron, enquanto olha para Rubi. Por isso a magia dela é sombria assim? 

    “Que outras habilidades seriam de nível mais alto que ess…?” Antes de concluir a sentença, Byron para subitamente. 

    “O que aconteceu?”, Rubi pergunta.

    “Alguma coisa te picou?”, Yrah acrescenta.

    Byron não responde, seu olhar se franze e sua expressão se torna momentaneamente distante, enquanto ele pensa sobre algo.

    Curiosa, a diaba senta-se novamente no galho e puxa Yrah contra si,como se fosse um pequeno travesseiro vivo. Yrah encaixa-se em uma posição confortável, apoiando as patas nos braços da diaba, e ambas mantêm os olhos fixos no diabo pensativo.

    Após alguns segundos quieto, Byron volta-se para as duas. “Senhorita, diria que esse poder se assemelha mais a uma característica natural do que a algum poder que se ativa quando necessário?”, ele indaga, sério.

    “Bem, com você falando assim, eu…”, Rubi começa, mas pensa um pouco antes de continuar.

    Que é uma passiva, eu já sei. Mas, pensando a fundo, eu não senti minha mana sendo gasta nas vezes que isso aconteceu. Também não percebi nenhum gatilho sentido ativo, não é como o Huginn e o Muninn, ela analisa. 

    “Eu diria que parece mais como a sua resistência a fogo”, responde a diaba. “É algo como você disse… natural.”

    “Então, aos meus olhos, esse poder pode ser uma Característica de Ascensão”, afirma Byron, com tom ponderado.

    “O que é isso?”, Yrah pergunta, inclinando as orelhas.

    “É algo sobre demônios. Não sei se você entenderia”, ele responde, seco.

    As orelhas da raposa se abaixam, e a voz dela diminui. “Ah, tudo bem. Desculpa. Eu…”

    “Pode explicar para ela”, intervém Rubi, interrompendo Yrah. “Talvez ela possa agregar ainda mais ao assunto.”

    Byron a encara por um instante, depois suspira. “Se a senhorita diz.” 

    Ainda bem que ela perguntou, porque eu também não faço ideia do que isso seja, pensa Rubi, enquanto afaga a cabeça da criatura em seu colo.

    O demônio volta a olhar para a raposa. “Quando um diabo sobe na hierarquia, é natural que ele se torne mais poderoso”, Byron explica, didático como um professor dando uma aula. “Normalmente isso se converte em um acréscimo em suas habilidades físicas ou em um aumento no seu poder mágico.”

    “Uhum”, murmura Yrah, acenando.

    Assim como a raposa, Rubi escuta atenta a cada palavra. 

    “Mas, às vezes, esse aumento se converte em novos poderes ou em novas características naturais. Quando isso acontece, chamamos de Característica de Ascensão.”

    “Entendi”, diz a raposa. 

    É, encaixa bem como uma progressão natural da nossa raça, pensa a diaba.

    Byron olha para os olhos de Rubi. “Antes, não considerei que esse pudesse ser o seu caso, pois isso só ocorre no momento em que um demônio é promovido dentro de nossa hierarquia”, ele esclarece, mas suas palavras soam quase como um pedido de desculpas.

    Rubi balança as mãos, tentando suavizar o tom rígido do demônio. “Não precisa falar assim. Você tinha razão em pensar isso. Eu não tenho um ranking maior agora do que quando eu te encontrei”, diz Rubi. “Mas é verdade que até agora eu não tinha ganhado nada da coroa.”

    Nada além de um grande alvo na minha cabeça, ela pensa. 

    “Por isso mesmo penso que seja possível que o poder que você recebeu ao atingir o posto lorde possa ter sido postergado até o momento em que você atingiu o primeiro marco da coroa”, Byron ressalta. “As regras podem ser diferentes quando se trata de magia antiga.”

    “E tem como confirmarmos essa hipótese?”, Rubi pergunta. 

    “Não é difícil”, Byron responde, firme e seguro. “Essas características naturais são atreladas a alguma mudança física no corpo.”

    “Tipo mais caudas?”, Yrah questiona, atenta e curiosa. 

    “Algo nesse aspecto. Não necessariamente é algo grande ou destacado, pode ser um pequeno, um detalhe no chifre, uma unha diferente ou até uma marca no corpo.”

    Rubi examina brevemente os braços e as pernas. “Eu não percebi nada novo no meu corpo nos últimos dias”, ela comenta. 

    “Se você não percebeu nada ainda, deve estar em algum lugar mais discreto”, afirma Byron. “Até tenho um leve palpite de onde pode estar, mas, para confirmar, precisarei que retire uma parte de suas roupas.”

    O olhar de Rubi se fecha. Isso foi para um rumo bem diferente do que eu imaginei, ela avalia.

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