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    Na movimentada taverna, que exala o cheiro de pão recém-assado e café forte, um homem-fera com feições felinas, semelhantes às de um gato, está sentado sozinho em uma mesa para dois, no fundo do local. O sol calmo da manhã passa pela janela, iluminando metade da mesa e a cadeira vazia à sua frente.

    O homem de pelo laranja e trajes de couro simples, bate com as pontas de suas garras na mão direita, enquanto, com olhares discretos e movimentos de orelhas sutis, presta atenção a todos no local, demonstrando bastante interesse naquelas pessoas como se procurasse algo.

    Das várias pessoas que estão pela taverna, a maioria são humanos, mas há também elfos, anões e outros homens-feras. Pessoas circulam a todo momento, sentando-se e indo embora, movendo-se entre as altas cadeiras do balcão e as mesas do salão. Muitos carregam mochilas ou bagagens, aparentando serem viajantes.

    Eventualmente, um humano jovem entra pela porta da taverna e olha com atenção para todas as mesas. Mostra-se um pouco desorientado no início, mas quando vê o homem-fera de pelo laranja, se encaminha diretamente até ele. É um jovem alto, de cabelo preto, que usa camisa de couro com detalhes em tecido verde e um manto pendurado nas costas. 

    À medida que ele passa entre as mesas, algumas pessoas o reconhecem e trocam olhares confusos. Pequenos murmúrios começam a circular pelo ambiente, questionando o que alguém como ele estaria fazendo em um lugar tão simples.

    O jovem caminha com elegância até a mesa do homem-fera, parando atrás da cadeira banhada pela luz do sol, de frente para o homem felino, que o observa com um olhar curioso.

    “Ora, se não é o próprio Senhor Guiliman”, saúda o homem-felino com entusiasmo, embora sua postura revele um certo desconforto.

    O jovem estranha as palavras do homem fera. Ele me conhece?, ele se pergunta. 

    “E você deve ser aquele que chamam de Garra Leve”, responde o jovem. “Se importa se eu me sentar?”

    “Claro que não. Seria uma honra receber o Jovem Herói. Mas, se me permite, Garra Leve é um apelido muito feio que me deram. Pode me chamar de Rhazir.”

    O jovem, um pouco desconfiado, puxa a cadeira e se senta na parte iluminada pelo sol. “Fico intrigado de que me conheça apenas olhando”, ele comenta.

    “Não é difícil. Quem não conhece o nobre aventureiro que ficou protegendo Brevesherba enquanto todos do seu grupo se juntaram ao exército no leste.”

    O jovem fica um pouco incomodado com o comentário. Então, aquela história se espalhou até entre os criminosos, ele conclui, descontente.

    “Alguém precisava ficar por aqui”, ele se explica. “Prefiro que não me chame de herói, faz as pessoas acharem que minha Divisão é mais alta do que a de verdade.”  

    “E ainda é humilde”, comenta o homem gato de forma irônica. 

    “Só não quero causar nenhum mal entendido”, Guilliman diz de forma séria, ignorando as nuances de Rhazir.

    “Entendo. Muito nobre de sua parte. Agora, deixe-me devolver a pergunta. Como você me conhece?”, Rhazir pergunta, apontando para o jovem com uma de suas garras afiadas. “Imagino que não veio me prender ou algo do tipo. Até onde eu sei, ficar sentado numa taverna sem pedir nada não é crime.”

    “É, mas ficar procurando possíveis vítimas para bater carteira deveria ser.”

    O homem-gato ri forçadamente. “Além de humilde, é engraçado”, ele desconversa.

    “Enfim. Preciso de sua ajuda, e o Mullet me indicou você.” ele fala e joga uma sacola sobre a mesa, que emite o inconfundível som de moedas se mexendo.

    Rhazir pega a sacola e a abre para observar seu conteúdo. “Oh!”, comenta ele, impressionado. “Até que tem bastante aqui. Como eu poderia lhe ajudar? Espero que não seja um convite para participar daquela sua equipe. Matar monstros e demônios não é o meu forte.”

    Guilliman fica pensativo alguns instantes, ponderando possibilidades. Mesmo ele sendo um criminoso, ainda precisamos de gente, ele analisa. Não, agora não. Não foi isso que vim resolver. Tem pessoas dependendo de mim.

    “Não. Preciso de uma informação, e o Mullet disse que você a teria.”

    “O Mullet, né? Ele sabe das coisas. E qual seria essa informação?”

    “Dois amigos meus foram patrulhar pelo bosque ao sul daqui, atrás de alguns bandidos, ontem à tarde, e não voltaram. Outros guardas foram atrás deles e, até a noite, não encontraram nenhum vestígio deles.”

    “E você pensa que eles ainda estão vivos?”

    “Me disseram que eles podem ter sido sequestrados. E o Mullet me confirmou que aquela corja de criminosos é do tipo que faz isso. Quero uma pista de onde eles estão.”

    “Que nobre da sua parte. Não é à toa que lhe chamam de jovem herói. Eu gostaria muito de lhe ajudar, mas…”, diz Rhazir, pretensiosamente. 

    Guiliman joga um olhar desconfiado ao homem gato. “O que lhe impede?”, ele pergunta. 

    “Eu não estou envolvido diretamente com isso. Mas eu tenho um amigo que pode estar a par da informação e, se eu lhe desse, teria que dividir uma parte desse dinheiro com ele e… negócios, sabe.”

    Guiliman, sem pestanejar, joga outro saco com moedas na mesa. Garra não consegue conter um sorriso enorme e vai com a mão ao dinheiro. O jovem o impede, cobrindo a sacola com a mão. “Primeiro a informação”, ele exige, com um olhar sério. 

    O Mullet também não cobrou barato, ele pensa. Mas pelo menos ele avisou sobre como lidar com você. 

    Os dedos com garras retraídas do gato dançam na mesa, almejando a sacola. “Bem, como eu lhe disse, tenho um amigo informado”, ele fala, ansioso. “Dois dias atrás, ele me deu… um conselho.”

    “Qual conselho?”

    “Caso eu precisasse fugir da cidade e quisesse evitar problemas, teria duas estradas que eu deveria evitar. A primeira era ao sul, aquela que corta o bosque e vai até Gramina. Bem onde seus amigos foram pegos”, o homem-fera fala despretensiosamente, enquanto estrala a garra do indicador com a do polegar. Depois se cala e olha para a mão do rapaz na mesa que tampa seu prêmio, aguardando que ele a retire de lá.

    Guil se demonstra ainda descontente com a informação e não cede. “Termine”, ele pede, sério. “Qual seria a outra estrada?”

    Mullet não brincou quando avisou dessa sua fala mansa, ele pensa, impaciente.

    Rhazir revira os olhos. “A outra seria aquela que sai pro leste e passa por aquela ravina”, ele continua. 

    “Acha que eles foram para essa estrada leste?”

    “Improvável.”

    “Por quê?”

    “Se eu fosse um ladrão, coisa que não sou, e roubasse algo grande como uma pessoa, coisa que nunca fiz, eu sairia do lugar do crime assim que possível. E iria para um lugar seguro. Quem iria de um ponto de sequestro para outro?”

    Guiliman pondera em silêncio, enquanto o homem-felino o observa com ansiedade evidente. “Isso é tudo que você sabe?”, ele pergunta, a voz carregada de expectativa.

    “É tudo que me contaram,” responde Rhazir.

    O jovem fixa o olhar no informante, pensativo. Ainda não é exatamente o que eu preciso, reflete, soltando um suspiro profundo antes de erguer a mão e liberar o pagamento. Sem hesitar, Rhazir apanha as moedas rapidamente, um sorriso satisfeito surgindo em seu rosto.

    “Acha que se eu for até a ravina, eu posso encontrar algo por lá?”

    “Não ouvi nada sobre alguém sendo sequestrado por lá ainda. Então, existe chance de algum envolvido estar por lá. Seria um bom chute, na minha opinião.”

    Um bom chute, é?, o rapaz se pergunta, frustrado, enquanto cerra os punhos sob a mesa. É o melhor que eu tenho por agora.

    Guiliman se levanta, a determinação refletida em seu olhar. “Obrigado”, ele diz, inclinando a cabeça em sinal de gratidão.

    O homem-fera, contando o dinheiro, também abaixa a cabeça, agradecendo. “Não seja por isso. Só tenha cuidado”, ele adverte. “Seria uma pena se o Jovem Herói de Brevisherba fosse sequestrado.”

    Sem olhar para trás, Guiliman sai da taverna, com expressão resoluta e um objetivo claro em mente. Se os guardas não conseguem encontrar o Couby e o Bofur. Vou dar meu jeito.

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