Índice de Capítulo

    A diaba leva a mão esquerda às costas, na região da marca próxima à base da cauda, indicada por Byron.

    Ela toca a região roxa com os dedos. Apesar de pressionar diretamente a marca, não nota diferença de estar tocando sua pele. 

    “Mas… por que isso aconteceu?”, ela pergunta, curiosa. “E de onde veio isso?”

    A parte dos efeitos mentais ainda tem sentido com a descrição da coroa da Ganância, mas asas? Não consigo pensar em qual seria a relação delas com o resto, ela analisa. A minha vontade era voar também?

    Em dúvida, Rubi se volta a Byron. “O que define as habilidades das características de ascensão?”

    “É incerto responder isso. Há uma série de fatores que podem alterar o resultado”, Byron afirma.

    “Que fatores?”, pergunta a raposa, sentada na base do galho. 

    “Pode ser uma característica herdada de quem promoveu o demônio, ou um poder derivado de alguma característica que ele já possui”, Byron explica, didático, como um mestre em uma aula. “Também há fatores mais aleatórios e difíceis de prever, como o ambiente e a descendência. Nesses casos, quando se aflora uma característica inesperada, dizem que foi um presente do próprio Mael.”

    “Hum…”, murmura Rubi.

    Ele tem razão, parece bem difícil deduzir qual seria o meu caso, pra não dizer impossível, reflete ela, passando a mão sobre a marca. Na teoria, ninguém me promoveu a lorde. Nem sei a origem desse corpo. O máximo que posso supor é alguma ligação com aquele dragão, já que ele também tinha asas e tal. Mas parece forçar demais.

    “Tem outras succubus com asas por aí?”, questiona Rubi.

    Byron pondera alguns instantes antes de responder. “Já vi algumas, mas creio que todas elas tinham asas por conta de sua linhagem. Nenhuma por uma característica como a sua.”

    Rubi encara o céu azul. “De onde eu venho, sucubus não voam, não com asas”, ela comenta, vendo pássaros passando entre nuvens. 

    “Usavam o quê?”, Yrah pergunta, ao fundo. 

    “Dependíamos de montarias ou alguns feitiços. Eu usava muito um dragãozinho para ir de um lugar para o outro, mas eu não tenho mais acesso a ele.”

    É uma pena que eu não consiga mais invocá-lo, ela pensa. Se ele tivesse vindo comigo, ele teria ganhado consciência como uma criatura de verdade? 

    “Uau”, comenta a raposa, impressionada. 

    Será que era como aquele lorde dragão que vive no centro da floresta?, ela se pergunta. 

    “Mas agora você não precisa se preocupar com isso”, diz Byron, quase eufórico. “Por que não tenta usá-las?”

    Rubi examina as próprias costas. “E como eu faço isso?”

    “Deve ser como a minha habilidade de transformação. Só concentre um pouco de mana na região onde estão as marcas e deixe a mágica acontecer.”

    O demônio sorri. Um sorriso largo que transmite confiança. 

    Rubi acena. “Vou tentar.”

    Ela respira fundo, concentrando-se. Pensando bem, é assim que eu ativo a coroa também, focando na nuca, na parte onde eu acho que ela está. Que coincidentemente é bem perto de onde está a outra marca, ela reflete, mexendo a cintura, ajeitando-se sobre o galho. Então, ativar essas asas deve ser a mesma coisa, só que na parte baixa das costas. 

    A diaba visualiza em sua mente aquela região e centraliza toda a sua atenção, usando do mesmo foco de quando conjura um feitiço. 

    Então, a diaba começa a sentir um leve formigamento nas costas. É isso!, ela pensa.

    As marcas ali brilham e, em seguida, desabrocham da pele, como se fossem pinturas que ganharam vida crescendo na moldura. 

    Elas aumentam de tamanho e, conforme expandem-se, a luz mágica se apaga e é substituída por uma forma física real. 

    Asas membranosas, com couro da mesma textura da pele na cauda, se abrem, espichando-se como braços em um longo espreguiçar. Suas estruturas e membranas são finas, com aspecto delicado. Possuem perfil curto, mas com uma envergadura total maior do que a própria Rubi. 

    O verso das asas, voltado para as costas, é vermelho, do mesmo tom dos chifres e da cauda da diaba. Já no interior, voltado para a frente, as membranas revelam uma cor roxa, intensa como as marcas que eram há poucos instantes. 

    Rubi as vê se esticarem, impressionada, com os olhos reluzentes. “Elas são lindas!”, declara ela, contente. “E fofas também.”

    Yrah se encanta com a transformação. “São mesmo!”, ela comenta concordando. 

    Byron, ao lado, as analisa de ponta a ponta, com uma expressão focada, mas com um meio-sorriso no rosto. “São perfeitas”, ele constata. 

    Quando a transformação se completa, Rubi leva a mão esquerda a uma delas. Ela sente a textura quente como a de sua pele. E pelas asas, ela percebe os próprios dedos pressionando, tal qual apertasse a própria perna. Elas são reais. Não são feitas de magia. São… eu, ela avalia. Até a cor combina comigo. Não dá nem pra dizer que são partes extras. 

    Instintivamente a diaba já testa o controle sobre os novos membros, abrindo e fechando. 

    “Vejo que já as domina”, Byron comenta.

    “Não é difícil”, diz a succubus, sem desviar o foco do movimento. “É até bem fácil.”

    Quase como controlar a cauda. Elas só parecem um pouco frágeis. São fininhas e tal…, ela pensa e uma ideia emerge Uma pontada de receio toma conta. Será que… 

    O movimento para. Rubi se volta ao demônio. “Byron… vou conseguir voar direito com elas?”, ela pergunta, a voz carregada de dúvida.

    “O que lhe preocupa?”, questiona o demônio.

    “É que isso não é nem de perto parecido com algo que eu já tenha feito antes. E comparando com as suas, que são maiores e ficam mais em cima, as minhas dão a impressão de que eu vou ter que voar batendo-as o tempo todo e empinando o bumbum”, ela responde, balançando as asas.

    E, além disso, já sinto que tenho dificuldades pra controlar a cauda, que dirá um par de partes novas, Rubi completa, em pensamento. 

    É verdade. Será que ela vai sair voando igual a uma abelha?, Yrah pondera, imaginando a cena. 

    Byron ri. “É claro que vai”, ele afirma, sem hesitar. “De que serviriam asas que não podem ir ao céu? Tenho certeza de que a senhorita pode voar tão bem quanto sabe andar.”

    Apesar da confiança, a dúvida ainda visivelmente paira sobre a succubus. “Mas…”, ela começa a argumentar, porém Byron logo a interrompe. 

    “Sei um exercício que pode te ajudar a remover qualquer hesitação e receio que tenha quanto a isso.”

    “Qual?”

    “É o mesmo que eu fiz para aprender a voar.”

    Um pouco da preocupação na feição da succubus se esvai. “É, vendo como você voa bem hoje, acho que vale a pena tentar”, diz ela, com um novo sorriso motivado. 

    Byron acena com a cabeça, firme. “É algo rápido”, ele incentiva. “Eu garanto.”

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota