Índice de Capítulo

    Um orc se esgueira entre arbustos e árvores de uma floresta densa. O orc, alto e de corpo musculoso e verde, possui em seu rosto algumas cicatrizes espalhadas e duas grandes presas inferiores que sobrepõem seus lábios. Usa uma armadura rudimentar feita de couro marrom e empunha um machado de aço com pedaços da lâmina lascados e com um cabo de madeira velha e trincada. 

    A floresta ao seu redor é sombria, iluminada apenas por alguns poucos filetes de luz amarela que penetram pela copa das árvores e pelos troncos retorcidos. 

    O orc guerreiro avança com cautela, seus movimentos se fundindo ao farfalhar natural dos galhos balançando ao vento. Naquela parte da floresta, nenhum pássaro canta, e apenas o sussurro distante da brisa impede que o silêncio absoluto domine o lugar.

    De repente, um barulho de gravetos se quebrando e folhas se mexendo surge alguns metros adiante da posição do orc, que imediatamente para. 

    Ainda abaixado, ele observa, com olhos cerrados, se elevando da vegetação, um animal com um longo pescoço cheio de penas brancas. No topo do pescoço, uma cabeça de ave com olhos de fenda e um bico grande como uma pá cheia de dentes, de cor amarelada e com toque de vermelho na ponta. 

    A criatura se ergue ainda mais, revelando um corpo maciço e semi-arredondado, com uma cauda de penas longas e pretas e asas pequenas que entram em contraste com as pernas fortes e grossas, cujos músculos destacados deixam cada um daqueles membros com a espessura de um tronco de árvore. 

    Agora de pé, a grande ave de pescoço longo aparenta ter quase o dobro da altura total do orc. Ela gira a cabeça em várias direções com movimentos curtos, como se estivesse atenta ao local. Da mancha rubra na ponta de seu bico, pingam gotas de um líquido vermelho, aparentando ser sangue. 

    O orc, quieto, demonstra até segurar a respiração enquanto a observa. Ela, novamente, leva a cabeça ao chão e faz um pouco de esforço, tentando levantar alguma coisa com o bico. Quando ergue a cabeça de novo, um pedaço de carne está em sua boca. 

    A ave novamente olha para os lados, desconfiada, e, com um único movimento, joga o pedaço de carne em seu bico para cima e o engole inteiramente. É possível ver o volume descendo pelo pescoço, até parar na barriga do monstro. Sem demonstrar nenhuma reação, ela continua se alimentando e repete o ciclo.

    O orc, aproveitando-se da distração, se aproxima devagar, se movendo com passos lentos entre as folhas. Quando ele chega bem perto, a criatura ergue a cabeça e, mais uma vez, olha para os lados, como se sentisse algo.

    Sem pestanejar, o orc salta em direção à ave, brandindo o machado acima da cabeça. Ela tenta dar um passo para o lado. Mesmo assim, é acertada na base do pescoço. O sangue jorra no machado, um corte raso se abre entre as penas duras e a pele espessa da besta.

    O monstro emite um barulho tão estridente e alto, que chega a estremecer o guerreiro esverdeado momentaneamente. A criatura devolve o golpe, atacando-o com uma de suas pernas na barriga. Nos dedos, garras afiadas como facas cortam um pedaço da armadura de tecido e uma parte da pele verde do orc. Ele é empurrado na direção oposta, e sai deslizando com os pés, quebrando galhos por onde passa.

    O orc, agora ferido, corre na direção da ave monstruosa para atacá-la. Quando ele chega no alcance, a criatura rapidamente ergue a pata direita na direção do machado e o agarra, levando a arma ao chão com o guerreiro ainda a segurando. A fera leva a outra perna nas costas do orc, que mais uma vez é ferido pelas unhas afetadas e tomba de joelhos. O guerreiro, ainda assim, não solta sua arma. 

    Com um grande esforço, ele separa seu machado das garras do monstro, gira o corpo e acerta um corte pela lateral. A criatura perde o equilíbrio, cambaleia para o lado, e o guerreiro ataca novamente no pescoço, dessa vez no meio. O ferimento é bruto, as penas do pássaro gigante estão cobertas com sangue. Ela não tomba, por mais pesados que sejam os golpes do orc, sua carne é muito resistente.

    Outra vez, a ave tenta empurrar o guerreiro dando um chute em sua barriga. O golpe corta mais um pouco de sua armadura e atravessa sua pele. O impacto em sua barriga o faz cuspir sangue, mas ele se mantém firme, com os pés fixos no chão.

    Com um rugido de esforço, o orc ergue o machado para o golpe final. A criatura tenta se esquivar, mas o golpe descendente é inevitável, e seu pescoço cede com um som de estalo horrível. O corpo, agora sem cabeça, continua se mexendo por alguns instantes, dando os últimos espasmos antes de parar completamente. E o orc olha a fera fechar seus olhos pela derradeira vez. 

    Assim que a criatura para de se debater completamente, o guerreiro verde, ofegante, volta sua visão para a moita de onde a fera se alimentava. Mesmo sem chegar perto, ele vê dedos verdes pálidos, grossos e inertes escapando entre as folhas tingidas de um vermelho opaco.

    Quando ele se aproxima daquela moita, lá está um outro orc, com as entranhas abertas e rasgadas e os membros cheios de cortes, similares aos que ele possui, mas em grande quantidade. O morto possui resquícios de uma armadura de cor e material similar ao do Orc que o olha, com um semblante cansado.

    O guerreiro se abaixa, dobrando um de seus joelhos. Ele segura o machado com a ponta firmada no chão e deixa a ponta do cabo encostada na sua testa. “Que sua conquista, seja grande, e seu golpe, pesado”, ele roga, com uma voz baixa, rouca e ofegante, fazendo uma rápida despedida.

    Depois, retorna até a ave morta e começa a cortá-la com seu machado, abrindo rasgos em algumas partes do corpo. De cada brecha aberta na carne, sangue começa a fluir. Depois de abrir várias fissuras, ele leva o corpo até uma árvore de galhos baixos e lá o pendura. 

    O fluido vermelho começa a jorrar para fora com mais intensidade, e se esparrama pelo chão. O orc aguarda com o pé batendo no chão, mostrando sua impaciência. 

    Enquanto o guerreiro aguarda quieto, ele escuta algo se movendo por perto. Prontamente, o guerreiro agarra o machado e se prepara para lutar, se posicionando diante dos pedaços da criatura.

    Da direção de onde vem o barulho, outro orc se aproxima. A estatura e a fisiologia dos dois é parecida, esse segundo apresenta menos cicatrizes na face, porém possui uma das presas inferiores quebrada. 

    A maior, e mais gritante, diferença entre os dois, é nos equipamentos. O novo orc tem uma armadura de couro mais espessa e com algum tipo de tinta verde recobrindo-a quase totalmente, mas que ainda deixa algumas linhas marrom, sem pintura. Ele usa uma clava de madeira, com pedaços de ferro afiados e retorcidos saindo de lugares aleatórios.

    Os dois se encaram com olhares duros, o ar pesado entre eles enquanto exalam baforadas ásperas, quase como rosnados. Seus ombros se erguem, os músculos de seus braços tensos e inchados, numa tentativa de afirmar dominância.

    O orc de manchas verdes aponta seu tacape na direção. “Essa terra é de Estoratora. Você não devia estar aqui!”, ele exclama.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota