Capítulo 31 – Quando o caçador vira a presa
Na parte mais profunda do bosque, onde árvores tortuosas se entrelaçam com a vegetação rasteira e bloqueiam a maior parte da luz do sol da tarde, há um acampamento escondido nas sombras. Duas tendas negras se misturam no ambiente sombrio.
Em um tronco, ao lado de uma das barracas, estão sentadas duas pessoas, vestidas com roupas longas e escuras.
Um deles, é um homem pálido, possui uma besta de madeira entalhada no colo e uma aljava, cheia de virotes, pendurada nas costas. O outro, é um pouco mais alto, ao seu lado, encostado no tronco, está uma rapieira dentro de uma bainha tão negra quanto seus trajes e não mostra estar portando nenhuma outra arma consigo.
Naquela região calma e tranquila, onde o som do vento e dos animais do bosque ecoam distantes, as duas pessoas conversam, bem baixinho, entre si.
“Ontem foi um bom dia de trabalho”, comenta o homem mais alto, contente. “Demos muita sorte.”
O outro homem, além de conversar, limpa e organiza as munições de sua arma. “Me surpreendeu também”, ele fala, arrastando as palavras com um sotaque forte. “Pensei, que depois do fiasco com aqueles comerciantes, mandariam uma tropa inteira atrás de nós.”
“Quanto acha que podemos ganhar pelo anão?”
“Ele é guerreiro. Forte e cheio de vigor”, responde o homem com sotaque, junto a um ar de veterano. “Na minha terra, vale uns 1000 alius. Convertendo para dinheiro daqui, vale mais ou menos uns 100 leões de ouro.”
O mais alto, arregala seus olhos. “Caramba”, diz ele, impressionado.
“O outro vale menos. Com certeza. É jovem, mas fraco. Talvez uns 400… não, 500 alius.”
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Enquanto o homem pálido conclui a fala, uma mulher sai de uma das barracas. Ela é alta, tanto quanto o maior daqueles homens e também usa as mesmas roupas escuras. Ela carrega em sua cintura uma espada curvada. E sai da tenda abanando as mãos.
“Podemos cobrar um extra pelo anão”, ela diz com o mesmo sotaque do homem mais baixo. “Deu um bom trabalho amarrá-lo.”
“Vamos mudar novamente de acampamento amanhã”, afirma o homem com sotaque. “Quando perceberem que não estamos mais perto da estrada, vão mandar mais guardas atrás daqueles dois.”
“Seguimos para outra estrada ou vamos encontrar o Dreave?”, pergunta o homem mais alto.
“Devemos voltar para a base”, responde a mulher. “Não é bom ficar andando com mercadoria por aí.”
“E o Dreave está numa rota mais isolada”, comenta o homem com sotaque. “Você é novato demais para ir com ele.”
“Sem problemas”, diz o mais alto.
Sem que eles percebam, em uma árvore ao lado do acampamento, um corvo cinza, empoleirado em um galho, observa aqueles três no acampamento.
O homem mais alto se levanta, esticando os braços. “Já que vamos partir, melhor começar a preparar o almoço”, ele diz, com um sorriso casual.
De repente, uma flecha silva pelo ar, saindo das sombras de uma moita com uma velocidade feroz. Ela passa num borrão rubro entre os dois homens, e, com um estalo seco, crava-se no ombro da mulher. O impacto a derruba para trás, e ela cai no chão com um grito abafado.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
O homem mais alto fica momentaneamente em choque, boquiaberto, com as mãos erguidas e olhando para os lados, junto de uma expressão perdida, sem saber o que fazer.
O homem pálido, instintivamente, se abaixa, buscando reduzir as chances de ser alvejado. Olha para trás e vê sua companheira ferida, mas ainda consciente, depois se volta a seu outro companheiro e nota seu estado, desatento. Ele eleva uma das mãos o máximo que pode sem se levantar e estala os dedos com força, chamando a atenção.
“Estamos sendo atacados. Reaja!”, exclama ele, fazendo o homem mais alto voltar a si. Em seguida, se posiciona rapidamente atrás do tronco, preparando um virote em sua besta.
O mais alto, segue o exemplo de seu parceiro e se abaixa também. Ele pega sua rapieira no chão, mas se atrapalha para sacá-la, e luta para tirá-la da bainha.
Enquanto isso, a mulher atrás, mesmo alvejada, começa a se erguer. Ela desliza a mão pelo ombro, procurando a flecha para retirá-la, porém, não encontra nada na ferida. Quando a mulher finalmente se levanta, saca sua espada e, rangendo os dentes, olha pelos arredores. “Que droga é essa?!”, ela questiona, com ira. “São guardas?”
“Talvez”, responde o mais baixo, sussurrando.
O homem mais alto solta um fecho que prende sua arma e finalmente desembainha sua rapieira. Agora pronto para o combate, ele fica brevemente alegre e confiante, porém, esse sentimento se quebra em sequência. Mesmo abaixado, uma flecha o acerta no peito. Seu corpo não demonstra resistência alguma, simplesmente tombando ao chão e lá permanecendo sem mover.
A mulher encara a direção de onde as flechas estão vindo, não conseguindo ver nada além da floresta na escuridão.
“Haldir, consegue ver o atirador?”, ela pergunta ao homem. “Vou tentar me aproximar usando aquela coisa que peguei.”
Haldir, mirando sua besta, tenta minuciosamente localizar qualquer sinal de alguém escondido entre as árvores adiante, porém, não encontra nada. A quietude ao redor começa a deixá-lo mais nervoso ainda, e o suor frio escorre por sua testa. “Ainda não, Rita. Deve ser…”, ele começa, mas se interrompe quando avista outro borrão vermelho vindo em sua direção de algum lugar a frente.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
A mulher, prestando atenção em Haldir, é acertada sem nem perceber. Novamente, ela é atingida no ombro e cai. Haldir lança um olhar rápido para trás e vê Rita desmaiada no chão, inconsciente.
“Droga!”, ele grita em desespero.
O homem ouve as moitas à frente começarem a se mexer. E, mesmo não tendo uma visão clara de um alvo, Haldir mira besta e faz um disparo. O virote desaparece entre as folhas, não emitindo nenhum sinal de ter acertado alguém. Sem tirar os olhos da moita e com as mãos trêmulas, ele pega um novo virote de sua aljava e começa a recarregar a arma.
Logo, o homem vê Rubi saindo do arbusto, com um arco e uma flecha translúcida em mãos, caminhando na direção do acampamento com uma graça malevolente.
“Essa foi quase”, comenta ela, seu tom repleto de ironia.
Haldir se assusta ao ver a criatura de chifres. Merda! Um diabo aqui? Será que ela é…?, ele se pergunta, tremendo.
O homem fica de pé e aponta sua besta carregada na direção dela. “É… melhor não se aproximar,… Último do Oeste!”, ele ameaça, nervoso.
A demônio não cede a ameaça e continua com calma na direção de Haldir. Ela nota as mãos dele tremendo. Se tem uma coisa que eu aprendi, é que é muito fácil assustar as pessoas. Acho que coloquei pontos até demais em carisma, ela pensa, sorrindo. Último do Oeste é ofensa? Amigo, se quiser tentar me xingar, me chame de alguma coisa que eu entenda.
A cada passo que Rubi dá em sua direção, o homem fica mais e mais intimidado. “Não se aproxime! Eu vou atirar mesmo!”, ele ameaça novamente, mas sua voz treme, e suas mãos, ainda mais.
“Se acha que consegue me matar com um tiro, vá em frente”, ela provoca com um sorriso malicioso. “Do contrário, vou descobrir se você aguenta mais das minhas flechas do que seus amigos.”
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Haldir hesita, seu dedo ainda está no gatilho, mas, com a pressão insuportável, começa a abaixar a arma lentamente, dando um passo para trás. Ele faz menção de fugir.
É o máximo que ele vai aguentar antes de correr, Rubi pensa. Seus olhos brilham rosa por um breve momento, refletidos nos de Haldir, porém, em um literal piscar de olhos, ambos voltam à cor natural.
Ele resistiu?, Rubi se pergunta, incrédula.
Quando a demônio muda a cor dos olhos, Haldir momentaneamente sente uma pressão intimidante vinda dela. Sem entender o que planeja, joga sua besta no chão e sai correndo na direção oposta, passando por cima de seus companheiros derrotados e deixando o acampamento.
Me desculpe, Rita, minha vida vale mais um pouco que a sua, ele pensa enquanto corre mata adentro. Lhe desejo boa sorte.
O charme falhou porque ele já tinha me atacado ou porque medo não é um sentimento compatível?, ela se questiona e já começa a mirar com seu arco na direção do homem. Vou tentar algo diferente. A flecha de Rubi muda de seu tom vermelho usual para um tom roxo.
A demônio dispara sua flecha no abdômen de Haldir, que sente o impacto como o de uma agulha penetrando sua pele, seguido por uma dor latejante. Uma aura roxa escapa da ferida, se espalhando rapidamente pelo seu corpo. O homem pálido começa a sentir dificuldade em correr, e seu passo ágil entre os arbustos e moitas desacelera consideravelmente.
Um efeito de lentidão só para garantir. Nesse, eu quero me segurar um pouquinho mais, a demônio pontua, já criando outra flecha, sendo que dessa vez possui sua cor avermelhada normal. Agora só mais uma. E dispara novamente contra Haldir e acerta-o na perna esquerda, vazando-o cair entre alguns arbustos.
Rubi vai até o homem e o vê atordoado no chão, respirando fundo, ofegante. Se eu der sorte, talvez eu ainda consiga falar com esse aqui. Os outros…, ela pondera, e olha para os caídos no acampamento. Não sei se vou ter tanta chance assim.
Agora de perto, além da pele pálida, ela percebe que ele possui orelhas pontiagudas e finas. Será um elfo?, ela se questiona.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Sem cerimônia, a demônio agarra a perna não ferida de Haldir e começa a arrastá-lo de volta ao acampamento. Ela o leva com facilidade e um sorriso no rosto. Definitivamente, foi um bom trabalho. E o acampamento ainda está intacto, ela pensa orgulhosa, ignorando os gemidos que Haldir emite conforme pedras e arbustos resvalam em seu corpo.
Foi muito bom ter encontrado esses bandidos, a demônio pensa, admirando as barracas. Eles podem ter alguns recursos legais para mim.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.