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    A demônio de cabelos rosa fica sem reação, perante àquela pergunta. “Nunca… pensei nisso”, Rubi responde, depois de alguns segundos. “Eu só deduzi que ele foi algum tipo de governante máximo de todos os demônios na terra.” 

    Até evitei ficar pensando nele, ela reflete brevemente. 

    “A não ser que nosso próprio deus descesse em carne e osso nesse continente, não poderia existir alguém com tamanha autoridade, Lorde da Ganância”, o diabo fala, suas palavras calmas soam cheias de propriedade.

    Ele vai ficar me chamando de Lorde da Ganância? Pelo menos é melhor do que pequena. Tá certo que ele ainda é mais alto que eu… talvez até que a Helga, mas ainda não justifica ter me chamado assim, Rubi pensa, incomodada com o apelido.

    A demônio se encaminha até um toco ao lado do demônio e nele se senta. “Já que essa conversa vai se estender um pouco, vou logo me apresentar”, ela diz. “Pode me chamar de Rubi.”

    “Rubi?”, ele comenta, surpreso. “Cogitei que fosse preferir ser chamada de Lorde da Ganância.”

    “Eu não era chamada assim antes e Rubi é mais simples”, ela diz. Uma dúvida paira sobre ela. “Como você sabe que sou a Lorde da Ganância?”

    O demônio encara a auréola flutuante em formato de flor sob a cabeça de Rubi com um ar distante e admirado. “Não deve haver um único diabo que não reconheceria o Coroa da Ganância”, ele comenta, admirado. 

    As expressões e as falas do demônio intrigam Rubi. Caramba, do jeito que todos falam, pensei que eu fosse encontrar um monstro irracional, mas esse cara aqui é bem de boa, ela analisa, intrigada. Talvez ele estivesse esquentando no começo, mas quem não fica as vezes?

    “Enfim, peço desculpas pelos meu maus modos”, ele pede, novamente abaixando a cabeça. “Não me apresentei, pois estava de mau humor com os outros diabos. Presumi que você fosse mais um me pedindo para ir ao leste.”

    “Não tem problema”, diz Rubi, um pouco sem graça. “Não tinha como você saber sem eu falar.”

    “Se me permite perguntar… Você disse que já havia ouvido falar de mim. Como me chamam agora?”

    “Te chamam de o Último do Oeste.”

    O demônio reage inicialmente com espanto, depois uma expressão de nojo surge. “Credo”, ele diz com repúdio. 

    “Até me confundiram com você”, Rubi diz com um sorriso no canto da boca.

    Ele olha para baixo, descrente. “Eu sinto muito por isso. Esse… foi o pior nome pelo qual eu já fui conhecido”, diz ele, soando profundamente constrangido. “Se eu encontrar o responsável por isso, irei pôr um fim à sua existência.”

    Ele tá falando sério?, Rubi se pergunta. 

    “Não precisa dar importância a isso”, ela diz, tentando acalmá-lo. “E como eu posso te chamar?”

    “Já tive alguns nomes bons. Anteriormente, fui chamado de Queda de Ilyadi, Ruína de Bhagron e alguns demônios me apelidaram de Fúria da Batalha Vermelha”, ele responde, olhando para cima, contemplativo.

    Deve ser costume das pessoas desse mundo terem tantos nomes assim, a demônio supõe.

    “Algum preferido?”

    Ele fica pensativo, ponderando. “Bem. Algum tempo atrás, eu lutei contra um cavaleiro chamado Thomas Byron. Ele era forte e honrado, mas encontrou seu fim nas minhas mãos. Devido a isso, por um tempo, fui chamado de O Fim dos Byron”, ele responde. “Eu gostei bastante desse nome em particular.”

    “Posso te chamar só de Byron?”, Rubi pergunta.

    É bem mais simples, ela pontua.

    “Não vejo problemas, Rubi”, ele diz com um sorriso. 

    “Então, Byron, por que o Senhor do Abismo não foi o rei demônio?”

    “De acordo com as lendas, ele surgiu com o objetivo de conter a ascensão dos daimons na época. Eles estavam começando a se tornar uma ameaça e foi por isso que ele veio. Só por esse motivo, ele já não poderia ser o rei.”

    “Daimon?”, Rubi questiona, confusa. “Já ouvi essa palavra algumas vezes antes, mas não sei quem são.”

    “De onde você veio, não havia daimons?”

    “Talvez houvesse, mas sinceramente, pelo nome não sei o que são. Os caras do culto de Mael achavam que eu vim do abismo, mas eu vim de um lugar completamente diferente.”

    Não lembro nem desse termo no jogo, ela pensa.

    “Não conhece Mael?”

    Rubi nega, acenando com a cabeça para os lados.

    “Também não conhece o nosso propósito aqui?”

    A demônio arregala os olhos, surpresa. “Nós temos propósito?”, ela questiona. 

    Já tem um tempo que venho me perguntando isso, ela reflete. 

    “Para responder isso, vou ter que te contar uma história muito, muito antiga.”

    “Por favor”, Rubi pede. “Quero entender a verdade. Tem muita coisa que eu não sei.”

    “No início dos tempos, O Deus de Tudo criou o mundo e os primeiros deuses, cada um com um dever no Grande propósito que só o próprio criador entende. Os propósitos dos primeiros deuses eram gerar a vida e representar seus aspectos. 

    Ele tá falando de deuses, tipo religião e mitologia? Ou gente muito forte?, ela se pergunta, enquanto Byron conta a história. 

    Dentre os primeiros deuses, estava Mael. Ele nasceu com o propósito da penitência, de abrigar e punir no plano pós-vida as almas que os outros deuses julgassem terem se corrompido em vida e fugido de suas doutrinas.”

    Tá, realmente é coisa de religião, Rubi analisa. 

    “Alguns deuses foram arrogantes e criaram seus filhos mortais no que acreditavam serem a imagem de Deus. Disseram que todos eles eram perfeitos e incorruptíveis, mas Mael era sábio e viu falhas neles, mas os deuses não acreditaram nele, então ele resolveu mostrar o ponto dele, criou seus filhos e os fez andar entre os homens.”

    “Os demônios?”

    “Ainda não tinham esse nome. Ele criou seres belos, cheios de graça e que podiam até mesmo dar presentes aos mortais se eles pegassem o preço. Seres que deixavam os mortais maravilhados com sua presença. Seres que poderiam corromper os filhos ditos perfeitos dos outros deuses. Alguns dos mortais até abandonaram seus pais e pediram para Mael adotá-los, e nosso pai o fez com alegria, transformando-os em iguais àqueles de sua prole.”

    “Os outros deuses não devem ter gostado nada disso”, ela supõe. “Se eles eram tão arrogantes como você disse, Mael pisou bem fundo no orgulho deles.”

    “Não gostaram mesmo. Eles se reuniram com o Deus da Justiça, Helo, que governava todos depois que o Criador se sentou para observar o mundo que seus filhos tomariam conta. Helo era o pai dos humanos e, como também estava descontente, puniu Mael, jogando-o e acorrentando no mesmo lugar onde ele tomava conta, o mesmo lugar onde ele deixava as almas dos condenados.”

    “Prenderam Mael no abismo?”

    “Sim. Ele está acorrentado lá até hoje. Além disso, ele pegou cada um dos filhos de Mael e os puniu também. Ele puniu todos que nasceram de Mael, todos os que nasceriam nas gerações futuras e todos que abandonaram suas origens para se unir a ele.”

    Não é meio injusto isso aí?, ela pergunta. Quer dizer, não é culpa deles… minha.

    “A lenda diz que ele arrancou o pedaço da alma ligado ao nosso livre arbítrio, e no lugar nos deu coroas em formato de chifre para que qualquer mortal nos reconheça como perigosos. Somos uma sombra da bela criação original de nosso pai.”

    Rubi coloca a mão em um de seus chifres. “Foi assim que nasceram os demônios”, ela conclui. 

    “Por causa de Helo, nosso pai está preso no abismo por toda eternidade, aqueles que souberem nossos nomes podem nos controlar e aqueles que abandonarem sua raça de origem, não podem declarar que um dia já foram outra coisa.”

    Espera, espera, espera. É por isso que eu não posso dizer que eu era humana? Um deus maluco botou alguma coisa na minha cabeça? Eu… não fiz nada e não abandonei droga nenhuma!, ela pontua, indignada. Grande Deus da Justiça. Não sei até onde as pessoas acreditariam se eu falasse, mas isso é muito injusto.

    “E o que aconteceu depois? Os demônios devem ter ficado furiosos”, Rubi pergunta, danada. “Eu teria ficado.”

    “E ficaram, mas a maioria continuou fiel a Mael e, assim como ele, aceitou a punição em silêncio. Esses ficaram conhecidos como diabos.”

    “A maioria?”

    “Uma parte menor dos demônios ficou bem furiosa, em especial o filho mais velho de Mael, Belial. Esses que ficaram furiosos queriam destruir tudo e todos nesse mundo em nome de nosso pai.”

    Rubi analisa a história um momento. “Mas o Mael não pareceu querer isso em nenhum momento”, ela pontua.

    “Exatamente. Os seguidores de Belial ficaram com raiva de todos, até dos demônios que não queriam se vingar ao lado deles. E eles mataram muitos dos nossos por isso. Mael ficou muito triste com eles. Tão triste que tirou deles a graça e a beleza, e eles se tornaram monstros horrendos.”

    “Esses são os daimons?”

    Pela descrição, isso até bate com algumas coisas que eu ouvi, Rubi relembra.

    “São. Mesmo ainda sendo demônios, eles são nossos inimigos declarados e traidores da causa.”

    Mais uma vez, começa a refletir sobre a história. Entendi. É por isso que não dá pra ser o rei demônio, teria que governar tanto os daimons quanto os diabos, ela conclui. Mas…

    “E onde o Senhor do Abismo entra nessa história? Ele veio para conter os daimons e tal, mas por que não chamam ele de rei diabo ou algo assim?”

    Byron volta a olhar para cima, seu semblante amargurado. “A verdade é que, por mais poderoso que fosse, os diabos nunca o reconheceram como rei. Na minha opinião, talvez, depois de Helo, ele foi a maior desgraça que já recaiu sobre os diabos,” ele responde, a voz carregada de uma tristeza contida.

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