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    Caminhando por uma colina de vegetação seca, está Rubi. No fundo, em grande contraste com a colina, uma paisagem viva, de coloração verde e iluminada pelo sol da tarde, é visível. 

    Sob os pés da demônio, há grama amarelada e parcialmente seca, enquanto em seus arredores, permanecem apenas troncos de árvores sem folhas. Espalhados pelo chão, eventualmente aparecem ossos de animais, monstros e humanos junto de restos de equipamentos destruídos. 

    Não há som de pássaros ou de outros animais naquele local. O único som que acompanha a demônio é o da grama, quase sem vida, quebrando a cada passo que ela dá.

    Rubi avança rumo ao topo da colina, sem se intimidar pelo ambiente cada vez mais atipicamente desolado. Me sinto entrando num cemitério abandonado, ela pensa. Esse cara não faz nem questão de se esconder. Achei que teria que ficar procurando pela região toda, mas quem não veria esse lugar?

    A demônio para brevemente ao avistar um crânio grande e alongado pendurado em uma árvore. Isso é novo. Talvez seja um aviso, ela supõe. Começa a examinar os arredores e vê outra árvore com crânio à frente. Com certeza, é um aviso.

    Mesmo assim, Rubi continua seu caminho. Tomara que ele não seja esquentadinho, ela roga, esperando não ter que lutar.

    Conforme sobe, mais crânios expostos em árvores começam a aparecer, pendurados como macabros ornamentos. Eles apresentam tamanhos variados, indo do tamanho de uma cabeça humana até o tamanho de um braço. A partir desse ponto, a região desolada passa a assumir um aspecto sombrio e macabro.

    Me sinto entrando no covil de um monstro chefe, Rubi compara, enquanto observa a paisagem sinistra. Se bem que é literalmente isso. 

    Ela segue até chegar a um local onde as árvores estão cortadas, deixando apenas tocos secos e sem sinal dos troncos. No meio deles, há um grande e profundo buraco no chão, com a borda e as paredes feitas de rocha, semelhante à entrada de uma gruta.

    Marcas de arranhões e lascas recentes de pedra espalhadas decoram a entrada, deixando claro que o lugar é relativamente movimentado. 

    Diante do novo cenário, Rubi para de andar e começa a contemplar os detalhes. Até que… é legal. Na teoria, eu sou um monstro chefe também, será que um covil assim é algo que eu deveria considerar?, ela se pergunta, impressionada. Não exatamente assim, né? Isso chama muita atenção e dá pra ver de longe. Já notei que ele é famoso por aqui, mas esse demônio gosta tanto de arrumar briga? Ele pode ser forte e tal, mas se continuar assim, uma hora o azar chega e vem um maluco que vai matar ele.

    A demônio caminha na direção da entrada e, sem entrar, observa o quão fundo aquela abertura penetra no chão. Assim como no restante da colina, ela não ouve nenhum som vindo do interior do buraco.

    “Ola!”, ela exclama sem medo, quebrando o silêncio de todo o ambiente.

    Seu grito ecoa pelas paredes rochosas do buraco e ressoa entre os troncos das árvores secas da colina. Logo em seguida, o som de asas batendo anuncia alguns pássaros fugindo em voo, até que o silêncio volta a dominar o local.

    Será que não tem ninguém em casa?, Rubi se pergunta, cogitando ir embora. 

    Mas em pouco tempo, ela vê, do fundo da gruta, duas luzes laranja surgirem, como duas joias incandescentes erguendo-se da escuridão, a encarando. Outros brilhos começam a surgir, dando forma a duas asas, similares às de um morcego. 

    Com um abanar coordenado das asas incandescentes, as duas luzes que encaram Rubi começam a se aproximar da entrada. 

    A succubus dá um passo atrás na entrada do buraco e observa sair de lá um grande demônio alado, com a pele negra como carvão, repleta de fissuras brilhantes como lava incandescente.

    O demônio paira no ar diante dela, e o contraste entre os dois se torna ainda mais nítido. Ao contrário de Rubi, que é esguia, o demônio alado apresenta braços e pernas fortes e um tórax largo. Até sua cauda robusta aparenta ser constituída puramente de músculos.

    Ele encara Rubi com seus olhos brilhantes sem pupila, apontando seus chifres negros curvados na direção dela, enquanto cada movimento de suas grandes asas exala brasa ardente. 

    A simples presença da criatura faz a temperatura do ambiente subir rapidamente, como se o que voasse por ali fosse uma labareda viva.

    Por mais imponente que seja a aura do colosso, ela não afeta o demônio de cabelo rosa. Ao notar isso, o diabo pousa no chão com naturalidade, de forma que seu corpo pesado não emite barulho ao aterrissar, e desfere um olhar franzido para ela.

    “O que faz aqui, pequena?!”, pergunta o demônio com uma voz grave, de onde saem centelhas vermelhas a cada palavra.

    Com certeza, ele é um chefe, Rubi conclui. E qual é a do “pequena”? 

    “Ouvi falar de um outro demônio pela região, e eu vim aqui para conversar”, ela responde, em um tom sério, sem desviar a atenção dele.

    “Conversar? Você é mais um daqueles tolos que veio tentar me persuadir a ir ajudar o retorno do Príncipe de Mael? Se for, já lhe adianto que é uma perda de tempo”, diz o diabo, fazendo um gesto brusco com o braço para o lado, tentando dar um basta naquilo.

    Rubi não compreende a reação dele. O quê?, ela se questiona, confusa.

    “Não, não. Com isso, você não precisa se preocupar”, diz a demônio. “Não vai haver retorno de príncipe nenhum. Impediram o ritual.”

    E eu preferiria morrer do que ajudar aqueles caras, ela pontua. E pelo visto ele também.

    Mesmo com um rosto robusto, é possível vê-lo reagindo surpreso. “O quê? Derrotaram os diabos?!”, ele questiona, indignado. “Isso… isso é impossível! Eles podem até ser um bando de tolos, mas os diabos não perderiam assim.” Ele se mostra incrédulo e cético, apontando um de seus dedos, cuja ponta termina em uma garra aguda. “Não venha com mentiras”, ele adverte, severo. “O que aconteceu no leste? Com a ajuda dos Lordes demônios, não haveria como eles serem derrotados.”

    Não entendi. Por que ele tá assim?, Rubi se pergunta. 

    “Não é mentira, e os demônios não perderam em batalha. O resultado não foi no leste. Fizeram um chamariz no leste e tentaram invocar o último Lorde Demônio ao sul de Gramina, mas impediram.” 

    Mesmo com a explicação, o grande demônio ainda permanece descrente. Ele expele um ar pesado e cheio de brasas de suas ventas, indicando-se relutante em acreditar em Rubi.

    “E você tem razão em algo…”, a demônio fala. “Se todos os lordes tivessem ajudado, não haveria como impedir a ressurreição do Senhor do Abismo.”

    O demônio não entende o que aquela demônio está insinuando. “E o que você quer dizer com isso?”, ele questiona.

    Acho que não faz mal em falar para ele, Rubi pensa. Eu já estou aqui mesmo. Vamos ver no que dá. Ela fecha os olhos por um momento, apronta uma mão para caso precise sacar sua espada, e a auréola da ganância forma-se em sua cabeça. 

    Os olhos brilhantes do diabo instantaneamente se arregalam, espantados e demonstrando reconhecer aquilo. “Lorde… da Ganância?!”, ele pergunta com a voz momentaneamente hesitante. Atônito, instintivamente ele dá um passo para trás, suas garras afiadas se flexionam, como se preparassem para atacar, mas logo recua o braço, erguendo-o defensivamente à frente do rosto.

    “Fui eu quem impediu o culto de Mael de ressuscitar o Senhor do Abismo”, ela declara, com um semblante sério. 

    O diabo desnorteado se mantém apreensivo. “… Por quê?”, ele pergunta.

    “Pra resumir, não pedi para ser invocada nesse mundo e não queria que condenassem o sétimo lorde ao mesmo destino.”

    Agora que vem a parte chata…, a demônio pensa, preparando-se para a reação do diabo.

    O grande demônio não ataca nem foge, apenas reflete internamente por um segundo. Ao final, ele deixa sua postura de combate e abaixa sua cabeça em reverência a Rubi. Chamas começam a envolver seu corpo e somem em sequência, revelando um demônio de estatura consideravelmente menor e sem asas. 

    Ele ainda mantém sua pele vermelha, seus chifres escuros e sua cauda forte, porém agora ele apresenta uma roupa formal de cor negra. Ele agora apresenta características mais humanas, mas Rubi ainda consegue enxergar nele as mesmas feições daquele mesmo grande demônio alado. 

    “Não consigo compreender os seus motivos, mas ainda assim obrigado”, ele agradece, com uma voz mais suave, que mantém o mesmo timbre de sua forma colossal. 

    Em uma inversão de papéis, agora é Rubi quem fica surpresa com as ações dele. “O quê?!”, ela questiona, tão alto que qualquer um na colina poderia ouvir. 

    O demônio se senta em um dos tocos de madeira e bafora, aliviado, com cinzas saindo de suas ventas. “Isso é um alívio de ouvir”, ele afirma. “Os outros Lordes Demônios também ajudaram a impedir o Ritual?”

    “Não… fui só eu”, Rubi responde, incerta sobre o que se passa na cabeça dele. “Eles queriam o ressurgimento também. Só ele podia nos mandar de volta ao nosso mundo. No final, todos os demônios perderam.”

    “Bem feito para aqueles tolos arrogantes.”

    “Você queria ou não que os diabos ganhassem?”, Rubi questiona, extremamente confusa com a posição do demônio.

    O demônio solta uma pequena risada que, apesar de já não estar em sua grande forma demoníaca, ainda soa de maneira um tanto quanto sombria. “Lorde da Ganância, não desejo a vinda do nosso príncipe, mas eu não poderia aceitar que os diabos perderiam tão facilmente”, ele fala. 

    “Ainda não saquei. A volta do Senhor do Abismo não era boa para os diabos?”

    “Não sabe o que significa a volta do Príncipe?”, o demônio pergunta, surpreso. 

    “Pelo que me falaram, ele era um líder quase invencível. E que iria comandar os demônios contra os mortais ou algo assim.”

    “Você parece tão perdida quanto um goblin em uma cidade”, ele afirma, sentindo estranheza nas palavras de Rubi. “Quem lhe contou isso? Um dos Maelitas?”

    “Quando eu disse que fui invocada, quis dizer que venho de um mundo diferente. Por isso, talvez eu não esteja tão inteirada dos fatos deste lugar,” Rubi admite, desviando o olhar, envergonhada. “Eu nem sabia quem era o tal príncipe antes disso.”

    O diabo acena com a cabeça, mostrando-se compreensivo. “Faz sentido que você não saiba o que o renascimento do príncipe significa para os diabos,” ele comenta.

    “Antes de te ver, eu pensei que todos os demônios queriam isso.”

    E que todos fossem me odiar, ela completa.

    “Talvez a maioria queira mesmo. Mas, apesar de termos motivos diferentes, eu, assim como você, não gostaria que ele viesse.”

    Um olhar curioso se instaura na demônio de cabelo rosa. “Por quê?”, ela pergunta.

    “Nunca se perguntou o motivo de, dentre tantos nomes e alcunhas, ninguém ousar chamá-lo de Rei Demônio?”

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